Lily Evans.

Os dias estão passando como se fossem flechas. Velozes, perigosos e até mesmo letais.

Está tudo muito confuso e é como se eu tivesse perdido a noção do tempo.

Sabe quando as coisas mudam tão depressa que você não consegue definir oque realmente aconteceu, do que você acha que aconteceu?!

Coisas que antes eu achava serem impossíveis aconteceram de forma tão natural que chega a me assustar.

Por que Lene e Sirius nunca poderiam ficar juntos, certo?

Errado. Eles estão mais juntos do que unha e carne.

Obviamente eles têm umas seis brigas por dia, mas logo depois vem uma reconciliação daquelas de tirar o fôlego.

Mas não tem mais fôlego para tirar, porque você o perdeu completamente enquanto estava tentando separa-los de sua “pequena demonstração da Segunda Guerra Mundial”, como apelidei carinhosamente.

Fora isso eles eram como aqueles casais de filmes, sempre saíam pra tomar sorvete, iam ao cinema, faziam vários planos para o futuro como se tivessem absoluta certeza que passariam o resto da eternidade assim... Juntos e felizes.

E é aí que se encontra o meu problema, por que eles são totalmente o oposto de mim e Amos.

Não que eu não esteja feliz por eles, mas veja bem, não tem como eu deixar de reparar em certas coisas.

Como o fato de que eu e Amos não fazemos mais questão de estarmos juntos. É estranho, mais eu já deixei de ir a lugares apenas por saber que ele estaria lá também.

De uns tempos pra cá, Amos começou a me tratar como se eu fosse um troféu que ele tivesse orgulho em exibir como propriedade dele, mas quando não tinha ninguém mais olhando, quando as cortinas se fechavam ele me descartava. Como se eu fosse um mero copo plástico que só é útil em algumas poucas ocasiões.

E aquilo já estava começando a me irritar. Quero dizer, eu não sou uma daquelas garotas que sentem orgulho em ser considerada uma espécie de “medalha”, que tem de ser mostrada a tudo e a todos.

Eu quero um namorado que me ame do jeito que eu sou e queira ficar comigo até – e principalmente – quando ninguém estivesse olhando.

Mas não, essas coisas não acontecem comigo e eu já deveria estar conformada com isso.

E sabe oque é mais deprimente nisso tudo? Ver como Sirius é realmente, totalmente diferente do que o julguei.

Ok, eu estava certa naquele ponto de “galinha” “egoísta” e blablablá. Mas é como ele diz, só estava se divertindo com as erradas enquanto não encontrava a certa.

E agora que vejo que ele é uma ótima pessoa me arrependo de tudo oque falei, de tudo oque pensei a respeito de Potter, afinal, se são tão amigos devem ser no mínimo parecidos, certo?

Mas o tempo passou e as coisas mudaram.

James Potter atualmente está coordenando aquele fã-clube ridículo, sua arrogância parece ter triplicado, e ele nem se quer olha na minha cara. Não que eu faça muito esforço pra isso.

É bem como aquele ditado, nós só damos valor depois que perdemos.

Bem, eu não posso perder oque eu nunca tive, mas oportunidades não me faltaram.

Mas não adianta chorar pelo leite derramado, agora é seguir em frente e tentar não fazer mais nenhuma idiotice da qual posso me arrepender no futuro.

Eu já mencionei que Buttercup pode ser um cachorro muito irritante? Definitivamente ele pode. Ainda bem que ele me odeia e Petúnia me liberou da tarefa de passear com ele.

Deus é mesmo poderoso, por que pra fazer Petúnia desistir de algo requer muita força de vontade.

Enfim, aquele cão infernal latiu por volta de três minutos incansavelmente até que a campainha tocou, mas convenhamos, ele não precisa respirar não?! Tomara que morra por falta de oxigênio.

Quando abri a porta me deparei com um Amos totalmente bêbado e fora de si.

– Amos?! Oque aconteceu?!

Ele me olhou de uma forma estranha, como se fosse capaz de me obrigar a fazer algo.

Ele ignorou totalmente a minha pergunta e falou com um bafo que me deu dor de cabeça.

– Nós já estamos juntos á algum tempo, e você sabe... Um homem tem suas necessidades.

Quê? Cadê o cavalheirismo? Cadê as flores? Ele não me procura a uma semana e quando finalmente resolve dar as cara, é assim que ele me trata?

Isso é algum tipo de pegadinha?!

– Oque você quer dizer Amos?

– Olha, vamos fazer assim, amanhã ás sete da noite eu vou te buscar na sua casa, esteja pronta.

Estar pronta pro oque? Por acaso ele se tocou que tem que me dar um pouco de atenção?

– Pra que? Aonde vamos?

Mesmo bêbado, eu esperava que ele dissesse algo como “Jantar fora” “Ao cinema” ou “vamos olhar as estrelas”, mas não, é claro que não.

Ele me olhou com um tanto de cobiça, deus as costa e começou a andar de volta para seu carro, mas não sem antes falar:

– Amanhã você vai ver, Lily, amanhã você vai ver.

E nem preciso citar que isso me deixou irritada pelo resto do dia, preciso?

Em todos os sábados, Lene, Sirius, Remus e Dorcas vão ao cinema. Algumas vezes Potter vai, algumas vezes eu vou. Mas nunca nos encontramos.

