Eu saíra do hospital há uma semana e todos ainda continuavam de olho em mim para eu não parar de comer nem beber. O garoto loiro, Matt, foi me visitar todos os dias e eu percebi que poderíamos ser grandes amigos, ele era atencioso, legal e carinhoso. Ele que me levava comida e não me deixava levantar sem ter comido o ultimo grão de arroz.

_ Spencer, esquece. Pode comendo tudo. Está mais da metade do prato aí _ ele disse sério.

_ Mas, Matt... Eu estou cheia de verdade. Você prepara meu prato e acha que eu como que nem um pedreiro. Quem come muito aqui é você, ok?

_ Mas você não comeu quase nada, mocinha. Só mais um pouquinho e dessa vez eu deixo você jogar a comida fora.

_ Você é chato hein. _ Comi só mais um pouco e depois de reclamar muito ele me deixou sair daquela cozinha.

_ Agora vamos caminhar. Recomendações do médico.

Olhei feio para ele, mas não adiantaria eu teimar, tinha que caminhar. Fui me arrastando e fazendo birra, até que ele desistiu e voltamos para casa.

_ Eu vou começar a duvidar que minha mãe esteja te subornando com dinheiro para me agüentar por tanto tempo. _ Falei brincando.

_ Ah, claro. Estou ganhando milhões de dinheiro para ficar de olho em você _ falou rindo. Mas ficou sério do nada. _ Spencer...

_ Pode falar, Matt.

_ Eu sei que não é da minha conta, mas porque você está desse jeito? Eu te ajudo e tento ser legal, mas nunca parece que você está feliz.

_ É meio complicado tocar nesse assunto.

_ Deixa pra lá. Não é assunto meu _ riu.

_ Não, senta ai. _ Apontei para a cadeira que ficava de frente pro computador. _ Preparado para ouvir uma história sem graça, besta e de menininha apaixonada? _ Ri.

_ Preparado. Vamos lá.

Comecei contando desde quando eu era apaixonadinha por Caleb, passei até as nossas brigas e cheguei na  nossa história dramática. Matt me olhava profundamente e prestava atenção em tudo o que eu falava, e não perguntava nada, somente ouvia. Quando acabei ele limpou uma lágrima de seu olho e sorriu sem graça para mim.

_ O que foi? _ perguntei.

_Não, nada demais. Isso me lembra algumas coisas e pessoas. Histórias complicadas _ riu meio choroso.

_Como assim Matt?

_Deixa pra lá... Foi só um pensamento bobo da minha parte. O que acontece quase sempre né.

_Não, nada disso. Eu quero saber. Que pensamento foi esse? Me fala.

_Spencer, às vezes o que eu penso não precisa ser dito, são só pensamentos aleatórios. Nada demais...

_ Mas Matt, você está chorando, poxa. Eu não gosto de ver ninguém assim.

_Então imagina como ficam seus amigos e familiares ao olharem pra você. Você não está feliz nunca, e acredito que eles também não gostem de te ver assim.

_O assunto aqui é eu ou você? _ Falei brincando. _ Não sei aonde você quer chegar com isso.

­_ Como eu disse, deixa pra lá. Meus pensamentos podem soar grosseiros e fúteis, mesmo não sendo minha intenção.

_ Matt, ma fala...

_Você pode não gostar muito do meu ponto de vista, Spencer.

_ Mas eu quero saber, ué. Quero saber o que você pensa e o seu ponto de vista...

_ Eu acho que vocês está pensando só no seu lado. Eu sei, é horrível ter quem amamos longe de nós, mas Spencer, ele também está esperando para poder te ver, ele também está sentindo essa angustia toda, ele também não está bem com tudo isso. E outra, tem pessoas em situações bem piores que a sua. Tem pessoas que queriam estar no seu lugar...

_ Você está maluco, Matthew. Como você me fala que tem pessoas que queriam estar no meu lugar? Se você queria fazer com que eu me sentisse melhor deveria ter usado outra afirmação. _ Falei grosseira.

_ Spencer, eu não quis te ofender, eu só disse que era o meu ponto de vista. E eu realmente acho isso.

