Acordei pela manhã com o despertador do celular tocando e o desliguei rapidamente. Queria ficar na cama aquele dia. Cinco minutos depois tocou de novo, desliguei mais uma vez. Que preguiça era aquela?

...

MEU DEUS!!! Já eram 9:13 da manhã. Legal, perdi um dia todo de aula.

Levantei-me preguisoçamente e ao olhar para o lado não vi a Ellena. Entrei em desespero. Ela tinha deixado um bilhete do meu lado.

“Amiga, fui resolver aquele negócio. Tenha um bom dia. Não quis te acordar porque te ouvi chorando ontem à noite e pensei que ia querer descansar. Vou voltar pra sua casa depois. Beijos”.

Ok, eu precisava respirar normalmente. Ela estava bem ué. Era só uns minutinhos e ela já estaria em casa.

Espera aí! Se ela havia saído de manhã porque não tinha voltado ainda.

E então... BAM!

_ Spencer, cadê a Ellena? _ Era o Elliot! O que ele fazia àquela hora EM CASA e abrindo a porta do meu quarto daquele jeito?

_ Não te interessa _ falei emburrada que nem uma criança birrenta.

_ Spencer, não é hora pra birra. Onde está a Ellena? _ Ele estava apavorado.

_ Porque você quer tanto saber, Elliot? Ela deve estar na escola, não sei.

_ Para de mentir que eu sei que ela dormiu aqui.

_ E daí? Ela saiu de manhã que eu nem vi.

_ Spencer _ ele se sentou em minha cama. _ Ela pode estar em perigo.

_ O que você quer dizer com isso? _ Eu agora estava realmente preocupada.

_ Isso realmente interessa agora? Sua amiga pode estar em perigo, Spencer.

_ Eu realmente não sei onde ela está. Eu sei que ela foi falar com o Will.

_ NÃO! Droga! Droga! Droga!

_ O que está acontecendo?

_ Eu descobri umas coisas sobre esse tal de Will e... e... Precisamos achar a Ellena. Você tem que ter uma idéia da onde ela pode estar.

_ Eu não tenho, mas eu sei quem pode ter. Vai lá embaixo e espera que eu vou me arrumar correndo. Já desço.

_ Ta... Ta. Eu vou esperar.

Ok, o que eu fazia? Como escolhia uma roupa mesmo. Ah, é. Na hora do desespero qualquer coisa que não seja um pijama.

Arrumei-me mais rápido do que achei que seria possível. Só coloquei um jeans, uma camiseta normal, calcei os tênis e prendi o cabelo num coque mal arrumado. Escovei os dentes e desci na maior pressa. Elliot estava impaciente na sala andando de um lado pro outro. Eu ainda estava muito brava com ele, mas quando se tratava da Ellena eu abria uma exceção.

Entramos no carro e acho que nunca vi o Elliot dirigindo desse jeito. Ele corria e até errava as ruas que eu o mandavaele entrar.  Pelos erros dele acabamos demorando mais tempo do que o necessário para chegar ao nosso objetivo.

Chegamos à casa branca com detalhes vermelhos e meu coração quebrou-se em vários pedaços. Eu só havia visto aquela casa uma única vez, mas não era bom saber que a pessoa que eu amava já morou ali um dia.

Empurrei toda e qualquer dor para o fundo e apertei a campainha. Um menino loiro atendeu e sorriu na mesma hora.

_ Spencer, quanto tempo _ me deu um abraço apertado. Era inevitável não chorar, mas me segurei.

_ Oi Bruce. Quanto tempo _ sorri. _ Tudo bem com você?

_ Opa, melhor agora. E com você? Porque sumiu?

_ Estou bem, né. Tentando levar _ dei um sorrisinho torto. _ E o Caleb, como está? _ E então fui invadida por uma onda emoções. Eu nunca tinha perguntado nada dele para ninguém. Mas já que eu estava ali, precisava saber.

_ Eu não posso te falar nada, Spencer. _ Abaixei a cabeça e segurei as lágrimas que já queria me invadir. _ Me corta o coração te ver assim, mas o Caleb pediu para nós ficarmos quietos.

_ Até comigo? Porque ele não quer que ninguém saiba? O que ele fez que pode ser tão ruim? _ Ok, agora eu estava chorando.

_ Principalmente com você, Spencer. E isso vocês vão conversar quando ele voltar tenho certeza. Mas por enquanto temos que manter sigilo.

_ Só porque ele quer?

_ Sim. Nós respeitamos a decisão dele. Sabe, eu nunca me dei muito bem com ele, mas isso eu respeito e agora até simpatizo um pouquinho mais. Ele precisa do nosso apoio, e do seu também. Sei que você compreende isso.

_ Sim, eu compreendo.

_ Eu nunca vi meu irmão tão louco por uma menina que nem por você. Você pode não saber, mas eu o via comentando de você com os amigos dele quando vinham aqui. Agora entendo porque ele se sente assim, não é pra menos.

_ Haha – dei uma risada. _ Acho que essa é uma boa notícia.

