Play With Fire escrita por Hanna_21


Capítulo 3
Let me tell you about this girl I know...


Notas iniciais do capítulo

Hello!! Gente, AMEI os reviews do capítulo passado, MUITO OBRIGADA!!!
Esse capítulo tá enooorme, mas é bem explicativo e importante!!
Ah, é um capítulo com músicas. Eu deixei o link na parte que elas são usadas, então, se quiserem, cliquem para ouvi-las enquanto leem!
Esse capítulo é musical, então eu peço que
Enjoy!



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3. Let me tell you about this girl I know...


“- Tá falando sério? – perguntei ao celular, mirando o copo à minha frente

- Sério, cara. Foi mal, não posso ir – Jamie retrucou do outro lado da linha

- Tem mulher no meio, não tem? – indaguei, mal-humorado. Ele riu.

- Tem.

- Sabia! – resmunguei

- Desculpa, Brian!

- Vá se ferrar, Jamie – virei o copo e acenei pro garçom. Ele trouxe mais 3 doses de tequila. O cara aprendia rápido.

- Você devia sair desse bar podre que você está sentado e ir ver mulher também – disse Jamie, rindo

- Como você...

- Vai por mim, cara, eu te conheço. Agora vou desligar porque...

- Ah, eu sei muito bem porque você vai desligar, caramba. Tchau – disse, virando mais um copo

- Tchau, e vê se... – mas eu já tinha desligado

Bufei e tamborilei os dedos no balcão. Eram dez e meia da noite e eu estava completamente bêbado. Bêbado e sozinho. E o pior de tudo: em San Diego. Por incrível que pareça, eu nunca – nunca MESMO – tinha estado naquela cidade antes. Quando cheguei pensei que era um absurdo eu nunca ter estado ali, mas depois de duas horas perambulando a esmo pelo lugar eu saquei. Era tudo certinho, bonitinho demais. Nem dava para fumar e beber nos lugares mais públicos. Enfim, visitar museus e parques sozinho, ainda mais SÓBRIO, não estava na minha lista de coisas divertidas pra se fazer.

Se San Diego era tão chata, o certo era voltar para Huntington Beach naquela noite mesmo. Como era meu dia de sorte, meu caro amigo Jamie (filho-da-puta), que me trouxe até aqui e ia me levar de volta (porque a parte ruim de se dirigir bêbado e bater o carro é ter que depender dos outros), se arranjou uma vadia e estava em casa, feliz da vida, enquanto me deixava mofando naquele lugar.

Maldita hora que recebi o telefonema de um conhecido meu dizendo sobre um modelo clássico de guitarra que eu estava de olho há tempos estava na loja em que ele trabalhava, à venda, por um preço razoável. Porra, nós tínhamos ganhado uma grana boa com o Waking the Fallen, mas em processo de gravação do novo álbum nossa grana andava meio limitada (pelo menos pros padrões das estrelas do rock). O desgraçado disse que se eu viesse hoje até essa droga de cidade, a guitarra era minha. E pra um cara tarado por guitarra como eu, isso era a garantia de um dia muito bom.

Só que quando cheguei o filho-da-mãe me deu a notícia de que ele já tinha vendido a guitarra. Sério, por um instante eu considerei a possibilidade quebrar meu instrumento favorito na cara daquele sujeito, mas depois resolvi comprar uma guitarra ESP pra tentar me animar um pouco. Adiantou porra nenhuma, lógico.

Depois de muitas doses de tequila e algumas cervejas eu estava... Ham, alegre, mas o puto do Jamie me ligou dizendo aquela palhaçada e arruinou qualquer possibilidade do dia melhorar. Era o que eu pensava, pelo menos.

- Hey, cara. – ouvi a voz do barman me chamar. Olhei pra ele de cara feia.

- Fala – respondi, antes de virar a terceira dose e acenar novamente.

- Você está com uma cara péssima – ele disse, e eu sorri. Que legal, um barman engraçadinho!

- Sério? – perguntei. Normalmente eu daria uma respostas mal-criada, mas naquele momento o álcool me deixou quase dócil.

- Seu amigo tem razão, você devia ir ver mulher – ele comentou, trazendo mais três doses.

- Você ouviu?

- Porra, ele estava berrando. Você tá tão ruim que nem notou – ele riu da minha cara. Caralho, eu devia estar ruim mesmo. Tsc. Dane-se.

