Dois Caminhos, Um Só Destino escrita por LEvans, Cella Black


Capítulo 2
Capítulo 1- Distantes




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Era um dia típico de inverno. O sol por entre as nuvens densas liberava pouca luz sobre a fria e sempre agitada Londres. O vento frio fazia com que as poucas folhas ainda presentes nas árvores da cidade caíssem sobre o chão úmido, o que não o ajudava em nada quando ele “decidia” não usar magia. Ele havia acabado de aparatar em uma rua deserta perto do apartamento em que morava, no qual dividia com seu melhor amigo. O bairro era calmo, perto do centro da cidade. Decidira ele que morar no mundo trouxa seria o melhor a ser feito já que não gostava da fama que tinha desde criança no mundo bruxo, e seu melhor amigo concordou sem demandas.

 

Na mão esquerda, carregava uma pequena mala preta, na qual dentro havia coisas que qualquer trouxa julgaria impossível de caber em tal lugar. Era estranho, depois de quase um 6 meses fora, estar de volta a sua casa. Viveu em muitos lugares depois da Guerra em Hogwarts que talvez nada ali fosse estranho, mais ainda assim, não podia disfarçar o nervosismo e ansiedade que tomara conta de seu corpo desde que aparatara ali. Parou em frente a um prédio não muito grande, das cores preto e branco. Não era muito luxuoso, mas era um local bom de morar, os vizinhos não o incomodavam, era perto dos seus lugares favoritos da cidade e perto de seu trabalho. Era perfeito para ele. Sem hesitar, entrou pela porta de vidro que dava acesso à portaria do prédio.

 

—Sr. Potter! Quanto tempo! –O velho porteiro o conhecia desde quando comprara o apartamento. Era um velho baixo, de cabelos e barba branca, um pouco acima do peso. Uma pessoa boa e fácil de conquistar a amizade.

 

—Como vai Sr. João? –Estendeu a mão para que o porteiro a apertasse, o que não tardou a acontecer.

 

—Estou bem graças a Deus. O Sr. Weasley não me disse que o senhor chegaria hoje. Quer ajuda com as malas? – João fez sinal em pegar a mala preta das mãos de Harry.

 

—Ah não, é só essa, Obrigado. Hã, vou subir, a viagem foi cansativa. Até mais tarde Sr. João. –Deu um aceno para o simpático velho, e adentrou o elevador, para logo depois apertar o botão que o levaria até o último andar.

 

O ruivo alto, de olhos azuis e de ombros um pouco largos se assustou ao ouvir a campainha tão pouco usada. Assustou-se ainda mais quando viu o “menino” de cabelos negros mal arrumados, os olhos verdes e a característica cicatriz bem no meio da testa. Era um pouco mais baixo que ele, mas tinha os braços e o peito bem definidos.

 

—Harry! –Ele não tardou em abraçar o amigo que há meses não via. Eram melhores amigos desde os tempos da escola e o tinha como irmão. Não que não soubesse que Harry chegaria naquele dia, mas sempre era uma surpresa vê-lo, principalmente do jeito que estava: barba mal feita e os cabelos precisando de uma boa “cortada” como diria sua namorada, Hermione. Depois do abraço,  entraram na sala do apartamento.

 

—O que aconteceu com você? Tá doente ou o que?- Perguntou Harry na brincadeira. Na maioria das vezes, quando voltava de viagem, encontrava o apartamento todo bagunçado, como se um trasgo montanhês tivesse acabado de passar no local. Mas, para sua completa surpresa, o encontrara impecável. As almofadas do sofá em ordem, os porta-retratos limpos e a camada de poeira que sempre estivera ali parecia ter sumido. Ora, era um apartamento que moravam dois homens desleixados e bastante ocupados que nem sempre se preocupavam com a arrumação do local! Embora passassem mais tempo no Ministério, ou viajando a mando dele, o apartamento era onde podiam fazer a bagunça que quisessem sem levar bronca.

 

—Muito engraçado Harry. –Respondeu Rony debochadamente. Era sempre assim, desde crianças, a amizade deles sempre fora sem mágoas, sem malícias. -Finalmente aprendi aquele feitiço e não vou te falar qual é!

