Play With Fire escrita por Hanna_21


Capítulo 5
I’ve been gone for far too long


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei, vocês querem me matar.
Sim, também estou MEGA triste por ter tido que mudar a categoria, mas já expliquei a situação a cada um de vocês, certo?
De qualquer forma, espero que gostem do capítulo. Foi escrito com muito esforço e muito carinho! Please, não me abandonem!
ERROS, CORRIJAM PLEASE. FOI POSTADO SEM REVISÃO.
não deixem de acessar: http://play-with-fire-nyah.blogspot.com.br/
tá cheio de coisa nova, e amanhã tem mais!
obs: adiantei o capitulo!
Enjoy!



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5. I’ve been gone for far too long


Eu senti minhas pernas tremeram ao começar a subir os degraus de acesso à porta da minha antiga casa. Um nó se formou em minha garganta. Mordi o lábio, fechei os olhos e dei meia-volta, mas antes que eu pudesse chegar a três metros do meu carro (que um colega do Just Fire It trouxe para HB), ouvi a buzina. Ao abrir os olhos, vi Adrian gesticulando escandalosamente e gritando coisas desconexas (por causa do vidro fechado eu não ouvia nada) de dentro do carro que nos trouxera à cidade. O desgraçado fizera questão de me seguir até onde eu moraria novamente, só pra garantir que eu ia não ia dar pra trás.


Bufando, cruzei os braços, tentando manter a pose.


- Vá se ferrar, Adrian – disse em voz baixa, enquanto sorria pra ele e fazia um sinal de “Ok”. Ele retribuiu o sinal, feliz – Deus do céu, todos os meus amigos são retardados...


Virei-me novamente em direção à minha casa. A tinta branca estava um pouco desgastada, mas o jardim na frente da casa continuava bonito como se minha mãe ainda cuidasse dele. Até os anões de jardim feios que Zakk e Matthew tinham vandalizado estavam expostos num canto perto da garagem. Aquilo me encheu de nostalgia e de uma coragem inesperada, e caminhei com mais firmeza. Cheguei à porta de madeira escura e, antes que pudesse me arrepender mais uma vez, dei três batidas fortes na porta e esperei.


Então eu descobri que meus amigos são todos imbecis porque eu mesma sou imbecil.


- Aperte a porra da campainha, AB! – Adrian gritou da janela do carro, agora semi-aberta. Irritada com ele e segurando um palavrão que estava na ponta da língua, apertei a campainha com força.


Meu coração palpitou em meu peito. “Vamos lá, AB, não é nada demais”, Adrian murmurara antes de eu sair do carro. “Vai ser bom, você vai ver. Duvido que não sinta falta dele”. O fato é que eu sentia falta de Matthew, mas não daquele adolescente mentiroso e manipulador que eu deixara para trás e que eu dissera que nunca mais queria ver. Eu sentia falta do Matthew de antes disso. Quando ele ainda era uma criança como eu. Eu não sabia o que esperar do estranho mega tatuado e grandão que ele se tornara.


O cara que abriu a porta não era exatamente desconhecido para mim, mas olhar pra ele ali, na minha frente, era como se eu o visse pela primeira vez. Ele falava algo com alguém dentro da casa, rindo, até que se voltou pra mim.


- Sim, em que... – ele começou a dizer, quando finalmente nossos olhos se encontraram.

- Olá – eu disse, com a voz fraca, sem saber muito bem o que fazer. - Eu... Am... – ele estendeu a mão, relutante, e eu quase recuei. Sua mão encostou no cordão que eu usava. Ele revirou o pequeno pingente em seus dedos por alguns instantes e voltou os olhos para mim.

– Annabeth...?

- Eu mesma – murmurei, como uma idiota. Afinal, a pergunta era idiota.

- Espera. – ele soltou meu colar e ficou sério de repente. – Primeiro tem que me responder algumas coisas. – cruzou os braços, meio na defensiva.

