Terça-feira, 5:45 AM

Ainda sem conseguir dormir. De um lado a Ellena se remexendo na cama, e do outro meus pensamentos gritando dentro da minha cabeça.

Por quê? Porque tudo que dizia respeito a nós dois tinha que ser tão difícil? Porque ele tinha que ir embora justo agora?

Mas, pensando bem, se nada disso estivesse acontecendo nós com certeza ainda estaríamos brigando e fazendo pirraça que nem dois bobos. Ri com esse pensamento.

Levantei-me e fui até a cozinha, mamãe estava lá devorando um pedaço de bolo de maracujá e escutando John Lennon.

_ Mamãe, o que você está fazendo aqui? _ Ri.

_ Nada demais, meu amor. _ Ela disfarçou, mas acho que estava chorando.

_ O que foi mãe? _ perguntei.

_ Ah, sabe. Eu fico aqui pensando numas coisas e acho que tanta coisa poderia ser diferente na minha vida. Eu arrumo um monte de coisas para fazer, mas ultimamente estou me sentindo tão sozinha. Eu sei que daqui a pouco o seu irmão vai embora de vez de casa e você também vai ter que sair uma hora, e eu não quero impedir isso, mas e eu? Vou ficar sozinha aqui sem nada e nem ninguém.

_ Mãe, para com isso _ a abracei. _ Você é uma pessoa maravilhosa e vai encontrar alguém que te mereça. Não adianta nada você ficar com alguém que não te valoriza. Na hora certa vai entrar na sua vida uma pessoa que vai te fazer muito feliz.

_ Ai, eu sou uma boba mesmo, né? Aqui chorando e você me dando conselhos, deveria ser ao contrário.

_ Somos amigas acima de tudo _ falei.

_ Somos nada _ riu. _ Você arranjou a Ellena para me substituir.

_ Para de ser boba, dona Meredith. O que você quer saber sobre mim?

_ Ah, me conta tudo, né. As coisas que tem acontecido com você ultimamente. Seu coração já se sente atraído por alguém?

_ Infelizmente, ou felizmente, sei lá, as coisas que tem acontecido comigo se resumem a um nome: Caleb!

_ Hum, e quem é esse? É bonito? Como ele é?

_ É da minha escola. E ele é lindo _ sorri ao me lembrar dele.

_ Mas me fala como ele é. Moreno, baixo, gordo, magro... Me conta.

_ Ele é loiro, tem olhos verdes e cabelo e uma pele de bebê _ ri._ O cabelo dele é arrepiadinho e o sorriso dele é o mais lindo do mundo. Ele é mais ou menos do tamanho do Elliot...

_ Espera aí _ me cortou. _ É o amigo do Elliot?

_ Você conheceu o Caleb? _ Fiquei boquiaberta.

_ O Elliot trouxe ele aqui acho que na quinta passada. Você e a Ellena foram almoçar com aqueles amigos de vocês. Esse garoto é maravilhoso, educado, gentil, sem falar que é um gato, né. Não acredito que você está de rolinho com ele, filha.

_ Estou louca por ele, mamãe. _ Meus olhos encheram-se d’água. Como eu o queria por perto.

_ E porque quer chorar? _ Passou a mão em meu rosto.

_ É complicado _ doía só de lembrar. É ruim pensar nesse assunto. _ Aconteceram umas coisas.

_ Me fala o que foi, ué. Quem sabe eu não posso ajudar. Coisas ruins ou boas?

_ Ruins e boas ao mesmo tempo, não sei direito.

_ Não estou entendendo, filha.

_ Eu e ele vivíamos brigando, e isso até quinta passada _ ri. _ Foi tudo muito rápido, mas eu sempre tive uma super atração por ele, mas ele é um idiota _ ri. _ E eu não sei o que aconteceu que ele teve que sair da cidade. Então ele veio falar comigo e nós meio que nos acertamos. Mas agora ele está longe _ me segurei para não desabar na frente da mamãe.

__ Então deixa eu ver se entendi, é ruim porque ele está longe, mas é bom porque foi isso que aproximou vocês dois, certo?

_ Isso mesmo.

_ E ele foi pra onde? Quem sabe você não pode ir ver ele.

_ Não posso. Eu dei essa idéia.

_ Ele aprontou alguma coisa, filha? _ Momento preocupação de mãe.

_ Eu não sei o que aconteceu, mas ele me disse que não era pra eu acreditar nos rumores, porque a verdadeira história está bem guardada.

_ Não estou gostando disso, Spencer.

_ Mãe, eu confio nele, ok? E sério, eu não teria motivos para não confiar.

_ Eu vou confiar em você, não nele. Mas por você eu dou um voto de confiança.

_ Obrigada _ eu estava quase chorando.

_ Mas me fala, ele volta?