Harry teria respondido se não tivesse ouvido latidos e em segundos, um cachorro da raça Labrador Retriever, com pelos brilhosos na cor de chocolate, e os olhos claros adentrou a sala, partindo direto em direção a seu dono.

 

—Almofadinhas! E aí garotão? –Harry abaixou-se e acariciou a cabeça de seu cachorro. Almofadinhas era seu companheiro tanto quanto Rony, de quem o ganhara havia quase dois anos. O canino não parava de lhe lamber.

 

—Harry! – De repente o motivo da “arrumação” apareceu. Uma mulher mais baixa que ele, cabelos castanhos e cheios e com um pouco de sardas no rosto surgiu no pé da escada. Hermione era sua melhor amiga desde os tempos de Hogwarts, assim como Rony. A garota lhe deu um abraço caloroso. Como sentira a falta deles.

 

—Como vai Mione? –Disse assim que a morena lhe deixou respirar.

 

—Que barba é essa? -Perguntou ela, como se fosse sua mãe. Hermione adquirira o simples hábito de “cuidar” de Harry e Rony quando soube que eles morariam fora d’A Toca. O moreno ainda sabia se virar, mas Rony era o rei da preguiça. Se faltasse algo ou se algum deles se machucasse, ela ia correndo socorrê-los, mas não sem dar um bom sermão nos dois.

 

Harry apenas deu de ombros. Rony riu.

 

—Agora sei por que a casa está arrumada! – Harry se largou no sofá próximo a TV (ele e Rony adoravam ver TV nas horas vagas. Objeto trouxa indispensável para eles.). 

 

—Minha namorada é perfeita, finalmente me fez entender aquele feitiço! –Disse Rony convencido, enquanto abraçava Hermione por trás. Ela e o ruivo tinham finalmente se acertado logo depois da Guerra, e agora, depois de seis anos de namoro, estavam noivos. Harry seria o padrinho do casal. –Como foi a viagem à China? Os aurores de lá são tão bons quanto os nossos?

 

—Bom... Alguns me deram um pouco de trabalho, mas no fim deu tudo certo. Os treinamentos deles são um pouco diferentes, mas acho que fizemos um bom trabalho. –Harry, juntamente com Rony, se tornara auror após Hogwarts. Um trabalho um tanto cansativo, mas perfeito para ele. Kingsley o havia dado o cargo de chefe do departamento, por isso precisara viajar a China. Não que ele fosse obrigado a ir, mas sua vida estava tão monótona e “sem graça” que topava qualquer viagem até então.

 

—Ainda bem que você voltou, cara! O Jonh estava morrendo de ciúmes dos aurores da China! –Brincou Rony, o que fez Harry e Hermione rir.

 

—Sentimos sua falta, Harry. –Hermione sentara ao lado do amigo. –Rony quase me obrigou a dormir aqui todos os dias!

 

—Só dormir? –Harry lançou um olhar maroto a Rony, o que fez Hermione ficar vermelha. –Estou morrendo de fome!

 

—Tá tá, entendi. Vamos preparar algo. Você poderia ir tomar um banho e tirar essa barba! Seu quarto está do jeito que você deixou. –Disse a morena, logo depois seguiu para a cozinha com Rony em seu pé, sabendo que terminariam o dia pedindo comida trouxa.

 

Harry subiu as escadas com Almofadinhas logo atrás, e entrou no seu quarto. Estava exatamente do jeito que deixara, a não ser por estar limpo e a cama arrumada, o resto continuava do mesmo jeito; a cama de casal no centro do quarto. Na cabeceira ao lado, havia uma porta retrato dele junto com Rony e Hermione ainda em Hogwarts. A mesinha no extremo do compartimento estava cheia de papéis, a maioria do ministério. Na parede branca, um pôster do time de Quadribol, Chudley Cannons, o qual Rony lhe dera com tamanho orgulho do time quando esse ganhou a Copa Mundial de Quadribo havia 2 anos. Do outro lado, seu guarda-roupa onde em cima continha seu antigo malão da Grifinória. Uma porta logo ao lado dava acesso ao banheiro. Ele entrou e com um movimento da varinha, fez com que as coisas que estavam em sua mala voltassem para o seu lugar de origem no quarto. Sentou-se na cama.