_Você não tem noção de como está sendo péssimo querer ter ele aqui comigo e não poder, você não tem noção de como é ter que agüentar dia após dia na expectativa de ele aparecer por essa porta e eu ver minha vida voltando... _ Meus olhos queimavam e as lágrimas já brotavam no canto dos meus olhos. Malditas lágrimas.

_ Me desculpa, eu disse que não queria expor meus pensamentos. Mas se você for parar para pensar vai ver que em certo ponto eu tenho razão, me desculpa se a verdade dói.

_Você não sabe como é isso. Você não está passando pela minha situação pra falar tudo isso. Você nunca deve ter perdido ou ficado longe de alguém que ama _ gritei. Eu ficara realmente nervosa com o que ele havia falado. Como ele ousava falar que eu estava pensando só em mim? Fiquei boquiaberta. _Você não tem o direito de querer opinar dessa forma...

_ O que? _ Ele também se exaltara. _ Você é que não sabe das coisas Spencer... Acha que está na pior situação do mundo, sendo que tem sim pessoas querendo estar no seu lugar.

_ Ah, é mesmo? E me fala quem é o louco que queria estar no meu lugar, sentindo essa agonia toda e sofrendo que nem eu? Me fala só UMA pessoa, Matt _ gritei mais uma vez.  

_ EU! _ Ele gritou quase me cortando. Fiquei sem reação. Eu não sabia o que falar.

_ C-como assim? _ perguntei assustada.

_ Deixa pra lá. Nem tudo é necessário saber. Desculpa-me se falei algo que te magoou, eu não queria isso.

_ Matt, eu... eu...

_ Não precisa falar nada, Spencer. Aliás, acho que muito já foi dito né. _ Ele se levantou e começou a se dirigir para fora do quarto.

_ Matt, me desculpa... Me perdoa, eu só fiquei brava. É um assunto delicado e eu ainda estou sensível. Não queria ter falado todas aquelas coisas.

_ Eu daria de tudo para saber que eu ainda vou encontrar as pessoas que eu amo... Mas as coisas não são como nós queremos.

_ Matt, me perdoa. Eu fiquei nervosa e acabei extrapolando. Você não tem culpa de nada. Eu não queria te magoar. _ Eu estava desesperada. Eu fora egoísta mesmo e acabei descontando em quem não merecia. Estava me sentindo péssima.

_ Está tudo bem Spencer. Só não sai falando que sua situação é a pior do mundo. Você não está na pele dos outros. E isso não é o fim do mundo, eu te garanto.

_ Porque você está falando assim?

_ Eu perdi minha mãe com sete anos e há seis meses minha namorada foi assassinada. Mudei-me para cá para tentar esquecer tudo isso, mas então me deparei com você e percebi que você precisava de ajuda, e eu não ia negar isso. Porque eu no seu lugar estaria feliz se soubesse que minha mãe poderia aparecer a qualquer momento, ou que minha namorada está a minha espera também. Mas a minha realidade não é essa. Por isso que eu queria estar no seu lugar, e daria de tudo para isso, pode apostar.

_ Matt, isso é horrível. Eu não sabia disso.

_ E nem era pra saber. Mudei-me para cá para começar uma vida nova, não quero que as pessoas sintam pena de mim. Não quero que me vejam na rua e venham me perguntar como eu estou ou se já superei o fato de ter perdido alguém que eu amo. Eu não agüentava mais ter que dar um sorrisinho falso e fingir que estava tudo bem, quando na verdade não estava. Essa é a verdade.

_ Essa é a nossa realidade então. Não agüentar mais sorrir nem ser legal com todos; essa parece ser a pior parte... _Uma lágrima escorreu, e depois dessa um silêncio horrível reinou entre nós. Nós dois chorávamos e ele me abraçou, naquele momento um estava sentindo a dor do outro. Mesmo ele sendo um completo estranho, eu nunca tinha me sentido tão bem com alguém em meses, ele me entendia, e acima de tudo, me apoiava e me ajudava. Seja ele quem fosse eu seria eternamente grata.