Lembranças De Um Outro Mundo escrita por Luan Snow


Capítulo 3
Capítulo 2 - A Visita


Notas iniciais do capítulo

Agradeço o Adriano e a L W Clarke, que estão acompanhando e comentando a história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/245256/chapter/3

Não houve sonhos, nem pesadelos naquela noite. Quando Thomas acordou eram 9h55. Ele já deveria estar a caminho do hospital. Levantou-se da cama e correu para a porta, então se lembrou que ele não tinha a chave e voltou para o quarto. Quando abriu a cortina, a luz de um dia ensolarado iluminou o quarto, e ele viu que havia muito sangue, vindo de seu dedo ferido. O sangramento parara, mas ainda doía tocar nesse local, e para ninguém vê-lo, Thomas enfaixou a mão.

Saiu pela janela, e foi para o carro. Dirigir doeu para ele, mas tinha que suportar. Chegou ao seu destino às 10h12. Quando visualizou o hospital, sentiu o mesmo que os personagens dessas histórias fantásticas, que saem em uma grande jornada em busca de algo realmente grande, mas que só pensam nos perigos durante o caminho e nunca no que fazer depois de chegar no final.

A morte de um dos pais é uma etapa da vida. Seu pai conseguiu achar um atalho no caminho para a morte. Todos seguem esse caminho antes mesmo de nascer, e muitos dos atalhos que aparecem as vezes parecem ser o melhor, ou são acidentalmente usados. Muitas vezes, você se preocupa com o caminho das outras pessoas, porque quer dividir o seu com elas, mas não pode cuidar de todos, se não você morre.

Desceu do carro e foi em direção ao hospital. Não encontrou a mãe, e foi perguntar a mesma enfermeira de antes onde era a UTI. Ela explicou o caminho e Thomas seguiu para lá. Não avistou a mãe, e pensou que ela já visitara Dave e tinha ido comer alguma coisa. Depois de colocar com esforço as luvas e uma camisa, oferecidas pelo hospital, com o propósito de o visitante não transmitir alguma doença ao paciente, entrou na UTI.

O lugar era monótono, e as únicas pessoas com os olhos abertos ali eram os médicos. Viu seu pai na segunda cama, com um tubo na boca, respirando com a ajuda de aparelhos. Essa imagem de seu pai ficaria para sempre em sua mente. Muitas pessoas simples já morreram no mundo, e quando estavam vivas nunca pararam pra pensar que em 100 anos não seriam nada mais que uma coisa dentro de um caixão, tendo como companheiros minhocas e coisas do gênero.

Sabia que não agüentaria ficar perto do pai, mesmo ele estando ali, na sua frente. Foi em direção a saída, e olhou para ele antes de sair. Tirou a camisa e as luvas e foi perguntar a mesma enfermeira onde a mãe tinha ido.

– Ela saiu pouco depois de você, horas atrás, e eu ainda não a vi voltar ao hospital.

Thomas pensou que talvez ela tenha ido dormir na casa de uma amiga, mas não tinha certeza. Você aprende a desconfiar de tudo quando não tem uma boa vida. Voltou para o carro, ligou o rádio, que tocava Head Over Heels do Tears for Fears, e finalmente chorou. Precisava da mãe naquele momento, e sabia disso. Enquanto pensava se ia para casa ligar para a mãe, ouviu something happens and i’m head over heels, trecho de uma das muitas músicas que faziam sentido em sua vida.

Acabou indo para casa, e ao chegar lá, encontrou a porta aberta. A chave ainda estava pendurada na fechadura. A ansiedade que tinha começado a tomar conta de Thomas diminuiu quando viu isso. Estacionou o carro, desceu e entrou em casa. Em cima da mesa da cozinha, havia uma carta.

Não se lembrava de ter visto ela na noite anterior, mas não estava interessado nisso. Foi correndo ao quarto dos pais (que agora seria só de sua mãe) e viu algo chocante. Não tanto quanto o sonho que teve, mas mesmo assim era estranho. Sua mãe estava deitada de costas, com um crucifixo quebrado próximo a mão esquerda, e da outra, uma arma.

Depois de algum tempo, Thomas virou o corpo dela, e viu um buraco em sua testa. Não conseguia desviar o rosto daquilo. Viu-se pensando, quando finalmente conseguiu desviar a atenção daquela cena, que o lugar em que a bala entrou na cabeça de sua mãe foi o mesmo em que ele a beijou naquele mesmo dia.

Agora as lágrimas saiam de seus olhos, mesmo não tendo sido convidadas. Ligou para o hospital, deu seu endereço e contou o que aconteceu a um homem.

– Enviaremos uma ambulância em 15 minutos – disse o homem, e então desligou.

Os 15 minutos pareceram uma eternidade para Thomas. Era 10h55 Quando a ambulância finalmente chegou e os paramédicos desceram, Thomas mostrou onde sua mãe estava. Enquanto levavam o corpo para a ambulância, Thomas sentou-se na mesa e resolveu ler a carta. As lágrimas ainda não tinham cessado, e só aumentaram enquanto continuava a leitura.


Por favor,filho, me perdoe por isso.

Não há chances de seu pai voltar a viver como antes (isso se ele ainda estiver vivo). Quero que realmente me perdoe por isso, mas minha vida sem seu pai não vai ser a mesma. Eu o amava muito, e também o amo, Thomas, mas você precisa entender que ele era a minha paixão. Poucas horas longe da pessoa que você ama são muito, e eu não sobreviveria a dias. Acho que uma das poucas coisas que me fizeram acreditar que ele voltaria era a minha fé, mas como minha vida, ela não existe mais. Se realmente existisse um deus (ou Deus, se você preferir), o mundo não seria assim. A única coisa que me fazia acreditar, durante todos esses anos, que há alguma coisa reservada para todos quando morrerem, é que só a vida ainda é muito pouco. Essas são minhas ultimas palavras, e não esqueça, eu te amo!

Ao mesmo tempo, como trilha sonora desse momento da vida de Thomas, um de seus vizinhos ouvia Don’t Look Back in Anger, do Oasis. Essa música ficou gravada em sua mente, e sempre que a ouvia se lembrava daquele dia, e do pesadelo, que nunca saiu da sua cabeça.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Peço para todos que lerem o capítulo, por favor, comentem! Continuo essa história só pelas reviews.