 

Passara seis meses na China, por um lado foi bom, aprendeu mais com seu trabalho ao treinar os novos aurores do Ministério, conheceu outros lugares e outras pessoas. Por outro lado, foi ruim. Ficara longe de seus melhores amigos e de sua família, os Weasley’s. Jean, sua ex-namorada, também fora a trabalho para lá. Não que ele quisesse, mas "coincidentemente", o auror na vez da escala havia tirado licença saúde, fazendo a vez ser dela. “Pura coincidência. Talvez o destino queira nos ver juntos.” Era o que ela falava sempre que ele perguntava ou desconfiava do por quê de sua ida.

 

Durante esses seis anos, ele não havia namorado de fato, apenas haviam tido algo mais sério com Jean durante seis meses. Ela era realmente muito bonita. Era o tipo de mulher que qualquer homem sentiria atração. E, apesar dele ter “terminado” o breve relacionamento, ela ainda insistia que ele a amava, e que apenas estava muito ligado ao trabalho. Às vezes ela o visitava durante a noite, e só saía pela manhã. Ora, apesar de não amá-la, não podia negar a atração que sentia por ela. Apesar de já ter deixado seus sentimentos e intenções (ou a falta delas) para ela, reconhecia que aquilo involuntariamente criava falsas esperanças na auror.  O fato de Jean trabalhar no mesmo departamento que ele no Ministério não o ajudava em nada. Na China, ele  acabaram passando algumas noites juntos, acordando na manhã seguinte extremamente arrependido. Ela era legal e bonita, merecia alguém que a amasse de fato e que não ficasse renovando suas esperanças cada vez que a levasse para a cama.

Sentia-se e sabia que estava sendo um idiota. Prometera a si e a ela que aquilo não voltaria mais a acontecer, o que lhe rendeu uma parceira de trabalho mal humorada pelo resto da viagem.

Suspirou ao lembrar-se das noites. A verdade era que ele queria mais do que tudo corresponder ao sentimento que Jean nutria por ele, mas simplesmente não conseguia. Foi como se o seu coração houvesse criado uma barreira, impedindo de compartilhar qualquer sentimento que Jean pudesse oferecer. Uma barreira criada há muitos anos, depois de ver seu último relacionamento sério ir por água abaixo, onde chegou a sentir algo parecido com “amor” ou outro qualquer sentimento que o invadia toda vez que via aquela ruiva, a qual tivera um breve namoro em seu sexto ano em Hogwarts e que, por “ironia do destino” era a irmã de seu melhor amigo.

Levantou-se e abriu uma gaveta da cabeceira. Pegou uma foto meio velha e amassada na qual estava rasgada nos lados. Na foto, havia uma menina com cabelos longos e vermelhos, a pele branca e sardenta, os olhos castanhos e tão penetrantes. Ela sorria para a foto, parecendo realmente feliz. Ela estava em seu quinto ano quando a foto foi tirada perto do lago negro. Há seis anos não a via. Era muito tempo, mas eles decidiram que fosse assim. Ele havia passado seis meses fora para o treinamento de auror após a batalha e não tinha tomado nem uma atitude em relação a ela. Depois da morte do irmão dela, sentia que não merecia. E quando finalmente o treinamento acabou, ele e Rony retornaram para casa e ela estava de saída: iria morar em uma pequena cidade em Gales, onde jogaria para o time de Quadribol, Harpias de Holyhead. E mais uma vez ele não teve nenhum tipo de reação, como se aceitasse sua partida. Como se, mesmo não tendo dito nada, estivesse dizendo tudo: siga em frente. E desde então, não se viram mais, a não ser nas capas da revista de quadribol dos jornais bruxos. Vê-la ir embora, naquele dia frio e tempestuoso fez com que todas as suas esperanças em relação a ela sumissem. Sim, ele tivera esperança, mas elas foram embora junto com Gina.