_ Ele prometeu que vai voltar, e eu prometi esperar.

_ Quanto tempo?

_ Não sei, nada definido ainda.

_ E se demorar?

_ Eu vou continuar esperando.

_ Lembra do que eu sempre te falo? Não prometer nada no momento da emoção. Isso passa filha.

_ Foi a primeira coisa que veio na minha mente quando eu fiz essa promessa. Eu vou até o fim com ela.

_ Ah, que lindo _ a mamãe estava chorando de novo? _ Minha filha está APAIXONADA! _ Gritou.

_ Para com isso mamãe _ comecei a rir. _ Vamos mudar de assunto? O Elliot chegou bem em Miami?

_ Chegou sim. Eu estava falando com ele alguns minutos antes de você descer.

_ Ele nem se despediu de mim.

_ Você sabe o motivo de ele não ter ido falar com você, filha.

_ Isso é justificativa, mãe? A Ellena não é nenhum monstro que ele tem que ficar correndo. E eu sou a irmã dele, poxa. Isso foi muito, mas muito errado mesmo.

_ Isso é entre vocês dois, filha. Eu não vou interferir. Mas me fala, o que aconteceu entre ele e a Ellena?

_ Não sei, mãe. Só sei que estava um clima bem estranho.

_ Sabe, posso estar errada, mas a única vez em que o Elliot agiu assim foi com 9 aninhos, quando ele estava super apaixonado pela coleguinha de sala dele. Eu nunca tinha visto ele assim, e pensei que ele sempre seria esse galinha, mas aí ele ficou todo bobo por causa da sua amiga. Opinião minha.

_ Será, mãe? Porque eles brigaram feio. Pelo que eu fiquei sabendo ele disse na cara dela que não gosta dela. Mas a Ellena não quer tocar muito nesse assunto por enquanto.

_ Não sei, filha. Mas ele não é assim, e você sabe por que conhece muito bem seu irmão.

_ Ah, eu não sei de mais nada. Já tenho tantos problemas _ ri.

_ Você não sabe o que é problema, menina. Tenha dois filhos para ver _ riu e depois ficou séria. _ Nem pense nisso. Apareça grávida e eu te mato.

_ Hahahahahahahaha _ comecei a rir muito. _ Eu sou a filha que tem juízo, esqueceu?

_ Só para ficar avisado _ riu também.

_ Enfim, mamãe linda, vou acordar a Ellena, pois já estamos mega atrasadas.

_ Vai lá meu amor. Porque vou ter que levá-las pra escola hoje.

_ Pois é, o Elliot não está mais aqui para ser nosso chofer.

_ Então se arrumem rápido.

_ Ok.

Subi para o meu quarto e quando fui acordar a Ellena ela não estava mais na cama. Só então que eu a vi em frente ao espelho. Ela estava chorando? Era o dia, hein.

_ Ell, o que foi? _ Me aproximei.

_ Ele não veio se despedir da gente _ se virou para mim. _ Eu sabia que ele não viria falar comigo, mas pensei que por nós duas estarmos ele viria se despedir de você e automaticamente de mim. Eu esperava ser surpreendida. _ Seus olhos estavam vermelhos.

_ Ell, olha o que está acontecendo comigo. Nada é fácil pra gente.

_ O Caleb não virou pra você e disse que você era só uma pirralha “amiguinha” da irmã mais nova dele. Isso doeu, Spence.

_ Eu sei que dói amiga _ a abracei. _ Mas pensa que as coisas mudam.

_ Acho meio difícil. _ Limpou as lágrimas.

_ Não duvide da força do destino _ falei. _ Ele me surpreendeu.

_ Que me surpreenda também, por favor. _ Deu um risinho.

_ Irá _ sorri a encorajando. _ Vamos nos arrumar?

_ Vamos.

Ellena tomou banho no meu quarto e eu fui para o quarto do Elliot. O dia mal começara e já tantos problemas. Mas nada disso me abateria, eu precisava erguer a cabeça e viver um dia de cada vez, mesmo sendo difícil e parecendo impossível, mas era necessário e não tinha outro jeito.

Chegamos à escola mais cedo e então eu pude entender a Ellena; eu sabia que ELE não chegaria, mas de alguma forma eu esperava ser surpreendida.

No intervalo foi estranho, pois eu logo coloquei meus olhos em meu canto favorito, não por querer ver ele, mas porque já era um costume e algo normal... Nada! Aquilo doeu. E foi então que a minha ficha caiu; ELE não estava ali e não estaria mais por um bom tempo. Tentei me reconfortar pensando que ele havia faltado somente naquele dia, mas isso seria mais difícil pensando que ele teria faltado só naquele dia, e no outro, e no outro, e no outro... Não é fácil quando você sabe que não é verdade.

Uma lágrima rolou.