- Responder... –tentei perguntar o que ele queria dizer com isso, mas Matthew me interrompeu

- O que aconteceu com os anões de jardim?

- O q... – comecei a falar, então compreendi. Ele estava me testando.


Meu Deus, Matthew, isso é tão infantil.


- Você e Zakk pintaram as roupas deles e fizeram piercings e tatuagens. – suspirei, tentando não ficar impaciente. Já estava suficientemente ansiosa sem aquilo.

- Por que...? – ele ergueu as sobrancelhas. Minha nossa, acho que Matthew sempre quis fazer esse tipo de interrogatório.

- Porque eles estavam muito viadinhos – respondi, impaciente

- E isso aconteceu depois de...

- Vocês terem se embebedado com Fanta Uva misturada com vodka. – respondi, lembrando o quão ridículo tinha sido aquele episódio. Eles tinham 14 anos, então o único jeito de beber sem que nossa mãe notasse era misturando com refrigerante. Foram precisas 10 garrafas de Fanta batizadas pra eles chegarem a um estado fora do de sobriedade, e acho que a reação química não rolou muito direitinho.

- E isso explica...

- As manchas na parede da garagem. E antes que você pergunte, a gente disse pra mamãe que era tinta de paintball, e não refrigerante, e eu a convenci de que você estava só cansado, por isso foi deitar super cedo. Mas eu apenas fiz isso com a condição de vocês me deixarem provar a bebida da próxima vez que vocês fizessem. Matthewy, agora será que eu posso...


Matthew não me deixou terminar a frase e me puxou para um abraço realmente longo e absurdamente forte. Por alguns instantes eu cogitei em soltar uma piadinha sobre ele estar me sufocando, mas não era momento para aqui. Devo admitir que havia um turbilhão de coisas não ditas naquele abraço, e eu me deixei levar pelo momento.


- Desculpa, eu precisava saber se era realmente você. Não é a primeira que aparece dizendo ser minha irmã, sabe? Já apareceram até filhos meus por aqui – ele riu, rouco.

- Tudo bem – respondi, suspirando e rindo, finalmente com a certeza de que de fato estava tudo bem.


Entrei em casa e Matthew me guiou até a sala – a fatídica sala. Sentei no sofá, que era o mesmo de quando eu morava ali, e ele se sentou ao meu lado. Ficamos em profundo silêncio por vários minutos, mas quando alguém – ele – finalmente tomou coragem para falar alguma coisa, não paramos mais.


Foram duas horas e sete minutos de conversa, exatamente. Primeiro, ele me explicou o porquê de ele estar morando ali; era, na verdade, uma casa temporária, pois ele e Val, sua noiva (como eu já ficara sabendo pelos sites de notícia inúteis e pela minha mãe, que mês passado me ligou implorando que eu fosse ao casamento, que aconteceria em dois meses) estavam reformando uma casa maior e mais isolada, para terem certa privacidade. Matthew disse que eu podia morar ali, se quisesse, mas neguei, dizendo que minha estadia ali também seria temporária e que dividira um apartamento grande com duas meninas que conhecia “vagamente” (essa última parte era mentira, mas seria estranho se de repente eu conhecesse várias pessoas que se mudaram para HB exatamente no momento que eu o fiz). Ele também acrescentou que sua noiva estava louca para me conhecer, e isso me deixou um pouco apreensiva, mas feliz. Valary parecia ser uma boa pessoa.


Não sei ao certo tudo o que conversamos, mas certos detalhes ficaram marcados profundamente em minha cabeça. O primeiro foi o brilho nos olhos de Matthew ao mostrar meu quarto exatamente como eu tinha deixado ele – a parede pintada com uma cena do “Nightmare Before Christmas”, os lençóis roxos novos semelhantes aos que eu usava, meus bichinhos de pelúcia, até alguns vinis que eu largara para trás.


