Acordei na segunda-feira de manhã com a Ellena me chamando para irmos para a escola. Eu tinha dormido tanto assim? Caracas!

Levantei-me preguiçosamente e meu rosto ardeu. Com o tanto que eu havia dormido aquilo não me impressionava. Fui tomar um banho rápido e lavei o rosto uma três vezes.

Depois de tomar meu café da manhã e terminar de me arrumar tive que esperar a Ellena. Isso que ela tinha acordado antes de mim, né.

Elliot nos levou para a escola e o clima dentro do carro estava tendo. E por falar em Elliot, ele havia perdido seu vôo de domingo de manhã e partiria hoje à noite. Assim que chegamos à escola, Ellena saiu do carro num rompante sem nem se despedir e ficou me esperando no portão.

_ Ok _ falei quando a alcancei. _ O que aconteceu entre vocês dois? _ perguntei.

_ Podemos falar sobre isso depois? _ Seus olhos se encheram d’água. _ Por favor _ pediu com a voz já tremula.

_ Tudo bem _ falei. _ Eu entendo porque também não estou nada bem. _ Lembrei-me do Caleb.

_ O que aconteceu entre você e ELE? _ Percebi que ela queria desviar o assunto do Elliot, mas eu queria desviar do Caleb.

_ Podemos falar sobre isso depois? _ Pedi também. _ É um assunto delicado para se conversar aqui.

_ Estamos no barco, amiga.

_ Pois é, estamos no mesmo barco.

_ Fomos para a sala de aula e nenhuma de nós duas tivemos assunto, mas não ficou um clima chato que nem no carro, nós duas nos entendíamos.

As aulas até o intervalo se arrastaram, parecendo que queria me provocar. Eu encarava o relógio acima da lousa e ele me encarava, passando seus ponteiros bem devagar por todo seu perímetro.

Tic Tac – 8:40 AM

Mordendo a tampa da caneta.

Tica Tac – 8:50 AM

Desmanchando um clips.

Tic Tac – 9:00 AM

Tirando rebarba da folha do caderno.

Meu Deus, que agonia! Será que ELE estava na escola? Será que seria como sempre foi? D.Ú. VI. D.O!!!

Pensando bem, o relógio poderia continuar nessa lerdeza toda.

Tic Tac – 9:30 AM

Priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!

Sinal para o intervalo. Só porque eu queria que demorasse ¬¬’

Por dentro, eu estava quase me agarrando nos portões que nem uma criancinha, mas por fora desci normalmente.

Foi inevitável não olhar para o canto onde ele sempre fica, mas foi como se me jogassem uma balde de água fria. ELE cumprimentando com um selinho a garota da festa. Ok, foi ela quem se inclinou, mas ele correspondeu.

Respira fundo Spencer.

E a nossa conversa do dia anterior? Ele já havia esquecido?

Grrr, se raiva matasse não haveria cemitérios suficientes.

Sentei-me no mesmo lugar de sempre e fiquei sozinha com meus pensamentos, já que a Ellena também parecia uma fantasma ao meu lado.

As outras três aulas também demoraram e eu só queria ir para a minha casa e me afundar em minha cama.

12:20 AM Graças a Deus.

...

Droga! Posso voltar a ficar na sala de aula?

Bruce me esperando na saída.

_ E aí, gatinha _ me abraçou e me deu um selinho.

_ Tudo bem? _ perguntei meia sem jeito.

_ Tudo ótimo e você?

_ Também _ sorri, mas nesse instante Caleb passou furioso por nós dois.

_ Ei, maninho. _ Bruce o chamou.

Maninho? Ai meu Deus, como eu sou Burra. Aliás, um desconto porque eu estava bêbada. Foi no dia da festa do Bruce, minha conversa com o senhor Willian.

“_ Eu não sabia que você estaria aqui, lindinha _ falou rindo. _ Essa é a minha esposa Garcia. _ Me apresentou.

_ Muito prazer _ falei.

_ Igualmente _ sorriu. _ Então quer dizer que essa é a adorável garota que o Willian quer como namorada do Caleb?

_ Ah, comentou de mim, é? _ Comecei a rir.

_ Disse que você seria perfeita para ele.

