Na mesma hora, eu desci a cordinha para subir o pano da cortina e dar passagem para a porta da varanda. Abri esta e saí para a sacada. A noite estava linda e cheia de estrelas no céu limpo. Ficamos um longo tempo parecendo dois abobados, um olhando para o outro e sorrindo. O vento batia em meu rosto, levando meu cabelo de um lado para o outro, cobrindo minha face e fazendo eu me enrolar toda para tirá-los dali, o que eu julguei ser uma cena engraçada aos olhos de Harry, que ria de mim. Ah aquela risada. Era tão perfeita e gostosa que soava como música para os meus ouvidos. Eu amava o jeitinho que ele ria, apertando os olhos, franzindo nariz e soltando aquela gargalhada maravilhosa. Definição de perfeição? Com toda a certeza, era Harry Edward Styles. Meu namorado.

- Não está com frio não é? – Harry perguntou preocupado assim que cessou com a risada, esfregando seu longo indicador na pontinha do nariz. – Não quero ver você doente logo na última semana em Londres. – Ele alertou e aquilo não poderia ser mais fofo. Ele sempre foi muito preocupado comigo, às vezes era pior que pai super protetor. Mal deixava chegar perto de suas fãs com medo de que uma delas tornasse as ameaças que me fazem pela internet reais. Na verdade ele me proibiu de chegar perto delas depois de um incidente.

*flashback*

Depois que eu e Harry começamos a namorar de verdade e ele decidiu assumir pro mundo quem eu era, obviamente eu recebi muitas ameaças, ódio de fãs revoltadas... Mas eu não me importava com esse tipo de coisa contanto que eu tivesse ele ao meu lado. O tempo foi passando e as meninas dele foram aceitando isso melhor, vendo que eu não era essas quaisquer que Harry ficou antes de me conhecer, que só estavam interessadas em sua imagem e status. Nisso eu comecei a me aproximar mais de alguma delas e a todo show importante que eu estava presente, dava um jeito de burlar a segurança e fazer algumas fãs se encontrarem com os meninos. Parte do fandom realmente gostava muito de mim, mas algumas ainda eram ressentidas por eu ter tirado o “bebê delas” da pista. Nesse dia, os meninos iriam fazer um show importante em NY e eu, Alice e Danielle tínhamos ido pra lá para prestigiar nossos namorados. Chegando ao local do show a recepção para eles foi absurda e uma legião de meninas gritava o seus nomes. Eu não era o tipo de pessoa tímida, mas nessa situação eu me acanhava muito, pois sabia que havia olhares matadores em cima de mim, então eu abaixava minha cabeça e deixava ser guiada por Harry e os seguranças nos empurrando logo atrás. Só que ao fundo eu escutei algumas meninas chamando meu nome desesperadamente e eu odiava ignorar as pessoas, então levantei minha cabeça e procurei saber em qual direção me chamavam. As meninas sabiam que eu ajudava algumas fãs, então devia ser por isso que me chamavam, para tentar alguma coisa. Eu não me importava de ser “usada”, sempre gostei de ajudar todo mundo, e afinal, eu que comecei com essa coisa de ajuda. Disse pra Harry que alguém me chamava e eu queria ver o que era. Ele hesitou em me deixar ir, mas eu insisti e ele estipulou a condição que eu só iria com o Paul, segurança dos meninos. Então eu e Paul demos meia volta enquanto os meninos entravam na casa de show.

- Oi, oi, oi! – Disse animada quando me aproximei da menina que gritava meu nome. Ela tinha cabelos negros, pele muito branca e olhos azuis piscina. Todas elas estavam do lado de fora da grade enorme e grossa que as separavam de onde os meninos haviam passado.

- Oi, Lô! Será que você pode chegar mais perto? Quero tirar uma foto com você. – Ela disse sendo toda simpática e eu sorri, me aproximando da menina na grade e Paul deu seu primeiro passo, não confiando muito nela. Mas ela foi tão fofa... Que me enganou. Assim que encostei minha cabeça na grade para tirar a suposta foto com a menina, ela agarrou meu cabelo, puxando com tanta força que eu não conseguia volta, ficando com a cabeça grudada naquela grade dura. Nisso, ela disse entre dentes em meu ouvido. – É melhor você terminar com Harry, ele não é pra você, está entendendo? – Quando algumas meninas entenderam o que estava acontecendo e Paul também, as meninas a puxavam de um lado a garota maluca e o segurança grandalhão me puxava do outro e a cada minuto aquilo ficava mais desesperador, pois ela soltava meus cabelos aos poucos e puxava de novo, fazendo eu bater meu rosto com força contra a grade. Eu já estava nervosa de tanto medo e dor que eu sentia com aquilo, chorando e gritando querendo sair das mãos daquela doida. Então cravei minhas unhas em sua mão que me puxava e consegui me livrar, saindo dali correndo com Paul até a porta por onde entrávamos antes. Eu estava tremendo, chorando de soluçar e muito nervosa. Algumas meninas gritavam pedindo desculpas pela atitude daquela louca e eu apenas disse para Paul me arranjar um copo de água com açúcar. Eu não queria entrar no camarim naquele estado e deixar Harry bravo com suas fãs ao contar a história, eu tentaria esconder isso dele, afinal, nem todas eram daquele jeito. Quando me acalmei o bastante, nós entramos e eu estava conseguindo manter bem a minha pose, mas Paul me desmascarou, contando tudo o que aconteceu, deixando Harry irado! Eu nunca o tinha visto tão bravo. Depois disso, eu fui proibida de chegar perto de suas fãs.