O segundo foi quando ele me pediu desculpas. Eu senti que foi difícil pra ele, mas as palavras foram sinceras. Matthew disse que o que ele tinha feito fora mal-pensado e ele não tinha muita noção do que estava acontecendo ali dentro, então fizera a primeira coisa que passara por sua cabeça. Eu não consegui não perdoá-lo. Aquele era o primeiro passo para nos conhecermos novamente.


O terceiro foi o momento chocante que ele me disse que mandara cinco detetives particulares atrás de mim, e que nenhum tinha conseguido me achar. Quando revelei que não tinha saído de San Diego desde que saíra dali, Matthewy ficou louco comigo. Quantas vezes ele não passara por ali para farrear ou fazer shows?, ele disse. Ele podia ter cruzado comigo na rua e nem ia ficar sabendo. A reação dele quando revelei, timidamente, que tinha ido a um de seus shows, foi hilária, para não dizer que foi assustadora. Quando ele perguntou o que diabos eu tinha feito pra me esconder tão bem, mudei o assunto discretamente. Bem, eu não sabia responder àquela pergunta, uma vez que eu não tinha me escondido. Sendo assim, a única explicação era que alguém estava me escondendo sem que eu soubesse.


Só uma pessoa em San Diego inteira faria aquilo, e eu precisava ter uma conversinha com ela.


Usando a justificativa de que tinha que pegar minhas coisas com uma amiga que também se mudara para ali (na verdade, era com Adrian), saí de casa sentindo que acabara de tirar das costas um peso que eu sustentava há anos e nunca percebera de fato. Peguei meu carro e dirigi lentamente até o endereço que tinham me passado. Me perdi um pouco nas ruas, até que cheguei em um bairro meio vazio e não tão suburbano e alegre como os outros. Saí do carro e olhei para o estabelecimento que tinha o número escrito no papel.


O exterior era de madeira branca, simples, que chegava até a cheirar um pouco à praia, apesar da relativa distância. Escrito em letras toscas, estava um pequeno cartaz escrito “PROPRIEDADE PRIVADA”. É lógico que aquilo chamaria atenção, mas só os realmente endinheirados entrariam ali.


Rindo, entrei no lugar e analisei a recepção.  Muita gente achava que era para dar um de elegância, mas a recepção servia basicamente para melhorar o isolamento acústico interno. Era um Lounge em preto e grená, cheio de poltronas e sofás próximos à mesa da recepcionista. As portas internas eram de vidro preto refletido, e o letreiro brilhante em cima delas era bem parecido com o de San Diego. Mas aí acabavam as semelhanças.


- Caramba! – exclamei assim que entrei. O novo estabelecimento era GIGANTESCO. Ao contrário do antigo, tinha a forma retangular. Sobre o chão negro, um tapete bordô conduzia a três caminhos. Cada um deles era semi-ocultado por uma cortina negra de ia de fora a fora. Ao longo dos caminhos, coladas às paredes, estavam as tradicionais cortinas brancas com “garotas” dançando por trás delas. O que ninguém sabia (ou pelo menos nunca tinha descoberto) é que eram apenas sombras mesmo, feitas com moldes e jogos de luz feitas pelo responsável pela iluminação dali, que era genial.


O caminho da esquerda levava ao bar. O balcão era todo de madeira-de-lei, vermelho cor de lama do rio; os bancos eram de aço negro brilhante, com estofado da mesma cor; as paredes vermelhas contrastavam com as poltronas negras que ficavam em volta das mesas brancas, grudadas no chão bege acarpetado.


À esquerda, havia um palco médio hexagonal com dois postes de pole dance nele, negro com brilhos prateados. Rodeando-o, poltronas brancas espalhavam-se por ali até o fim do cômodo à parte. Luzes coloridas contornavam o palco, provavelmente para dar efeitos reflexivos nas poltronas brancas, e um projetor muito legal estava no teto, fazendo sombras interessantes no palco de vidro. Pete, o cara da iluminação, ia amar aquilo.