 

Ele evitava ir muito A Toca, não tinha um motivo ao certo. Ou talvez tinha e não estava disposto a admitir tal motivo. Talvez porque tudo ali lhe lembrava ela, mesmo que ela também não morasse mais lá. Ele simplesmente viveu sua vida. Deixou o tempo passar e não mantiveram contato algum. E mesmo tendo passado todos esses anos, o sorriso e o cheiro que ela exalava vinham em sua mente de uma forma tão real, que às vezes pensava que tudo não passara de um pesadelo, e que eles ainda estavam no sexto ano em Hogwarts, namorando. Não saberia qual seria a sua reação caso a encontrasse novamente, mas a amizade seria um bom começo.

Suspirou. Fora apenas um amor passageiro, um amor de escola, mas ainda assim, verdadeiro. Um amor que ficara para trás e que, julgou ele, acabara cedo de mais.

 

—Harry!!! Hermione mandou lhe avisar que daqui a cinco minutos a comida chega. –A voz alta de Rony o sobressaltou, fazendo-lhe largar a foto que caiu de qualquer jeito no chão.

 

—Beleza!! –Gritou ele em resposta. Abaixou-se, pegou a foto e a colocou novamente na gaveta. Agradeceu por Rony não ter adentrado o quarto e ter visto a foto. Era um segredo só dele. Tirou as roupas e foi em direção ao banheiro. Tinha coisas que ele preferia guarda só para si, e as lembranças que ainda tinha de Gina ao seu lado era uma dessas coisas.

 

Ligou o chuveiro e deixou que a água fria escorresse, levando o suor e Gina Weasley consigo.

 

xxxxxx

 

 

 

Um sorriso involuntário se formou em seu rosto ao ver a casa que há tempos não via. Ventava lá fora, fazendo com que seus cabelos ruivos voassem de acordo com o vento gélido. Sentiu um frio percorrer seu corpo. Há tanto tempo não ia ali, e aquele lugar lhe trazia tantas recordações... Nunca mais vira sua querida mãe e tão pouco seu pai. Esses tempos que passou fora trabalhando lhe custou um preço alto, muito alto. Nunca tinha passado tanto tempo fora e sem ver seus irmãos, principalmente Rony, do qual era o irmão que mais sentira falta. Talvez seja porque ele era o que mais lhe implicava. Sorriu ao lembrar-se das provocações do irmão.

 

Sentiu o cheiro do bolo de cenoura que sua mãe provavelmente tinha feito. Era bom estar de volta. E mesmo que ainda não tivesse passado pela porta da frente, já se sentia em casa e acolhida. Passara muitas coisas ali, desde a sua infância. Ela sabia que não importava se algum dia iria sair dali ou nunca mais voltar a morar naquela casa, A Toca sempre seria o seu lar. Se divertira tanto ali, e sofrera também. Mas isso era uma coisa da qual ela estava disposta a esquecer. Não valia a pena lembrar.

 

Seria insignificante ela bater na porta de sua própria casa, então, sem bater, girou a maçaneta e entrou, sentindo no mesmo segundo um ar quente e confortável. Sentiu-se em casa novamente.

 

— Mãe? – Ela chamou. Deixou a pequena bolsa que carregava no sofá e correu o olhar pela sala. Estava exatamente como ela lembrava. Nada mudara.

 

— Gina!? Gininha! Minha filha! – Molly Weasley apareceu vestida com um avental, do qual cobria o velho vestido que usava, na porta da cozinha. Assim que reconheceu a filha, correu até ela e lhe abraçou. Gina sentira falta daquele abraço tão acolhedor da mãe e retribuiu. Lágrimas escorriam pelas bochechas gordas da Sra. Weasley. –Meu Mérlin, nem acredito que você está aqui!

 

—Mãe! –Gina ainda abraçava a mãe. É claro que seus pais já haviam ido lhe visitar algumas vezes, mas era a primeira vez em seis anos, que voltara ali. As Harpias de Holyhead não lhe davam muitas folgas, e as que tinha, usava para descanso e aproveitar ao lado de David.

 

David era três anos mais velho que ela. O conhecera quando sofrera um pequeno acidente em um dos seus treinos, o que era normal para uma artilheira. O medibruxo era um homem trabalhador e acima de tudo, encantador. Não foi difícil gostar dele. Era o tipo de cara que uma vez que o conhecesse, era impossível não gostar. Ela não saberia dizer de onde tivera tanta sorte ao conhecê-lo. Muitas de suas companheiras de time a invejavam, pois achavam que David era o sonho de qualquer garota. E realmente ele era. Mas ela não era qualquer garota. Tinha a personalidade forte, era decidida e teimosa, como muitas vezes dissera sua mãe. Foi realmente uma surpresa quando há quase um ano, David se declarou, e eles engataram um namoro que durava até então. Não saberia dizer se o conhecia bem, pois ele se dedicava tanto ao trabalho, que mal se viam. E agora ia ser ainda mais difícil.

