Lily Evans.

Me diga que ainda estou dopada e que tudo aquilo não passou de um sonho absurdamente ridículo.

Por que essa é sem dúvidas a única palavra que pode definir aquela atitude boçal de Black.

R-I-D-Í-C-U-L-A.

Quero dizer, eu nem ao menos falo com ele.

Em parte pode ser por isso.

Mas mesmo assim ele não tinha o direito de falar comigo daquela forma, afinal, eu não fiz nada contra ele!

E eu não sou nem metade de tudo aquilo que ele me acusou...

Okay, eu admito, eu trato Potter mal. Mas também não é daquela forma exagerada.

Mas oque nem Black e nem Potter veem é que eles me dão nos nervos, somente o fato de ter que compartilhar o mesmo ar com eles já é motivo pra sair quebrando tudo e todos pela frente.

- Wol, foi só eu que não entendi o porquê daquela palhaçada toda?  

- Não Dorquinhas, estamos no mesmo barco.

- Não me chame de Dorquinhas.

Dorcas realmente odeia todos os apelidos que eu já inventei pra ela. Mas até que eu gosto de Dorquinhas, combina perfeitamente com ela.

- Tudo bem, Dorconas.

Se não fosse pelo riso abafado de Lene, eu teria esquecido completamente que ela estava ali. Estava tão pensativa, tão quieta...

- No que estava pensando Lene?

- Nada...

- Quem nada é peixe!

- Então nesse caso, você nada muito bem né Lily, afinal, o peixe-boi aqui é você!

Eu entendi errado ou ela me chamou de gorda? Essa magoou... Sério!

- Nossa Lene, quer que eu arranje um emprego pra você no circo, sério você tem um talento que meu Deus.

- Ah, Lily me erra.

- Não to te acertando.

Estávamos parecendo duas crianças de cinco anos, mas eu não ia ceder. E tampouco ela.

- Ah, acabou a palhaçada. Lene quer fazer o favor de dizer logo no que estava pensando?

Como sempre, Dorcas estragando esses momentos “carinhosos”.

Lene soltou um barulho indecifrável, e devo admitir que me assustou um pouco.

- Nada Dorcas! Só estava penando naquele livro.

- Oque tinha nele?

- Coisas que prejudicam e como se livrar delas, como o alcoolismo, drogas e essas coisas. Nada de tão interessante assim, agora me deixem em paz.

Ainda bem que era isso, por que, secretamente fiquei com medo de ser alguma daquelas “revistas masculinas”, e nem venha me falar que era um livro e não uma revista.

Isso se chama insegurança feminina.

Mas por outro lado fiquei com pena de Lene. Não sei se já comentei com vocês, mas o pai dela é alcoólatra e vira e meche bate nela. Bater não é a palavra adequada, ele praticamente a espanca.

É realmente muito doloroso ver Lene daquela forma.

Mas bem, ele está fazendo um tratamento e Lene tem convicta certeza de que ele vai melhorar, e oque eu acho mais bonito é o fato de ela ainda ama-lo. Eu, particularmente, acho que não teria estômago pra tanto...

Um mês depois.

Eu já falei que odeio ser acordada de madrugada? Pois é, eu odeio terminantemente.

Quantos as novidades? Bem, Amos me pediu em namoro na frente de toda a escola e acho que Potter não gostou muito, por que ele está me ignorando desde então. Não que eu ligue muito pra isso, afinal, Potter sempre será o Potter.

Agora, voltemos para as batidas na porta de madrugada.

Eu literalmente me arrastei da cama, fui andando em passo tartaruga mesmo.

Nessas horas é que eu sinto falta dos meus pais e de Petúnia. E se for um ladrão, assassino, estuprador ou algo do tipo?!

Mas não era nada disso.

Quando olhei pelo olho-mágico vi que era algo ainda pior.

Sim, era Black e... Lene?

Eu nem percebi quando abri a porta e quando estava ligando pra ambulância, mas eu estava. E logo depois liguei pra Dorcas.

Eu realmente preciso parar de ter esses lapsos de memória.