Segui, por fim, para o caminho do meio e finalmente vi o palco. Era preto e decorado com estrelas prateadas. Um poste de pole dance que mais parecia um bastão de luz estava pregado no centro (com um cartaz de “Lembrar de colocar os outros!” com a letra de Heidi nele). Tudo estava ofuscante devido a uma luz absurdamente cor-de-rosa que vinha dos refletores, mas consegui enxergar as cores mesmo assim. Duas escadas elegantes estavam nas laterais do palco, dando acesso ao segundo andar. Embaixo de uma delas, vi uma porta meio escondida, que suspeitei ser a sala de “negociações”. O segundo andar tinha uma sacada estilo vitoriano, de aço negro enfeitado com detalhes prateados.


- AB! – a voz de Adrian chegou aos meus ouvidos. Segui o som e o encontrei no segundo andar. Ele fez um sinal de “venha aqui” e eu subi as escadas de acesso, observando que, ao longo do corredor que circundava o lugar, as portas de “atendimento” se estendiam. Quando a are chegava ao fim, uma outra porta de vidro, semelhante à da recepção, dava acesso às partes que correspondiam, no andar de baixo, ao bar e ao palco privado.

- Caramba, Jack se superou. – comentei assim que cheguei a seu lado, sorrindo

- Aham, esse lugar tá incrível. – ele riu, abobado.

- Eu só achei essa parte meio rosa demais.

- Ah, Pete vai consertar isso.

- Que bom, porque estava parecendo...

- Prostíbulo da Barbie? – Adrian sugeriu, e eu ri.

- Não era o que ia dizer, mas se encaixou melhor. – um silêncio meio constrangedor se formou em seguida e eu sabia o que Adrian ia falar. Pigarreando, ele começou, cauteloso:

– E então... como, ham... foi...

- Com o Matthew? – ele parecia sem graça de perguntar

- É.

- Foi bem. Acho que vai dar tudo certo – suspirei, sorrindo para Adrian. Acho que ambos ficamos aliviados, no fim das contas.

- Mas diz aí, achei que tinha dito que não queria vir aqui hoje – ele puxou outro assunto, sabendo que ali não era muito apropriado falar da minha vida pessoal;

- Preciso falar com Jack. - expliquei

- Olha lá a Heidi, ela deve saber – Adrian acenou para ela, e a mulher veio em nossa direção

- Então gostou do lugar novo? – Heidi vinha pelo corredor, vestida de forma magnífica, acompanhada de perto por uma das garotas, chamada Judy.

- É bonito, muito bonito – admiti, um tanto impressionada – Sem dúvidas melhor que o de San Diego.

- Gostou? Foi Judy quem fez. – ela lançou um sorriso à garota, que retribuiu- Eu e Jack fomos dando as ideias e ela fez um projeto. Vai dar uma excelente arquiteta. – Heidi elogiou

- Judy projetou esse lugar? – Adrian perguntou, surpreso, olhando para ela com um sorriso – Wow!

- Acho que ficar jogando The Sims serviu para alguma coisa, afinal de contas – ela respondeu dando de ombros e sorrindo educadamente antes de sair

- Hey Heidi, você sabe onde Jack está? Preciso conversar com urgência com ele.

- Na nova sala dele, mas temo que tenha visitas. – ela respondeu, piscando para mim – significando que eu podia ir à sala de Jack sem problemas – e saindo atrás de Judy. Adrian manteve o sorriso embasbacado no rosto até elas ficarem fora de vista. Suspirou, meio resignado.

- Que foi?

- Judy. Ela nunca vai me querer.


Judy Davis trabalhava no Just Fire It desde que o clube abriu, um ano antes de Adrian ser contratado. Seu nome ali era Sapphire, e embora seus olhos fossem naturalmente azuis, ela usava as lentes coloridas de um índigo que mostrava que aquela cor não era natural. Seus cabelos eram loiros e ela era um pouco mais alta e mais magra que eu, e inegavelmente linda.


Ah, e Adrian era simplesmente obcecado por ela.