- Que seja. Mas essa cidade é um tédio. Não tem a droga de um lugar pra farrear como homem de verdade. E sozinho.

- Dizem que as coisas mudam quando o sol se põe – ele deu de ombros. Lancei a ele um olhar tipo “que merda é essa?”. Ele não sacou.

- Quê?

- Quer dizer – ele pareceu meio impaciente – Que as pessoas certas sabem os lugares certos para se fazer coisas erradas. – o encarei por longos segundos e comecei a rir feito besta.

- Não entendi. – e ri e peguei mais um copo. Ele segurou meu braço no meio do caminho

- Se quer ir a um clube de strip-tease, retardado, dê a volta por trás desse quarteirão e entre no lugar onde está escrito JFI.

- E o que diabos é “JFI”?

- As pessoas acham que é uma sede falida do “Journal of Family Issues”. Na verdade, é uma boate chamada “Just Fire It”. – ele baixou o tom de voz, olhando para os lados

- Aaaah – olhei para ele, admirado. Bêbado é uma criatura muito idiota mesmo – Genial.

- Aham. Agora sai porque alguma coisa me diz que você vai vomitar em alguns segundos. - ele empurrou a conta pra mim. Tirei algumas notas do bolso e coloquei em cima do balcão

- Valeu, cara – agradeci, rindo e andando torto. Eu era muito resistente à bebida, mas não imune. Ele fez um sinal de positivo e eu saí do bar, carregando a guitarra que eu comprara (porque eu não tinha procurado hotel,, já que o Jamie supostamente ia me buscar).

Demorei uns dez minutos pra perceber que eu estava indo na direção errada e outros dez pra achar a certa. Por fim, achei um lugar com uma fachada sem graça, com “JFI” pintados de preto numa placa branca. Se aquilo não fosse uma boate de strip-tease mesmo, eu estava fudido, porque eu não tinha a mínima condição de resistir a qualquer tipo de ataque.

Empurrei a porta velha e dei de cara com outra, dessa vez negra e muito brilhante. Girei a maçaneta e entrei numa espécie de recepção. O carpete no chão era vermelho escuro, as paredes eram negras e tinham desenhos que eu e minha cabeça alcoolizada não conseguimos entender. Uma recepcionista baixinha de cabelos castanho claros e roupa vagamente formal sorriu pra mim enquanto eu estendia duas notas para os dois seguranças que bloqueavam a passagem de uma última porta. Em cima, vislumbrei uma placa escrito “Just Fire It” em letras estilizadas e chamativas. Por fim, entrei no lugar.

Não era bem um clube de strip-tease à primeira vista, e era visivelmente um lugar frequentado por homens ricos e que sabiam onde os lugares meio proibidos ficavam. Alguns meses mais tarde, me explicariam que o público era restrito porque a maior parte dos clubes de strip-tease tinham limitações pela lei de San Diego, e se algum cara importante fosse pego neles não seria legal. A opção era ir a um lugar mais secreto. Mas isso aconteceu bem depois, então na hora teria me sentido meio deslocado no meio de um monte de engravatados se a perspectiva de ter uma boa noite não fosse tão animadora.

Pra ser sincero, parecia que eu estava entrando no set de Moulin Rouge, aquele filme que a Megan me fez assistir pelo menos três vezes. O lugar tinha mais um ar de cabaret burlesco que um clube de strip. O chão parecia ser feito de veludo vermelho, as paredes novamente negras e havia pequenas luzes serpenteando por elas. Era tudo um enorme cômodo em forma de círculo. Em alguns lugares próximos às paredes, havia tubos circulares feitos de cortinas brancas, iluminados por baixo, e neles garotas dançavam e tiravam a roupa, deixando apenas silhuetas negras visíveis. As cortinas pendiam de um segundo andar, que era uma sacada. Lá, algumas garotas de lingerie dançavam ao som de R&B.

Me dirigi ao bar que ficava no canto esquerdo e tinha forma oval também. Os bancos tinham estofado vermelho e eram confortáveis, bem diferentes do bar ruim que eu estava antes. Sentei em um deles e observei em volta. O palco era feito de vidro preto com brilhos, iluminado por baixo; ficava em baixo da parte circular da sacada, mas era um pouco maior, e tinha uma passarela  longa com plumas pretas. Havia cadeiras de formato engraçado na frente do palco, que estavam meio vazias. Apenas duas garotas se apresentavam, ignorando os outros postes de pole dance perto delas.