_ Mas tenho certeza de que o Bruce também se interessaria por você _ o senhor Willian falou.

_ Ah... é... _ Nessa hora eu engasguei. _ Bruce?

_ É, “o aniversariante, nosso outro filho.”

_ E aí, maninho _ Caleb evitava me olhar.

_ Porque está tão bravo assim? _ Bruce parecia... Irônico.

_ Motivos meus _ me fuzilou com o olhar e saiu andando.

O quê? Ele estava bravo comigo? Legal a vida, viu.

_ Bruce, eu preciso falar com você _ eu não ia prolongar esse “relacionamento”. Aliás, eu pensei que ele nem ia levar adiante; caí do cavalo.

_ Pode falar, gatinha _ ele veio me dar outro selinho.

_ Não dá _ o empurrei gentilmente. _ Me desculpa, eu sei que fui eu que te beijei na festa, mas foi um erro... Eu não posso fazer isso comigo, principalmente não posso fazer isso com você.

_ O que você está querendo dizer?

_ Eu não posso ficar com você _ e então uma lágrima rolou por minha face. Foi mais pela situação, pois o Bruce era uma pessoa legal e ele tinha se tornado especial. _ Você é uma pessoa maravilhosa, mas eu não posso fazer isso quando o meu coração pertence a outra pessoa.

_ Está tudo bem, Spencer _ ele passou por meu rosto e fez com que eu o olhasse. _ Eu te admiro por fazer isso, viu _ sorriu. _ Você não é igual às outras, e você sabe que não é, e é isso que te torna tão especial.

_ Me desculpa _ pedi de novo.

_ Eu só não quero que isso abale a nossa amizade.

_ De forma alguma _ sorri e ele me abraçou.

Eu pensei que isso seria tão mais difícil, mas graças ao bom Deus Bruce foi bem compreensivo. Depois disso me senti bem mais aliviada.

Fui para minha casa e ao chegar lá me assustei76, pois ouvi gritos. Estavam vindo do quarto do Elliot. Era o Caleb que estava com ele?

_ Você não pode fazer isso, Caleb. Eu não posso deixar. Que amigo seria eu? _ Elliot parecia desesperado.

_ Elliot, me escuta, cara. Isso acabaria com a sua carreira.

_ Mano, para com isso. Você está ficando maluco. Eu não...

_ E o seu sonho?

_ Meu sonho? Eu teria que esquecer velho.

_ Não, cara. Eu não vou deixar você fazer isso com a sua vida. Essa é a prova da minha amizade, ok? Somos irmãos, Elliot. Deixa eu te ajudar, aliás, a culpa foi minha também.

_ Você não tem culpa nenhuma nisso, Caleb. E eu não quero que você prove nada, eu sei que tu é meu irmão.

_ Eu vou me senti melhor _ Caleb baixou o tom de voz.

_ Eu não sei mais o que te falar _ Elliot estava chorando.

_ Eu já me decidi, amigo. Me desculpa, mas eu não estou aqui pedindo sua autorização, eu vim só para te avisar, porque a minha decisão está tomada.

_ Eu vou dar um jeito nisso. Eu prometo, eu vou te ajudar irmão. Você não vai ficar sozinho nessa. Estamos juntos até o fim.

_ Até o fim, irmão. Vou ficar te esperando. _ E então acho que os dois se abraçaram.

Eu estava paralisada. O que estava acontecendo?

Pernas se movam!

Eu não conseguia sair da porta do quarto do meu irmão.

A porta abriu e...

_ Spencer? _ Os dois falaram juntos.

_... _ Eu não conseguia nem responder.

Caleb me olhou com desprezo e passou reto, sem nem olhar pra trás. Então eu desmoronei. Se não fosse o Elliot me segurar eu teria caído no chão. Ele me abraçou e eu comecei a chorar. Até me esqueci da conversa deles dois.

ELE estava bravo comigo. Nem falar comigo ele quis.

Doía tanto!

_ Vai atrás dele _ Elliot falou limpando minhas lagrimas.

_ Ele não vai me ouvir _ falei por entre as lágrimas que se recusavam a parar.

_ Você não vai ter outra chance, Spencer.

_ O que eu falo? _ Cada pensamento era uma facada em meu peito.