Essa semana é a vez de ele ir. Sim, nós meio que fizemos um trato silencioso, uma semana eu e na outra ele.

E mesmo assim meu ânimo está na base zero pra ir a algum lugar hoje.

Eu to mais pra fazer batatas fritas e brigadeiro, ir na locadora e alugar dezenas de filmes dramáticos e me afundar na minha desgraça particular.

Mas não, nem isso dá certo pra mim. Meu celular tocou, e devo admitir, tenho um péssimo gosto pra toques.

Eu pensei seriamente em ignorar, mas acho que Lene não ficaria muito satisfeita com isso.

– LILICA se arruma rápido, vamos no cinema.

– Nem rola Lene. Talvez na próxima.

Eu acho impressionante a capacidade de Lene para detectar problemas, principalmente os meus.

– Oque aconteceu Lily?

Nessa altura toda a voz de entusiasmo e felicidade de Lene tinha ido dar um passeio.

– Nada demais.

Honestamente não acho que devo estragar a noite de Lene com meus problemas idiotas e infantis.

Mas Lene não parece pensar como eu.

– Olha, eu vou te dar duas alternativas. Ou você me conta agora, ou eu vou aí arrancar a verdade de você. E aí, qual prefere?

– Não é nada, sério. Vai pro cinema e trás uma porção daqueles tacos pra mim, ok? Faz um tempo que não como tacos.

– Se você prefere assim, assim será.

Eu tive uma impressão, apenas uma impressão que ela não estava falando dos meus tacos.

Saboreei a calmaria por torno de mais ou menos meia hora, mas...

...Paz de pobre é igual á saia de Lana Brown... INEXISTENTE!

– Lily abre essa porta se não eu arrombo. E eu to falando sério.

Ouvi uma voz muito doce, calma e controlada que estava literalmente aos berros do lado de fora.

Sinceramente? Eu não duvidava de Lene. Ainda não estou maluca á esse ponto.

– Tá morrendo? Não dá pra esperar não?

Gritei de volta, mesmo sabendo que não era muito sensato gritar com Lene.

Corri até a porta e abri, afinal, não queria ter que ir atrás de alguém para concertar. Tanto a porta quanto a minha cara.

Como se eu já não estivesse deprimida o suficiente, quando a porta foi aberta me deparo com a cena linda de Sirius e Lene se agarrando. Realmente inspirador.

Voltei pro sofá com meu brigadeiro e batatas fritas.

Se é verdade aquela história de “Oque não mata, engorda” então acho que você já podem me enviar para o zoológico, pois estou virando um elefante com obesidade mórbida. Se é que isso existe.

Quando os pombinhos resolveram que ainda precisavam de ar pra poder viver, notaram a porta aberta e um elefante ruivo e deprimido que estava comendo sem parar enquanto assistia a um filme deprimente no sofá.

– Hey Lily, oque aconteceu?

A essa altura Sirius já tinha surrupiado minhas batatas fritas e estava com as pernas por cima de mim.

Agora eu te pergunto: Tem como gostar de uma criatura como essa?

Obviamente tem, quero dizer, ele é um amigo maravilhoso e você pode contar com ele pra tudo.

E quando digo pra tudo, é pra tudo mesmo.

– Nada, eu apenas estou observando o quanto minha vida é perfeita.

Devo admitir, fiquei feliz com a volta do meu sarcasmo, fazia um tempo que não o usava. Sirius tinha essa influencia sobre mim, eu poderia dizer tudo e ao mesmo tempo nada que ele iria me entender.

Peguei minhas batatas de volta na primeira oportunidade, mas Lene já havia pego minha bacia de brigadeiro.

Ótimo, simplesmente ótimo. Um casal de furtadores era tudo oque eu mais queria.

– Lily, amor da minha vida, caso você ainda não tenha percebido, eu não tenho nenhuma bola de cristal, então, por favor, faça-me o favor de contar logo.

– Nada, é que o meu namoro com Amos não anda lá essas coisas de bom, e hoje ele veio com uma história estranha... Meus pais não estão em casa há algum tempo e não vão voltar tão cedo, Petúnia está morando com a Morsa que chama de namorado, e eu me sinto sozinha...

Antes que abrissem a boca para falar alguma coisa, continuei:

– ... Nada demais. Lene, se não se importa, pode me devolver o brigadeiro?

Sirius estava pensativo, Lene estava assistindo ao filme e parecia não ter escutado uma só palavra do que eu disse. E eu... eu estava comendo batatas fritas, que a propósito, estavam acabando!

– Lily, oque exatamente Diggory te disse?

– Que já estávamos juntos há algum tempo e que homens tinham suas necessidades, falou pra eu estar pronta amanhã ás 7:00 da noite.

– Pra ir aonde?

– Não sei, ele disse que amanhã eu vou ver.

Sirius pensou mais um pouco e se levantou bruscamente.

– Lene, vamos. Agora.

– Mas eu quero ver o filme.

– Lene, por favor.

– Ok, ok, Lily, você vai ficar bem?

– Vou sim, obrigado por virem. Realmente adorei que acabassem com a minha comida.

Sirius deu uma piscadinha e disse algo como “Ao seu dispor” e Lene apenas revirou os olhos.

Eles se foram, e eu caí no sono ali mesmo.