8ª semana sem ELE.

Já fazia exatamente dois meses que ele havia partido e quando eu pensava que havia chego ao limite da minha dor, era surpreendida mais uma vez. Pensamentos ruins tomavam conta da minha mente e isso só servia para dilacerar mais meu coração.

“O que será que está acontecendo com ELE?” “Será que ele está sendo bem tratado?”. “Será que ele está vivo?”

Concordo que era bem idiota um pensamento desses me ocorrer, mas quando se passa tempo demais sozinho até o improvável parece a coisa mais fácil. Comecei a ficar paranóica demais com todos esses acontecimentos, mas eu não duvidava de mais nada. Se bem que isso se dava também ao fato de eu não ter mais a Ellena por perto por tanto tempo como eu queria, pois ela tinha que se dividir entre escola, Will e eu. Passávamos o período da tarde juntas às vezes, mas depois que ela partia eu começava com as neuroses de novo. Ficava olhando ela atravessar a rua e entrar no carro de seu pai só para ter certeza de que ela estaria bem, e ainda assim ligava a cada cinco minutos.

Levantei-me naquele dia completamente indisposta para ir à escola, mas isso já era algo tão normal quanto beber água e ir ao banheiro.

Cheguei à escola e fiquei um tempinho esperando a Ellena.

20 minutos depois, nada de ela chegar.

40 minutos depois, nada de ela chegar.

Mandei sms e ela não respondeu.

Liguei e não atendeu.

Eu estava começando a ficar preocupada. Será que havia acontecido alguma coisa? Será que o carro caiu e capotou? Será que ela está bem? Será que está viva?

Ok, eu precisava recuperar a minha sanidade, se é que ainda havia isso em mim, e pensar direito.

Às vezes ela só estava dormindo e tinha deixado o celular no silencioso para ninguém incomodar.

Não me convenci muito com isso, mas era o melhor que eu conseguia para me distrair naquele momento.

No intervalo fiquei sozinha no canto onde ELE sempre ficava. Se havia algum “conforto” digamos que era lá. Mas foi então que eu ouvi algo estranho. Não sou fofoqueira nem nada, mas era sobre ELE. Apurei meus ouvidos.

_ Gente, ninguém nunca mais viu o Caleb? _ Aquela voz era da nojenta da Roxie. Revirei os olhos.

_ Fiquei sabendo que ele está numa clínica de recuperação em outra cidade. _ E essa era a voz do Eric.

_ Tratamento do que? Não fiquei sabendo de nada. _ Perguntou a Drika.

_ Acho que estava envolvido com drogas ou pode ser algo pior, né.

_ Como vocês são tolo _ Suzanne caçoou. _ Eu sei a história toda.

_ Como assim? _ Eric se ofendeu.

_ Eu sei de tudo, meu amor.

_ Então conta logo _ Drika se empolgou.

_ Ele está preso _ Suzanne falou.

_ Como assim? _ Drika exclamou.

_ Não necessariamente preso, né, tolinha. Mas em um reformatório para jovens delinqüentes.

_ E como você sabe disso? _ Eric ainda se sentia ofendido.

_ Esqueceu que meu pai é policial?

_ Mas o que ele fez para ir preso? _ Drika perguntou.

_ Matou uma mulher.

_ Ohhhh _ Drika e Eric exclamaram juntos. _ Como assim?

_ Então, pelo o que meu pai me contou ele estava dirigindo bêbado numa noite, aí acabou atropelando uma mulher e ela morreu na hora. Isso foi em um sábado, na segunda feira ele foi até a delegacia e se declarou culpado. Meu pai mesmo fez as honras de prendê-lo. Está aonde merece. _ Grrr, eu não acreditava que estava ouvindo aquilo.

_ Meu Deus, ele é um delinqüente mesmo. Tomara que fique nesse reformatório até a morte dele.

_ Mas é o seguinte, ninguém pode saber. Ouviram? Meu pai me contou e se isso se espalhar ele vai saber que fui eu, entçao, bico calado. Os dois!

Não agüentei ficar ali. Quantas coisas mais iriam dizer? Saí correndo com as lágrimas já escorrendo e inundando toda minha face, turvando minha visão.

Tranquei-me no banheiro e fiquei ali só chorando. O ódio me consumia.

Será que era verdade? Será mesmo que o que a Suzanne falou era verdadeiro? Afinal, o pai dela era mesmo policial e Caleb não quis de jeito nenhum me contar o que havia acontecido para ele ter que partir.

Grrr, porque ele não me contou aquilo? Por quê? POR QUÊ?

Seria bem melhor eu ter ouvido dele do que descobrir pelas outras pessoas.

“O que você precisa saber é que a historia verdadeira está bem guardada. Lembre-se disso toda vez que você ver ou ouvir alguma coisa sobre mim”

A voz dele ecoou em minha cabeça e eu fui me acalmando aos poucos. Era uma questão de confiança, certo? Por um momento eu me deixei levar pelo ódio, mas eu prometi que confiaria nele. Como ele mesmo disse, não seria tão fácil quando tudo fosse contra ele, mas eu tinha feito a minha escolha e iria com ela até o fim.

...

Naquele dia cheguei em casa exausta só pensando na minha cama, mas assim que pisei no meu quarto me deparei com uma Ellena inquieta e nervosa.

_Ahhhh, Ell _ corri e a abracei bem forte. Meu coração batia descompassado. Ela estava bem. _ Fiquei tão preocupada com você hoje, amiga.

_ Spencer, eu estou bem. Só um pouquinho desnorteada _ falou sem jeito.

_ O que está acontecendo?

