Galatea

Odeio quando as coisas vão mal.

Só que nesse caso mal estava virando apelido carinhoso para aquela situação.

Tudo bem que a melhora de Annabeth nessa última semana acalmou todo mundo e com isso conseguimos descansar bastante. Não que os treinos mortais da Teresa ou os ataques histéricos do meu irmão tivessem parado, mas comparado com o outro lado da história era fácil levar a convivência com esses dois.

Já quando eu ou Rigardo precisavamos lidar com a Thalia e o Nico as coisas se complicavam. Nós dois evitamos trocar palavras sobre eles, mas nossa comunicação por troca de olhares sempre foi mais que exelente e tem melhorado ainda mais a medida em que nossa capacidade de "ver" aumenta.

Desde a visita ao palácio marinho Teresa tem nos ajudado a entender melhor tudo isso, o que não quer dizer que as coisas ficaram mais fáceis de ver. Isso por que quando Annabeth piorou eu não podia olhar para ela sem passar muito mal.

Mas desde que chegamos ao Canadá minha cunhada melhorou e todos ficaram mais animados com isso. Desde então não só as imagens ao seu redor melhoraram como outras coisas aconteceram.

Os portões da Esperança, Amor, Realidade e Comunicação se abriram para mim e para Rigardo. Segundo Teresa, Percy e Annabeth ficaram tão bravos por terem perdido tanta coisa que haviam aberto alguns portões nos últimos dias.

Mesmo assim ela também disse que não era o bastante para eles terem uma visão geral da nossa real situação. E ao dizer nossa ela se referia a todos do grupo.

Para Percy, Annabeth e o pai dela eram incidêntes isolados. Um copo quebrado em um momento de distração. Comida queimada uma vez por dia. Ou simplesmente pessoas que não gostavam de ficar muito perto de outras.

E, em uma situação normal poderia até ser. Mas sempre que essas coisas aconteciam Thalia e Nico eram os únicos dois envolvidos de qualquer ponto de vista que eu, Teresa ou Rigardo olhassemos.

Por isso não havia como não pensar que nesse exato momento isso está prestes a acontecer novamente.

Enquanto estou sentada aqui no balcão da cozinha esperando o almoço ficar pronto. Teresa está mais tensa que o habitual nos últimos dias e eu também, por que, acredite ou não, é bem desagradável ficar na cozinha enquanto Nico assalta nosso estoque de Diet Coke e Thalia lava a louça.

Eu me pergunto que fim levará essa situação se os dois ficarem muito mais tempo no mesmo ambiente.

Tarde demais.

Portão do Tempo.

Escuto um barulho na porta, olho pra trás e vejo Rigardo parado como quem estivesse odiando o que via. Um cronometro ligado a Thalia e Nico contando trinta segundos

Teresa nos olha de canto querendo dizer claramente: "Tinha que perguntar mesmo, não é?"

Pedimos desculpa mudamente nos encolhendo nas cadeiras quando acontece.

Nico esbarra um nada em Thalia que recua tão rápido que bate em Teresa, mas como ela já estava preparada nem se mexeu. Três pratos da pia foram ao chão. Nico deixa o fardo de Diet Coke cair no chão junto com a lata aberta em sua mão. Ele recua para o lado oposto da cozinha em que Thalia está.

—Desculpe. Eu limpo a sujeira. -Do jeito que Nico falou ele parecia querer era fugir de tanta vergonha, mas tenho certeza que não é pela confusão ou sujeira.

—Não. Foi um acidente. Pode se retirar que eu cuido da sujeira. -Thalia queria mesmo era se ver o mais longe dele naquele instante.

—Nenhum dos dois vai fazer nada. -Teresa me olhou quase pedindo ajuda e não precisei que ela falasse nada, por que eu estava pedindo ajuda mentalmente.

—Saiam daqui os dois. Nós arrumamos tudo. Vocês precisam é descansar. -Disse já fechando a torneira da pia enquanto Rigardo recolhia os cacos do chão.

—Realmente não precisam se preocupar. Afinal nós ainda não fizemos nada que preste hoje, então acho que podemos fazer isso. Agora vão. -Rigardo ainda estava recolhendo os cacos, mas notei uma ordem clara em suas palavras.

Revirei os olhos diante daquele comentário. Treinar com a Teresa era algo, mas eu entendia o que ele queria dizer.

Nico esperou cinco segundos e esse foi o tempo que Thalia levou para sumir de um raio de dez metros dele.

Depois de ambos terem sumidos das nossas vistas Rigardo fechou a porta e resmungou enquanto pegava o pano pra limpar o chão.

—Isso está ficando ridicúlo. Até quando ambos pretendem levar isso adiante?

—Até o problema das três "Coroas" estarem resolvidos, mas isso por sí só se torna um problema. -Teresa sentou de frente pra o fogão olhando sua comida atentamente.

