- O icor imortal – murmurou Matt. – É impossível.

O corte começou a se fechar lentamente, e Anne esfregou o lugar onde ele deveria estar.

- Impressionante! – disse Nathan com o maior sorriso do mundo. – Salve Elaine, a Deusa das estrelas!

Um trovão cortou o céu, tão alto e claro que eles tiveram certeza: um sinal de Zeus.

Nathan começou a gargalhar histericamente e Matthew ficou encarando Elaine com a boca aberta por pelo menos dez minutos.

Milhares de coisas passaram na cabeça de Anne naquele momento, mas a principal: ela precisava voltar para casa, e logo.

Agora ela se lembrava de algumas coisas com muita clareza. Sabia quem ela era; quem eram seus pais, quem eram seus amigos, quem eram seus inimigos… Mas algumas coisas permaneciam bastante obscuras em sua mente.

Ela não conseguia, por exemplo, se lembrar de seus deveres como Deusa. Se ela era a Deusa das Estrelas, o que exatamente ela fazia? Cuidava para que as estrelas ficassem sempre em suas posições corretas? Criava novas constelações e cuidava das antigas? Será que ela sabia o número de estrelas que tinha no céu?

- Deusa das Estrelas… quem diria – murmurou Elaine.

- Isso é sério? – perguntou Matt. – Você é mesmo a namorada do meu pai?

Nathan deu um tapa na cabeça dele.

- Larga de ser idiota Matt.

- Tudo bem Nathan, ele tem direito de ficar chateado.

- Eu não estou chateado. Eu só estou um pouco inconformado.

- Eu não sou boa o suficiente pro seu pai, é isso? – perguntou Anne sorrindo.

Matt sorriu constrangido.

- Não é isso Anne. É só que eu não imagino meu pai namorando.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo.

- Bem, se eu sou mesmo a Deusa da lenda, acho melhor voltar para o Olimpo – disse Anne se levantando.

- Você acha mesmo que vai ser assim tão fácil? – perguntou Nathan.

- E por que não seria? Eu já lembrei quem eu sou. Fim do mistério, agora eu vou para casa.

- Isso envolve muito mais do que você pensa. Se alguns deuses…

- Poseidon e Hades – disse Anne.

- Que seja. Se Poseidon e Hades acham que você de alguma forma ameaça a divindade deles, eles não vão permitir que você chegue no Olimpo assim tão fácil.

- Tem razão – murmurou Anne.

- Nós podemos sair em missão – sugeriu Matt.

- Poderíamos – concordou Nathan. – Levar a Deusa das Estrelas em segurança para o Olimpo… isso soa bem.

- Acho que vai ser alguma coisa no curriculum de semideus de vocês – disse Anne.

- Provavelmente – disse Matt. – Se conseguirmos.

- Ah gente, não pode ser tão difícil. Nós viemos para cá em segurança.

- Anne, você estava se afastando do lugar onde deveria estar, por isso não te aconteceu nada – disse Nathan.

- O Monte Olimpo fica no Empire States? – perguntou ela levantando uma das sobrancelhas. – É… fica.

- Exatamente – disse Matt. – Vamos sair em missão.

- Eu ainda acho desnecessário.

- Não é desnecessário – insistiu Matt. – Levar a minha madrasta em segurança para sua casa de direito.

- Matt – disse Anne suplicante. – Eu não peço que você goste de mim, e eu não sou a sua madrasta. Eu sou a namorada do seu pai, é diferente. E eu não quero que isso seja uma ponte entre nós. Podemos ser amigos?

- Acho que sim – disse Matt por fim. – Se vocês se gostam…

Anne sorriu para ele.

- Você pode nos contar tudo o que lembra? – perguntou Nathan.

- Bem, eu não me lembro de muita coisa, e acredito que o pouco que eu lembro não vá ajudar muito.

- Qualquer coisa ajuda – insistiu Nathan.

- Bem… vamos listar as coisas que eu me lembro. O Pégaso me acordou no deserto. Foi um presente de Zeus.

- Como você pode ter certeza? – quis saber Matt.

- Eu me lembro vagamente de Zeus me dizendo que iria me dar o melhor presente do mundo. O que eu quisesse. E eu disse que queria um Pégaso. Bem, ele não achou que um Pégaso fosse o melhor presente do mundo.

- Então te deu O Pégaso – concluiu Matt. – Interessante.

- Bastante. Depois de ser acordada por Peg, eu encontrei Syrena no deserto. Syrena é uma caçadora de Ártemis. Somos amigas.

- Isso ajuda.

- Bem, meus melhores amigos são Hermes e Apolo. Os pais de vocês. Eu e Hermes começamos a namorar há três anos.

Matt fez uma careta, mas Nathan repreendeu-o.

- Eu não gosto de usar sapatos, se é que isso faz algum sentido – disse Anne rindo.

Nathan e Matthew riram também.

- Nenhum sentido – disse Nathan.

- Se você sair em missão descalça, você vai acabar machucando os pés.

- Mas foi o que seu pai disse: “você não gosta de sapatos, pequena”. E Syrena me deu roupas novas e mantimentos, e nenhum sapato. Bem… talvez eu seja um pouco louca.

- Todos os Deuses são – disse Nathan.

Os três riram.

- Hermes me disse que não colocou vocês dois no meu caminho atoa.

- Ele quer que ajudemos você – concluiu Nathan.

- Mas porque nós dois?

- Se ele achou que era melhor assim, não vamos discutir – disse Nathan.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos.

- Bem, acho que é só – disse Anne tentando se lembrar de mais alguma coisa.

- Na verdade, meu pai citou algo como “se Ártemis não te matar”… Por que ela mataria você? – perguntou Matthew.

Anne riu. Ela se esquecera desse pequeno detalhe que não mencionara aos meninos.

- Nós tivemos uma discussão muito séria uma vez.

- Sobre…? – insistiu Nathan.

- Bem, eu sou contra a Caçada – disse Anne. – Pra mim, todas as meninas tem o direito de se apaixonar, se casar, ter uma família. As Caçadoras de Ártemis perdem todos esses direitos ao se juntarem à Caçada, e um dia eu estava meio histérica…

- E jogou tudo na cara dela? – sugeriu Matt.

- É – concordou Anne.

- Mas como ela poderia ajudar você? Se vocês não se gostam, eu acho melhor não corrermos o risco – disse Nathan.

- Mas ela pode me dizer alguma coisa. Foi o que Hermes disse.

Eles ficaram em silêncio pensando um pouco.

- A profecia não dizia que você tinha que encontrar o seu caminho sem a ajuda dos Deuses? – perguntou Nathan de repente.

Anne pensou naquilo. Era verdade, os deuses não deveriam ajudar.

Ela suspirou e disse:

- Hermes me ajudou. Dionísio me ajudou. Acho que os Deuses gregos não são muito ligados a regras.

- É nesse ponto que eu queria chegar – disse Nathan. – Deuses gregos. Quem é a sua mãe romana?

- Juno. Deusa da família, do casamento e da maternidade.