Play With Fire escrita por Hanna_21


Capítulo 2
Come back again, it’s almost easy


Notas iniciais do capítulo

Gente, fiquei MUITO feliz com os reviews do último capítulo e resolvi postar esse mais cedo do que planejava!!!
Muito obrigada a todas!
Espero que gostem desse capítulo. Como disse, a narração é alternada, então esse capítulo não é narrada pela Annabeth e sim por... Bem, você vão ver!!
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/243898/chapter/2

2. Come back again, it’s almost easy


- Bri... Bri... HARRINGTON!!!!


A guitarra desafinou terrivelmente e o som agudo e irritante ecoou por alguns segundos, amplificado pelos fones. Fechei a cara. Porra, eu poderia jurar que se Matthew não tivesse me chamado o solo da música sairia. Arranquei os fones, joguei-os pro lado com certa violência, e olhei para Matthew, que estava do outro lado do vidro, com aquela cara de “qual é a sua”.


- Que é, Sawyer? – perguntei, meio puto da vida.


Ele apontou pro celular com a expressão de “estou resolvendo coisas importantes, imbecil” e saiu andando. Só então percebi que Zakk e Jamie estavam ali com Dave, um dos engenheiros acústicos, que apertou o botão para falar comigo.


- Harrington, chegue aqui um minuto – ele disse. Ergui as sobrancelhas e saí da sala a contragosto. Coisa boa não era: dificilmente alguém me chamava pelo sobrenome verdadeiro se não fosse algo sério

- Fala. – coloquei a guitarra no suporte

- Estamos nesse estúdio há duas semanas e não temos uma música sequer finalizada. Desde semana passada você disse que o solo de Almost Easy estava quase pronto, antes de sair pra farrear. – Dave me olhou com seriedade

- E está quase pronto – retruquei, franzindo o cenho com um sorriso confuso

- Na verdade, Syn – Jamie se intrometeu – Esse solo já estava pronto, porque Joe Perry já compôs isso e essa música que você tá tocando é Sunshine, do Aerosmith.

- E está muito ruim, a propósito – Zakk acrescentou. Passei na cabeça a melodia que eu estava tocando antes. Jamie tinha razão. Cara, que merda eu estava pensando?

- Em uma semana – prometi, pegando a guitarra e dedilhando-a rapidamente, sorrindo pro som.

- Ok – concordou Jamie.

– Mas talvez vocês passassem ela agora, juntos, desse em alguma coisa. – sugeriu Dave


Eu entendi as intenções dele. Ele queria ajudar a gente a terminar aquela música, mas eu não estava muito a fim de gravar naquele momento. Na verdade, o que eu queria era ir a um bar e encher a cara, se quer saber a verdade. Talvez desse certo, eu era bom quando estava bêbado. As coisas fluíam sem que eu precisasse pensar muito.


Mas no fundo eu sabia que beber não ia adiantar porra nenhuma, porque eu vinha fazendo isso desde semana passada e não estava dando muito certo.


A droga do solo de Almost Easy era... Quase fácil. Ironicamente. A música estava praticamente pronta, e quando olhei para o quadro de músicas que já tínhamos planejadas, me senti idiota ao perceber só faltava minha parte. Até os backing vocals de todo mundo – inclusive os meus – estavam gravados e mixados. Aliás, só um pedaço da minha parte faltava, porque o outro – o que estava composto – já estava gravado. Eu nem sabia que dava pra gravar pelas metades daquele jeito, e não entendia porque eu simplesmente não conseguia seguir o ritmo da base, ou porque o som ficava agudo ou grave demais, os acordes pareciam sempre errados... Enfim, aquela porcaria não saia nem a pau.


- Ok. Vamos repassar esse troço – dei de ombros e cutuquei Zakk nas costelas, implicando, tentando esquecer o quão importante aquilo era: a partir do momento que eu me preocupasse, ia deixar de ser divertido – e eu não queria parar de me divertir.


Jamie me olhou com uma cara supostamente ofendida porque quando ele chegou com a música eu disse que era “mal-feita”; mas em seguida piscou, passou uma mão nas baquetas e pegou duas cervejas com a outra, apontando uma pra mim. Às vezes eu achava que ele conseguia ler minha mente. Sério. Ele também cutucou a barriga de Zakk, que soltou um palavrão e pegou uma garrafa de uísque.


- Ô, animal, pega a garrafa e esquece a guitarra – zoei, quando entramos na sala. Zakk virou a garrafa e fez um gesto obsceno antes de rir e voltar para pegar a guitarra.