- Argh, e lá vamos nós de novo – resmunguei, afundando o rosto nas mãos

- AB, você sabe que é verdade! – ele resmungou

- Não é, Adrian, isso é coisa da sua cabeça! Não sei como um cara que pega todas as garotas como você fica cheio de frescura para puxar conversa com uma garota legal!

- Oh, mas você está sendo muito mentirosa, eu já puxei conversa com ela e ela me cepou!  

- Ela não te cepou, ela educadamente deixou a entender que não queria muito papo com você!

- Dá no mesmo! E você nunca viu como ela me tratava antes de você vir trabalhar aqui. – ele protestou

- Aposto que como você merecia ser tratado. Lembrando que você só criou um pouco de decência depois de ter me conhecido – comentei

- Você é muito esnobe.

- E você é retardado. Como você queria que ela ficasse feliz se um dia depois de você ter finalmente chamado-a pra sair você aparece contando pros caras que passou a noite com a Rikki?

- Ela rejeitou meu convite, e eu fiquei carente! E você sabe como a Rikki pode ser...

- Vadia? - sugeri

- Afetuosa, eu ia dizer.

- Se assim prefere chamar.

- Tsc.

- Judy rejeitou o convite porque não tinha a noite de folga como você, cabeçudo. E Rikki nunca foi uma Black Garnet muito obediente, então faltar um dia para ir pra sua cama não foi um problema pra ela. E nem pra deitar com o Mark. E você sabe disso.

- Eu sei, mas eu precisava com urgência de...

- Sexo?

- Afeto! Porra, porque você sempre pensa o pior de mim? – Adrian protestou, bagunçando o cabelo

- Não é de você que eu penso o pior, é da Rikki!

- Você pensa o quê de mim? – a voz fina da garota de quem falávamos foi ouvida atrás de nós. Virei-me para ela, meio impaciente, mas sorrindo. Ela parara no meio do caminho só para pescar nossa conversa.


Erica Wade foi a última menina a entrar para a trupe. Era uma baixinha meio irritante de cabelos loiros e olhos de um cinza azulado muito legal, coisa que se perde quando ela abre a boca. Não me leve à mal, eu gosto da garota, mas puta que pariu, ela entra com frequência na lista de “pessoas que eu esganaria de vez em quando se pudesse”. Ah, e ela detestava ser chamada de Erica.


- Penso que você gosta de dar afeto para as pessoas, Erica. Você está sempre tão radiante e tal... Era isso que eu estava comentando com o Adrian aqui. – respondi, e Adrian abafou uma risadinha. Rikki estreitou os olhos acinzentados, mas como pensar não era muito o forte dela, ela não discutiu e continuou andando. Adrian olhou-a, pensativo.

- Me lembre porque eu dormi com ela.

- Porque ela é bonita e fácil.

- Mas ela é burra!

- Continua sendo bonita e fácil.

- Hunf – Adrian fez um gesto como quem espanta uma mosca invisível, tentando esquecer suas aflições. Ele observou Rikki descendo as escadas – Você já desenhou alguma roupa para a noite de estreia?

- Não.

- Então o que é aquilo que ela está usando? – Adrian começou a rir.


Rikki usava uma mini-saia preta rodada, meias sete oitavos pretas e uma sapatilha vermelha que combinava com o lenço em forma de laço que ela usava na blusa branca de botões e mangas curtas. Seu cabelo cor de mel estava preso em dois rabos de cavalo baixos. Em resumo: a garota estava vestida de forma idêntica a uma colegial. Num modelo muito parecido com um que eu desenhara no ano passado para uma apresentação de School’s Out que rendeu horrores de dinheiro.


- Acho que ela se veste assim mesmo. – ri nasalada

- Mas hoje tá demais, hein. – Adrian virou o rosto para olhá-la melhor

- Fica na sua, Adrian, que você tá quase comendo a bunda dela com olhos.

- Cuidado com as frases! – ele alertou, rindo-se muito.