As mesas estavam cheias, por outro lado. O arranjo plumoso no meio se perdia em meio às garrafas de bebidas caras. Pra ser sincero, achei meio sem graça. Me virei para o bar e dei de cara com uma garota de olhos roxos e cabelos da mesma cor.

Porra, juro que não estava drogado.

Olhei pra ela, curioso, e ela me encarou de volta.

- Sim?

- Seus olhos são roxos – comentei. Ela revirou os olhos (roxos, cara!) e me olhou com desdém. Naturalmente, eram lentes de contato

- Vai querer alguma coisa? – a analisei bem. O cabelo era na altura dos ombros e parecia muito natural

- É seu mesmo? – apontei para o cabelo dela

- Temos uma lista de bebidas ali – ela apontou para trás dela, me ignorando de novo

- Só me responde uma coisa.

- Sim?

- Porque o palco tá tão vazio?

- Porque as apresentações de verdade não começaram ainda... Ah, olha só, vai começar agora – ela apontou por cima do meu ombro, e virei para olhar ao mesmo tempo que as luzes diminuíam.

Deslizando pelos postes, quatro garotas desciam do segundo andar, tipo, sei lá, os bombeiros fazem, sabe? (“BOMBEIROS, BRIAN? Você compara strippers num cano com BOMBEIROS?” “Tsc, você entendeu o que eu quis dizer, Jamie, fica quieto”). Def Leppard tocava num volume estarrecedor “Pour Some Sugar On Me”. As mulheres eram bem diferentes entre si, mas de longe não conseguia ver bem. Meus olhos corriam de uma para outra, observando seus movimentos, tão distintos um do outro, e ainda assim perfeitamente sincronizados.

Elas eram excelentes dançarinas. Os passos eram ritmados e provocantes. Me surpreendi ao perceber que eu prestava mais atenção em seus movimentos que em seus corpos. Duas delas já haviam retirado algumas peças de roupa, e uma delas o fazia naquele momento, enquanto as outras duas dançavam coladas às barras de metal.

A música foi avançando e as peças iam diminuindo, a dança ficava mais provocante, as garotas se aproximavam dos homens cobiçosos (que haviam corrido para ocupar as cadeiras) que lhe estendiam notas e mais notas. A música não devia ter mais de cinco minutos, mas pareceu durar bem mais que isso. Quando a nota final tocou, percebi que estava impressionado. Nenhuma delas havia se livrado da roupa de baixo completamente nem exposto os seios ou algo assim, e todos os homens estavam agitados. Elas recolheram as notas no palco e tiveram a audácia de atravessar no meio deles para chegar até uma sala. Pelo menos uma dúzia deles se levantou apressadamente e se dirigiu até a sala onde elas haviam entrado. Fiquei curioso. Muito curioso.

- O que eles foram fazer lá? – perguntei sem rodeios à garçonete de roxo

- Comprar – ela retrucou, debruçada no balcão

- O quê? – perguntei ao mesmo tempo em que metade dos caras que assistiam o show vieram para o bar

- Danças, é lógico. – ela respondeu, enquanto sorria para um cara feio e o atendia

- Eles compram essas danças? – perguntei, mas ela se virou para pegar três cervejas e não me respondeu – Hey.

- Estou trabalhando – ela resmungou, enchendo um copo de vodca pra outro sujeito

- Me responda e eu vou embora. – ela bufou

- Sim, eles compram danças. Particulares. Naquelas salas ali – ela apontou para o andar de cima – Aquilo foi pra apresentar as garotas que vendem as danças particulares. As outras são... Como eu posso dizer...

- Públicas?

- Uma expressão nojenta e barata, mas serve. Ali – ela apontou para o palco, onde duas mulheres vestidas de preto dançavam – Está vendo? Antes e depois das apresentações, entram as Black Garnets.

- Granadas Negras? Por que esse nome? – eu ri

- Tudo aqui tem nome de pedras – ela colocou um copo no balcão

- E você é...?

- Apenas uma Crystal. Purple Crystal. E aquela ali é Pink Crystal. E assim por diante.