_ Olha, gente, não querendo interromper, mas estamos com pressa Spencer. _ Elliot estava desesperado. Voltei ao foco e falei com o Bruce.

_ Bruce, você é amigo do Will, certo?

_ Xiii, faz um tempinho que não nos falamos.

_ Mas você o conhece bastante?

_ Ah, eu ainda sou o melhor amigo dele né. Só não nos vemos muito por causa da Ellena. Mas conheço-o bastante sim, por quê?

_ Você por um acaso sabe uns lugares que ele gosta de estar e vai sempre?

_ Sei alguns.

_ Então vem com a gente.

O puxei pela blusa que não deu nem tempo de ele fechar o portão. Entramos os três no carro e Elliot correu mais uma vez.

Primeiro passamos na casa do Will para vermos todas as opções, mas ele não estava lá. Eu estava ficando desesperada e podia sentir a tensão dentro do carro. Depois que expliquei mais ou menos a história pro Bruce ele ficou na mesma situação que a gente. No começo não acreditou e ficou falando que o Will era gente boa, mas aceitou nos levar no local só para ter certeza.

A próxima parada foi em um parque onde tinham poucas pessoas, e El gostava justamente por causa disso. Olhamos o parque todo, mas não achamos nada. Aquilo estava me afligindo demais. Eu devia ter ido junto. Eu sabia que poderia acontecer alguma coisa e concordei em não ir, estava me sentindo péssima.

Paramos em um monte de lugares e o Bruce já estava ficando desconfiado também. Não sabíamos mais aonde ir e já era 12:30. O Bruce não sabia de mais nenhum lugar e eu não consegui conter as lágrimas. Eu só queria a minha amiga. Quando de repente Bruce dá um pulo do banco.

_ Já sei! _ gritou. Eu e o Elliot ficamos de pé num salto.

_ O que foi? _ perguntei.

_ Como eu sou burro. Tem um lugar onde não fomos e deveria ter sido o primeiro a irmos. Cara, sou muito burro.

_ Onde é, mano? _ Elliot já estava branco de tanto pavor.

_ Vem, entra no carro e eu falo o caminho.

Entramos no carro sem nem protestar e Elliot não maneirou na velocidade. Íamos a 120 km por hora numa estrada de 70 km.

Dobramos umas ruas e esquinas, passamos por uns lugares estranhos e desertos e enfim paramos num lugar mais estranho ainda. A viagem toda deve ter durado uns 30 minutos e nós todos nos agarrávamos a essa esperança.

Descemos do carro e acho que a minha expressão e do Elliot foi a mesma. Estranhamento. O que uma pessoa normal gostaria de fazer num lugar daqueles? Era tipo um ferro velho abandonado, porém de baixo de um viaduto também abandonado e caindo partes dele. Me arrepiei só de ver aquilo.

_ O Will gosta de vir aqui por que o pai dele era dono daqui. Ele gostava de pegar carros sem concerto e ficar brincando de montar e desmontar eles, até que um dia o viaduto cedeu e o pai dele estava bem embaixo, morreu na hora. É a única lembrança que Will tem do pai.

_ O que estamos fazendo aqui? Vamos logo.

_ Elliot, espera _ Bruce falou. _ Tem que saber andar por aqui, senão um passo em falso e tudo vai pros ares.

Bruce foi nos guiando e eu sentia arrepios quanto mais adentrávamos aquele local. Acho que andamos por mais ou menos uns 15 até que escutamos um choro. E como papel de melhor amiga eu conhecia muito bem aquele choro e sabia que era da Ellena. Bruce fez sinal para ficarmos quietos.

_ Você é bem gostosinha, Ellena _ Will falou. _ Te ver assim só de calcinha e sutiã me excita, sabe. Mas quero brincar um pouquinho com você. Te ver chorando assim é tão lindo. _ Grrr, que garoto asqueroso.

Levantei-me um pouco e vi Will segurando Ellena com força. Ela estava seminua e Will passava sua mão pelo corpo dela. Como eu queria arrebentar a cara daquele idiota. Quando olhei para o lado Elliot não estava mais ali. Fui perguntar ao Bruce, mas ele tapou minha boca e apontou para frente; Elliot estava dando a volta atrás dos carros para que Will não visse e já estava quase perto dos dois. Eu estava chorando. Bruce me abraçou. E então... TRAP! Ouvi estilhaços de vidro por todo lado. Olhei e Will e estava jogado em cima do capô de um carro e Elliot o enchia de socos e murros. Saí de trás do carro e fui correndo até a Ellena. Ela me viu e também saiu correndo na minha direção. Ela me abraçou forte e chorou como nunca. Bruce veio até nós, tirou sua camisa e deu a Ellena.

_ Está tudo bem, amiga. _ Tentei acalmá-la. _ Calma, está tudo bem agora, minha linda. _ Eu passava a mão em seus cabelos porque sabia que isso ajudava, ela gostava. Estávamos sentadas no chão porque ela não agüentou ficar de pé. _ Calma, amiga. Ele não fez nada, está tudo bem.