- Aaaargh, eu vou atrás do Jack que eu ganho mais – resmunguei, batendo no ombro de Adrian e ouvindo sua risada musical atrás de mim.


Meio perdida, caminhei pelo segundo andar daquele lugar que ainda me era estranho até encontrar uma porta no fim do lugar que no andar de baixo correspondia ao bar, meio escondida e no escuro. Uma placa prateada reluzente estava na porta, sem nada escrito, assim como era em San Diego. Bati duas vezes na porta.


- Sim? – a voz de Jack ecoou lá dentro

- É Annabeth – me identifiquei

- Oh, entre! – ele me convidou, um tom divertido invadindo sua voz


Empurrei a porta da sala e me deparei com uma cena inesperada. Esperava encontrar um escritório moderno – aliás, futurista -, assim como era a sala de Jack na outra cidade. Os móveis de mogno, as cortinas vermelhas e o carpete macio, além de muitos livros nas estantes e os enfeites na escrivaninha não permitiam que se dissesse que aquela era uma sala de um homem.


Foi então que eu notei que Jack estava sentado no lugar das vistas, e que atrás da escrivaninha, onde ele deveria estar, uma mulher ocupava a cadeira. Seus olhos eram cor de chocolate e absurdamente inquisidores, somados à considerável quantidade de sombra negra que ela usava. Normalmente eu acharia a maquiagem mal-feita e de mau gosto; naquela mulher, porém, ficava impecável, quase que combinando com seu penteado cuidadosamente elaborado.


- E essa é a que faltava, Amanda. – Jack me indicou

- Annabeth, então – ela disse lentamente – Ou Amethyst. Prazer. Sou Amanda Sexton, nova diretora do Just Fire It. – ela se apresentou de um jeito formal, dando um sorriso delicado

- O prazer é meu – respondi, automaticamente - Mas... Jack, você vai...

- Tenho que ficar em San Diego, agora que serão duas boates. Heidi também... sabe como é. Lamento muito, mas de vez em quando eu venho aqui. E garanto que com Agate...

- Agate?

- É meu pseudônimo – a moça explicou, sorrindo de forma meio sinistra.

- Oh.

- Garanto que ela será uma excelente diretora e que vocês vão adorar ela. – Jack deu uma piscadela

- Acredito em você – sorri para a nova diretora – Jack, podemos conversar rapidamente...

- Claro, vamos ali fora – ele abriu a porta e me deixou passar primeiro.


Andamos brevemente até chegarmos perto da porta que separava aquela parte do lugar onde os quartos e o placo ficava.


- E então...? – ele perguntou, e comecei a falar sem rodeios

- Jack, me diga o quanto você sabe sobre minha vida – cruzei os braços e usei um tom ameno para falar com ele. Jack estranhou.

- Como assim?

- Há quanto tempo sabe que sou irmã de quem sou.

- Também quer saber há quanto tempo sei que Brian Harrington é o sujeito que praticamente te monopolizou desde que você começou a dançar? Aliás, que ele foi o responsável por isso? – fiquei boquiaberta. Maldito seja, sempre a um passo na minha frente!

- Como... Desde... – observei seu rosto. Jack perdera a expressão amigável de sempre e agora ostentava um sorriso debochado que o deixava quase mafioso.

- Não que eu considere um corredor o lugar adequado para falar sobre isso, mas vamos lá. Annabeth, eu sei tudo sobre a vida de cada uma de vocês. Tenho minhas próprias sombras caso alguém queira buscar algo sobre vocês fora desse lugar. Seu irmão Matthew deu bastante trabalho. Foram...

- Cinco detetives particulares - completei

- Seis, contando um que sua mãe contratou e que não passou por San Diego, mas rodou Nevada inteira. – engoli em seco – Seu amiguinho Brian foi outro trabalhoso. Não só pelas regras que ele quebrou aqui dentro, mas também por ter quase descoberto quem você era sem precisar de nenhuma investigação profunda. Quero dizer, não sei o quão profundo foi seja lá o que vocês tiveram, mas foi o suficiente para ele ficar a um par de lentes de contato de te descobrir.

