O dia amanheceu escuro, tempestuoso. Algo estava errado.

Em um enorme saguão branco, um homem andava de um lado para o outro impacientemente, olhando a cada segundo para um grande suporte redondo no chão, que deveria ser um relógio muito estranho, porque ele fez uma careta e murmurou:

– Ela está atrasada!

Assim que ele disse isso, a grande porta dupla de ouro do saguão se abriu, e uma menina de aparentemente doze ou treze anos entrou acompanhada de mais duas dúzias de meninas.

– Ártemis – o homem disse. – Alguma coisa?

– As notícias não são boas – disse ela hesitante.

– Diga, criança. O que encontraram?

Ártemis estendeu a mão para o homem, e nela estava um pedaço de pano. De início, o homem apenas o encarou, mas quando pegou, sentiu sua textura leve, como os tecidos usados em túnicas.

– Onde encontraram isso?

– Perto de Hollywood.

O homem encarou o pano e ergueu a sobrancelha, pronto para fazer uma pergunta; mas antes que pudesse falar, a porta dupla se abriu novamente, e uma mulher entrou.

Sua aparência era a de alguém que não dormia a pelo menos duas noites, e que andara chorando. Ela estava com os cabelos desarrumados e a túnica amarrotada.

– Zeus – disse ela indo na direção ao homem, e se jogou em seus braços.

– Hera? O que... o que houve? – perguntou ele retribuindo o abraço.

– Eles a levaram, Zeus. A levaram de mim – ela chorava de soluçar.

Zeus esperou.

– Foi Perséfone. Ela achou que o melhor a se fazer seria raptá-la. Hades estava planejando... – ela suspirou. – Ela está perdida, e não se lembra quem é!

Zeus afastou Hera e a encarou como se estivesse esperando que ela desmentisse tudo, que dissesse que tinha se enganado, mas ela só chorava. Ele olhou para Ártemis, que assentiu.

– Não é conveniente buscá-la agora – ela disse.

– Você não pode simplesmente me pedir que abandone a minha filha! – disse Hera entre os soluços.

– Tecnicamente, ela não é...

– Não importa! – gritou Hera.

Zeus parecia confuso, mas respirou fundo e conseguiu dizer:

– Nós não podemos fazer nada agora.

Hera o encarou como se pudesse matá-lo por dizer aquilo.

– Zeus tem razão. Se sua memória foi apagada, ela deve encontrar seu caminho sozinha. O máximo que podemos fazer é fazer com que ela alcance o acampamento em segurança – disse Ártemis.

– Mas ela não é uma meio-sangue! – teimou Hera.

– Mas se você quer que ela descubra quem ela é, a busca dela tem de começar por lá – insistiu Ártemis.

– Ártemis tem razão – disse Zeus, parecendo abatido.

Hera respirou fundo.

– Então que assim seja. Mas eu digo logo: se algo acontecer a ela...

– A ela? Acho pouco provável. Ela sabe se defender – disse uma das garotas que acompanhava Ártemis, a que usava uma tiara prateada.

– Eu... eu preciso ficar um pouco sozinho – disse Zeus.

Ártemis e as meninas saíram e deixaram Zeus e Hera; mas quando Hera viu a expressão de Zeus, resolveu deixá-lo sozinho.

Ele olhou por uma enorme janela de vidro.

– Minha pequena...

Um raio apareceu em sua mão, e quando ele gritou de raiva, caiu a pior tempestade de raios que os Estados Unidos já viu.