Maus Costumes escrita por OlgAusten


Capítulo 2
Capítulo II: Sempre se compadecer




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/244959/chapter/2

Ratos! Havia ratos por todos os lados - bem, isso era o que ela pensava. Na verdade, somente uns dois ou três dentro de sua cela, e estes, como toda a tripulação daquele navio, pareciam se divertir com os gritos de horror que ela deixava escapar.

–-

O porão do Pérola; além de frio, era escuro e úmido. Lady Lane não estava acostumada a ser tão mal servida. Na casa de sua família, em Liverpool, Inglaterra, ela dormia em lençóis de seda, fazia o desjejum na cama e reinava sobre os empregados. Não que ela fosse uma má senhora, mas, sempre fez jus ao título de Lady que ostentava.

Lane queria o melhor, o melhor para a sua família e para si mesma. Com a morte de seu pai, a jovem foi enviada para tratar dos negócios da família no Caribe, porém, o fechamento de um dos contratos só poderia ser sanado com o penhor das jóias da família.

Por hora; esqueça os empregados, os bons lençóis e a obediência cega. Com a morte do patriarca, os Lanes estavam falidos. Há tempos a senhorita Lane não sabia o significado da palavra luxo. Mas, dividir uma cela com milhões de ratos? Bem, isso ela não agüentaria por muito tempo.
–-

Voltemos aos mares caribenhos: o Sol tinha nascido, e, já se ia em meio a tarde quando, finalmente, ela pôde pegar no sono.

— Hei, senhorita.

— Não fazem nem dez segundos que cerrei os olhos! — ela bradou sem querer abri-los.

Mestre Ragetti estava ali, agachado ao lado da cela, a mando de Jack. O homem carregava um embrulho nas mãos.

— O capitão me mandou lhe entregar isso. — as palavras do homem caolho a fizeram despertar instantaneamente.

— O quê é isso? — Lane perguntou enfiando a mão pelas grades a fim de tomar aquele pacote das dele.

— Pode abrir - -

A jovem mulher rasgou o embrulho sem nenhuma delicadeza. Desejou que fossem as suas jóias, mas a natureza do pacote dizia o contrário.

— Roupas?! — ela exclamou irritada — Jack Sparrow me mandou roupas?!

— Não leve a mal, senhorita — ele tomou a palavra — Mas as suas estão sujas e está começando a fazê-la cheirar mal.

— Que audácia!

Ela estava num sujo porão de um velho navio, em meio a ratos e baratas, sem o conforto a que sempre fora acostumava, e, Ainda por cima, tinha às suas fuças, um homem sujo à chamando de mal-lavada

— Me desculpe - - — ele tentou se corrigir antes de ser puxado pelo colarinho.

Lane o trouxera de encontra às grandes, provocando-lhe dor e falta de ar.

— Tem banho quente na cabine? — ela perguntou por entre os dentes, Ragetti gemeu — TEM?

— S- - Sim

— Me leve até o seu capitão, agora.

O homem relutou, mas era magrelo e a adrenalina havia subido à cabeça daquela moça. Dez minutos de conforto. Só em pensar naquilo ela se transformou numa leoa faminta.

Ragetti ainda sentia sua respiração ser esmagada pelas mãos de Lane quando os dois subiram para o convés. Seguiram até a cabine, bateram à porta. Não houve resposta. Eles insistiram e, girando a maçaneta, descobriram que não havia ninguém ali.

— Vamos embora, senhorita. — ele falou ao mirar aquele cômodo vazio. — O capitão não gosta que entrem aí sem permissão.

Lane fez menção para que o homem se calasse, e antes que ele pudesse se dar conta; sentiu-se empurrado para fora dali. Ela se trancou na cabine, e procurou pelo banheiro.

Ele esperneou, insistiu, mas ela não abriu a porta.

— Eles vão ver quem é suja!

Alguns marujos correram em busca do capitão.

— Ela se trancou lá dentro, senhor.

Jack se perguntou; Quem a havia libertado? Mas, aquilo não importava, ela estava na sua cabine talvez revirando tudo lá dentro à procura das jóias da família.

— Mestre Ragetti, ela disse o que queria?

O mais magro hesitou por um instante.

— Água, senhor.

— Água? — Jack repetiu.

— Quando fui lhe entregar as roupas, acabei dizendo que fazia aquilo porque ela fedia. Mas daí a mulher ficou maluca e - -

O imediato riu, mas Jack não.

— Você disse que ela fedia?!

— Sim, senhor — o outro respondeu, satisfeito.

— Você é quem é maluco, Ragetti.

Muitos minutos depois, a platéia que já a esperava do lado de fora, foi se dissipando. Só restara o capitão, sentado no batente da porta;

— Até que enfim saiu, senhorita La-la.

