Teresa

Uma semana além do programado.

Era essa a mensagem de Ares e isso me preocupou, por que era obvio que ele estava com problemas para precisar de mais uma semana.

Algo no acampamento não estava indo bem.

Ainda assim eu só podia aceitar seu pedido e nada mais. Isso era o máximo que eu poderia interfirir na missão do acampamento. Mesmo não gostando de não fazer nada nesse momento aceitar o pedido na carta era o meu máximo.

Por que não havia como as coisas piorarem mais do que já estavam.

Na verdade até havia como, mas pessoalmente eu não queria pensar nisso.

Até por que estou a poucos minutos de começar a locomoção de Annabeth para outro lugar e a última coisa que preciso são mais problemas.

As mensagens que Irís trouxe a duas semanas haviam causado uma pequena revolta entre algumas pessoas.

A de Hera para Annabeth era um pequeno talismã que os deuses haviam feito para mante-la bem quando saisse da cabana, junto estavam rápidas instruções sobre ele. Como não havia pedido nada a eles não afetaria a necessidade futura deles nos ajudarem.

A carta de Dionisio também era mais uma preocupação com os dois semi-deuses, por que segundo ele mesmo me disse umas duzentas vezes no acampamento: “Seria divino se todos os meio-sangues fossem educados e inteligentes como esses dois”, embora não pudesse discordar também não queria concordar.

As cartas de Poseidon e Atena pediam para que eu não ajudasse as duas crianças naquela história de por um fim a profecia das “Coroas”. Falavam sem parar que os dois eram muito jovens para pensar nisso e que eu, sendo uma das Coroas, tinha que faze-los parar ou as consequência que aguardavam ambos poderiam ser desastrosas.

Como se eu precisa-se me lembrar disso.

As cartas de Hades e Ártemis eram mais importantes. Hades me pediu para aconselhar Rigardo e Galatea da melhor forma possível. Ele também me pedia para tentar contornar o caso do Nico o máximo possível até que o próprio tivesse tomado uma decisão, por pior que fosse.

A carta de Ártemis era similar, só que sendo mais direta ela me disse para manter Nico o mais distante possível de Thalia até que ambas pudessem conversar. Ela queria provavelmente mostrar alguma saida ou seja lá o que passa em sua cabeça para que a garota pudesse decidir o que fazer.

Francamente. Foi mais fácil lidar com as cartas de Hades e Ártemis, apesar de seus assuntos serem mais graves. Por que pelo menos os dois estavam agindo dentro do possível.

==========X==========

Ares chegou pontualmente às duas horas da tarde como o programado e sua carta me dizia tudo que eu não precisava saber.

—Desculpe o problema da semana passada. Estamos tentando lidar com ele da melhor forma possível, mas mesmo com todo o pessoal disponivel está complicado. -Ele resmugou me ajudando com as malas.

Eu podia ver ele tremer várias vezes entre a forma romana e a grega, tentando se controlar ao máximo para não matar alguém.

—Tudo bem. Eu imaginei que fosse por algo desse tipo, mas Clarisse está bem?

—Otima. Dando mais trabalho nos últimos dias que Deimos e Phobos juntos em séculos. -Agora sim ele parecia diferente do normal, quase cançado e humano.

—Haha. Não acredito, você vai se render ao mau-humor de Clarisse sem lutar? -Não era o caso de querer, mas não resistiria tirar sarro dele.

—Não desisti sem lutar nem contra a sua mãe e ela era um demonio mesmo antes de ficar grávida de você. Se não estivesse encarando isso de frente seria o meu fim. Aliás onde estão os outros?

—Aguardando dentro da cabana. Prefiri que eles não estivessem por perto para ouvir nossa conversa familiar. -Olhei para a porta para ter certeza. -Mas devo admitir que fiquei surpresa com a situação.

—Até nós ficamos. Quando Quirón nós avisou confirmando... o que posso dizer? Já estavamos com o problema da segunda “Coroa” e agora aparece outro igual. A única diferença é que não se trata de uma das “Três Grandes Coroas”, mas...

—Você é o pai dela. É natural se preocupar com seus filhos, principalmente quando eles estão com problemas e deuses não são exceção a isso, só não podemos demonstrar.

Dessa vez eu me senti cansada de verdade.