- Cadê o Joey? – perguntou Jamie, gritando pra que o gordo o ouvisse

- Sei lá. Dave pediu pra ele regravar o baixo da música, porque não deu pra usar as que ele gravou antes. Mas faz tempo. – respondeu Zakk

- Deixa o anão lá – comentei. Saber que Joey também não tinha terminado a música me deu novo ânimo. Além disso, eu era o único que tinha gravado alguma coisa de uma outra canção. Afinei a guitarra. Isso aí. Eu era fodão. Aquele solo não era nada demais. E ia sair agora. – Com quem o Sawyer estava falando? – perguntei, sem interesse

- Com a polícia – respondeu Zakk, e olhei pra ele. Não me lembrava de Matthew ter assaltado algum lugar ou infringido alguma lei na nossa última bebedeira. Tá, Jamie urinou em lugar público, mas isso não tinha nada a ver com Sawyer. Além disso, Valary andava controlando-o um pouco ultimamente.

- O que ele fez? – Zakk pareceu sério por um instante, mas logo um sorrisinho sacana apareceu na cara dele

- Bem, ele nada, mas estão acusando a gente de assassinato de gatinhos, porque estão ouvindo guinchos agudos a três quarteirões daqui.


Ouvi um “Ba-dun-tsss” atrás de mim, e Jamie, sentado na bateria, ria. Os desgraçados estavam zoando minha tentativa frustrada de solo. Nem estava tão ruim assim, porra! A culpa não era minha se a música era tão, sei lá, inacabada.


- Diga isso de novo e vão chamar a polícia por assassinato de suínos – retruquei, sorrindo para Zakk em desafio e desafinando a guitarra de propósito. Jamie repetiu o “Ba-dun-tsss”, visivelmente se divertindo às nossas custas.

- Sabe Harrington, às vezes eu queria ter visão de raio-x só pra checar sua bagagem e saber se você tem motivo pra ser tão seguro de si – Zakk riu, me lançando um olhar afeminado

- Quando quiser, gato – respondi, debochado

- Nossa, caras, que coisa mais gay. Vou deixar as moças em paz e volto quando a masculinidade de vocês estiver aqui de novo – Jamie levantou-se

- Peraí, peraí, Rev, você venceu. Coloca essa bunda magra de volta no banco que a gente vai começar. – terminei de ajustar o som e todo mundo colocou os fones.

- Um, dois, três e... – Zakk contou e começamos a música


O início saiu bem; o som estava perfeito na sala e as guitarras pareciam estar se encaixando melhor com a bateria. Avançamos mais. O refrão passou. O segundo pré-refrão ia chegar, estava chegando mais perto da parte na qual eu tinha o “bloqueio criativo”, mas se continuasse daquele jeito...


- “I’M NOT INSANE, I’M NOOOOOOOOOOOOT... NOT INSANE!”– a voz de Matthew encheu a sala repentinamente, um grito gutural e absurdamente alto. Soltei um palavrão quando a guitarra desafinou daquele jeito de novo com o susto; Zakk caiu do banco que estava sentado e uma das baquetas de Jamie voou e bateu contra o vidro; do outro lado deste, Matthew ria da nossa cara, acompanhado pelo que parecia ser Joey.


A risada dele ecoou enquanto nos recuperávamos. Fiquei puto por um segundo, mas quando olhei pra Zakk caído no chão desandei a rir feito louco. Sawyer era um filho-da-puta por arruinar meu momento de inspiração, mas rir do Zakk superava tudo. Ele olhou pra Matthew de cara feia, o que deixou as bochechas dele ainda maiores. Jamie e eu trocamos olhares e ele afundou o rosto nas mãos, gargalhando. Matthew entrou na sala, seguido por um Joey dobrado ao meio de tanto rir. Zakk levantou-se tentando parecer sério, mas enquanto ele verificava se a queda tinha danificado a guitarra, parecia querer rir também.


- Diz aí, cara - pediu Jamie, indo buscar a baqueta – Pra quê esse escândalo todo?

- Acabo de receber uma notícia incrível – o sorriso de Matthew era tão grande que ele parecia muito idiota. Desde que Valary e ele marcaram o casamento, volta e meia ele ficava com essa cara

- Valary decidiu a cor dos arranjos? – sugeri, e Zakk e Jamie riram. Joey estava sentado no chão, ainda rindo do Zakk. Acho que quando você é zoado durante metade do tempo, você tem que aproveitar o restante pra zombar dos outros.