— Sr. Sparrow! — ela exclamou.

O homem se levantou ao seu encontro.

— Agora cheira como uma verdadeira dama.

— Hum! — ela bufou — Mas, estou vestida como um pirata.

— Não gosto de mulheres vestidas de homem, mas você em particular ficou muito bem, La-la.

— Ó, por favor, cale-se — Lane tomou a palavra — Faremos um acordo, sim?

— Que tipo de acordo? — ele quis saber

— Ficou claro que faz questão em esquecer meu sobrenome...

— Mas - - — ele brincou — - - não é La-la?

— Sr. Pirata. Me chame de Penélope, sim?

— Penélope? — ele repetiu surpreso. Aquele nome parecia tão simples para a Lady que ela dizia ser — Não seria Margareth?

— PENÉLOPE!

— Hm, Penny. — ele continuou contundentemente — - - É nome de pirata.

— Não, não é nome de ladrão! — ela bradou — É o meu nome. Lady Penélope Lane, de Liver - -

— Ta, ta, ta! — ele resmungou, impaciente — Toda a tripulação já decorou, senhorita. Hm. É um nome grego sabia?

Lane deu de ombros

— Na história, Penélope esperou muito tempo por Ulisses, que tinha ido à guerra. — ele seguiu, ganhando a atenção da moça.

— Estudei nas melhores escolas, capitão. Sei tudo sobre mitologia.

Lane entrara no seu jogo, mas Jack fingia não se importar com aquilo.

— Ela era uma mulher fantástica, insistiu e rejeitou muitos pretendentes. Uma dama que sabia esperar, não?

— Certamente que sim

— Mas quanto a você, Penny Lane! Me parece que a paciência não é um de seus fortes.

— Eu estou aqui, não estou? — ela retrucou com arrogância — E esperarei pelo o que é meu, mesmo que sentada naquela cela imunda.

— Não devolverei o que quer que eu devolva.

— Vai devolver sim. — ela insistiu — Vai devolver o que é meu!

— Não, não vou. — ele repetiu — Mas, talvez se você, Penny, estiver apta a uma caça ao tesouro. Poderá conseguir de volta o valor que perdeu, ou talvez muito mais.

— Está brincando comigo, não está, Sr. Sparrow?

— Como é, menina?! — ele exclamou, demasiadamente feliz — Uma caça ao tesouro, não é excitante?!

— Não vou saquear nenhum navio!

Sparrow a corrigiu

— Não é um navio, é um baú. Enterrado numa ilha distante, recheado de diamantes - -

Lane riu.

— Ah, agora você me fez sentir como a criança que fui há muito tempo atrás. Que coisa mais infantil, Sr. Sparrow. Quantos anos o senhor tem? Talvez uns cem? — ela brincou — Sempre toma atitudes de um adolescente?

— Espera aí, não é brincadeira não — ela a interrompeu, preocupado — E, quantos anos acha que tenho?

— Já disse — a moça continuou, calmamente — Uns cem?

Jack engasgou, sabia que não estava tão mal-acabado assim, e, apesar de sua pele estar queimada pelo sol, o seu corpo ainda era firme e não havia nada, nada, que um bom banho não resolvesse.

— Rá! O humor britânico não me atinge. — o capitão mentiu — Saiba, senhorita, que não passo dos quarenta!

—Sei - -

— E quanto a você? — ele voltou-se à moça — Quantas primaveras já viveu? Umas cinqüenta?

— Ó, cale-se! Saiba você também que - - — ela hesitou por um instante — Não tenho mais que do que vinte anos!

— Ah! Não minta pra mim, senhorita. Dou-lhe uns trinta no mínimo.

— Vinte e cinco primaveras, e não se fala mais nisso, senhor.

Jack estreitou os olhos.

— E mais quantos outonos?

— Capitão Sparrow! — ela exclamou, mas ele insistiu — Mais três, está bem?

— Agora sim. Temos uma solteirona nesse navio! - -— ele concluiu, vendo-a se afastar — Ow, onde está indo?

— De volta para minha cela.

— Não — ele pediu— Não faça isso, srta. Lane.

— Porque eu não faria? — ela o desafiou — Meu lugar é lá, com os ratos.

Jack não respondeu, e desanimado, fitou por alguns segundos aquela figura tão feminina em trajes tão desfavorecedores. O que o capitão havia feito na noite anterior fora impensado.

Mas ela estava arisca, e, louca pra me enfiar uma bala das fuças!

— Por favor, diga o contrário! — ela o despertou — Eu odeio roedores!

Jack atendeu àquele pedido:

— Seu lugar não é lá com os ratos. E alem do mais; vamos atracar daqui a pouco - -

Lane arregalou seus pequenos olhos castanhos, assustada. Entendera mal à expressão proferida por Jack.

