Acordei com o rosto colando e os olhos pregados, estava deitada em uma posição horrorosa no sofá, sentei e me espreguicei com vontade ouvindo todos os ossos estalando. 

“crocante” - ri e fui até meu banheiro, me olhei no espelho e quase levei um susto, meu cabelo ‘tava em pé, minha maquiagem toda borrada e minha cara toda amassada.

-nossa, eu pareço um animal

“animal? Você parece uma bruxa que foi condenada á fogueira, mas conseguiu sair de lá depois de ter a cara queimada” - risos.

-não exagera Manola - tirei a maquiagem toda e me enfiei debaixo do chuveiro. Depois de um banho demorado troquei de roupa e fui para a cozinha - porque eu ainda estou aqui? - olhei para a geladeira e abri - o Georg ‘tá com ela, não está? Então, eu já posso ir embora, isso já é sofrimento demais.

“se você ainda não foi, é porque ele não ‘tá apaixonado por ela” - bufei e fechei a geladeira com força.

-que ódio daquele garoto! - bati na bancada de mármore - não quero almoçar aqui - torci o nariz.

“você tem telefone pra quê?” - ia contestar mas dei um sorriso lembrando do vizinho. Corri até o celular e procurei o número e colocando pra chamar.

-hallo! - ele disse entusiasmado me fazendo sorrir.

-olá - devolvi - hum…você já almoçou? - sei que a pergunta foi idiota, pois ainda eram 10h54, ele riu.

-não, tem alguma ideia? - ri mordendo o lábio inferior pensando.

-hum…conheço um lugar bem legal no centro, quer vir almoçar comigo? - um silêncio rápido e a resposta.

-claro, hum…passo aí ás11h55, pode ser? - sorri pulando.

-sim, até já.

-até, beijos - desliguei o celular e comecei a fazer uma dancinha idiota sorrindo. Fui me arrumar rápido: coloquei umas calças brancas com duas linhas em laranja, uma blusa que mal tapava minha barriga cinzenta com uma caveira, tênis alaranjados e pretos e minha mala preta, passei pouca maquiagem e fui até a sala. Comecei a mexer na mala vendo o que tinha lá dentro, até que abri um bolsinho e achei minha aliança, senti um aperto no peito e arrependimento, se Georg não falasse mais comigo tudo daria errado. Coloquei a aliança no dedo e sorri prendendo as lágrimas, a campainha tocou e olhei para a porta, olhei para a aliança a seguir e sorri, a tirei do dedo e voltei a colocar no bolsinho da bolsa.

Abri a porta e ele sorriu, me deu um selinho rápido e fechei a porta de casa.

-então, tudo bem? - sorri assentindo.

-sim, indo… - respirei fundo e acho que ele percebeu minha “animação”

-o que foi? - descemos no elevador e me olhou esperando a resposta.

-eu briguei com um amigo meu, ele…pronto, não vou entrar em detalhes, a gente brigou - ele sorriu e saímos do elevador.

-vai ficar tudo bem, você vai ver - sorri assentindo - saímos do prédio - você dirige ou…? - ri.

-sabe aonde fica Lorez Adlon? - assentiu - então, você dirige? Pois eu não ’tou com mão pra volante hoje - fiz um bico enorme e ele riu.

-vem - fomos até seu carro, era um Cadillac também, entramos e ele dirigiu até o restaurante.

Passamos a tarde toda juntos, ele era legal, engraçado e carinhoso, soube que não era Alemão de sangue, nasceu nos EUA, mas veio para a Alemanha em pequeno. Ele me levou para casa, saímos do carro e atravessamos a rua, subimos o elevador e dei de cara com a última pessoa que queria ver naquela hora. Ele olhava para a porta e quando me viu sorriu tímido.

-hum…eu falo com você depois, pode ser? - sorri para Gheorge ele retribuiu - esse é aquele amigo - assentiu olhando para Georg.

-qualquer coisa me chama - assenti, me deu um selinho longo e uma última olhada em Georg e foi para o apartamento dele.

-o que você quer? - respirou fundo.

-seu namorado? - girei os olhos.

-não te interessa, mas não. Dá pra responder? - me olhou sério.

-vim conversar né Molly - ficamos em silêncio durante alguns segundos, abri a porta e esperei ele entrar para fechá-la. Joguei a bolsa em cima do sofá e me sentei, ele fez o mesmo - desculpa ‘tá bom? Eu sei que não devia ter falado aquilo pra você, mas eu ‘tava de cabeça quente e…saiu - respirou fundo e continuei olhando pra ele séria.

Flashback on:

-e o que mais eu posso saber sobre você? - ele olhou para a frente sorrindo. Era nosso segundo encontro depois do nosso “acidente” no shopping.