- Então deixe ver se eu entendi. Garçonetes são Crystal – apontei pra ela e para a garota de cabelos e olhos rosa pink ao lado dela – Dançarinas comuns são Black Garnets. E as dançarinas particulares são...

- Cada uma tem um nome diferente. – ela me informou. Parei um pouco para pensar. Aquele lugar não era nada mal, afinal de contas. Era diferente; aquilo me atraía. Eu queria uma dança. A ideia dominou minha cabeça, e não tinha mais jeito de tirar. Ainda mais alterado como eu estava.

- Ok. E como eu consigo essas danças?

- Com dinheiro – ela abriu um sorriso.

- Com quem eu...

- Diamond. Naquela sala em que você viu um monte de gente entrando. Mas não sei se você entendeu – ela baixou a voz – Estou falando de muito dinheiro. Relativamente falando, quero dizer. Você tem cara de quem gasta uma boa grana com strippers, mas aqui é diferente. Não pense que elas são baratas.

- Entendo – sorri. Agarrei a guitarra (saco ter que ficar carregando esse troço) e fui até a porta de onde vários homens saíam com a expressão fechada. Bati na porta e entrei.

Uma mulher de cabelos vermelhos, pele branca e olhos esverdeados, usando um vestido branco brilhante e decotado, estava sentada atrás de uma mesa luxuosa. Ela me encarou, curiosa.

- Sim?

- Quero uma dança.

- Desculpe, querido, todas já foram compradas – ela suspirou, como se achasse aquilo ruim.

- Olha... Diamond, certo?

- Correto.

- Posso pagar.

- Você e muitos outros, e eu realmente gostaria de atender a todos, mas não temos garotas o suficiente. – ela me olhou dos pés à cabeça – Você é novo aqui, não é?

- Sim – me senti meio imbecil dizendo isso, mas cruzei os braços e sorri. Estava bêbado, de qualquer forma.

- Então devo lhe dizer que não é seu dia de sorte – nossa, ela era cartomante, além de agenciadora de meretrizes? Meretriz. Tai, gostei da palavra. – Uma garota nova estrearia hoje, mas ela não veio.

- Você não está entendendo – eu retruquei – Eu posso pagar. Não me interessa qual garota venha, eu só preciso ter uma mulher dançando pra mim. Nesse instante.

Ela pareceu pensar um pouco. Ponderou por longos instantes, analisando minha expressão. Então seu olhar se iluminou e ela voltou a falar, vagarosamente:

- Não lhe interessa nenhuma garota em especial?

- Não.

- Qualquer uma serve?

- Sim. – o sorriso que ela abriu era quase malévolo, mas a deixava bonita.

- Me dê o seu valor, senhor...

- Harrington – soltei sem pensar. Ela melhor ter dito Harrington. Ela riu. Ainda bem que eu não disse meu nome. Abri a carteira e tirei notas altas, que haviam sobrado da compra da guitarra.

- Ok, isso basta. Mas seja discreto Sr. Harrington. Está dando sorte que não quero que um cliente de primeira viagem se decepcione, embora eu não possa garantir nada. – ela informou, pegando as notas que eu oferecia. Ergui as sobrancelhas, sem entender muito bem – Suba por aqui – ela apontou uma porta atrás delas –vá até a sala mais longe das escadas, pela direita, e aguarde. – ela me entregou um cartãozinho

- Ok – concordei, e segui suas instruções.

Cheguei a uma sala guardada por um sujeito musculoso e alto. Mostrei o cartão ao cara e ele me deixou entrar. O cômodo era retangular, tinha paredes lisas e negras, um palco redondo no centro, com um cano de pole dance, e iluminado por baixo com luzes rosadas. Sentei-me num sofá branco e aguardei.

Dez. Quinze. Vinte minutos. Já estava puto da vida quando a porta se abriu. Abri a boca para resmungar, mas quando olhei a garota à minha frente, que subia no palco, parei.

- Você! – exclamei – Purple Crystal!

- Não, não sou Purple Crystal – ela retrucou, estreitando os olhos (roxos), aparentemente me reconhecendo.

- Claro que é. Acaba de se denunciar ao falar. – sorri, debochado. Ela desviou os olhos.

- Ok, sou eu.

- Achei que você fosse uma Crystal.

- Agora não.

- Não entendo.

- Nem eu – ela comentou.

