Spell The Most escrita por Angel Salvatore


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

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Escutei os gritos de Lien enquanto passava pelo corredor em direção as salas de aula. Eles estavam vindo da enfermaria e soavam mais ou menos assim:

“Me deixe sair dessa droga agora. Eu estou bem, porcaria. Quero tomar um banho. Estou imunda.”, ela parecia injuriada. “Você vai me negar o direto de tomar um banho? Vai?”

“Lien?”, eu chamei abrindo a porta da enfermaria.

A enfermeira me encarou, agradecida. Lien deu um pulo da cadeira murmurando um alto e sonoro Tô vazando e me me puxou para fora dali antes que a enfermeira (ou eu) dissesse alguma coisa.

Quando a porta se fechou, ela suspirou e sorriu para mim. Mal parecia a Lien de duas horas atrás. E eu agradecia por isso. Entrelacei meu braço no dela e a puxei para fora do prédio. Assim que o ar puro tomou nossos pulmões, a escutei aspirando todo o oxigênio possível, como se tivesse ficado várias horas presa de baixo da água.

“Você parece melhor”, eu comentei quando sentamos em um banquinho em frente a área onde eu fazia arco e flecha.

“Eu estou melhor”, ela sorriu e seus olhos azuis violetas brilharam. Então ela abaixou a cabeça e ficou olhando suas mãos pousadas em seu colo. “Você já soube sobre Mia?”

“Sim”, eu lamentei e também desviei meus olhos para minhas mãos. “Sinto muito”

Lien levantou seus olhos para me encarar chocada.

“Por que está se desculpando?”, ela perguntou confusa, então hesitou. “Eu disse algo que não deveria na hora do choque?”

“Oh, não”, eu a tranquilizei tocando em sua mão e sorrindo para aquele rosto tão pálido e lindo que ela possuía. “Estou me desculpando por ter encontrado o corpo”

Lien ficou em silêncio e encarou os vários alvos e os suportes para flechas.

“A diretora disse que fui eu?”, ela perguntou.

Encarei- a, mas sua atenção ainda era voltada a minha área de treinamento.

“Não, mas depois de tê-la visto hoje mais cedo, foi quase óbvio saber que tinha sido você”, eu sorri para Lien, mesmo ela não vendo. “Sabe, você é a fada mais corajosa, estressada, sincera e leal que eu conheço. Eu te admiro muito”

Isso a fez me olhar e eu me assustei com aquela Lien.

Seu olhos estavam vermelhos novamente e prontos para chorar. E tinha algo dentro deles que... me incomodavam. Era estranho ver Lien chorando, mesmo ela sendo tão parecida com a irmã. Quando Luen chorava, todos estavam acostumados, mas quando era Lien, era espantoso.

“O que houve, Lien?”, eu perguntei me segurando para não abraçá-la. Como eu tinha dito a um tempo atrás, Lien não era muito de demonstrações afetivas em público.

“Foi tão horrível, Alex”, ela lamentou e segurou minha mão entre as suas, apertando-a.

“Me conte, Lien.”, pedi, mas ela balançou sua cabeça em negação. “Vamos, tem que se livrar disso. Se abra comigo. Não esqueça que acima de tudo, eu sou sua amiga”

Lien continuou balançando sua cabeça, até que olhou em meus olhos e os viu sérios. Era tão difícil ver Lien vulnerável daquele jeito que me abalou de um jeito inexplicável. Eu estava acostumada com Luen e Suzy chorando, mas Lien... A mesma Lien que adora zoar com a cara de todo mundo e se dava bem com meu animal elementar, a mesma Lien que enfrentava sem medo Lana, que corria atrás do que queria? Não!

Ela suspirou e se aproximou mais um pouco para que pudesse sussurrar a história, já que sua voz já tinha perdido quase toda força.

“Depois que eu saí do refeitório, lancei um feitiço de invisibilidade em mim e fui dar uma volta para clarear as ideias. Por isso vocês não me encontraram , mesmo eu tendo passado por vocês inúmeras vezes”, isso a fez dar um sorriso amargo e continuar. “Dormi em meu quarto e coisas do tipo, mas saí um pouco mais cedo para que ninguém me visse e fui dar uma volta pelos estábulos, ver os cavalos e coisa do tipo. Foi aí que eu a vi.”, ela se calou e uma lágrima deslizou pelo seu rosto.

“Mia”, eu disse a encorajando a continuar.

