Harry

Acordei muito cedo, ainda confuso. A noite de ontem parecia apenas um borrão, como um sonho, mas eu tinha certeza que tudo havia acontecido. Perguntas rodavam em minha cabeça, porém estava muito assustado para sequer abrir a boca. Tinha medo de não suportar as respostas, medo de ser fraco.

Havia dormido pesado e tido os sonhos estranhos de sempre. Dessa vez vi uma menina morena, tanto de pele como nos cabelos, ela cavalgava feliz ao lado de outra criança: um menino de cabelos castanhos e enrolados. Como sempre, eu não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas e nem o por que de tal sonho; eles eram nítidos, cada noite uma nova visão, uma nova história, muitas vezes sem sentido, muitas vezes sobre meu passado, muitas vezes ainda sobre meu futuro.

Depois de me levantar fiz minha higiene matinal e fui procurar Paul. Nenhum dos meninos tinham acordado ainda e porta de seus quartos estava fechada. Eu não fazia ideia pra onde iria com Paul e nem se voltaria. A ideia de nunca mais ver meus melhores amigos me deixava louco. Avistei o enorme segurança no fim do corredor do hotel, ele segurava uma de minhas mochilas de costas na mão direita e levava uma outra em suas próprias costas. Meus pensamentos estavam tão distantes que eu nem havia reparado que muitas de minhas coisas não estavam em meu quarto, por dedução, cheguei à conclusão de que Paul havia pegado todas elas e colocado em minha mochila.

Fui literalmente me arrastando até ele e dei-lhe bom dia. Saímos em silêncio até a porta do hotel. Não me aguentei e perguntei-lhe:

–Paul, pra onde é que nós vamos? Como vamos? Eu vou voltar né? Porque não ficarei bem sem meus amigos e vice-versa.- soltei tudo rápido, no mesmo instante uma lágrima teimosa escorreu pelo me rosto.

O segurança me abraçou carinhosamente e me respondeu com calma:

–Não se preocupe Harold, vai dar tudo certo. Vamos para o Acampamento Meio-Sangue para seu bem, para você ficar seguro. Iremos de táxi até Long Island. Não sei se voltaremos tão cedo Harry, tudo depende da vontade Quíron e dos deuses.

Deuses? Paul acabou de falar deuses? Não, é demais pra mim.

Permaneci em silêncio por pouco tempo, não consegui segurar as perguntas, elas apenas saltaram da minha boca, sem nenhuma permissão:

–Como assim deuses, Paul?- lágrimas rolavam de meus olhos, sem eu saber por que e eu gritava um pouco, nervoso. - Eu preciso ficar em segurança de quê?

–Harry, não se altere, será ainda pior. - respondeu o segurança calmamente- Aos poucos você entenderá melhor. Vamos, sente-se aqui ao meu lado, vou te explicar o que conseguir.

Assenti e me sentei em uma poltrona do hall do hotel, ao lado de Paul.

–Hazza, -começou o brutamonte- você sabe um pouco sobre mitologia grega né, sobre os deuses e o Olimpo. Deve ter aprendido na escola. -assenti- Então, eles na verdade existem ainda e às vezes esses deuses dessem do Olimpo e têm filhos com mortais. Esses filhos são chamados de semideuses ou meio-sangues. Para eles, é muito perigoso ficar solto pelo mundo, existem monstros que farejam-os. Você é um deles. Por isso precisamos ir à Colina Meio Sangue, lá há um acampamento somente para pessoas como você, você poderá fazer amigos, se proteger, ter aulas e aprender ofícios para se proteger e servir aos deuses.

–Então quer dizer que eu não sou filho dos meus pais? Sou filho de um deus grego. -eu estava atônito, sem palavras.

–Sim. Espero que entenda isso, lá no acampamento alguém te explicará mais coisas. Agora vamos? -Paul se levantou e foi andando em direção à porta do hotel.

Eu segurei se braço, fazendo-o parar.

–Paul, quem é meu pai olimpiano? -perguntei.

–Seu pai ou mãe irá te reclamar Harry, é só ter paciência.- meu segurança falava calmo.

Então fomos até o táxi e seguimos ao tal acampamento. No caminho, Paul foi me explicando sobre a névoa e contando sua própria história.

–Quer dizer que você é filho de dois semideuses e meio que trabalha de protetor, Paul?

–Sim. Eu vejo através da névoa Harry, eu tinha que servir aos deuses.

Fomos em silêncio até nosso destino. O segurança pagou o taxista e começamos a subir uma colina. Chegamos então a um pinheiro. Dei um pulo pra trás quando vi um enorme dragão enrolado no tronco daquela árvore.

–Calma, Harry, ele é inofensivo!- riu Paul- Peleu só está aqui para proteger o Velocino de Ouro.

O segurança apontou para uma espécie de pele dourada pendurada em um dos galhos do pinheiro. Depois me contou sobre Thalia, a filha de Zeus, que na verdade era o pinheiro; contou sobre Percy Jackson e seus amigos, que pegaram o Velocino no Mar de Monstros.

Eu devo admitir que estava odiando ser uma meio-sangue, na boa, mas essa história era interessante. Se eu fosse um herói como esse tal de Percy Jackson, daí sim né. Mas não, eu nem sabia quem era meu pai/mãe; não sabia os nomes de todos os deuses!