 

—Filha, vem. Sente-se. – A Sra. Weasley a puxou para o sofá, e deitou a cabeça da filha em seu colo, como se ainda fosse uma menininha. –Ginevra Molly Weasley, por que diabos você não está se alimentando direito?

 

Gina riu. Sentira falta daquilo também. E realmente sua mãe estava certa; ela havia perdido alguns quilos nos últimos dias. Deduziu que fora pelo nervosismo de saber que voltaria em alguns dias para sua casa. E lá estava ela.

 

—Desculpe mãe, acho que fiquei meio ansiosa esses dias. Mas adivinha!? Estou morrendo de fome e, quero comer aquele bolo de cenoura que eu sei que a senhora fez! –Falou a menina com um ar maroto. Sua mãe deu uma gostosa gargalhada e voltou a abraçá-la.

 

—Minha menina, não sabe o quanto sentimos sua falta! A Toca não é o mesmo sem você! –Declarou a senhora, meio chorosa.

 

—Também senti sua falta, mãe. Muita. – Gina retribuiu o abraço. Logo depois, a duas se levantaram do sofá. –Ué, onde está todo mundo? Nunca vi A Toca vazia.

 

—Bom... seu pai deve estar para chegar do Ministério com Percy. Jorge está trabalhando na loja com Angelina. E Gui e Fleur devem estar cuidando de Victórie. Você tem que vê-la Gina, ela é linda, cresceu muito a nossa princesinha! –Enquanto conversavam, as duas caminhavam em direção a cozinha.

 

—Devo imaginar. Ela deve estar mais linda que a mãe. –Disse Gina docemente. Sentou-se em uma das cadeiras ao redor da mesa, e esperou que a mãe lhe servisse um pedaço do bolo, o que não tardou a acontecer. Saboreou cada pedaço lentamente. Sua mãe cozinhava como ninguém. – E Rony e Hermione?

 

Foi nesse momento que lembrou-se dele. Não que não lembrasse, mas não poderia ignorar o simples fato de que poderia encontrá-lo novamente. Ele, Rony e Hermione andavam sempre juntos. Não ficaria surpresa se descobrisse que “coisas do passado nunca mudariam”, e aquela amizade duraria, disso ela tinha certeza. Harry... a última vez que o viu foi há mais ou menos dois anos, quando recebeu seu Profeta Diário. A primeira manchete dia que Harry Potter se tornara chefe do departamento de Aurores. Não ficara surpresa. Desde pequeno ele enfrentara forças das trevas devido a “grande profecia”, e que até tinha a salvado certa vez. Na foto ele parecia feliz. Tinha se tornado um homem muito bonito que, mesmo que não fosse famoso, as meninas cairiam a seus pés. Não pôde deixar de sentir um pouco de medo. Amara ele desde os 11 anos e não saberia dizer o que sentiria se o visse novamente. Depois de tanto tempo...

 

—Seu irmão está trabalhando feito seu pai! Ele comprou uma casa perto do centro de Londres e agora está noivo de Hermione!- Molly evitou falar em Harry, pelo menos nesse momento. A filha sofrera tanto por ele que tinha medo da reação dela. - Ah Gina, vão todos ficar tão feliz em vê-la! –Disse a matriarca, enquanto observava a filha comer como se fosse um bebê.

 

—Também ficarei feliz. David está doido pra conhecer todos vocês. –Declarou a ruiva.

 

—Ah é, e onde está o homem que roubou o coração de minha filha? –A Sra. Wesaley arqueara as sobrancelhas.