Eu e ele, atracando?

— Vamos o quê?! — ela repetiu

— Atracar em terra. — ele se corrigiu — O navio. No porto mais próximo. No que pensou?

— Ah! — ela mudara o assunto — Hum! Pretende me deixar por lá?

— Não seria uma má idéia — Sparrow disse vencendo alguns passos até ela — Mas vamos apenas buscar mais rum.

— Mais? O porão está cheio de barris, Sr. Sparrow. Um estoque tão grande assim não acaba do dia pra noite.

— Rá! — ele voltou a exclamar — O rum sempre acaba. Alem do mais, tivemos uma grande festa ontem no convés.

—Ah, uma festa?! — ela reclamou

Jack riu

— Sim, sim. E o tema foi “Temos uma dama inglesa no porão”

— Vocês são muito engraçados, seus piratas pinguços!

Com um sorriso irônico nos lábios, Jack voltou a se aproximar dela. E, ao pé do ouvido, sussurrou-lhe uma provocação:

— Se nós somos pinguços, a senhorita é o que?

— Como assim o que eu sou? — Penélope retrucou, desnorteada com a aproximação — Sou Lady Lane, de Liver - -

— Não! — ele a interrompeu — Você, Lady Seja-lá-o-quê, é uma mulher extremamente maldosa, com idéias muito sujas na cabeça.

O navio atracou num solavanco, Lane sentiu-se obrigada a dar um passo à frente, acabou por esbarrar em Jack.

— Saia de perto de mim, senhor.

— Saio de você - - — ele ainda sussurrava - - — ao encontro de uma boa garrafa de rum!

Jack se afastou, a tripulação o seguiu rumo à terra firme, Lane ficou alguns minutos paralisada em meio ao convés. Até decidir, por fim, ir de encontro aos seus mais novos companheiros, na taverna mais próxima.

Ela rompeu à porta do Lazy Eye’s, ignorou a tripulação sentada à uma grande mesa a poucos metros dela, e, seguiu até o balcão.

— O que deseja? — o atendente perguntou

Ela cochichou em resposta.

— Não temos nenhum tipo de chá, moça. — o homem respondeu

— Então a sirva de um bom rum, meu caro Tom!

Novamente, Sparrow estava parado ao seu lado, achando graça daquela situação. Parecia uma piada;

“O que a dama britânica pediu ao chegar num bar caribenho? — Chá!”

— Está me seguindo, Capitão? — ela perguntou sem fitá-lo. Estava debruçada sobre o balcão, evitando uma nova aproximação de Jack.

— A senhorita é quem está seguindo a mim e a minha tripula - - Ó, obrigado Tom — ele voltou-se ao garçom que pousara o pedido no balcão.

Lane estranhou aquela bebida à sua frente

— Obrigada, senhor, mas eu dispenso.

Ela tentou se livrar do recipiente cheio daquele líquido dourado, mas o funcionário insistiu:

— É o melhor rum do caribe, senhorita!

— E, as minhas acompanhantes sempre bebem comigo — Jack tomara a palavra, fazendo-a se sentir ofendida. Ele sabia muito bem qual era o significado daquela palavra aos ouvidos dela.

— Não sou sua acompanhante, Sr. Capitão. — ela bradou, sem perder a pose.

— Por que está tão brava?

Sem hesitar, ela explicou:

— Porque na Inglaterra, Sr. Sparrow, as acompanhantes recebem por acompanhar os homens solitários. O que no fim, se torna uma grande desvalorização da mulher, é claro - -

— Recebem por acompanhar? — Ele repetiu. A moça lhe dera idéias.

— Sim!

Jack tirou um velho saco de moedas do cós de suas calças, e, apanhando algumas delas, ofereceu à moça.

— Que tal cinco xelins?

— Ó, isso foi baixo até pra você, Jack Sparrow! — ela bradou ofendida. — Que tipo de mulher - -

Ele insistiu;

— Que tal dez?

— CALE-SE!

Ela gritara, mas, aquilo não pareceu afetá-lo.

— Eu disse alguma coisa que possa tê-la magoado, senhorita?

— Está oferecendo dinheiro, para beber em minha companhia?

Sparrow hesitou por um instante, mas logo se despiu daquelas dúvidas.

— Temo que sim.

— Não farei isso - - — ela continuou — - - Por menos de vinte xelins!

O pirata, se surpreendeu, soltando uma sonora gargalhada.

— Você é muito cara.

— Vinte xelins o copo, Sr. Sparrow.

XXXContinuaXXX


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem!!! O próximo capítulo chamar-se-á Ser fraco à bebida.
OlgAusten



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Maus Costumes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.