-não muito, acho que já disse tudo - sorrimos e ele me olhou, eu amava aquele olhos verdes e aquele sorriso largo. Mal o conhecia e sabia que ele era diferente - ah! - levantou o dedo indicador - nunca me ouça quando estou de cabeça quente - ri com dúvida - eu só digo besteiras e…magoo as pessoas - olhou para baixo e aquilo me fez sentir mal.

-não magoamos todos? - ele levantou o rosto e me olhou sorrindo, assentiu - eu também falo merda com a cabeça quente - riu e sorri - por isso, não se esquenta com isso - riu.

-você é uma menina legal Molly - sorri.

-você também Georg, mas…um garoto - rimos.

Flashback of.

-eu, magoo as pessoas quando estou de cabeça quente - abaixei a cabeça e sorri com aquilo - o que foi? - levantei o rosto.

-não magoamos todos? - ele sorriu e fiz o mesmo - esquece o que aconteceu Moritz - assentiu, veio até mim e me abraçou, o apertei forte assim como apertei os olhos para não chorar.

-você é especial Molly - sorri.

-você também Moritz - nos separamos e ele sorriu.

-bem, além de vir aqui pra pedir desculpas eu vim fazer outro pedido - ergui uma sobrancelha e me levantei tirando os tênis, caminhei até o quarto com ele atrás de mim.

-o que foi agora Moritz? - sorri, ele fechou a porta do quarto e joguei os tênis em um canto.

-nós vamos aproveitar as últimas semanas das férias em uma casa de praia - semicerrei os olhos tirando as meias dos pés - como você é minha fada madrinha e…o Tom insistiu que você viesse - tenho que agradecer esse menino depois, eu posso usar uma boa praia - eu queria saber se você vem com a gente - sorri.

-praia é? - assentiu, mordi o lábio inferior - ok - sorriu - a Kristen vai? - assentiu, sorri forçado, espero que ele não tenha percebido - que bom, assim nós continuamos o trabalho lá - me virei para o guarda-roupa e tirei uma roupa qualquer de lá - vadia maldita! - disse em português.

-o quê? - me virei e sorri.

-não encontro uma roupa - sorri e ele fez o mesmo - e…quando vamos? - peguei uns shorts e uma camisa grande e fui para o banheiro.

-depois de amanhã! - gritou para que eu ouvisse, comecei a trocar de roupa - tudo bem pra você? - gritei um “ahum” e saí do banheiro sorrindo.

-claro - sorri ligando a televisão e me jogando na cama, ele se deitou ao meu lado - e como vão as coisas com a Kristen? - passava um programa sobre comida.

-vão bem, perfeitas poderia dizer - apertei o botão do controle com força.

-poderia dizer?… - olhei pra ele de lado e ele me olhou, voltei a atenção para a TV, continuei virando os canais.

-ela…como posso dizer? - disse pra si mesmo - é…sensível, eu tenho que ter cuidado com o que digo ou faço - ri disfarçadamente.

-ah! Moritz - deixei em um filme de ação - toda mulher é assim - não, não somos - vai ver, daqui uns dias você se acostuma - ri com aquilo e ele roubou o controle.

-você não é assim, você anda de tênis e fala palavrão - ri e ele mudava os canais agora.

-caralho, eu não falo porra nenhuma de palavrão, foda-se! - ele começou a gargalhar tanto que bateu o pé no meu - velho, tua meia é muito foda - ele riu, a meia dele tinha a Pucca nos dedos.

-a tua também - a minha tinha os ossos dos dedos. Começamos a fazer uma guerra de pés, até que ele de tanto usar o pé, me deu um soco no nariz.

-ah! Porra - coloquei a mão no nariz e fiz uma careta de dor.

-Molly, desculpa - fechei os olhos - tira a mão - tirei a mão o nariz e ele riu - o que foi caralho?! - ele riu mais ainda.

-’tá tudo bem - girou os olhos.

-você fala isso porque não ’tá sentindo a mesma dor que eu - praguejei mais um pouco - devia arrancar esse teu nariz aí - rimos e continuamos a ver TV.

-você me ama - quase engasguei com o ar e o olhei estranha - ah! Molly, admite você ama o Moritz aqui - ri disfarçando.

-Moritz, eu te amo tanto que queria enfiar um pau nesse teu c… - meu celular começou a tocar e ele riu, atendi.

-Molly! - alguém gritou, era uma voz chata e fina.

-quem é? - olhei para Georg que se levantou e saiu do quarto.

-é  Kristen, você tem que me ajudar! - gritava, puta merda, não dá pra falar mais baixo?! Doida, meu…espera, ela disse que é quem?

-Kristen?