 

—Ainda está trabalhando. Virá só daqui alguns dias, mãe, assim que receber folga, ele virá. Ele e a Viviane, minha amiga. –Gina desanimou um pouco. Sempre o trabalho. Sempre o trabalho que impedia ela e David de aproveitarem o namoro. Ela sentia falta disso também. De ficar abraçada com ele, dos beijos e carinhos que ele lhe fazia quando estavam juntos. Se sentia amada. Sim, não tinha dúvida que ele a amava. Ele mesmo dissera isso com todas as letras e ela não sabia se sentia o mesmo. Nunca teve coragem de lhe retribuir tais palavras. Gostava dele o bastante para namorarem. No entanto, não sabia o porquê, mas sentia que faltava algo que ele queria, e que talvez ela nunca fosse poder lhe oferecer. Mas ela estava disposta a mudar isso. Ele era tão legal e tão apaixonado que ela se sentia uma tola de não sentir o mesmo. Ia se apaixonar por ele. Era só uma questão de tempo.

 

—Tenho certeza que se você gostou dele e se te faz feliz, nós iremos gostar dele da mesma forma. – A voz de Molly lhe trouxe novamente a realidade.

 

—Tenho certeza que sim. –Deu um meio sorriso em resposta.

 

—Gina!? –Percy e seu pai, o velho Sr. Weasley, acabavam de adentrar a cozinha. Ia ser uma tarde cheia de abraços, sorrisos e saudades. Disso ela tinha certeza.

 

xxxxxxx

 

 

 

— E aí Hermione, anda atirando alguns passarinhos no Rony? – Perguntou Harry animadamente. Ele estava sentado a mesa junto de Rony e Hermione relembrando a época de Hogwarts. Os três davam boas risadas e Harry se sentiu feliz. Fazia tempo em que não se reuniam daquela maneira. Fazia carinho na cabeça de Almofadinhas enquanto conversava com os amigos.

 

— Muito engraçado Harry. – Falou Hermione. – Daquela vez ele bem que mereceu. Fique sabendo Ronald, que se você me aprontar alguma, vai ser gaviões no lugar de passarinhos.

 

— Mione... Você sabe que eu nunca vou aprontar com você. E porque você não confessa que estava morrendo de ciúmes da Lilá? –Rony lhe olhava com um olhar ameaçador.

 

— Faça-me o favor Rony. Eu não estava com ciúmes, não é Harry?

 

— Não, você não estava. Só estava com raiva do Rony e da Lilá por terem se beijado. Esqueci o nome disso, se você lembrar, me fale. – Disse Harry dando uma gargalhada e logo depois levou a boca mais um pedaço de pizza que os amigos haviam pedido. Rony era viciado nelas.

 

— Argh, não falo mais nada. – Declarou a morena cruzando os braços. – Ah, e aquela vez que vocês dois enfrentaram um Trasgo e a varinha do Harry foi parar bem no nariz dele?! Ownt, vocês foram tão fofos! E fizeram tudo isso só pra me salvar! –Ela apertou a bochecha de ambos.

 

—Aii! –Reclamou os dois em uníssono. Ela riu com o gesto.

 

—Não precisa agradecer Hermione, você salvou mais vezes as nossas vidas do que nós a sua. –Declarou Harry, deixando a amiga vermelha. Ele e Rony não saberiam dizer como seria suas vidas sem Hermione ao lado deles durante todos esses anos.

 

—Hã, e então Harry... Onde está a Jean? –Perguntou a morena meio repreensiva.

 

—Ah, não viemos juntos. Vim por outra chave de portal. – Almofadinhas deu um leve latido ao sentir falta do carinho que o dono lhe fazia minutos atrás.

 

—E vocês não estão juntos? –Hermione sabia a dificuldade do amigo em um relacionamento. E, apesar dele não falar muito sobre isso, desconfiava de que ele ainda nutria algo mais forte por Gina. Mas já fazia tanto tempo...

 

—Não sei direito. Não sei se sinto o mesmo que ela. Ela é linda, compreensiva, inteligente, alegre...

 

 

—Ah Harry... acho que vocês deveriam tentar novamente. –Declarou Hermione para o espanto do amigo.

 

—Não era você que não gostava dela?

 

—É... mais não sou eu que tenho que escolher, não é? E ela gosta de você, e isso é o que importa.

 

—Não sei Hermione... Eu trabalho muito, e ela também. Não sei se daria certo novamente... – Harry não parava de mexer nos cabelos e sabia que aquela era desculpa mais esfarrapada que inventara.