- Esse cabelo é seu? – perguntei; ela se permitiu sorrir.

- Sim, dessa vez é.

Diferentemente de antes, seus cabelos eram castanho-aloirados, iam até um palmo abaixo dos ombros. Ficava bonita daquele jeito. Analisei-a: não tinha o corpo que as outras tinham, mas o vestido preto que ela vestia a deixava sexy. Ela ficou parada por alguns instantes, desconfortável. Ergui as sobrancelhas.

- Então...?

Ela pareceu acordar de um transe e se dirigiu a um canto, nervosa. Mexeu em alguma coisa por uns instantes e as luzes diminuíram um pouco. Ela sorriu, meio orgulhosa de si, e se dirigiu até o centro do palco, batendo palmas duas vezes.

O sorriso dela murchou ao mesmo tempo em que eu lutava para não rir, sem sucesso.

Sério, não dá pra ser sexy ao som de STAYIN’ ALIVE. Stayin’ Alive, cara...! Ela estacou no meio do palco, boquiaberta. Eu não aguentei e ri sem controle, e só parei quando notei que ela continuava parada no mesmo lugar, com a mesma expressão.

- Hã... Hey, você tá bem? – tentei controlar os risos enquanto os irmãos Gibbs continuavam gritando a música a fundo. Ela me olhou com desespero.

- Não – ela respondeu pro fim, sentando-se no palco de forma desajeitada – Porque nada disso aqui está certo! Eu não devia estar nessa droga desse lugar, com a porcaria de um bêbado rindo da minha cara, e não sei porque diabos essa música está aqui!

Ela ficou encarando o chão.

- Como assim, você não devia estar aqui? – perguntei, devagar. Ela suspirou.

- Sou uma Crystal, lembra? Crystals não fazem danças. Nenhuma Garnet estava disponível, e como a garota que devia estar aqui faltou, e eu sou a garçonete mais inexperiente, e o bar está cheio... A Diamond me mandou aqui, mas... Eu não sei...

- Está dizendo que... Não sabe dançar? – indaguei, incrédulo. Ela ficou em silêncio e hesitou antes de responder

- Não é que eu não saiba dançar, mas você acabou de ver lá fora, elas são demais. Eu... Cara, eu não saberia fazer aquilo de pole dance. Não sei tirar a roupa e, puta que pariu, eu vou matar o sujeito que colocou Bee Gees aqui! É meu primeiro dia aqui e eu não tenho que fazer coisas que não estavam no combinado! – ela terminou a frase berrando, e eu tive que me esforçar pra prestar atenção no que ela falava, e não em seu decote. – Olha, me desculpa. Me diz quanto você pagou. Eu te dou a grana de volta.

Nos entreolhamos em silêncio. Cara, era realmente meu dia de azar. Eu acabara de pagar por uma stripper que não sabia tirar a roupa. Que legal.  Por outro lado, ela me olhava com uma cara de desespero tão grande que eu fiquei com pena. Tá, e também tinha o fato de ela ser sexy, mas essa era outra história. Era o primeiro dia dela, e ela devia estar em pânico. Bem, eu pagara pela dança, e eu ia tê-la. Nem que eu tivesse que ensinar aquela garota a dançar pra mim.

- Olha... Como posso te chamar?

- Amethyst. Acho.

- Amethyst, então. Vou te ajudar.

- O quê? – ela me olhou de um jeito estranho

- Eu vou te ajudar. – repeti

- Você vai o que?

- Te ajudar, caramba. A dançar. – expliquei, sorrindo. Caralho, eu estava realmente bêbado! Ensinar uma stripper a dançar, que merda de ideia é essa?

- Como? – ela pareceu desconfiada – Vai vir aqui em cima e me mostrar como se faz? – eu a encarei e ela ficou encabulada – Desculpe. Diga.

- Primeiro para essa música – eu ri. Ela bateu palmas de novo e a música parou. - Que músicas você tem aí? – perguntei

- Pelo padrão, não acho que elas vão ajudar muito – ela comentou, debochada.

- Dê uma olhada, vai.

Ela se dirigiu a um canto e começou a mexer em uma tela colada à parede, escondida atrás de uma poltrona. Ela ficou um bom tempo lá.

- Caramba, tem muita música aqui. Porque justo Bee Gees começou a tocar? – ela resmungou, e eu não pude deixar de rir mais. Gostei do gênio dela.

