Estava no chão íngreme daqueles túneis. Havia dois dias que eu estava ali e, a tal da Novata não havia aparecido, mas, Ariane Alter – ela me contou seu sobrenome – me prometera que mais cedo ou mais tarde ela surgiria. A dor havia deixado um pouco meu coração e, se instalou por todo meu corpo. Eu não chorava, mas, não por falta de vontade e, sim por falta de lágrimas ou força suficiente para tal. Eu sentia-me uma completa invalida naquele calabouço. Eu comia, bebia, respirava e, às vezes eu até sorria. Mas, eu não vivia; era como seu fosse na verdade uma carcaça ambulante. Uma boneca em uma estante qualquer. A marionete de alguém estranho para mim. Ariane Alter também havia me dito que a tal novata conhecia um modo de sair dali. Que ela tinha as respostas e, que só ela sabia da verdade de tudo isto. Que muito provavelmente ela tentaria tirar-me dali.

- Ela virá hoje. – Disse Ariane com uma felicidade intensa na voz. Se havia alguém que sorria apesar das dificuldades, este alguém era Ariane. – Agora é certeza. Ela está a caminho. – Disse com um sorriso meigo perambulando em seus lábios.
- Como sabe disto? E, quem virá? Laurel ou a novata? – Disse sem prestar muita atenção em seu discurso, afinal ela disse aquilo há dois dias e, também disse quase a mesma coisa ontem.
- A novata e, dessa vez ela procurou alguém dos túneis e, pediu para avisar que virá hoje.
- Afinal quem é a novata que ninguém pronuncia o nome? – Perguntei com certa indignação.
- Ela não gosta que nos lembremos disto, então sempre vem toda encapuzada e, conversa conosco. Esqueceu? Laurel lê nossas mentes e, se ela descobrir de algum modo quem está tentando nos ajudar acaba com a garota. Ela se mostra só para alguns daqui. Os que não têm a mente enxergada por Laurel. – Sussurrou Ariane com uma pontada de tristeza.
- Laurel não pode ler minha mente. Ela não leu certos acontecimentos comigo e, com Patch. – Disse tentando esconder à triste de pronunciar o nome de Patch sem ele ao meu lado, ou sem saber que o veria mais tarde, sem a esperança.
- Então ela se mostrará para você! Está evidente. Provavelmente ela vem hoje só para lhe conhecer, para tomar conhecimento do terreno sabe? – Disse Ariane voltando com sua fiel felicidade. Acenei positivamente com a cabeça, enquanto Ariane continuava com suas premonições de um futuro não muito distante e, provavelmente bom para mim. Nós não estávamos sequestrados, estávamos como mortos-vivos. Laurel fizera aquilo conosco, nos trouxera para cá, para formar um exército de uma nova linhagem de qualificadores e, sua felicidade era imensa quando um qualificador provido de boas designações chegava em suas mãos e, ela provinha de quase todas as suas forças para nos fazer voltar nesta nova forma quase monstruosa. Patch sentiria nojo de mim se me visse de tal forma, mas, ainda assim eu o queria aqui ao meu lado dando-me apoio como sempre fizera.
Logo era possível ouvir espasmos de felicidade nos cúbicos dos túneis e, algumas passadas providas de saltos altos surgiram em meus tímpanos.
- É ela. – Sussurrou-me Ariane.
Logo uma figura negra surgiu diante de meus olhos. Sua capa era feita de seda, provida de um capuz e, que deixava sombras em sua face. O que cobria suas feições. Aos seus pés, só era possível ver o final do salto agulha stiletto. Ela tinha uma silhueta magra e, sua voz me era familiar, só não sabia a quem pertencia.
- A novata? Onde está ela? – Perguntou ela para o nada. Vários corpos apontaram em minha direção e, com um movimento de cabeça ela fez dois rapazes fortes levantarem-se e, me pegarem por ambos os braços, eu estava fraca nos últimos dias, então a hesitação só ocorreu nos devaneios de minha mente. Carregaram-me para o final do mesmo corredor presente no túnel e, eu entrei uma sala parcialmente escura. Havia duas cadeiras de madeira velha na sala com cheiro de mofo e, bastante umidade. Sentaram-me em uma cadeira e, a silhueta negra e, magra sentou-se na cadeira de frente para mim. Uma porta improvisada por um portão solto de aço. E logo só era possível escutar alguma goteira não muito longe de nossos corpos. A escuridão não era completa graças a uma única lamparina pendurada por um fio no teto longínquo.
