Lily Evans.

Nem preciso falar que quase morri de dor de ouvido quando o próprio diabo entrou no meu quarto de hospital, preciso?

Sim, dor de ouvido, por que aquela maldita maquininha importada diretamente do inferno fez um barulho totalmente insuportável devido ao aumento substancial de meus batimentos cardíacos.

Se você olhasse de fora, como um telespectador, pensaria que eu estava morrendo e que o diabo e seu demônio ajudante vieram me buscar para irmos juntos e de mãos dadas para o andar de baixo.

E Amos seria uma espécie de figurante bonitinho.

Honestamente, eu teria rido. Mas é só nos olhos dos outros que pimenta é refresco.

Lene estava parecendo um tomate inchado que passou da validade. Ironias da vida, como eu adoro.

Ela estava mais vermelha do que meu cabelo, e sim, isso é uma grande coisa!

E Dorcas não estava muito melhor, oque chegava a ser mais estranho ainda.

Tudo bem é muito comum Dorcas corar quando está perto de Lupin ou quando tem que fazer alguma apresentação na frente da classe, mas fora isso é quase impossível de ver Dorcas vermelha.

A menos que Lupin esteja aqui.

E se Lupin estiver aqui, Potter provavelmente também está.

Sem pensamentos negativos Lily, sem pensamentos negativos.

– NUNCA MAIS OUSE ME ASSUSTAR DESSE JEITO, OUVIU BEM LILY EVANS?

Ainda estava mergulhada no meu mundo de pensamentos quando Lene, com sua doçura notável, me trouxe de volta.

– Lene, também é muito bom ver você. Estou muito bem, obrigado.

Ela apenas revirou os olhos e murmurou alguma coisa inaudível, mas conhecendo Lene, presumo que foi um xingamento.

– Lily oque aconteceu?

Dorcas me abraçou tão forte que provavelmente algumas de minhas veias foram rompidas.

Só então ela pareceu notar Amos.

– Ah, oi Amos.

– Oi... Lily, já vou indo... Mais tarde eu te ligo.

Esperei até que Amos estivesse longe para começar a dar meu ataque.

Qual é, elas atrapalharam meu beijo com Amos. Quero dizer, meu quase beijo com Amos.

– EU VOU MATAR VOCÊS. E DE PREFERÊNCIA DE UMA FORMA LENTA E DOLOROSA.

Lene que parecia estar muito interessada no livro que Amos estava lendo levantou os olhos pra mim e fez uma cara fingindo estar triste:

– Viu Dorcas?! É isso que nós ganhamos por estarmos preocupada com certas pessoas!

Eu realmente não mereço isso.

– Sem drama Lene, ou será que você não percebeu que acabou de interromper meu quase beijo com Amos Diggory? Por Deus Lene! Eu quase beijei Amos Diggory!

Fiz uma voz de choro que irritou até a mim, pra logo depois virar de barriga pra baixo e fingir estar me asfixiando com o travesseiro.

Elas fizeram um silêncio suspeito por uns quinze segundos. E acredite, quando se trata de Dorcas e Lene, isso é tempo demais.

Esses pensamentos vieram como se fossem algum tipo de aviso, por que em menos de um segundo todas as minhas suspeitas foram confirmadas.

Ataque de cócegas. Como eu odeio isso, deveria ser um crime!

Eu estava praticamente implorando pra elas me soltarem quando uma enfermeira chegou.

– Srt. Evans, eu acho melhor você parar com essa ansiedade toda.

Falou à enfermeira que estava com uma cara tão boa e disposta a ajudar que só faltava pendurar um cartaz na testa escrito “Quero mais é que morra”.

– Como é?

Eu devo ter feito uma cara de “me explica, por que sou lerda”.

E eu acho que ela entendeu, por que simplesmente revirou os olhos e usou uma voz como se estivesse falando com um foca com degeneração mental.

Definitivamente eu não gostei disso.

– Bem, srt. Evans, talvez seja muito difícil de entender, mas você teve uma crise de ansiedade. É normal quando as pessoas se preocupam demais com as coisas...

– Eu sei oque é ansiedade!

Me senti totalmente ignorada quando ela continuou a falar como se não tivesse me ouvido.

– Esperar por uma coisa é normal, imaginar como vai ser também é. Agora viver em função daquilo, como se nada mais importasse é outra coisa bem diferente Srt. Evans.

Eu estava parecendo uma criança de cinco anos, mas eu simplesmente não ia mais falar com ela. Se ela me ignorou, vou ignora-la também.

Aqui se faz, aqui se paga.

Dorcas percebeu oque eu estava fazendo, como sempre. Não que eu faça isso muitas vezes.

– E quando ela vai ter alta?

Só então a enfermeira percebeu a presença de Dorcas e de Lene no quarto.