- Jack...

- A abundância de meninas novas e de clientes em San Diego não foi o único motivo que me levou a vir para cá. A maior parte delas é de lá, e esconder as identidades estava ficando difícil. Por duas vezes quase descobriram sobre Sapphire, as gêmeas e Ruby já foram abordadas duas vezes e Amber é bem conhecida pela cidade toda. Então resolvi que era melhor...

- Revelar a minha identidade? Jack, Brian Harrington não vai hesitar em contar pro meu irmão o que faço todas as noites!

- É por isso mesmo que ele está sendo vigiado. Se em algum momento ele insinuar alguma coisa sobre você, ficarei sabendo e nós dois teremos uma conversinha, se eu estiver aqui.  – ele sorriu daquele jeito malicioso de novo - Além disso, sem seu irmão mandando gente atrás de você, as outras não correm riscos. Fique tranquila, Annabeth, Como você mesma disse, você é meu projeto da vez, então não vai precisar esconder isso por muito tempo.


E ele saiu rapidamente, me deixando muda e completamente sem reação. “Projeto”. Como eu suspeitava. O desgraçado fez de mim um projeto de feira de ciências, assim como fez com a última Ruby. Eu nunca tivera uma conversa com Jack daquele jeito. Nós dois estávamos sempre interrompendo um ao outro, soltando impertinências e piadinhas, mas aquela faceta dele me assustara um pouco, para ser sincera. Ele era mais influente do que eu pensava, pelo visto. E mais perigoso. Suspeito que ele tenha que ser assim, uma vez que ele faz o que faz.


Vários minutos se passaram até que consegui raciocinar direito. Visualizei Adrian no andar de baixo, em cima do palco, e repentinamente me lembrei de que tinha que voltar pra casa. Corri até onde meu amigo estava, ainda meio embasbacada com a conversa que acabara de ter com meu chefe.


- Adrian! – chamei e ele se virou para mim - Vamos lá, eu preciso pegar minha mudança naquela sua lavanderia – puxei a manga da camiseta do Adrian

- Pete estava lá, arrumando nossa nova casa. Ele é todo perfeccionista com essas coisas.

- Não é a toa que ele mexe com a iluminação complicada dessa bagaça. – comentei, olhando para os estranhos refletores próximos do teto.

- Pois é... Mas hein, você vai querer ajuda com a mudança?

- Eu até ia querer, mas não acho que seja legal aparecer com um homem logo de cara lá na casa do Matthew.

- Ah, por favor.

- Estou falando sério, ele é meio maníaco. Super protetor. Disse que quer “compensar os anos que deixou de agir como meu irmão”. Antes de ele começar a agir como um babaca, Matthew sempre foi meu protetor. Eu gostava até, mas agora? Não quero nem ver. – expliquei, entrando em meu carro. Adrian sentou-se do meu lado e deu partida

- Ah, então... Já pensou como vai justificar suas saídas noturnas para poder trabalhar aqui? – ele indagou despreocupadamente.


Gelei. Putz. Como eu ia justificar aquilo?? Pisei no freio de forma meio brusca ao reparar que eu quase ultrapassara um sinal vermelho.


- Eu... Não pensei em nada ainda. Oh meu Deus. Oh eu Deus!

- Oh gezz. – ele soltou um lamento. Adrian sempre lembrava as pessoas de algo ruim que elas esqueciam sem querer.

- Droga, como eu vou fazer isso? – bati contra o volante

- Hey, calma Ann B, a gente arranja uma desculpa!

- Mas a inauguração é em uma semana! – protestei, meio em pânico. Eu tinha planejado tudo perfeitamente... Menos aquilo.

- Eu sei, eu sei, mas a gente pensa em alguma coisa, ok? –Adrian colocou a mão em meu ombro – Está dando tudo certo e vai continuar assim. Você sabe disso.