- Procure “You Can Leave Your Hat On”. – instruí, e ela olhou pra trás

- Aquela música daquele filme que a garota…

- É, faz um strip. Sim. “Nove semanas e meia de amor”.

- Criativo. Todo mundo usa essa música – ela comentou, meio mal-humorada

- Tem ou não?

- Tem.

- Coloque pra tocar.

- Olha, sinceramente, isso não vai...

- Amethyst, ou seja lá qual seja seu nome, pelo menos tente, ok? – eu estava ficando impaciente. Precisava de uma bebida. Ou daquela garota tirando a roupa. Dava no mesmo.

- Ok – ela concordou, emburrada, voltando ao centro do palco.

- Seguinte. Essa é a música mais fácil pra se fazer um strip-tease. É só seguir a letra. “Baby take of your coat, your shoes, your dress.” Sem segredo. – disse pra ela, surpreso com minha própria inteligência

- Só tem um detalhe, senhor...

- Harrington – disse, sem lembrar que antes eu dissera “Harrington” como sobrenome. Como sou esperto.

- Então, Sr. Harrington. Eu não posso “take off my coat” nem “keep my hat on”, porque não tenho casaco nem chapéu. – ela cruzou os braços. Não disfarcei meu olhar no decote.

- Muito simples – retruquei, tirando a jaqueta de couro e o chapéu e jogando-os pra ela. Ela ficou um pouco surpresa, mas recolheu os objetos e o vestiu, colocando o cabelo preso dentro do chapéu.

- Certo. – ela olhou meus braços por uns instantes. Sorri, malicioso. Apreciei o quanto ela ficou sexy vestindo minhas roupas.

- A stripper é você e quem tira a roupa sou eu – provoquei, e mesmo sob as luzes, percebei que ela ficou vermelha. Gostei. – Vamos lá, quero ver do que você é capaz.

- Só não ria, por favor. – ela pediu, virando de costas e fazendo a música começar.

Os metais marcantes da música começaram a tocar e ela mexeu os quadris. O teclado veio e ela marcou lentamente o compasso da música, esperando o vocais começarem.

“Baby, take off your coat... Real slow” (Ela tirou minha jaqueta lentamente, olhando um pouco por cima do ombro, mas deixando a franja fora do chapéu cobrir os olhos)

“Baby, take of your shoes… I’ll take your shoes…” (Por um instante eu realmente quis tirar os sapatos para ela, enquanto ela se livrava dos sapatos de salto alto)

“Baby, take of your dress… (Sorri quando ela hesitou um segundo antes de se virar um pouco e puxar o zíper devagar, até que o vestido caísse a seus pés).

 “Yes, Yes, Yes…” (Sim, ela estava indo bem...)

“You can leave your hat on…” (ela pegou o chapéu com uma das mãos e fez menção de tirá-lo, ainda de costas, enquanto descia o corpo até o chão do palco)


“You can leave your hat on…” (novamente, ela pareceu querer tirar o chapéu, desistindo de última hora e subindo os quadris novamente)


“You can leave your hat on” (Finalmente ela virou o rosto pra mim. Sua expressão apreensiva foi substituída por um sorriso confiante, e ela voltou a dançar, dessa vez em volta do poste no centro do palco, andando em volta dele). A música avançou e ela parou virada de perfil, olhando para o cano de pole dance. Colocou as mãos enluvadas nele e experimentou um giro devagar. Rindo, ela abraçou o poste com uma das pernas e deixou a outra no ar, girando o corpo e jogando a cabeça pra trás, soltando uma das mãos para segurar o chapéu.

Fiquei surpreso quando, ao chegar ao chão, ela jogou as pernas pra cima, cruzadas em volta do poste, e puxou o corpo pra vertical, se endireitando colada à barra. Ela não parecia tão amadora assim, afinal. Seguiu o ritmo da música por mais alguns instantes, e olhou incerta para seu busto.

Por baixo do vestido apertado, ela usava um daqueles espartilhos cheios de fitas entrelaçadas e nós e que parecem demorar milênios para serem desfeitos, preto com fitas roxas, short curto enfeitado com pedrarias. Meio a contragosto, ela puxou quase com violência uma das fitas do espartilho, enrolando-a no pulso, enquanto se agachava e deitava as costas no chão. Quase me levantei para vê-la melhor. Não me lembrava da última vez que achava uma coisa simples tão sensual.