 

—Vocês se conhecem há mais de um ano. Namoraram durante seis meses ou mais, e de repente terminam por puro orgulho! Tá, eu sei que vocês tiveram uma briga, mas ela se desculpou depois... Ela quer voltar. Eu sei que quer. Só que como você é um... insensível... parece que foge de relacionamentos mais sérios.

 

—Hermione... Eu só não pensei muito bem ainda. Mas de qualquer modo, acho que estamos indo por um bom caminho. Gosto dela, ela me diverte... mas eu não a amo. Esse é o problema. –Harry levantara-se da mesa, e levou seu prato até a pia. Não esperava que fosse ser tão direto, tampouco os amigos, a julgar pela cara de espanto deles. 

 

—Harry, por favor não fique com raiva. Eu só quero lhe ver feliz. Apenas acho que você passa muito tempo sozinho e acaba ignorando o que Jean tem a lhe oferecer. Não chega a ser amor, eu sei... mas você gosta dela, e já é um começo. – Com um movimento da varinha, a morena fez com que a louça se “lavasse” e fosse voando para o armário.

 

—Acho que você deveria dar mais uma chance a ela, cara. –Rony argumentou.

 

—É, eu também acho. Só... preciso pensar mais sobre –Declarou Harry em quase um sussurro. –Hã, vou pro meu quarto. Obrigado pelo jantar, Mione. – Completou, enquanto saía da cozinha e, com Almofadinhas, subiu pro seu quarto.

 

Jean era incrível, fazia ele se sentir bem e sabia do que ele gostava. Passaram algumas coisas juntos. Geralmente, ela o fazia companhia quando ele ficava até tarde lendo relatório no Ministério. Às vezes falava demais, embora isso acabasse o divertindo. Ela apenas era espaçosa demais. Exagerada em alguns sentidos, mas ainda assim o fazia se sentir bem. Não faria nada, apenas deixaria as coisas se ajeitarem com o tempo. Tinha a esperança de Jean arrumar uma pessoa muito melhor que ele e que a amasse. Mas não descartaria a hipótese de que voltar a namorá-la talvez fosse uma boa ideia.

 

Sabia que já havia magoado Gina uma vez, e passou anos se culpado por tudo o que acontecera durante a guerra. Por um bom tempo penso que não merecia ninguém, mas seus amigos e o terapeuta trouxa haviam enfraquecido esse seu pensamento. 

 

Deitou-se em sua cama e pensou no dia que tivera. Ora observando o teto, ora observando Almofadinhas que dormia no chão ao seu lado. Tentou imaginar sua vida em alguns anos; Ele feliz ao lado de Jean, com filhos e uma casa afastada do movimento de Londres. Porém, eram só pensamentos que dificilmente virariam realidade. Na verdade não queria que isso acontecesse. Não com ela. A questão não é Jean, na verdade. A questão era ele.

Mais uma vez naquele dia, deixou que sua mente vagasse por entre as lembranças que envolviam Gina. Não sabia por que, mas estava pensando nela com muita freqüência esses dias. Talvez porque sabia que ela iria voltar para casa novamente. Não que não pensasse nela, mas Jean também conseguia fazer com que ele a esquecesse quando estava com ele. E durante todos esses anos, evitou falar nela ou pensar nela, como se ela tivesse sido uma pessoa insignificante em sua vida. O que não era...

6 anos atrás 

 

 

—Gina, minha filha, sentiremos sua falta! –Molly Weasley abraçava sua filha que, com apenas 17 anos, fora aceita no time de Quadribol, Harpias de Holyhead. E, devido os treinos, teria que ser mudar para outra cidade, e com isso passaria dias ou talvez anos sem ver a família.

 

Harry apenas observava a cena. Havia acabado de voltar da França junto com Rony. E, agora com o treinamento para ser auror finalizado, ambos tinham conseguido um emprego no Ministério da Magia. Estava disposto a tomar uma decisão em relação a Gina, mas ao vê-la ali, com a mala pronta e indo morar em outra cidade, acabara com todas suas esperanças. E ela parecia feliz, diferente dele, que estava com uma cara de que acabara de levar um balaço na nuca.