(...)

Com certeza aquele foi o momento mais desesperador da minha vida, porque eu não sabia se iria sair dali viva, vai que aquela menina tinha uma faca? Nunca se sabe. Mas enfim, o que importa é hoje estava tudo bem e no dia seguinte eu iria para Londres, aproveitar meus últimos dias na Inglaterra com meu namorado e meus melhores amigos.

- Pode deixar, papai. Daqui a pouco eu entro, tá bom pro senhor? – Eu disse rindo e sendo debochada enquanto ele fazia uma careta.

- E vê se dorme rápido... Amanhã vamos cedo para aproveitar mais ainda o tempo que temos juntos. – Ele disse com um sorriso tristonho no rosto que eu tentei ignorar para não transformar aquela conversa num drama mexicano digno de novela do SBT.

- Quero ir à London Eye de novo, no Big Ben, na ponte... Quero me despedir de tudo! A gente até podia passar pra dar um beijinho na rainha depois. – Disse brincando e ele riu todo bobo. Ai como era lindo esse menino.

- Convidar ela pra tomar um chá das três no meu apê, né? O que você acha? – Ele disse sendo quase sarcástico e eu fiz uma cara de desdém, rindo em seguida. – Lembra da última vez na London Eye? – Ele perguntou com um sorriso sapeca no rosto e eu apenas abaixei minha cabeça para esconder o sorriso enorme em meus lábios. Sim, eu ainda tinha meus momentos tímidos com ele. E sim, morávamos quase ao lado da London Eye e só fomos uma vez. Na verdade aquele foi um lugar muito especial para nós, não queríamos tornar aquilo uma coisa rotineira.

- Leeembro... – Disse toda manhosa, encarando o chão enquanto esfregava a pontinha de meus pés neste, tomando coragem para encará-lo de volta. E quando o fiz, desejei não ter feito, o sorriso dele estava tão... Tão... Ah, esquece, não tenho palavras pra descrever como aquilo me fazia ficar fraca nos joelhos. – E você lembra da gente aqui? Aqui na sacada? – Disse toda tímida e ele abriu ainda mais aquele sorriso perfeito de príncipe.

- Que eu enganei você dizendo que conhecia o Harry do One Direction? – Ele falou rindo, acabando com o clima melado que estava ficando ali. Era um idiota mesmo. – Como vou esquecer?

- Seu besta! – Disse rindo e ele riu mais ainda.

- Eu não te disse isso, mas depois que conversamos naquele dia, eu liguei pra contar tudo pro Louis e quando eu falei que você não sabia da gente, ele e o Zayn te chamaram de indígena do mato. – Ele disse rindo, caçoando da minha cara. Imbecil! Pensei comigo mesma, rindo de minha própria ingenuidade.

- Três idiotas com um telefone. – Disse para me defender e assim que terminei um Louis numa boxer colorida e uma camisa branca sem estampas aparece na sacada, passando um de seus braços no ombro do amigo e observando-nos como quem não quer nada.

- Alguém chamou meu santo nome em vão? – Perguntou Louis com aquele ar petulante de sempre que chegava a ser engraçado.

- Idiota? Sim, sim... Você mesmo. – Eu disse e Harry riu abaixando a cabeça enquanto Louis fazia uma careta sem graça pra mim, me fazendo rir também. Falando desse jeito, parecia que brigávamos sempre, mas eu e Louis éramos muito amigos. Chamavam eu, ele, Harry e Alice de quarteto fantástico.

- Quadrúpede! – Disse Louis tentando me ofender. Na mesma hora, chega um Niall na varanda, gritando.

- Uhuuul! Festa na sacada, festa na sacada!

- Cala a boca, irlandês escandaloso! – Disse Harry entre dentes, forjando uma cara de bravo. – Todo mundo na Irlanda é assim, é? Daqui a pouco a borboleta bêbada acorda e você é quem vai ficar cuidando dele. – Disse Harry sendo todo autoritário e Louis apenas ria.