- Bem vinda. – Disse ela. – Sei que não está muito feliz, mas, infelizmente faz parte. – Continuou. Logo sua mão coberta por uma luva de couro negra alcançou o topo de seu capuz. Ela puxou o mesmo revelando sua cabelereira loura dourada que iam até o centro de suas costas completamente liso. Seus olhos azuis estavam com uma pontada de tristeza, seus dedos tremiam e, os seus olhos azuis sorriam com uma pontada esnobe carregada de timidez para mim. Aphrodite olhava-me com atenção. Meus olhos arregalaram-se com descoberta, Aphrodite era a novata? A novata que nos ajudaria? Pelo amor de nossa Deusa!
- Você? Co... Como pode ser você que nos ajudará? Você é uma maldita dos infernos! – Falei com um tom rude em sua direção.
- Eu diria que isso já se tornou um apelido para mim, afinal toda sua horda de nerds me chama assim mesmo. – Disse ela dando de ombros e, repousando suas costas pesadamente contra o encosto da cadeira.
- Horda de nerds? O que é exatamente isto? – Perguntei arqueando minha sobrancelha de leve.
- Seus amigos. Mas, não estou aqui para conversarmos disto. Vim aqui para lhe contar como você pode sair daqui. Você tem apenas quatro pessoas que podem fazer isto com você e, infelizmente só eu sei o jeito e, também infelizmente você é a única que pode ser tirada daqui por enquanto. Vai confiar em mim? Ou vou ter de esperar a próxima novata? – Perguntou-me com autoridade.
A hesitação tomou conta da fraqueza de meu corpo. Responda para mim minha Deusa, devo confiar nela? Repentinamente uma leve brisa roçou meus braços, fazendo-me arrepiar em aprovação. Acenei positivamente com a cabeça e, Aphrodite prosseguiu com seu discurso e, com sua voz esnobe.
- Enfim, você é única que tem uma relação muito forte com alguém lá de fora, com alguém que não se encontra na mesma situação que você. Mas, esta pessoa não pode ser qualquer pessoa; ela tem que possuir uma das quatro maiores qualificações. Por exemplo, nem sua irmã e, nem Vee poderia te tirar daqui. Só Patch, Cam ou outro rapaz poderiam te tirar daqui. Mas, também há outro porém, sua relação tem que ser contínua e, verdadeira com um destes três rapazes e, este segredo tem que estar parcialmente distribuído por mim, você, Patch e, Cam; caso contrário Laurel poderá descobrir. Me entendeu? – Perguntou-me com autoridade e, conhecimento em sua voz. Acenei freneticamente em aprovação com a cabeça. – Bom, na hora certa vocês farão a pequena transfusão de sangue e, pode acontecer duas coisas. Ou tudo dá certo, ou, tudo vai por água à baixo. Se a transfusão não ocorrer com alguém que tenha a ligação completamente forte com você sabendo de sua nova situação, ambos podem morrer e, desta vez para sempre. Mas, se ocorrer com alguém com a forte ligação ambos vivem e, você volta à Morada Sussurrante, sem reverências de Laurel ou de qualquer outra pessoa e, com a total aprovação de Nossa Deusa.
- Eu posso escolher qualquer um? – Perguntei baforada. Havia uma maneira e, meu coração já palpitava em aprovação.
- Pode sim, mas, vou explicar para você e, você terá alguns dias para escolher com quem vai manter a relação externa. Você pode manter esta relação com todos, mas, lembre-se: só um terá a proximidade exata para fazer um sacrifício e, voltar a vida e, às vezes nem tudo o que parece é. Você vai ter que escutar a voz da razão e, não a da emoção. Entendeu? – Perguntou-me com os olhos levemente arregalados. Balancei a cabeça em aprovação e, Aphrodite continuou seu discurso completamente explicativo. – Enfim, é permitido que você mantenha contato com os seus três rapazes conhecidos. Ou até com um quarto, mas, vocês ainda não havia se conhecido quando morreu, só bateram um papo rápido demais. – Arqueei as sobrancelhas questionando-a. – Os quatro são: Patch, Cam, Scott Parnell – seu amigo de infância – e, Gabe. Suas qualificações? Só conheço de três a de Patch é desconhecida para mim. Scott tem os pontos das trevas tipo dois, o sangue nefilim corre em suas veias. Cam é um caído e, tem as marcas tipo um e Gabe, bem Gabe está começando a provir de sangue de arcanjo. – Gabe era um anjo, por isso sua aparência tão belamente angelical. Scott? Nefilim? Aquilo soaria estranho para mim, mas, no momento não mais.
- Pode continuar. – Disse interrompendo os meus devaneios.