Não que Lene ligasse muito, porque voltou sua atenção pro mesmo livro que estava lendo antes. Esse livro deve ser milagroso, por que não é tarefa fácil fazer Lene se interessar por algo que tenha mais do que cinco palavras.

E se me permitem dizer, Amos também não faz o tipo de pessoa que gosta de ler.

Dorcas pareceu não se abalar com o fato que a mortusa – qual é, ela tem cara de morta mesmo – não a tinha notado ainda.

– Dentro de pouco tempo, espero. Vou falar com o Doutor. Hundverlook, e ver se já posso liberar a alta.

É impressão minha ou ela falou que quer que eu saia logo? Mas que abuso!

– Dentro de pouco tempo, espero. Vou falar com o Doutor. Hundverlook, e ver se já posso trazer a alta. – Dorcas falou imitando a voz de zumbi dela e com tanto deboche no rosto que eu quase fiquei com pena. Quase.

– Pensei que fosse só eu que não gostei da mortusa!

– Mortusa?

– Ah, seja sincera Dorcas. Ele tem cara de morta e uma voz de zumbi que dá pra detectar a distância. Acho que até a Petúnia consegue ser mais agradável que ela.

– Pois é, eu achava que não iria viver o suficiente para encontrar alguém mais detestável que sua irmã!

A não, essa voz não... Essa voz não!

Deus não pode me odiar tanto assim, não é possível.

Oque será que eu fiz de tão ruim, que – só pode ser um castigo – o leva a me perseguir até dentro do hospital?

– Oque é que você quer aqui, Potter?

– Eu tava passando por aqui e resol...

– Passando por aqui? Alô mentira, tudo bom?! Enfim, Evans vou deixar as coisas clara pra você. Não que eu tenha algo contra a sua pessoa, mas eu simplesmente não gostei do fato de eu ter de me deslocar do céu até o inferno só pra que o James pudesse ver como você estava ok? Então me faça o favor de não ter mais essas crises estranhas e começar a se comportar como uma pessoa normal.

Eu fiquei calada por um tempo tentando digerir aquela “acusação”.

– Não pedi pra que ele viesse. E muito menos pedi pra que você viesse, Black.

Respondi seca. Afinal, oque mais eu poderia dizer se aquela era a verdade? Eu estava muito melhor sem eles ali.

Lene pareceu perceber a presença deles no quarto e ficou mais alerta, afinal, nunca se sabe quando ela vai ter que entrar em ação.

Depois do que eu disse Black ficou me olhando com uma cara de quem não acreditava no que tinha ouvido.

Oque devo admitir, não entendi muito bem. Pelo oque eu saiba fui clara o bastante.

Lupin estava tentando acalmar Black ou coisa do tipo, falando que ele estava exagerando e essas coisas que só servem pra deixar a pessoa ainda mais nervosa... Mas, pra todo o caso, a intenção era boa.

Black parecia ter recobrado a consciência quando olhou pra Potter novamente.

– James, não me diga que você me fez perder meu encontro com aquela Lufana gostosa por uma garota que te trata como se fosse menos que um cachorro! E não ouse me olhar desse jeito McKinnon! Quer saber? Eu to cansado de você Evans, você se acha alguma coisa desprezando os outros como se você fosse mais que alguém, mas eu só tenho um conselho pra te dar, se olha no espelho e olha as garotas que estão loucas pra sair com James, perto delas você é ralé! E James, se você ainda não percebeu não somos queridos aqui.

Ele estava se virando para ir embora quando eu ri.

É isso aí, eu ri.

Ou melhor, gargalhei.

Aquilo tudo era tão ridículo que eu não pude evitar.

Black voltou a me encarar, mas dessa vez foi como se ele fosse me bater ou algo do tipo. Eu até ficaria com medo, mas Lene estava do meu lado, então não tinha oque temer.

Potter estava tão calado que até me surpreendi em saber que ele podia ficar mais do que trinta segundos calado. Lupin olhava de Black para mim como se fossemos cair no tapa a qualquer minuto. Oque não era uma coisa tão impossível assim.

– E quem te disse que quero ser como essas garotas que praticamente se jogam em cima de vocês? Quem foi que te iludiu?

Antes que ele pudesse responder, comecei de novo.

– Ah, Black, e quanto ao fato de você estar cansado de mim, é só esquecer que eu existo. Afinal, eu nunca pedi pra você se importar com isso, eu quero mais é que você desapareça, suma, evapore, que volte pro inferno de onde você saiu. Eu também não suporto mais olhar pra essa sua cara de “eu posso tudo” quem você acha que é? Você não é nada. Entendeu? N-A-D-A!

Como já estava livre dos fios e Dorcas tinha ido na frente pegar a alta, saí de lá esbarrando o mais forte que pude no ombro de Black.