—Se eu e Rigardo não estivermos destinados a terminar essa história isso já é um problema. Só que se nenhum dos que estão no acampamento estiver ligado a isso também isso quer dizer que talvez... -Pensar nessa possibilidade me fez ficar quieta

—O que é pior pra eles. Acho que os dois já pensaram sobre essa possibilidade e não gostaram dela. Se bem que mesmo tento assumido o risco com a nossa decisão eu não gosto das consequências. -Rig torceu o pano dentro do balde e voltou a limpar o chão.

Me abaixei e fiquei olhando-o curiosa até que ele me encarou, como se soubesse que eu faria algo.

—Que foi?

—Sabia que você é muito fofo as vezes. -Sorri para ele.

—Hein?!

Me inclinei rápidamente para frente lhe beijei a bochecha. Ele levou um susto e recuou uns três metros. Levantei tentando conter o riso.

Ouvi um grunhido divertido as minhas costas.

—Viu. Fofo. -Disse rindo.

—Certo crianças. Por favor não exagerem, vocês sabem ser sinceros demais e eu gosto disso, só que agora menos. -Teresa bagunçou meu cabelo antes de ir ajudar Rigardo a levantar.

—Mas ele não estava muito fofo?

—Sim. Mas você estava bem atirada agora, isso sim.

Senti minha bochechas queimarem muito e depois ouvi Rigardo começar a rir. Ele parou na minha frente, bagunçou meu cabelo um pouco mais e me beijou na testa.

—Agora você ficou mais fofa que o normal. -O sorriso dele era lindo e incrivelmente brilhante.

Acho que minhas bochechas entraram em combustão espontanea.

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Teresa

Deuses.

Odeio quando eles tem razão, mas o que eu posso fazer?

Depois de todo esse inferno fica dificil até mesmo pensar. Ainda mais quando não posso interferir na situação.

Obivio que eu consigo ver o final mais provavel de toda a situação. Principalmente por que combinando os portões do Tempo, Futuro, Espaço, Realidade, Sonhos e Premonição isso se torna fácil.

Mesmo assim o futuro tem mais caminhos do que eu posso lidar e um passo mal dado de qualquer lado pode muito bem mudar tudo. Por isso mesmo sabendo que a próxima coroa vai nascer dentro de no máximo dez anos eu não me arrisco a falar nada.

Ainda mais por que eu não posso simplesmente ignorar o fato que tem muito mais deuses do que os deuses...

—Já falei pra calar a boca Percy! -A voz de Galatea me acorda de meus devaneios.

—Não vou calar a boca. Tem alguma coisa estranha aqui. Até a Annabeth está conseguindo ver agora e disse que tem algo suspeito. -Percy ficou mais inteligente e perceptivo nessas últimas duas semanas no chalé. O que não é tão bom quanto possa parecer.

Eu queria levantar, mas algo me dizia que tinha mais.

—Não questione o que não teve capacidade de entender. Se não percebeu ainda não precisa saber, entendeu? -Deuses, essa menina é muito bocuda, mas eu gosto disso.

—Como assim não preciso saber. Se isso afetar a missão eu preciso sim. -Puxa. Dessa nem eu tinha como escapar.

—Calma Percy. Não é nada que afete a missão, posso garantir. É só um problema que temos tido por conta das visões, mas acho que você só vai entender quando finalmente puder ver mais. Até lá não tem como explicar ou contar. -Grande mentira senhor Rigardo. Esse moleque é tão bom nisso que sinto até medo.

—Que garantias tenho disso?

Nesse momento levantei do meu sofá em um pulo e fui na direção dele.

—As minhas. Fui eu que proibi os dois de falarem desse assunto com quem ainda não conseguiu ver o que acontece. Acredite, no momento isso não irá nos causar nenhum problema. -Me coloquei atrás dos dois jovens. -Não é?

—Sim. -Mentiram rapidamente.

Meu olhar cruzou com o dos dois e a sensação de que eles queriam me dizer algo foi respondida. Futuro e Sonhos, foi por isso que achei que aquele dia estava piorando. Aqueles dois ainda estavam longe de testemunhar o futuro com exatidão, mas se seus sonhos se ligassem ao futuro mesmo isso seria ruim.

Por hora eu tinha que afastar Percy daquele problema, o que não seria fácil já que a minha presença facilita a abertura dos portões. Além disso Téa e Rig seriam outro problema, principalmente com suas visões do futuro próximo e sonhos indicativos.

Com sorte o portão do Passado abriria antes do da Premonição e Espaço, mas eu não podia garantir.

Ainda tinha Thalia e Nico. Aquela garota podia ser leal a Ártemis e amar a caçada de verdade, mas aquele não era seu destino. Felizmente as "Coroas" também não. Além disso eu sei que aquele garoto não vai simplesmente desistir de quem ama. Principalmente depois de mais de cinquênta anos no "Lotús".

O problema agora é que não param de aparecer mais problemas que me envolvem.

Deuses aonde eu fui me meter?

Ou melhor, aonde VOCÊS me meteram?

Continua...