- Fica quieto, Brian. Pelo menos eu tenho mulher – Matthew retrucou, ainda sorrindo

- Não seja por isso. Eu tenho várias – disse, mas o sorriso dele só aumentou

- Fala logo, Sawyer, antes que eu te dê uma porrada pra tirar esse sorriso imbecil da sua cara – disse Zakk, e antes que Matthew pudesse continuar, Jamie recomeçou a rir. Nós olhamos pra ele.

- Você tá bem, cara? – perguntou Jamie, agachando na frente dele e sorrindo daquele jeito quando você acha que está lidando com alguém com sérios problemas mentais, o que provavelmente era o caso de Joey

- O Zakk... Bater...  No Sawyer... Que piada!!! – Joey soltou, ainda rindo

- Ele tá bêbado? – perguntei, achando graça. Jamie fungou o baixinho por alguns instantes e nos olhou sorrindo

- Chapadaço.

- Imagine a desgraça que não deve ter saído a gravação do baixo. Já não chega o Brian trollando a parada. – resmungou Zakk, só porque Joey ria dele.

- Falou. Quem tá com a garrafa de Jack Daniel’s mesmo? – respondi. Zakk abriu a boca pra retrucar.

- Mas hein – Matthew pigarreou – Eu ia falar uma coisa, lembram?

- Diga, querido amigo Matthew! – Jamie fez gestos teatrais

- Minha irmã. Ela está voltando para Huntington Beach – ele anunciou, o sorriso aumentando ainda mais. Nós permanecemos em silêncio. Legal. O que aquilo deveria querer dizer, mesmo?

- Cara... Que bom, mas, e daí? Amy não veio aqui mês passado? – perguntei, sem entender.

- Talvez ele tenha tomado todas junto com o Joey – Jamie sugeriu

- Espera – Zakk parecia concentrado, olhando para Matthew – Está falando... da... Da Annabeth?

- Isso aí. – Matthew apontou pra Zakk - Ele está voltando, cara! – por algum motivo que eu não conseguia lembrar, aquilo deixava ele muito feliz. Sawyer olhou para mime e para Ver com expectativa

- Hum... Ah... Annabeth não era a sua irmã perdida? – perguntou Jamie, cruzando os braços, pensativo.

- “Perdida”, não. Sumida – corrigiu Matthew – Sim, é ela. Acabou de me ligar. Vai voltar a morar na cidade. E quer falar comigo.


Eu me lembrei vagamente, então, de uma história que Matthew contara um tempo atrás, sobre a outra irmã dele, que tinha ido pra não-sei-aonde, não sei porque, e que nunca mais tivera notícias dela, e que queria muito que ela voltasse e blá-blá-blá; ele estava tão chapado que começou a chorar e pedir desculpas. Jamie também chorou, sei lá por que. Vai entender. Eu também não estava muito sóbrio.


- Ela é bonita? – perguntou Joey, de repente muito interessado na conversa

- Sai fora, Joey, zona proibida! – exclamou Zakk

- Por quê? – eu e Jamie perguntamos

- Cara, é minha irmã – disse Matthew, como se fosse óbvio

- E daí?

- E daí que existem algumas regras, saca? – Zakk voltou a falar

- Irmãs, namoradas, esposas e ex são proibidas. – explicou Matthew

- E mães – lembrou Zakk

- MÃES? – Jamie riu escandalosamente – Porra, mães, Barton?

- Sei lá, nunca se sabe! – ele se defendeu – Além disso, Joey, da última vez que a vi ela já era maior que você, então aí que você pode esquecer mesmo – acrescentou, sem perder a oportunidade de se vingar. Faz jus ao nome, né.

- Não disse que eu vou avançar nela – Joey riu, abestado – Só perguntei se ela era bonita. E então, Matthewy, ela é bonita?

- Ela... – Matthew se interrompeu, franziu o cenho – Não sei cara. Não a vejo há 9 anos. – um silêncio meio constrangedor se estabeleceu entre nós – Mas de qualquer forma, ela pode ser a Miss Universo, mas se eu sonhar que algum de vocês, homens das cavernas, estão se engraçando pro lado dela, vão ver.

- Ok, PAPAI – Jamie brincou. Joey riu de novo – Que foi dessa vez, criatura?

- Imagine o Sawyer como pai... Com barriga de cerveja, jogado na poltrona e esperando a filha chegar às três da matina – ele respondeu, ainda rindo. Putz, ele tava mal.

- Porra Brian, ele tá igualzinho a você quando bebe! Vou levar essa criança pra casa antes que ele tente estuprar uma anã de jardim – Zakk chutou Joey pra ele se levantar, e acenou pra gente antes de sair.