“Sim, Mia.”, ela afirmou. “Ela estava dentro da casinha vazia ao lado de Wave. Cheirava tão mal, que parecia carne podre. Estava tão coberta de mosquitos e outros animais que demorou um bom tempo para eu ver que era um corpo humano e o corpo de Mia.”, ela pausou de novo pegando fôlego. “Tinha tanto sangue que eu me perguntei se era tudo dela mesmo, e quando me aproximei eu via adaga dourada em seu coração. Mesmo que ela estivesse com os olhos fechados, eu ainda consigo ver seu olhar morto.”

“Isso vai nos complicar e muito.”, eu refleti alto. “Mais uma preocupação para mim”

“Mais uma?”, Lien perguntou. Só aí que eu me dei conta que tinha dito isso em voz alta.

Sem escapatória, ou querer ter uma, contei sobre a rosa vermelha em minha cama, as visões de Luen e a energia elementar que eu senti na flor. Assim que terminei de contar, Lien perguntou se ela poderia dar uma olhada na rosa. Por um segundo me senti culpada por ter escondido a rosa de Luen e não de Lien, mas acabei levando-a.

Quando chegamos no quarto, tirei a rosa debaixo do meu travesseiro e a cheirei, sentindo seu aroma envolvente e provocante. Eu ainda conseguia sentir os resíduos de mágica inalando dela, assim como sentia em um bilhete encantado. Só depois de muita insistência de Lien, eu passei a rosa a ela.

“É, com certeza foi um bruxo”, ela concordou. Fadas, bruxos e gênios tinham uma essência deferente de mágica. Eu não conseguia diferenciá-las como Lien conseguia. Ela parecia uma exper em mágica.

“Mas não tem bruxos elementares da terra aqui na escola”, eu disse pegando a rosa de volta e a colocando na minha parte do closete, no meio de minhas roupas, onde ninguém acharia.

“Não precisa ser um bruxo elementar da terra para criar flores.”, Lien disse abrindo a porta para que eu e ela passássemos. “É só preciso ser bastante treinado e ter uma afinidade com as flores”, ela colocou o dedo no queixo por um momento considerando. “Caroline, Fox e Crystal são bruxos normais, mas eles podem ter alguma afinidade com as flores”

“E porque, diabos, você acha que algum deles me dariam uma rosa?”, perguntei.

Estávamos atravessando novamente os corredores vazios em direção a sala de Crystal. Me perguntei por um segundo o que a diretora tinha decidido e o que ela quis dizer com consequências com a morte de Mia. Será que eles ainda estavam no ginásio?

“Não sei”, Lien deu de ombro parecendo ela novamente. “Agradecendo alguma coisa. A aluna nota dez aqui é você”

“Mas se fosse por agradecimento, Suzy, Luen e Daemen ganhariam um buquê por dia”, nós duas rimos. “Caroline até poderia ser, por sábado. Fox só se ele estivesse me dando um presente por ser uma ótima aluna e Crystal nunca iria me dar um presente. Ela me odeia”

“Ela odeia todo mundo”, Lien disse e abriu a porta da sala de Crystal.

Crystal estava sentada em sua mesa corrigindo alguns trabalhos, mas ao escutar a porta se abrindo levantou seus olhos verdes e nos encarou por baixo do cabelo preto azulado. Mesma ela odiando tudo e todos, Crystal ainda era uma boa professora, além de ser linda. Parte dos bruxos da escola (exceto pela professor Nage) eram bem novos. Crystal tinha apenas 28 anos, mas pela sua experiência como bruxa, aparentava ter bem mais.

“Estão perdidas?”, ela perguntou sarcástica.

Lien ignorou o comentário e puxou uma cadeira, sentando- se em frente mesa de Crystal. Segui seu exemplo, mesmo um pouco intimidada pelo olhar de Crystal. Era óbvio que ela não esperava nenhuma de nós duas ali, aquela hora. E em hora nenhuma.

“Não, Crystal”, Lien respondeu se inclinando um pouco para frente na direção da mesa da professora. Ela gostava de ir direto ao assunto e não tinha medo de nada. Por isso eu a admirava. “Queremos lhe perguntar uma coisa”

“Diga”, Crystal sorriu empurrando seus papéis lado. Era óbvio que ela gostava tanto da coragem de Lien quanto eu.

Lien ficou em silêncio por um segundo decidindo que pergunta faria. Teria que parecer séria e não algo idiota como : Hey, você deu uma rosa para Alex?. Então ela optou por algo básico.