- Não pode ser Gabe, pois vocês se conheceram há muito pouco tempo e, para que a proximidade acontecesse demoraria muito tempo. Scott seria uma boa escolha, mas, ele ainda não recebeu seu ponto. Patch, ele seria perfeito. A ligação de vocês é repleta sem deixar sobrar nada e, o amor que sentem um pelo outro é o ponto mágico necessário para que a transfusão ocorra sem devaneios. E, ele com certeza manteria contato com você aqui nestes túneis. Ele não desistiu de você. – Disse ela e, meus olhos já ardiam com as palavras ditas por Aphrodite, eu com certeza escolheria Patch, quem mais seria o perfeito para o discorrimento daquilo? – Mas, - continuou Aphrodite tomando minha total atenção. – Cam, por incrível que pareça seria o ideal no meu ponto de vista Nora. Não quero interromper suas vontades e, desejos, mas, ele não é repleto; ele é completo. Vocês obtêm quase o mesmo tipo sanguíneo. Ela já fora seu anjo da guarda e, caiu para te proteger. Ele entrou na Morada e, mesmo com Patch obrigando-o a manter distância de você ele continuou ao teu lado. Ele também quer te salvar e, o sangue dele ajudaria muito à que tal ato acontecesse. Algo, sinceramente, pode dar errado com Patch, com Cam os erros são quase imperceptíveis. O sangue que está nas veias de Cam ainda tem a vontade de te proteger, ele não te deseja como homem, ele te deseja o bem e, ele se sacrificaria por você sem discussões. – Disse Aphrodite deixando-me com dúvidas.
- E porque poderia dar errado com Patch? – Indaguei com certa tristeza percorrendo minhas veias sanguíneas.
- Porque Patch é caído assim como Cam, mas, Patch inicialmente quis lhe matar e, o sacrifício pode entender que é isto que ele quer Nora. Já Cam não quis te matar em nenhum momento, a pitada de sangue nefilim está em suas veias e, tudo bem que ambos não se importam com isto. Mas, Cam quase não enxerga isto em você. Também ocorrerão algumas mudanças se tudo ocorrer certo. Sua qualificação está no topo das mais-mais, você domina os cinco elementos e, isso manteve uma pontada de humanidade em suas veias. Ou seja, qualquer um dos rapazes que você escolher não receberá suas qualificações, mas, você receberá o ponto oposto instantaneamente. Ou por ser um anjo caído, misturando-se com você que tem algo de nefilim em suas veias, automaticamente você receberá o ponto tipo dois das trevas. – Disse ela finalizando seu discurso explicativo. Logo pude escutar sua cadeira ser arrastada com brutalidade, ela cobriu seus fios loiros com a toca, me deu as costas e, saiu porta afora deixando-me duvidosa para trás. Eu com toda a certeza não poderia deixar nada acontecer a Patch, mas, meu coração dizia-me que tudo daria certo com ele, que nosso amor transpassava todas as barreiras que poderiam existir. Eu estava agarrando o encosto da cadeira com força. Lágrimas jorravam de meus olhos involuntariamente e, a dor junto à verdade pinicava-me o corpo. A tal da transfusão só ocorreria perfeita com um daqueles e, a verdade estava explícita estampada na minha cara. Cameron Briel deveria ser o escolhido. Era com ele que o sacrifício deveria ser transcorrido. A raiva me atingiu, não iria fazer uma transfusão com ele, a transfusão deveria ocorrer com o anjo caído que me ajudou nos momentos mais difíceis de minha vida! Cam fora meu anjo da guarda em certo tempo, mas, Patch foi meu, todo meu. Ele sabe o que eu gosto, o que eu sinto e, ele me entende apenas com um olhar. Ele enxerga minha tristeza mesmo quando ela ainda está distante de mim. Levantei-me abruptamente da cadeira, peguei a mesma em que estava sentada nas mãos, puxei com força do chão e joguei-a contra uma parede qualquer. Passei a berrar “não” com toda a força de minha garganta. Caí no chão sem forças chorando desesperadamente e, logo ouvi algumas passadas atrás de mim. Os braços finos de Ariane me tiraram daquele chão frio. Ela carregou-me por um lado do corpo até nosso túnel e, me colocou sentada em um colchonete que passou a ser meu. Abracei meus joelhos com força e, com raiva. Apertei meus dedos contra minhas canelas e, comecei ali mesmo um choro absurdo. Eu precisava de Patch o quanto antes. Eu poderia manter contato com ele e, aquilo de certo modo me enchia por uma felicidade imensa. Mas, para que aquilo acontecesse deveria manter proximidade de Cam, nada contra ele, mas, minha pele queria Patch. Minha pele queria o dono do belo par de olhos negros.