_ Eu... Hã... Eu preciso falar com você. _ Seus olhos estavam arregalados.

_ O que foi? _ A puxei e sentamos em minha cama.

_ Hãn Hãn... Sabe, eu tenho que te contar uma coisa já faz tempo, mas não tenho coragem. _ Sua cabeça estava baixa e ela brincava com os nós de seus dedos.

_ O que anda acontecendo?

_ Assim, tem acontecido umas coisas entre eu e o Will que eu não estou gostando muito, sabe. _ É, eu também não estava gostando daquilo. _ Sabe, eu não quero continuar com ele, e acho que você já percebeu isso, mas toda vez que eu vou tocar no assunto parece que ele já sabe aonde eu quero chegar e fica desconversando, entende? E de uns tempos pra cá tem acontecido uma coisa bem mais chata entre nós dois. Ele tem me pressionado a fazer... “aquilo”, só que eu não quero de jeito nenhum. Eu estou com medo porque ele está começando a ser estúpido e grosseiro.

_ Ell, você não pode continuar com ele. Eu já percebi mesmo que ele não está te fazendo nada bem, mas eu disse que ia respeitar a sua decisão.

_ Eu sei disso, amiga. Mas não é tão fácil, sabe.

_ Como assim? Claro que é fácil. Fala que quer terminar e pronto, ele tem que aceitar.

_ Hoje eu não fui para a escola por causa disso. Eu ia terminar com ele e estava decidida a não mudar de idéia, mas aí ele começou a ficar irritado e a socar e chutar a porta do carro. Eu não sabia o que fazer. Ele ficou me olhando com raiva e eu fiquei apavorada, então eu saí correndo e como estava por perto vim aqui para a sua casa. A empregada abriu para mim e eu fiquei aqui te esperando.

_ Você fez muito bem, amiga _ falei. _ Agora, você vai ficar aqui em casa por um tempo, o tempo que você quiser, e quando você se sentir preparada eu vou com você e daremos um fim nisso tudo.

_ Eu vou amanhã falar com ele.

_ Como assim? Espera um tempo, ele pode estar irritado ainda.

_ Não, ele está me mandando sms a manhã inteira pedindo desculpas e falando que não era culpa minha. Mas eu preciso fazer isso logo. Estou sentindo como se estivesse carregando o mundo nas minhas costas. Essa situação está me sufocando, Spencer.

_ Eu vou junto então _ falei determinada.

_ Não, amiga. Eu comecei isso, então eu quero dar um fim. Você me dá cobertura na escola?

_ Eu não vou te deixar sozinha com ele. E se ele te machucar?

_ E você poderia fazer o que? Se acontecer alguma coisa ele é mais forte do que nós duas juntas.

_ Eu gritaria, sairia correndo, alguma coisa eu posso fazer.

 _ Por favor, eu mesma quero fazer isso. Eu sei como manobrar o Will. Promete, por favor, que vai me ajudar.

_ Ell... _ fui protestar.

_ Promete?

_ É isso mesmo o que você quer?

_ Sim. É isso mesmo o que eu quero.

_ Então, por você, eu ajudo.

Naquele dia ela dormiu lá em casa. Eu estava tão preocupada que nem conseguia dormir. Mas se esse Will ousasse fazer qualquer coisa que fosse para machucar a minha amiga, eu mesma ia dar um jeito de acabar com a raça dele, nem que para isso eu tivesse que ir até ao inferno atrás dele.

Eu estava sem sono. Revirava-me na cama o tempo todo e tentei até contar carneirinhos, mas nada deu certo. Quando finalmente eu já estava alcançando a inconsciência meu celular começa a vibrar. Peguei-o na cabeceira da cama e era uma mensagem de um numero que eu não tinha nos meus contatos. Que fosse importante, pois eu havia demorado a conseguir pegar no sono.

E então me coração parou... E disparou.

“Hey adivinha quem é RS

Estou com tantas saudades, minha brava.

Não vejo a hora de poder te abraçar e poder ficar bem juntinho de você. Aposto que vai enjoar de mim RS

Continue me esperando, por favor, porque eu VOU voltar. Espero ansiosamente por esse dia.

By: Caleb.

Beijos, minha linda”.

Ok, lágrimas me invadiram no mesmo instante e eu não consegui conter os soluços.

ELE ESTAVA BEM!

A emoção era tão grande. Meu coração estava disparado e eu não conseguia me conter. Eu queria gritar, pular, correr, fazer qualquer coisa para me extravasar.

ELE ESTAVA BEM!

Respondi.

“Acho que não sei quem é hein RS

Estou com saudades também, muitas!

Não vou te deixar mais quando você voltar. Aposto que você enjoa antes de mim RS

Estou me sentindo tão sozinha. Queria você aqui comigo.

O relógio não é tão legal comigo, parece que anda mais devagar só para demorar mais a sua volta.

Mas eu vou continuar esperando, eu prometo.

Boa noite sz”.

“Não vou enjoar de forma alguma.

Eu não gosto de te ver assim. Você não está sozinha, estou com você o tempo, mesmo que seja em pensamentos.

Ah, e me desculpa por entrar em contato só agora, mas as coisas por aqui não são tão fáceis.

Tenho que devolver o celular de onde peguei, mas vou tentar manter contato sempre, ok?

Dorme bem, meu amor”.

Meu amor?! Droga, porque eu não conseguia parar de chorar?

Respira fundo, falei para mim mesma. Eu PRECISAVA me acalmar.

Depois disso tentei dormir de novo, mas se antes já estava difícil, imagina agora.

ELE ESTAVA BEM!

E então, com muito custo, consegui dormir tranqüila.