Lembranças De Um Outro Mundo escrita por Luan Snow


Capítulo 2
Capítulo 1 - O Acidente


Notas iniciais do capítulo

Queria pedir para quem ler, por favor, comentar! E queria agradecer ao Adriano Lannister, que comentou no Prólogo.



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Eram 3h15 da manhã. Ao acordar, Thomas ouviu a mãe falando no telefone. Não lembrava-se muito bem do sonho, somente fragmentos, mas isso já bastava para imaginar o que aconteceu. Não era normal alguém ligar naquele horário para sua casa, somente quando alguém morria.

Levantou, vestiu-se e foi para o quarto dos pais. Sua mãe já havia desligado o telefone e olhava, com lágrimas nos olhos, para a porta em que o filho se encontrava. Não foi preciso palavras para ele saber o que aconteceu. Dave Lewis era uma pessoa boa, mas como todas as coisas boas, estava morta, ou fora de alcance.

Thomas foi em direção a mãe, e abraçou-a. Lágrimas caiam de seus olhos como sangue escorrendo de um ferimento. Parte de si pensou que aquele era outro pesadelo, e logo acabaria, mas sabia que não. Para ele, vida era um pesadelo eterno, enquanto os reais pesadelos eram como sonhos, e os sonhos, as únicas coisas pelo que valia a pena viver.

Desceram juntos pela escada, sua mãe trancou a porta, e foram para o carro. Thomas dirigiu até o hospital, enquanto sua mãe contava o que aconteceu. O pai fora andar, como fazia todos os dias, e um carro o atropelou. Thomas não sabia por que o pai preferia fazer suas caminhadas naquele horário. Depois de 15 minutos, estava estacionando em frente do hospital.

– Você quer mesmo ir lá, mãe? – indagou Thomas. A mãe olhava apreensiva para o lugar. Desceram e dirigiram-se ao hospital. O lugar, assim como o corpo de Thomas, só aparentava ter vida pelo que acontecia no seu interior. O vicio o levou a ser assim. Duas semanas atrás, alguns amigos o mostraram o crack, alegando que ele iria gostar. Não só gostou como ficou compulsivo, mas estava tentando parar. Os meios de conseguir a droga eram perigosos, e ele não tinha muito dinheiro.

Entrando no hospital, Thomas foi em direção a uma enfermeira.

– Onde posso encontrar Dave Lewis? – perguntou Thomas a mulher, que estava prestando mais atenção a uma música que não saia de sua cabeça que para a pergunta de Thomas. Ele repetiu a pergunta e ela falou que iria checar. Voltou e sua resposta foi que estava na UTI, em coma, e o próximo horário de visitas era só as 10h00.

Posso ficar como acompanhante? – indagou Thomas, ansioso para ver o pai.

– Não são permitidos acompanhantes na UTI. – disse a enfermeira, e Thomas foi em direção a sua mãe, que sentou-se em um banco e continuava com aquele olhar em direção ao filho.

– O que falaram? – perguntou ela.

– Ele esta na UTI, em coma, e a próxima visita é somente as 10h00. Perguntei se poderia ficar com ele, mas não são permitidos acompanhantes...

– Por que você não está surpreso com isso? – indagou ela, com uma certa cara de espanto em direção a Thomas. Ambos andavam juntos constantemente. Nos finais de semana da infância de Thomas, o pai sempre o levava para pescar, enquanto a mãe saia com as amigas. Achava que o filho deveria ter mostrado algum sentimento com a notícia. Era como se ele já soubesse, mesmo antes de sua mãe contar.

– É claro que estou surpreso. Não é todo dia que meu pai é atropelado as 3 da manhã e vai para a UTI – disse Thomas. Sua mãe pensou que ele sofria sem demonstrar, e isso sempre é pior. – Mãe, não quer ir para casa, e esperar o horário de visitas chegar?

– Não, filho. Não vou conseguir dormir, e o médico pode ter notícias para os familiares. Eu quero muito saber sobre o estado dele, Thomas – falou a mãe, com um certo tom de preocupação. – Mas, se quiser, você pode ir.

Thomas parou e pensou sobre o assunto. Estava com sono, e não gostava de ficar no hospital. Sentia um certo medo de as coisas mudarem e o doente ser ele. – Estou com sono, mas vou estar aqui na hora, eu prometo, mãe – beijou o rosto dela, e foi em direção ao carro. Entrou e começou seu caminho de volta para casa.

Ainda estava em choque. As lágrimas pareciam ter secado de seus olhos. Durante o caminho se perguntou se ele realmente gostava do pai. Um flashback de todos os momentos bons de sua vida com ele passou pelos seus olhos, como se fosse um filme. A maior parte dos momentos foi em casa, e isso o lembrou que ainda tinha um pouco da droga, em seu guarda-roupa.

Sentiu que precisava dela mais que de qualquer coisa. Estacionou o carro na frente de casa, e foi correndo para a porta. Estava trancada, e a chave ficou com a mãe. Vou voltar para o hospital e pedir a chave, pensou Thomas, mas logo a idéia foi esquecida. Não, eu preciso usar, já esperei tempo de mais.

Deu a volta pela casa, e parou ao lado da janela de seu quarto. Viu os pôsteres do Joy Division na parede e, perto destes, o guarda-roupa. Primeiro tentou abrir a janela, mas sem sucesso, procurou uma pedra pelo gramado. Encontrou uma muito pequeno, mas que para Thomas já bastava.

Começou a bater no vidro com a pedra, mas ele não quebrava. Depois de um tempo, o que conseguiu foi quebrar um pouco dele, o bastante para colocar um dedo e tentar quebrar o restante do vidro e abrir a janela. Não obteve sucesso, e ainda se machucou. O vidro entrou no deu dedo, o fazendo gritar. Tenho que agir rápido. Tirou com cuidado o dedo do vidro, mesmo assim muito sangue ficou na janela. Mas isso não importava, pelo menos para Thomas.

Tirou a camisa, enrolou na mão esquerda, e bateu, com toda sua força, no vidro. Dessa vez não se machucou, e conseguiu abrir a janela colocando a outra mão lá dentro. Subiu na janela, entrou no quarto e fechou as cortinas. Acendeu a luz e abriu o guarda-roupa. Em baixo de algumas camisas e calças, encontrou a droga.

O sofrimento e dor daquela madrugada não eram nada mais para Thomas, se um dia realmente foram. Problemas, para ele, não existiam mais. Sentia que o mundo era seu, e talvez realmente fosse.



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Notas finais do capítulo

Se gostaram ou não, comentem!