Era arrancou mais algumas fitas e fez novamente o movimento de ser jogar para cima segurando-se no poste pelas pernas, as mãos segurando o espartilho nos seios. Virando-se de costas, ela fez um teatro para deixar cair mais uma peça, por fim tirando o espartilho.

Provocou novamente, fingindo tirar o chapéu, parecendo mais segura de si, e chegando até a ensaiar alguns passos de coreografia. Ela parecia menos elegante sem seus saltos, mas incrivelmente sexy. Segurou a barra com as mãos cruzadas e foi até o chão, girando o corpo ao fazer o processo inverso.

Agarrou a barra com as pernas e curvou o corpo para trás até chegar ao chão, rolou e terminou deitada de barriga para baixo, segurando o chapéu sobre os olhos, os pés cruzados e um sorriso de batom vermelho. Ela me encarou com aqueles olhos anormais, e só depois de algum tempo me dei conta de que ela queria saber se fora bom ou não.

Ergui a mão e fiz um sinal positivo, e ela saiu da posição desconfortável que estava, jogando-se de costas no chão e arfando. Sorri, malicioso, observando seu sutiã roxo cravejado de pedras que deveriam ser ametistas, seu peito subindo e descendo com a respiração acelerada.

- Foi bom, muito bom – elogiei

- Obrigada – ela fechou os olhos e sorriu. Céus, eu quero agarrar essa garota.

Ficamos alguns instantes em silêncio e eu percebi que não sabia o que dizer. Olhei as horas no celular e descobri que ainda tinha direito de ter mais 25 minutos de dança. Ergui os olhos e encontrei os olhos roxos dela me encarando. Esperei que ela desviasse os olhos. Mas ela não desviou.

- E então, Sr. Harrington? Não tem mais nada para me ensinar sobre a arte de tirar a roupa? – ela perguntou. Não era exatamente um desafio, mas a pergunta também não era inocente

- Estou pensando. Você tirou bastantes roupas agora, então acredito que se eu for muito rápido com isso você não estará vestindo mais nada em muito breve. E como estou sendo bonzinho com você, talvez te deixe alguma peça de roupa.

- “Talvez” não, Sr. Harrington. Nada de nudez completa, e nudez da cintura para cima é opcional.

- Como?

- Oh, então nunca esteve aqui? – ela riu - São as leis. Bem-vindo a San Diego, novato.

- Ora, mas você não parece mais aquela amadora de minutos atrás. Aliás, você parecia muito familiarizada com pole dance. – ela desviou os olhos e mudou o assunto.

- Próxima música, sim? – ela apontou para minha case, jogada ao meu lado – Guitarra?

- Sim.

- Toque alguma coisa – ela pediu, cruzando os braços, curiosa.

- Ah, fala sério.

- Estou falando.

- Estou bêbado.

- Que tipo de guitarrista é você que não consegue tocar bêbado? – AGORA era um desafio

- Ok então. Preciso de um alto-falante, se você não quiser que o som saia uma droga.

- Todo seu – ela indicou um canto escuro.

Um alto-falante Marshall estava ali, praticamente escondido. Tirei a guitarra da case, conectei os cabos e encontrei a afinação que me soou melhor. Então me dei conta que não sabia o que eu devia tocar. Sentei de novo, olhando para a guitarra e deixei meus dedos se moverem na primeira melodia que me vem à cabeça.

Só percebi o que estava tocando quando ela riu.

- “A Pantera Cor-de-rosa? Sério? Achei que não fosse tão amador. E um pouco mais criativo.

- Vai dançar ou não? – a olhei de baixo, como costumo fazer quando toco guitarra. Ela volta a ficar insegura, mas lentamente fecha os olhos, e enquanto a música ficava mais rápida e mais aguda, e mexe os quadris. A coordenação dela não é tão boa, mas ela tem uma noção legal de ritmo. Desacelerei o ritmo, voltei a fazê-lo ficar bem mais rápido, e ela continuava a dançar, ainda encabulada, possivelmente porque a música limitava os movimentos a coisas que ela não sabia fazer. Ela não me encarava.