- É, acho que a gravação melou. – comentou Jamie

- Vamos pra algum lugar, então. Matthew, você vem? – perguntei

- Não. Am... A Valary quer discutir sobre a cor dos arranjos – ele admitiu, olhando pro lado e rindo. – Tentem não se matar! – ele gritou, do lado de fora do estúdio, pegando suas coisas. Ficou tudo silencioso.

- Pra onde nós vamos? – indaguei Jamie, enquanto guardava a guitarra

- Praquele lugar que eu esqueço nome e fica a dois quarteirões daqui. Aí você pode me dizer o que está acontecendo com esse seu cabeção cheio de gel pra cabelo. – disse ele, com aquela cara de quem sempre está pensando em alguma coisa muito engraçada, mas entendi que ele falava sério.

- Está imaginando coisas, reverendo – disse, dando uma cotovelada nele enquanto saíamos nas ruas de Huntington Beach, anoitecendo àquela hora.

- Tudo bem, então. Daqui a duas garrafas você vai abrir a boca, de qualquer jeito – ele deu de ombros, e eu troquei o assunto rapidamente, sabendo que se continuasse naquela linha, ele ia ouvir o que queria.


Que eu estava sem inspiração.


Nenhuma.


De novo.


E, que demônio, o pior é que depois de duas (ok, oito) garrafas eu estava colocando isso pra fora.


- Eu não sei porque, mas quando as coisas parecem estar direito, meus dedos travam e eu não consigo mais seguir a música! É uma maldição! – bati no balcão e o copo tremeu

- Calma Brian, os copos não têm culpa – Jamie respondeu, e riu feito idiota. Que lindo, dois bêbados.

- E você trouxe aquela porcaria de música mal-feita e...

- Porra, aí ofendeu, né. Só porque você não consegue tocar a música não significa que ela seja mal-feita.

- Aah, eu sei e... Cara, esqueci o que eu tava falando – comecei a rir – Do quê que eu tava falando, Jamie?

- Sobre... – ele pensou alguns segundos – minha música mal-feita.

- É, isso aí! – bati no balcão de novo. – A culpa é dela!

- Cara, os copos não têm culpa.

- Não, sua música tem culpa! – retruquei. Agora tudo fazia sentido.

- Porra, não ofende, cara, aí... – Jamie parou de falar – Acho que já tivemos essa conversa antes.

- Também acho.

- E acho que chegamos à conclusão que.. A culpa não é de Almost Easy.

- É. Espera aí, eu não disse isso.

- Disse. – Jamie afirmou

- Disse? - estranhei

- Aham.

- Ah, que seja.

- A culpa é da sua cabeça. Como da última vez. – afirmou Jamie, acenando com a cerveja

- É. Deve ser.

- E o que você fez da última vez pra resolver isso?

- Nada.

- Você fez alguma coisa sim!

- Não, caralho, foi acidental. Eu fui naquele clube de strip-tease e a partir daí...

- Isso! Strip-tease. Agora você sabe o que fazer. – Jamie riu alegremente

- É isso mesmo. Não, espera, tinha uma coisa. – me esforcei pra lembrar – Ah. Jamie, não serve qualquer clube. Nem qualquer uma. Já tentei antes. Só ela fazia aquilo comigo. Nem adianta...

- Brian, sua anta. Eu. Preciso. De um motivo. Pra ir. Numa. Boate. De. Strip-tease! – ele pontuou cada palavra com um tapa na minha cabeça

- Ai, desgraça! Era só ter dito! – resmunguei - E como assim, precisa de um motivo?

- Leanna. – ele resmungou – Ela viu como a Valary tá colocando rédeas no Matthew e quer fazer a mesma coisa. Mas se eu disser que é por uma boa causa, ela acredita. Tipo, “Oh, amor, Brian é um idiota que só compõe as músicas se tiver uma mulher tirando a roupa na frente dele, e ele precisa de um amigo do lado”.

- Ah. Meu Deus, se ela acredita nisso, é muito burra – deixei escapar. Ah, foda-se.

- Tsc. Às vezes eu também acho isso – ele refletiu por um minuto - Mas me diz, como é essa história aí mesmo? Dessa garota que te fez escrever os seus melhores solos. – Jamie acenou pra pedir mais uma bebida

- Bem – me concentrei, parando com o copo a meio caminho da boca. – Foi quando fui pra San Diego, dois anos atrás...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que todo mundo tem mais ou menos uma noção do que aconteceu , não é??
Próximo capítulo as explicações começam, e as coisas vão começar a ficar mais claras: o começo da história de um dos porquês de Annabeth não querer voltar pra Huntington Beach e sobre o emprego dela.
Espero que tenham gostado!
Críticas, sugestões, elogios e reviews são bem-vindos!
Kisses!