Logo depois Paul me explicou sobre a fronteira do acampamento, que impedia os monstros de entrar e como o Velocino a ajudar. O acampamento era... era... lindo, muito lindo. Havia um enorme lago, um bosque, campos de morango - e que cheiro ótimo viu!- onde campistas e meninos com pernas de bode tocavam lindas melodias em flautas de bambu, havia também casas -cabines, explicou Paul- dispostas em um enorme circulo oval.

–Hazza, espere aqui, vou chamar alguém para fazer um tour com você. -meu segurança sorriu.

Assenti e fiquei a esperar, observando uma menina loira discutir com um menino de cabelos enrolados e castanhos. Epa produção, é o menino do meu sonho? Como assim? Decidi apenas ouvir a conversa. Acabei por pegar apenas fragmentos da discussão: Como assim Valdez, você tem que terminar essa droga de barco! Tinha que estar pronto para semana que vem e, por Zeus, como estamos atrasados! dizia a menina. Não conseguia ouvir o que o moreno falava, só ouvi que, por fim ele gritou algo como Vou trabalhar que ganho mais do que ficar discutindo com a oxigenada sabe-tudo! e saiu batendo o pé e com cara amarrada.

Eu apenas não aguentei, alguma coisa dentro de mim me fez sair correndo -contra as ordens de Paul- atrás do menino nervoso. Desci a colina. Quando o alcancei, segurei-o pelo braço, fazendo-o parar e me encarar, assustado.

–Quem... quem é você?- perguntou Valdez.

–Eu ia fazer a mesma pergunta. Quem é você?

–Sou Leo Valdez, filho de Hefesto, manipulador de fogo e o responsável pela construção do Argo II!- ele disse isso como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e depois colocou as mãos sobre a cintura, fazendo uma pose heroica.

Olhei-o confuso com tenta modéstia.

–Ei, você ainda não me respondeu, quem é você?- perguntou novamente Leo.

–Sou... Sou Harry Styles. -disse ainda confuso e um pouco envergonhado pelo menino não me conhecer. Minha boca estava entreaberta.

–Prazer cara! -disse o menino dando um leve tapa em minhas costas. -É novo por aqui?

–Hã, sou. Você não me conhece?

–Não. -respondeu Leo agora sem entender nada. - E você por acaso me conhece? -riu pelo nariz.

Não respondi. O filho de Hefesto arqueou as sobrancelhas, como se dissesse Vai responder ou não? Eu assenti e o moreno perguntou surpreso:

–De onde?

No mesmo momento Paul me chamou do topo da colina.

–Harry, venha, já encontrei alguém que pode te ajudar.

Encarei Leo da cabeça aos pés.

–Ér... Tenho que ir. Tchau!- e disparei colina acima.

–Tchau né!- ouvi o filho de Hefesto gritando abaixo da colina.

Quando cheguei na frente de Paul, vi que a menina que discutia instantes antes com Leo estava parada à sua direita e à sua esquerda havia uma linda menina morena com enormes olhos verdes e um sorriso lindo. Sorri, malicioso. Controle-se Harry! pensei, chamando minha própria atenção.

–Harold, essa é Annabeth, filha de Atena. - e apontou para a menina loira, logo me lembrei de que ela ajudou Jackson, seu namorado, a recuperar o Velocino.- E essa é Andressa, do chalé 3.- e apontou para sua esquerda. Assenti. - Meninas, esse é Harry Styles. Ele é membro de uma boyband muito famosa no mundo mortal. Semideus não reclamado, apesar de já ter 16 anos e é novo no nosso mundo. Hazza, Annie veio apenas conhecê-lo, pois está como líder do acampamento, já que Percy está desaparecido. E Andy vai te ajudar a conhecer sua nova casa.

Abri um sorriso e disse:

–Por onde começamos o tour Andy? Garanto que você vai amar fazer companhia pro Harry Styles aqui!

Ela apenas revirou os olhos e fez um sinal para eu acompanhá-la. Cada vez que algum campista passava ao nosso lado ela me apresentava. Acabei por conhecer vários, mas só me lembro de Sam, filha de Hécate - deusa da magia, explicou Andy-, Will, filho de Apolo -deus do sol, da música e um deus lindo, segundo minha guia- e Claire, filha de Poseidon, um dos únicos deuses que eu sabia. Andressa pediu que Claire pegasse uma camiseta do acampamento para mim e que a levasse na parede de escalada em 10 minutos. Fomos, então, até uma casa que ficava quase no topo de uma das colinas. Era azulzinha e tinha varanda ao redor. (N/A: ok, eu esqueci agora a cor da casa grande -qq)

–Bem, Harry, essa é a casa grande, onde Quíron e o Sr. D ficam. O Sr. D ajuda aqui no acampamento apenas por castigo, ele perseguiu uma ninfa há tempos atrás, ele odeia a gente. Você é muito sortudo porque ele não está aqui, está no Olimpo; sabe, ele é Dioniso, deus do vinho.

Assenti.

–E quem é Quíron?

–Quíron é um centauro. - arqueei uma sobrancelha- Tem tronco de homem e corpo de um garanhão branco.- disse, sarcástica, como se eu tivesse a obrigação de saber daqui; bem... eu tinha mesmo- Ele é o diretor do acampamento há alguns éons, ok, muitos éons. Ele é bem legal. Depois que terminarmos aqui ele te chamará. -assenti - Venha, vamos conhecer o refeitório.

Então Andressa me olhou com uma cara estranha e depois abriu um enorme sorriso, de orelha em orelha. Quando olhei para cima vi que algo brilhava acima de minha cabeça.