O ritmo era tão fácil que o repeti várias vezes sem olhar para a guitarra. Meus olhos estavam fixos nela, no corpo dela, nos movimentos dela. Amethyst não insinuou tirar mais peças de roupas, o que me frustrou. Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito, mas a partir de certo momento, ela passou a dançar mais devagar, até parar. E então ela finalmente me olha nos olhos. Depois olhou meus dedos se mexendo pelas cordas da guitarra.

- O que é isso? – ela perguntou, curiosa

- Ia perguntar a mesma coisa. Porque parou?

- Porque está rápido demais.. E não tenho ideia do que esteja tocando. – ela retrucou, franzindo o cenho

- Como assim, você não... – e então eu notei. Olhei para os meus dedos se mexendo na guitarra, fazendo sequências de acordes desconhecidas e um pouco incertas demais para serem alguma música que á existia.

- De quem é essa? – ela perguntou, chegando mais perto e apurando o ouvido. Vasculhei por minha mente por alguns instantes antes de responder.

- Minha – murmurei, surpreso. Parei de tocar, percebendo que perdera a linha que nem mesmo sabia como começara– Quando foi que o ritmo trocou?

- Não sei. O som estava agudo, na parte que você repete várias vezes a mesma nota, no finzinho da música... E aí você começou a tocar diferente. Primeiro devagar, mas depois muito rápido... Foi quando eu parei.

- Era algo mais ou menos assim? – perguntei, tentando refazer tudo do ponto de onde ela tinha dito. Eu estava impressionado. O som que saía da guitarra era genial. Eu precisava recriar aquilo.

- Não, não era – ela disse – Era algo mais... - Batidas leves na porta interromperam o que ela dizia. – Oh. Bem, tempo esgotado, Harrington.

- Espere, eu quero...

- Não, não e não! Você tem que ir, senão aquele cara gigante vai te tirar daqui à força. Recolha seus cabos e seu amplificador e vai! – ela disse, a voz urgente, me ajudando a pegar minhas coisas enquanto eu guardava a guitarra

- Mas...

- Vai logo! – ela exclamou, nervosa, me empurrando em direção à porta.

Eu estaquei quando estava a centímetros de bater o nariz na porta da sala e me virei para trás. Ela não esperava que eu fizesse isso, então seu corpo se chocou contra o meu. Ela era um pouco mais baixa que eu, de forma que teve que olhar para cima. Eu sorri, flertando, e ela desviou os olhos.

- Não tenho todo o tempo do mundo. Sr. Harrington. Melhor você ir. Mas foi um prazer conhecê-lo.

- O prazer foi todo meu – ri, sabendo que a fala era proposital e idiota. Ela sorriu e eu saí da sala

Naquele dia, eu não sabia disso, mas depois de uma noite inteira em claro num hotel ruim, tentando lembrar, obcecadamente, como era o riff que eu fizera na guitarra, me dei conta de que só conseguiria recordar se a visse dançando novamente.

Uma semana mais tarde, Matthew colocou um nome na música e criou uma letra falando sobre uma meretriz, coincidentemente ou não. E eu não tinha ideia de como depois daquilo eu passaria a depender daquela garota.

- E você não sabe o nome dela? – perguntou Jamie, fungando

- Não. Só sei que era Amethyst, e... Cara, você tá chorando? – perguntei, incrédulo

- Sei lá, Bri, é muito triste saber que você nem sabe o nome da garota que te fez compor seu melhor solo e que graças a isso você nunca mais terá a chance de... Revê-la!! – ele terminou a frase num lamento desafinado que atraiu a atenção de outros bêbados

- Gostaria que fosse só por causa disso – comentei, virando mais um copo

- Você fez alguma porra louca, né seu desgraçado? Porque, Brian? Por quê? – Jamie choramingou, dramático, mas pude ver que ele ria

- Isso fica pra próxima – rir também, sentindo que depois daquela “sessão lembranças”, eu precisaria de mais álcool.


Muito mais.



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Notas finais do capítulo

E então?? Gostaram de como eles se conheceram?? Curiosos por mais??
No próximo capítulo: Annabeth está de volta à Huntington Beach e precisa encarar um reencontro com seu irmão e com um certo colega de banda dele... Não percam!
REVIEWS SÃO MUITO BEM VINDOS!!! Críticas, sugestões, correções e elogios serão sempre bem-vindos!!
Kisses!