“Você tem afinidade com alguma coisa?”

Crystal foi claramente pega de surpresa pela pergunta, mas respondeu. E pela primeira vez, em todos os meus anos de bruxa, vi a professora alegre com algo.

“Oh, sim”, ela disse entusiasmada. “Tenho afinidade com criaturas mágicas. Posso identificá-las de longes. É claro que isso me ajuda muito, mas me deixa um pouco confusa quando ando pelas ruas.”

É claro que todos nós sabíamos da existência de criaturas mágicas pelas ruas que se fechavam para o mundo e se recusavam a assumir o que eles eram de verdade. Eu fui um deles. Saber que Crystal tinha esse tipo de afinidade me fez ficar impressionada, assim como a Lien.

“Mas, por que dessa pergunta?”, ela quis saber.

“Nada, é que é o nosso último ano e sentimos que não conhecemos todos muito bem, sabe”, Lien disse já se levantando. Demorei um pouco, mas imitei seus movimentos e a esperei de pronto na porta. “Bem, desculpa por ter te interrompido, Crystal.”

“Que nada, venham quando quiserem”, ela respondeu ainda sorrindo.

Saímos da sala direto para a área de treinamento de arco e flecha. Iríamos falar com Gordon agora. Fiquei sem palavras com a facilidade com que Lien teve para conversar com Crystal. Acho que até hoje, nunca tinha visto alguém falando com ela se não fosse sobre a aula.

Quando chegamos ao nosso destino, vimos Fox treinando em alguns alvos, distraído. Ele parecia tão belo enquanto mirava no alvo e o acertava com perfeição. Por um momento o imaginei como um daquele guerreiros do século XVIII que o professor Nage tanto tinha falado.

Pelo canto do olho pude ver Lien sentido a mesma sensação que eu quando via Fox. Ele era lindo. Ainda mais com aquele suéter verde que fazia seus olhos brilharem mais ainda e seus cabelos com de areia que balançavam quando ele lançava uma flecha.

No começo do meu treinamento, aprendi que nunca se deve surpreender um arqueiro, a não ser que queria levar uma flecha no rosto. Por isso esperamos até que Fox fosse pegar mais um remessa de flechas para falar com ele.

“Hey, Fox”, eu disse me aproximando.

Fox levantou o olhar na direção da minha voz e sorriu.

“Alexa, o que faz aqui?”, ele perguntou e lançou mais uma flecha em direção ao alvo.

“Sabe, dando uma volta. É o último ano e temos que aproveitar”, aproveitei a desculpa de Lien. A mesma estava parada ao meu lado estudando Fox com um olhar faminto. Ela não tinha papas na língua, muito menos nos olhos.

“Tem razão”, ele disse mirando outra flecha. “Já sabe o que vai fazer depois da Charm on More?”, ele soltou a flecha e acertou o alvo perfeitamente.

“Não sei, sabe”, eu sorri e comecei a enrolar uma mecha do meu cabelo no dedos, me fingindo de pensativa. “Estava pensando em algo que me deixasse perto da mágica, gosto dela. Talvez fosse bombeira”

Isso o fez rir e a Lien também.

“E o que te faz pensar que isso te deixaria perto da mágica?”, ele perguntou começando a juntar todas as flechas e armamentos.

“Não sei, mas desde pequena eu sempre quis ser bombeira”, eu sorri docemente. “Mas, falando em mágica”, eu disse depois de receber um olhar frustado de Lien. Ela odiava quando as pessoas enrolavam e eu estava fazendo exatamente isso. “No que você tem afinidade, Fox?”

Fox levantou os olhos verdes das flechas e me encarou, estudando-me. Então sorriu.

“Pode parecer estranho, mas tenho afinidade com animais”, ele disse.

Droga! Menos um.

“Animais?”, continuei perguntando para que ele não notasse a minha falta de interesse.

“É, sabe?!”, ele se levantou e caminhou até a gente. “Sei mais o menos o que se passa na cabeça deles e como satisfazê-los. Poderia até controlar um tigre se quisesse, preciso apenas das armas certas.”

“Isso também pode acontecer com um animal elementar?”, dessa vez eu estava interessada de verdade. Imaginei se poderia aperfeiçoar esse tipo de afinidade.

“Oh, não”, ele parecia lamentar. “Animais elementares são quase humanos. Já fiz uma experiência com Luir, mas não funcionou”

Tentei imaginar a águia sobe o controle de Fox.