_ Ele tentou... Spencer. Ele queria fazer “aquilo” comigo _ ela não conseguia parar de chorar. _ Eu fiquei com tanto medo. Eu não queria, eu juro. Por favor, não pense que eu queria, porque eu não queria.

_ Calma, Ellena. Eu sei que você não queria. Fica calma. _ A abracei mais forte. Eu também chorava sem conseguir me controlar. Ainda bem que chegamos a tempo.

Vesti a camisa do Bruce na Ellena e ficou quase um vestido. E por falar em Bruce ele estava chorando como nunca. Acho que estava decepcionado com o amigo. Elliot já havia parado de bater nele e Bruce perguntava entre os choros como ele conseguiu fazer aquilo. Will não fazia nem falava absolutamente nada.

Elliot olhou depressa para onde nos encontrávamos e veio correndo. E então a Ellena chorou mais ainda. Acontecer tudo isso e ainda ver meu irmão deve ser um baque muito forte.

_ Ei, você está bem? _ Elliot perguntou todo delicado e passou a mão em seus cabelos. Ela retraiu o corpo para evitar o contato dele e escondeu o rosto em meu peito, chorando mais. _ Por favor, não fica assim comigo _ acho que ele também estava chorando. _ Não faz assim, eu voltei só por sua causa. _ E então ela olhou para ele imediatamente. _ Eu sei, eu fui um burro _ encostou-se a uma pilastra e fez sinal para eu passar ela pro colo dele. Obedeci e ela foi relutante dizendo que não, mas ele a segurou firme e ela cedeu. _ Olha pra mim _ ele pediu.

_ Por que... Porque eu olharia? _ Sua voz estava fraca. _ Porque você está aqui?

_ Porque eu não agüentei mais ficar longe. Eu queria fugir e me esconder, mas foi então que eu decidi que não era assim que as coisas se resolveriam.

_ O que você quer dizer? _ Ela se ajeitou no colo dele e deitou sua cabeça no peito dele. Eu só observava.

_ Quando você disse que estava gostando de mim, eu fui rude e estúpido com você...

_ Para, por favor. Eu não quero me lembrar disso _ ela já estava chorando mais uma vez.

_ Olha pra mim _ ele ergueu a cabeça dela gentilmente e fez com que seus olhos se encontrassem. _ Deixa eu terminar. Naquele dia eu estava pronto para viajar e estava arranjando mil e uma desculpas para não me prender aqui. Eu tinha uma carreira promissora e não queria estragar nada disso. Eu estava bem e feliz, porque tinha que aparecer uma pirralha para me confundir? Então quando você disse que estava gostando de mim eu fiquei sem reação. Foi então que eu agi sem pensar. Eu não queria te magoar e nunca quis, e nem pensei que você ficaria mal, ou pior, que EU ficaria mal. Mas a verdade que desde aquela época eu também já estava gostando de você, só não queria admitir para mim mesmo, eu não queria que a melhor amiga da minha irmã mexesse comigo dessa forma. Alias quem era pra você pra chegar do nada e mudar tudo criando uma confusão enorme dentro de mim? E foi nesses dois meses longe que eu percebi que você era justamente a pessoa que eu queria que chegasse do nada e criasse essa confusão dentro de mim, você era a pessoa que eu queria pra mudar tudo, você é a pessoa que eu quero pra tentar um novo começo. _ Ele estava chorando, ela estava chorando e eu estava chorando. Eu nunca tinha visto Elliot assim, e mesmo sabendo que era um momento íntimo eu não conseguia me mover. _ Ellena, eu sei que o momento não é mais propício, mas eu quero que você saiba que você mexeu com a minha cabeça durante todo esse tempo e eu fiquei louco quando soube que você estava com o Will. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu não podia te perder por uma idiotice minha, e então eu voltei.

_ E porque voltou só agora? _ Ela perguntou por entre os soluços.

_ Porque foi o tempo que eu agüentei. Alias, o tempo que eu tive que ficar longe pra perceber o quanto eu preciso de você.

_ Porque você gosta de mim? E porque me fez sofrer tudo aquilo? Porque está me falando essas coisas?

_ Porque você foi a única que me fez enxergar que eu posso ser eu mesmo. E mesmo eu demorando pra admitir isso, você foi a única que soube fazer o meu coração bater mais forte. Você foi a única que soube me abraçar bem gostoso e rir de coisas bobas. Você foi a única que teve o jeito certo de me conquistar sendo você mesma. E sempre foi tudo o que eu pedi a Deus, e eu desperdicei. Eu te joguei fora como se fosse um nada, quando na verdade eu estava abrindo mão do meu tudo.

_ E o que vem depois disso? _ Ela deu um sorrisinho básico e passou a mão por seus cabelos.

_ Isso _ ele a beijou e ela correspondeu. Era um beijo desesperado, um precisava do outro. Era um beijo intenso, um beijo caloroso e demorado. Um beijo de necessidade.

E então, pelo menos em partes as coisas estavam começando a se acertar.

Um sorriu para o outro e fomos embora, fomos embora deixando o passado onde deveria ficar e partimos para um novo começo.