—Clarisse grávida de uma “Coroa Menor”. Sua mãe... pensei que enfrentaria isso só uma vez... ela está indo bem, já que não é o mesmo caso que Annabeth, mas...

—Não está tão bem quanto você queria. É por isso que agradeço todos os dias por só ter filhos homens e nunca ter me apaixonado por um mortal até hoje. -Disse mais brincalhona. -Mas pessoalmente não esperava isso. Falei a Annabeth que casais como Clarisse e Chris eram aptos a trazerem outros como eu ao mundo e nem um mês depois descubrimos que Clarisse está grávida.

—Você deveria manter sua boca mais fechada com relação a esses assuntos. -Ele pareceu bravo.

—Se começar a falar menos do que já falo normalmente vou ficar muda. -Respondi mais mal-humorada.

—Não ligo.

—Certo. Paramos por aqui. Não precisamos de uma briga nesse momento.

—Se você percebeu...

Não pude evitar de rir baixo daquele comentário. Ares realmente era uma criança birrenta.

—Sabe de uma coisa? -Ele se virou e me encarou esperando que terminasse a frase. -No fundo todos vocês são pais curujas. Não podem ver nenhum de seus filhos em apuros.

Ares fez uma carranca e foi chamar os demais dentro da cabana.

Velho orgulhoso.

======================================================

Percy

Eu não sei como estou tendo tanta paciência em lidar com Ares no meio de todo esse problema.

Estou dentro da maldita quadriga de guerra dele, que agora estava alada, no meio de uma viagem altamente perigosa para um lugar ainda mais desconhecido que os anteriores.

Mas tem outra coisa que não entendo agora.

Como Teresa pode falar tão abertamente com ele sobre Apolo. Na verdade o abertamente ficou no Canadá, por que agora já está ficando obceno.

—Se você diz isso eu não vou discutir, mas francamente dois homens não contam muito para saber se alguém tem ou não potêncial na cama. Principalmente meu irmão playboy. -Ares parecia se divertir com aquilo.

—Como você é malvado Ares, não pode simplesmente dizer coisas desse tipo. Afinal, Hefestos pode ter cara de homem e... bom, mas age como uma criança mimada. Já o Apolo apesar da cara de modelo ou moleque é homem em mais de seis sentidos diferentes. -Teresa disse rindo.

Olhei desesperado para Galatea e Rigardo, ambos acordados como se a conversa não lhes interesasse. Espero que isso seja verdade.

—Seis sentidos... -Annabeth murmurou ao meu lado e olhei para ela meio confuso. -Teresa, como um homem pode ser homem em seis sentidos diferentes? Só consegui pensar em quatro.

Cuma?

Pensar em quatro? Não me passou nem dois.

Aliás, ela realmente vai levar isso adiante?

—Annabeth, não é melhor você se proteger mais? O vento está aumentando. -Tentei contornar a situação, por que não queria ouvir a resposta.

—Hum... isso... acho que podemos classificar em como ele age e trata uma mulher... mas adimito que posso estar enganada. -Teresa parecia mais confusa que eu.

—Por favor, agora você tem que me explicar isso. -Deuses, Annabeth realmente pretende levar isso em frente.

Teresa pareceu pensar enquanto mudava o peso do corpo de uma perna para outra.

—Primeiro: se ele age como homem. Acho que mesmo um homem gay tem que saber ser homem de verdade, nem que seja as vezes. Segundo: tem que ter palavra. Posso dizer que nunca vi Apolo me faltar com a palavra, principalmente quando quer me convencer de algo.

Nessa hora Teresa sorriu maliciosamente como se aquilo tivesse ao menos dois sentidos, se não mais.

—Terceiro: tratando bem uma mulher. Isso inclui educação, cavalheirismo e principalmente interesse na mulher não só no corpo. Quarto: no quarto. Homem tem que ser muito bom de cama pra ser homem de verdade e isso o Apolo é mais que bom. -Então eu vi Teresa ficar muito corada enquanto lembrava de algo sobre seu próprio comentário.

—Quem é melhor? -Quando ouvi isso olhei desesperado pra Annabeth.

Mas eu sabia que não foi ela quem perguntou.

Olhei pra Galatea quase chorando de desespero diante da situação e Teresa parecia igualmente encurralada.