- Ok – suspirei, mas dentro de mim ainda havia certo desespero. Eu apenas sabia que não valia a pena discutir com Adrian, e que naquele momento, simplesmente aceitar seria melhor.


Chamar o lugar que os garotos de lavanderia era um elogio. O lugar era minúsculo! Eu não tinha a menor ideia de como três caras iam morar ali! Pete, o cara da iluminação, tinha saído justamente para conhecer o novo Just Fire It, e depois ele e Mark, o terceiro cara que moraria ali e que era nosso DJ, iam fazer “compras” – ou seja, pizza e cerveja.


Adrian me ajudou a amontoar minha mudança no meu carro, reclamando sobre o número de coisas que eu tinha trazido para cá e perguntando a todo o momento se eu realmente não queria que ele me levasse até em casa. Eu neguei todas as vezes, embora me sentisse tentada a ter companhia. Mas como eu ia explicar Adrian a Matthew? Ainda tinha que pensar naquilo.


Depois que cheguei à minha velha nova casa, Matthew me ajudou a subir com as caixas pesadas e mega entulhadas de coisas. Eu não era fraca, mas já tinha carregado caixas duas vezes só naquele dia, então uma ajuda dele foi muito bem vinda, ainda mais levando e conta o tamanho daquele cara.


- Os caras estão aí – Matthew disse, colocando a última caixa no chão. Ele ainda estava meio relutante – Posso te apresentar a eles?

- Claro que pode – sorri. De certa forma, era meio emocionante conhecer uma banda, tipo, de verdade.

- Vamos lá pra garagem então – ele disse, me puxando pelo braço animadamente. Eu quis lembrar a Matthew que eu era bem menor que ele e que se ele continuasse me puxando daquela forma, eu cairia escada abaixo, mas eu estava tão feliz de ver meu irmão ali do meu lado de novo que deixei por menos.


A garagem também era a zona que eu me lembrava ser: latas de tinta apoiadas nos cantos, manchas de Fanta Uva na parede, pôsteres de bandas, uma velha bateria num canto, junto com uma case de guitarra vazia e a capa de um violão. Os caras da banda estavam de costas para a porta, espalhados pela garagem.


- Senhores – rugiu Matthew com sua voz grave – Apresento-lhes Lady Annabeth Sawyer!


Sem graça, sorri e observei cada um deles se virando para me olhar. Jamie, que estava perto da porta, correu para dentro e fez uma reverência, pegando a minha mão e beijando-a, me fazendo rir, e se apresentou de um jeito exagera e propositalmente formal. Zakk saiu de cima da caixa em que estava sentado e me deu um mega abraço de urso, me girando em seguida e gritando meia dúzia de palavras incompreensíveis. Joey era mais baixo que eu, mas não precisou se esticar para me dar um abraço breve e se apresentar de uma forma mais normal que os outros.


- Cadê o porra louca do Brian? – meu irmão perguntou, e uma voz vinda detrás de nós resmungou alto, sem ter ouvido o que Matthew disse.

- Aí, Matthew, você podia ser menos mão-de-vaca e comprar uma grade da próxima vez, né? Tem tão poucas que dá pra eu carregar tudo na mão o que tem naquela geladeira... – Brian se interrompeu, seus olhos finalmente pousando em mim. Abri meu melhor sorriso cretino, enquanto os olhos castanhos deles se arregalavam e ele visivelmente lutava para manter a expressão impassível.


Surpresa, Brian”.



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Notas finais do capítulo

E entao? Gostaram? Odiaram? Deixe sua opinião, é importante!!!
ERROS, CORRIJAM PLEASE.
Espero que não tenham estranhado MUITO as mudanças. TODAS as explicações estão aqui: http://play-with-fire-nyah.blogspot.com.br/, E a biografia dos OC. É bem legal, podem comentar no blog tb n.n
REALMENTE espero que tenham gostado. Deixem reviews, por favor, elas são o que me faz continuar escrevendo, especialmente depois dessa mudança.
Love you guys!
Kisses!!