- Nossa... Mas grosso que cano de passar merda. – Niall virou as costas e foi entrando, mas antes... – Toma então! – Soltou um peido tão alto que eu achei que os vizinhos tinham escutado. Não conseguir conter a risada enquanto Louis me acompanhava e Harry ria também, mas balançava a cabeça em negação, me fazendo rir mais ainda.

- Não mereço um irlandês peidorreiro na minha vida. – Disse Harry.

- Vocês amam ele. – Falei e ele e Louis concordaram com a cabeça. Agora foi a vez de Liam de aparecer na sacada. Ele foi lá, apertou a bunda de Louis (que por sinal, era enorme. Chegava a ser maior que a minha) e disse que já tinha saído do banho, que era a vez dele.

- Oi Lolita! – Acenou Liam pra mim com um sorriso muito fofo no rosto enquanto Louis voltava para dentro, rumo ao seu banho e o menino tomava seu lugar ao lado de Harry.

- Oi capitão Wood! – Disse retribuindo o sorriso. Eu o chamava assim porque o menino era viciado em Toy Story. Ele gostava muito dos filmes da Disney, que era uma coisa que a gente tinha em comum, mas em especial, ele amava Toy Story. O apartamento dele era cheio de coisas relacionadas ao filme que as fãs o davam de presente. Liam era o menino mais fofinho da banda... Depois de Harry é claro. Na mesma hora, um vento frio passou mais uma vez entre a gente, desengonçando os cachos de Harry. Apesar de estarmos no verão, as noites na Inglaterra não eram nada calorentas.

- Já é hora de menina que vai acordar cedo estar na cama. Bora entrar, princesa. – Disse Harry arrumando seus cachos para o lado, percebendo que eu tinha me encolhido um pouco. Já mencionei como eu amava quando ele me chamava de princesa? É, eu amava.

- Ta bom, mandão. – Falei rindo e Liam riu junto. – Boa noite, meninos. Amo vocês.

- Sonhe comigo! – Exaltou-se Harry ao dizer sorrindo quando eu já ia entrando eu meu quarto. Virei, sorri de volta e joguei um beijo no ar para ele. Fechei minha janela e cortina e dei mais uma olhada em meu quarto para checar se estava tudo pronto para a viagem de amanhã. Só haviam algumas fotos grudadas em meu mural e eu não as deixaria lá. Fui tirando uma por uma e sorrindo ao me lembrar de cada momento escondido naquelas fotografias. Em uma estava eu, Gemma e Alice numa boate em um final de semana que eu decidi não ir para Londres, pois queria que Harry sentisse minha falta. Estávamos brigados, e no dia seguinte ele viajou só pra me pedir desculpas. Outra estava eu, Zayn, Niall e Louis com algumas cuecas do avô de Harry na cabeça numa festa de aniversário do velhinho e fazendo cara de espantados pra foto. Não pude deixar de rir ao me lembrar. Em outra eu, Harry, Danielle e Liam num passeio de pedalinho que fizemos uma vez. Uma com Kath, Tyler, Rachel, Anne, Robin, Gemma e Harry num dia de almoço em família, provavelmente num domingo. E por último, a minha preferida. Eu com uma orelhinha de Minnie e Harry com uma do Mickey bem na frente do castelo da princesa em uma viagem que fizemos pra Disney no meu segundo ano de intercambio. Foram perfeitos os cinco dias que passamos juntos lá e aquela foto era a prova disso. Estávamos um abraçando o outro e sorrindo feito dois bobos que tinham ido naquele lugar pela primeira vez. Antes que começasse a chorar com as lembranças, guardei tudo com carinho em uma de minhas malas e fui me deitar. Assim que me ajeitei na cama o celular vibrou e pra minha sorte ele estava ao lado do travesseiro, então não precisaria me levantar para pegá-lo. Era uma mensagem de Harry, então abri para ler.

“Você nem deixou eu falar “te amo” e entrou. Não me ama mais? Durma bem, desnaturada. Amo você. Xx”

Ri baixinho com aquela mensagem. Harry às vezes fazia mais drama do que uma menina menstruada.

“Para de drama, bobão! Eu também te amo mais que tudo, tá? Dorme com os anjinhos (o que eu acho que vai ser meio difícil com esses quatro do teu lado) e sonha comigo também, tá? Te amo, te amo, te amo, te amo... Já disse que te amo? Te amo, te amo, te amo... TE AMO!”

Respondi com um sorriso abobado no rosto e coloquei o celular onde estava. Me virei acomodando-me novamente e dormi assim que fechei os olhos, nem escutei Rachel, Kath e Tyler chegando. Estava realmente cansada.