—Fala Teresa. Quem era melhor, Apolo ou Hefestos? -Galatea repetiu a bomba tranquilamente.

Teresa mudou o peso do corpo de uma perna para a outra.

—Isso é dificil de responder. Além disso, não acho que de pra responder com sinceridade ou mesmo certeza. Foram casos diferentes e únicos.

—Vamos entender como: prefiro não responder por que não saberia o que dizer. -Rigardo ralhou.

Ouvi a gargalhada de Ares as minhas costas.

Certo.

Admito que a resposta do Rig me fez achar graça por um segundo, mas Ares parecia deliciado com aquilo.

—Garoto, eu espero que depois de interpretar essa resposta tão bem você consiga preencher todos os requisitos que a Teresa falar. -Ares disse completamente divertido com a situação.

Aquela conversa entava indo longe e rápida demais isso sim.

—Hum... Acho que minha avó e meu pai não gostariam do que vou falar, mas concordo com o Ares. -Galatea disse um pouco distriada e vermelha como um pimentão.

Teresa olhou para ela e sorriu.

—Não se preocupe, tenho certeza que o Rigardo vai preencher todos perfeitamente.

Argh!

Ela não podia ter falado isso.

Todos começaram a rir, ou melhor quase todos. Nico e Thalia eram os únicos além de mim a não rir daquela conversa e eu sabia que não era pelas mesmas razões que eu.

Os dois foram forçados a ficar lado a lado na quadriga e eu juro que tento não pensar nas suas outras motivações para isso. Por que eu acabei descobrindo mesmo não querendo.

Pensar nos dois emburrados daquela forma me fez pensar em outra coisa.

Não era só por ser extremamente divertido, mas para aliviar aquela tensão que uma conversa tão descabiada tinha começado. O que quer dizer que todos, incluindo Ares, Tea e Rig sabem do que tá acontecendo.

Aceitar isso agora parece tardio. Mas, isso também quer dizer que talvez a razão para que minha irmã e Rigardo não mudarem de ideia seja o fato que eles podem impedir que qualquer outro filho dos três grandes passe pelo mesmo que Annabeth sem nem saber o que está acontecendo.

Edward, Alicia, Alphonse e Mellisa, além de qualquer outro filho que eles, os três grandes, pudessem ter nos próximos anos, meses, dias ou horas.

—Continua falando Teresa, isso está ficando mais que interessante. -Rigardo.

—O quinto é que um homem deve saber suas limitações com relação ao relacionamento com outras pessoas e isso incluí amizade, trabalho, amor e família. Apolo sempre foi muito bom nisso, nunca subestimou ou superestimou nada nesse ponto. Exeto Ártemis, mas isso ele faz por que acha que só assim pra preencher a parte da irmã.

—Então ele é sério? -Dessa vez foi Thalia que fez a pergunta.

—Muito. Mas os dois são gêmeos e Ártemis é muito séria, por isso Apolo decidiu compenssar esse fato sendo mais brincalhão e descontraido que o normal. Se o humor da Ártemis fosse “normal” ele seria um cara de humor normal também. -Teresa.

Todos ficaram em silêncio. Mas agora eu também estava curioso.

—Teresa, qual é o sexto sentido que você citou? -Deixei a pergunta escapar.

Ela me olhou e respirou fundo, depois olhou na direção que a biga seguia um pouco distraida.

—Acho que esse é pessoal de cada um, mas eu confio muito no Apolo, mas do que deveira talvez. Confio nele e faria quase tudo por ele, assim como ele faria quase tudo por mim.

Todos voltaram a ficar em silêncio.

Ficamos assim por uns dez ou quinze minutos até que Teresa novamente olhou na direção que a biga seguia já descendo um pouco.

—Estamos bem agora. -Teresa se virou e nos encarou. -Bom, acho que ficarão felizes por visitarem esse paraíso. Então sejam bem vindos ao Hawaii. Passaremos alguns dias na companhia dos meus filhos em uma dessas ilhas.

Olhei pasmo para ela.

Um sorriso extremamente feliz estampado em seu rosto e uma ansiedade visivel era tudo que eu via.

Olhei para os demais e com exessão de Ares, Galatea e Rigardo todos pareciam igaulmente surpresos.

Estavamos no “Paraíso” de alguma forma, mas estavamos.

Continua...