 

—Também vou sentir falta de vocês mamãe, e espero que me visitem sempre que puderem. –Gina deixara pequenas e raras lágrimas caírem de seus olhos.

 

— Estou orgulhoso de você, irmãzinha. – Falou Jorge abraçando a ruiva.

 

— Tenho certeza que você vai vencer a copa mundial de Quadribol. – Foi a vez de Rony abraçar a irmã.

 

Depois de todos os Weasley e Hermione se despedirem de Gina, ela olhou para Harry. Hermione puxou Rony para o jardim, enquanto os outros pegavam as malas da ruiva.

 

Harry e Gina ficaram se olhando. Ele tinha vontade de beijar-lhe os lábios, abraçá-la, sentir o cheiro dela novamente, de falar pra ela não ir... mas não podia. Achava que ela desistira dele, de esperar por ele. Ela tinha escolhido outro caminho e isso fez com que ele sentisse seu coração falhar. Ela não gostava mais dele, era o que ele pensava. Ele chegou mais perto dela e a abraçou, deixando que o cheiro floral dela o invadisse pela ultima vez, como se tentasse guardá-lo.

 

Eles foram se soltando do abraço depois de alguns minutos e ficaram se olhando. Os rostos a milímetros de distância. Ela queria beijá-lo, mas não podia. O medo de não ser correspondida era maior que ela. Depois da guerra ele decidiu viajar, ficar fora por seis meses terminando o curso de auror junto com seu irmão. Isso a feriu, principalmente porque ele partira sem dizer nada ou sem lhe enviar uma simples carta. Fez com que ela chegasse a conclusão de que ele não gostava mais dela. De que ele estava a evitando. No entanto, aquele abraço parecia muito diferente de seus pensamentos. Aquele carinho, aquele olhar dizia exatamente o contrario.

 

— Boa sorte. – Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Não queria se despedir como os outros, pois se o fizesse, achava que não agüentaria. Vê-la partir estava sendo doloroso. Não que não estivesse feliz por ela estar indo atrás de seus sonhos, se tornar uma grande artilheira, mas queria que ela quisesse ficar com ele. Mas também desejava fervorosamente que ela fosse feliz e ele não sabia se poderia dar aquilo a ela.

 

— O-obrigada. – Ela respondeu. Eles ainda se encaravam. Ela não sabia o porquê, mas não queria se afastar, e tão pouco ele. Ela queria que ele falasse que gostava dela, queria que ele pedisse pra ela ficar, mas ele não o fez. Aquele simples “boa sorte” fez com que a ferida em seu peito abrisse ainda mais. Definitivamente não foi o que ela esperava ouvir.

 

— Gina, querida, está na hora. A Chave do portal está pronta. – Falou a Sra. Weasley fazendo com que os dois “acordassem” e se afastassem.

 

Eles não disseram mais nada, nem um ultimo olhar aconteceu. Ela simplesmente virou as costas e saiu, o deixando na sala sozinho. Ele queria gritar, queria correr atrás dela, ir junto com ela, mas suas forças pareciam ter se esvaído. Ele subiu as escadas e se trancou no quarto que ele dividia com Rony. Olhou pela janela e a procurou no meio das cabeleiras ruivas, mas não achou. Ela já havia partido e ele não fizera nada. Sentou-se na cama e sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto. Ele não se sentiu tolo, e sim arrependido. Arrependido por ter a deixado ir embora sem lhe ter dito nada.

 

Naquela noite, ele não desceu para o jantar.

 

 

Aquelas lembranças...

Não queria estar lembrando-se daquela cena, mas as lembranças relacionadas a Gina vinham em sua cabeça involuntariamente. Bufou e tirou os óculos de seu rosto e o colocou na cabeceira ao lado de sua cama. Com o gesto da varinha, desligou a luminária e fechou os olhos tentando adormecer, se perguntando o porquê daquelas lembranças depois de tanto tempo.


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Notas finais do capítulo

Aê o 1 capítulo. A história já está bem adiantada, então os capítulos não demorarão muito. Para quem frequenta a Floreios e Borrões, postamos a fic lá também, eembora ela esteje bem a frente. Bom, até o próximo. Acho que merecemos comentários, né?