Não consegui.

“Vamos, Alex.”, Lien disse me segurando pelo braço. “Nós temos que fazer um trabalho para amanhã”, ela se desculpou com Fox. Lien era ótima com desculpas.

Fomos dali para o estábulo, que não era muito longe.

Pensei que Lien iria se recusar a ir até lá, por causa do que aconteceu e do que tinha visto, mas ela foi com mais garra que nunca. Encontramos Caroline colocando feno para os cavalos. Lá estavam em ordem de chegada.

Shot (*Tiro) do professor Nage, Storm (*Tempestade) de Suzy, Wish (*Desejo), o meu cavalo e Wave (*Onda) de Nick. Caroline estava colocando comida para Wish quando chegamos. Notei o olhar de Lien indo para a casinha ao lado de Wave e a vi totalmente fechada e trancada.

“Alexa, Lien, o que fazem aqui?”, Caroline perguntou para de dar feno a Wish.

Wish, por sua vez, relinchou feliz por me ver e eu fiz questão de ir lá fazer-lhe carinho no focinho. Eu estava tão ocupada nesse fim de semana que nem tinha dado a atenção que Wish merecia.

“Você trabalha com animais a muito tempo, não é , Carol?”, Lien perguntou acariciando o rosto de Wave. Engraçado que ele parecia tão calmo perto de Lien. Mas quando eu chegava perto demais dele, ele começava a se agitar. Cavalo chato.

“É claro, Lien.”, Caroline sorriu colocando o cabelo loiro pálido em um rabo de cavalo quase perfeito. “Mas, por que da pergunta?”

“Nada, só estava pensando”, ela disse perdida no carinho de Wave. Então, parecendo acordar de um sonho, ela fitou Caroline sorrindo. “É que tivemos umas aulas ano passado sobre afinidade de bruxos. Que mesmo os que não são elementares, tem afinidade com alguma coisa. Estava pensando se você tinha afinidade com animais.”

Lien parecia uma mestra em desculpas. Com essa eram três desculpas, ou seriam quatro. Tinha perdido até a conta. Caroline terminou de distribuir o feno entre os cavalos e, enquanto verificava se as casinhas estavam fechadas, respondeu.

“Não, não tenho afinidade com animais, mas acho que Fox tem”, ela assentiu para si mesma. “É, Fox tem. “, ela garantiu mais segura. “Eu tenho afinidade com plantas, flores, coisas desse tipo”

Eu e Lien trocamos olhares.

Bingo!

“Afinidade do tipo de criar flores?”, Lien perguntou já sorrindo.

“Oh, não”, Caroline respondeu. “Não tenho tanto poder assim. Apenas as sinto e devolvo-lhes a vida. Acho que apenas os bruxos elementares da terra que podem criar flores a partir do nada.”

“Ah”, eu lamentei.

“Muito obrigada pela informação”, Lien disse dando um tapinha de leve no focinho de Wave e me puxando dali. Caroline ficou nos encarando como se fôssemos loucas, mas, para falar a verdade, acho que todos os professores ficaram nos encarando daquele jeito.

Voltamos a caminhar em direção ao dormitório e quando chegamos nós, literalmente, nos jogamos no sofá. Nunca tinha andado tanto pela escola em só dia desdo meu primeiro dia conhecendo a Charm on More.

“Tanto esforço para nada”, Lien murmurou e bufou.

“Não para nada. Pelo menos tivemos a certeza que apenas um bruxo elementar da terra pode criar flores do nada”, eu disse.

“Tem razão”, Lien disse se dando por vencida. “Mas, sabe o que eu acho estranho?”

“O fato de uma flor criada por um bruxo da terra ter aparecido na minha cama do nada, sendo que não tem bruxo elementares da terra na escola?”, chutei e recebi um sorriso.

“Exatamente. Isso e o fato disso ter acontecido no dia em que acharam o corpo de Mia” Lien completou.

“Você acha que a rosa tem a ver com o assassinato de Mia?”, eu perguntei, mas assim que a pergunta saiu dos meus lábios eu tremi, pensando no pior.

“Sim”, Lien respondeu sem medo. “E também acho que a rosa talvez seja um sinal de que você será próxima vítima”

E ali ficamos, paradas, uma encarando a outra em busca de uma resposta concreta. O ótimo dia que eu tinha passado ao lado de Lien se reduziu a nada apenas por causa de uma pequena e delicada rosa.


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