Lene estava péssima, toda machucada e sangrando. Não que eu nunca a tivesse visto assim, na verdade era bem comum. Parece que o pai dela teve mais uma de suas incontáveis recaídas.

Oque mais me surpreendeu foi Black – ou como me pediu para chamá-lo, Sirius – ele estava à beira de um ataque cardíaco, oque era bem ruim, ao passo que eu teria que chamar mais uma ambulância.

Eu não sei dizer em palavras oque estava acontecendo, o momento era muito improvável para uma simples mortal como eu descrevê-lo.

Ele segurava a mão de Lene como se ela fosse desaparece a qualquer hora, limpava o sangue de seu rosto com a manga do próprio casaco e olhava pra ela com um misto de dor e de carinho.

Lene estava com a cabeça no colo de Sirius e ele estava praticamente chorando e tentando abraça-la ao mesmo tempo, só que ela estava sentindo dor demais para reagir só soltava uns sons agonizantes oque o deixava ainda mais desesperado.

Quando Dorcas chegou ela quase pulou no pescoço de Sirius, mas aí eu expliquei toda a situação a ela. Ela ficou tão boba quanto eu, quero dizer, desde quando Sirius Black pensa em algo mais a não ser ele?!

- Então Black, é, hm. Sirius, onde você achou Lene?

- Bem, Evans desculpa por aquele dia, é que eu estava realmente nervoso, não queria ter dito aquelas coisas pra você.

Okay, quem é você e oque fez com Sirius Black?

- Lily, me chama de Lily. Ah, você estava certo em parte.

- Então você me desculpa Lily?

- Só se você me desculpar também, não foi certo oque eu falei pra você.

- Tudo bem.

- Então, onde você achou Lene?

- Ela estava vindo pra cá, a princípio não a reconheci, só vi o rastro de sangue na calçada, aí eu parei o carro e fui perguntar se ela precisava de ajuda, só depois vi que era Lene e então comecei a tremer muito mesmo, quero dizer, nunca imaginei ela dessa forma. A princípio ela tentou recusar, mas depois percebeu que era eu e murmurou algo como “obrigado por estar aqui” e caiu inconsciente encima de mim.

Sirius falou mais pra ele mesmo do que para mim.

E aquilo soou bem, como se ele realmente se importasse com ela. Oque eu não duvido que seja verdade.

Mas a hora em que eu mais me impressionei foi quando a ambulância chegou.

Bem, aconteceu uma pequena briga sobre quem iria acompanhar Lene. E Sirius ganhou, ele praticamente implorou pra que não separássemos Lene dele e disse que nós poderíamos ir com seu carro até o hospital.

Dorcas a principio não quis, mas depois da minha delicada cotovelada – que tenho certeza que vai ficar roxa – ela acabou cedendo e ele disse algo como “vocês são as melhores amigas do mundo” e se foi. E por um momento eu fiquei feliz, afinal, não era todo dia em que Sirius Black me chamava de “amiga”, e então eu percebi que ele não era aquilo que eu pensava, ele era melhor... Muito melhor!

Sirius Black.

Eu ainda não sei oque pensar.

É como se eu quisesse trocar de lugar com ela, como se eu quisesse tomar todas as dores dela e esquecer essa que está me consumindo. A da ansiedade.

Eu sinto que simplesmente não vou suportar se acontecer algo com ela.

Estamos na sala de espera, esperando.

Ignore oque eu falei agora, eu sei que foi idiota, mas me dê uma folga, afinal, eu estou sentindo que meu cérebro vai rachar de tanto pensar e de tanto xingar o médico por sua demora.

Dorcas está quase perfurando o chão de tanto andar, pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, e sinceramente isso já está começando a me irritar.

Lily está sentada e calada, pensando.

E agora vejo que James não poderia ter feito uma escolha melhor. Lily é uma pessoa incrível, por mais que não pareça. Honestamente, torço muito para que James possa conquista-la. Afinal, até mesmo ele é melhor que Amos Diggory, mas não posso interferir isso é assunto de Lily e de James.

Mas pela primeira vez percebi o quanto são parecidos. E isso me assustou.