Entre Caçadores E Presas escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 8
Preto.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Foi horrível sobreviver toda machucada daquele jeito e existiam algumas vezes que eu pensava que a morte doeria menos se eu tentasse. Eu sabia que era loucura, sabia que talvez ainda existisse, lá no fundo, uma chance para eu sair daquele inferno particular, porém era inevitável não pensar naquilo diante de tanta dor.

Pessoas normais não aguentariam tanto.

Claro que tinha o fator Edward que estava me ajudando, comprando pomadas para melhorar rápido, me dopando de analgésicos, me forçando a comer ― porque segundo ele, se eu começasse a comer melhor, cicatrizaria mais rápido ― e outras coisas que não lhe eram normais. Ele não me tocara nenhuma vez, e isso era bom, embora eu não me iludisse com aquilo, sabendo que ele achava que eu estava machucada demais para poder se abusar.

Eu sabia que seria pior depois, por isso ficava hesitante quando ele se oferecia para passar pomada, afinal eu tinha conhecimento da personalidade suja de Edward e se oferecer para passar pomada em mim não me convencia, ao contrário: só me tornava mais temerosa a seu respeito.

Eu o odeio. Sim, o ódio ainda existe dentro de mim e eu sabia que ainda existia dentro dele também já que… bom, eu tinha matado seu irmão e não merecia nenhuma piedade de sua parte. Mas ele fingia incrivelmente bem! Na primeira noite em que eu passei toda machucada, ele me fez ficar em seu quarto organizado e masculino ― isso me era vetado antes ― alegando que eu poderia ter alguma coisa de noite.

E é… eu tive mesmo. Fiquei com febre, suando frio, tremendo e com os lábios brancos. Ainda me pergunto se ele sabia disso, se tinha consciência que isso iria mesmo acontecer e se era culpa dele, apenas sabia que ele foi muito útil, apesar do meu orgulho sem fim me engolir toda vez que eu pensava a respeito disso.

Eu tinha raiva dele. Tinha muita raiva e ele tinha raiva de mim também. Tinha raiva por na primeira noite em que fiquei em seu quarto, ter olhado suas fotos de quando era menor, de quando ainda trabalhava no exército e de quando ainda estava com o seu pai. Ele surtara quando me vira em pé de frente a sua estante, olhando tudo com curiosidade, e gritara comigo sem pensar duas vezes.

Era por essas e outras atitudes que eu não acreditava nele. Mas o que eu tinha que acreditar? Ele nunca me dissera nada, nunca me fizera acreditar em nada, apenas chegava e fazia sem pensar duas vezes, sem falar nada.

E é… eu tenho que admitir que segundos depois de gritar comigo ele talvez pedisse desculpas como se fosse o grande culpado da história toda. Ele não era; eu que estava sendo curiosa além da conta ― e eu só confessara isso porque estava com medo que ele, sei lá, me batesse mais e me machucasse mais do que eu já estava no momento.

Eu o odiava por ser tão falso, por cuidar de mim como se quisesse fazer aquilo.

― O que foi? ― Edward perguntou quando eu saí exasperada do sofá, marchando em direção às escadas.

Hesitei. Toda minha raiva se esvaíra.

― Eu só… hã, tenho que pintar minhas unhas.

― Não vai se matar com alguma coisa que tenha lá em cima, vai? ― Perguntou cauteloso, franzido as sobrancelhas. Pelo que parece eu tinha falado alguma coisa durante o sono pesado e ele tinha escutado e se apegado a essa ideia mais do que deveria. 

Como se você fosse se importar com isso! ― Grunhi em minha mente, o olhando falsamente pacífica antes de bufar, cruzando meus braços. 

 ― Já passei desse nível.

Era só que eu não queria ficar perto dele, não queria fingir não possuir medo enquanto era tudo que queimava dentro de mim. Edward era intimidador quando queria e mesmo não sendo nesse último mês, eu tinha medo, afinal a primeira impressão é a que fica e pra mim esse ditado é válido.

Mordi meus lábios ao me sentar no chão de meu closet, passando os dedos em meus cabelos e suspirando. Eu queria tanto… sei lá, talvez alguém para conversar porque esse silêncio estava me apunhalando aos poucos, me matando. E Edward, bom, eu não aceitava quando ele tentava falar alguma coisa pelo simples fato de ter medo. Cansada, cansada, cansada. 

Minhas mãos estavam sem nenhuma cicatriz, assim como todas as partes de meu corpo que haviam sido machucadas. A pomada de Edward era milagrosa e eu não agradeci a ele, mesmo tendo vontade de fazê-lo. Orgulho, em cada partícula de meu ser, em cada célula de meu corpo, em cada pensamento de meu cérebro.

― Que cor você vai pintar agora? ― A voz divertida e baixa dele estava atrás de mim, e eu não me virei com medo que ele visse a raiva presente na minha expressão.

― Preto.

― Preto?

― É.

― Por quê?

Dei de ombros. Eu também tinha medo de explicá-lo o porquê da cor preta, o porquê de o meu humor estar preto, o porquê de a minha vida ter se transformado em um preto denso agora que eu estava aqui. Simplesmente porque eu não conseguia ver mais nada a não ser a escuridão, não conseguir ver um futuro para mim. Eu não conseguia pensar em mais nada, ler mais nada sem que tivesse paranoia dentro de minha cabeça.

Preto era a situação que estava agora. A ausência de tudo, somente a escuridão.

― Ah qual é, Bella. Eu estou me esforçando, será que você não percebe isso?

― Está se esforçando para…? ― O indaguei em um tom vazio, olhando para minhas unhas, agora médias como que para escapar.

― Para tentar tirar de você essa imagem que tem de mim.

― Impossível. ― Eu o dissera, sem tirar os olhos das minhas unhas. 


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Notas finais do capítulo

Comentem, pessoas! ♥