_ Aí é com você, maninha _ ele sorriu me encorajando e deu um beijo em minha bochecha. _ Vai.

Saí correndo escada abaixo e quase caí. Eu precisava DELE. Eu precisava explicar o que realmente tinha acontecido. As lágrimas insistiam em rolar atrapalhando minha visão, mas então eu o achei no portão.

_ Caleb _ gritei. Ele parou e se virou. _ Caleb _ falei com a voz mais fraca e com as lágrimas rolando por meu rosto.

_ Spencer _ pela primeira vez no dia ele se dirigia a mim.

_ Nós... Precisamos conversar _ limpei as lágrimas.

Ele subiu as escadas e passou reto por mim, entrou na sala e se sentou. O segui e me sentei ao seu lado.

Ok, o que eu falava agora?

Respirei fundo.

_ Caleb, eu... Eu, sinceramente, não sei por que você está me evitando e está bravo comigo, mas...

_ Tem certeza que não sabe, Spencer? _ deu uma risada irônica.

_ Para de agir assim. _ O que eu mais odiava era ironia.

_ Eu não tenho nada haver com a sua vida, Spencer, mas num dia você diz que vai me esperar e no outro eu já te vejo com o meu irmão. Não pensei que você seria tão rápida.

_ Para de ser irônico _ gritei. _ Você tem todo o direito do mundo de estar bravo comigo, mas você não tem o direito de agir assim. _ Eu não ia chorar.

_ Foi você quem me chamou para conversarmos, se foi pra isso acho que é melhor eu ir embora _ gritou também.

_ Parece que fugir é o seu forte, né? _ Dessa vez eu que fui irônica.

_ Fugir? Você não sabe nem da metade do que está acontecendo, então não me vem dizer que estou fugindo, garota.

_ É o que então?

_ Eu só não tenho a obrigação de ficar aturando isso daqui. Parece que quem foge é você. Fui eu quem te vi com o meu irmão hoje, né.

_ Como é? É pra colocar roupa suja em cima da mesa? Só para te informar, eu também te vi com a garota da festa. E olha que coincidência, foi hoje. Não pensei que você seria tão rápido.

_ Você não entende? Eu não estou com ela. Foram só uns beijos que demos na festa porque nós dois estávamos bêbados. Ela pensou que ainda estávamos juntos e hoje me cumprimentou com um selinho. Depois disso eu disse a ela que não poderíamos ficar juntos, porque eu gosto de outra pessoa. Mas aí, ao sair da escola vejo a cena linda entre você e o meu irmão.

_ Eu estou na mesma situação que você. Mas parece que o único certo aqui é você né.

_ Como assim? _ Ele estava confuso.

_ Caleb, você acha mesmo que eu faria isso? Como se não me conhecesse. Eu posso ser ignorante com você o tempo todo, sarcástica e um monte de coisas, mas eu nunca quebraria uma promessa. NUNCA. Mas você é precipitado demais para tentar entender as coisas. Eu não estou com o seu irmão. Nós ficamos na festa também, porque eu estava brava e irritada por ter te visto com aquela garota, e acima de tudo estava bêbada também. O Bruce pensou que era algo mais a sério entre nós dois e hoje veio me cumprimentando com um selinho, e foi essa parte que você viu. Mas depois que você saiu eu disse pra ele que eu não poderia fazer isso, porque não é a ele que meu coração pertence.

_ Quer dizer que você terminou com ele? _ Sua voz já estava mais normal.

_ Como terminar o que nem começou? _ As lágrimas já queriam me invadir de novo.

_ E-eu... Não sei o que falar.

_ Está tudo bem _ baixei a cabeça.

_ Me perdoa? Por favor, eu estava irritado e bravo. Não devia ter gritado com você. Eu sou um idiota, devia ter falado com você primeiro.

_ Está tudo bem _ o olhei.

_ Eu não acredito que ia embora sem falar com você _ segurou meu rosto.

_ O que? _ O empurrei e já fui inundada por lágrimas. _ Você não me disse que ia ser tão rápido assim.

_ Eu não tenho escolha.

_ Eu não estou preparada para dizer “tchau” _ falei por entre as lágrimas. _ Fica, por favor, _ praticamente sussurrei.

_ Eu bem que queria. Você não sabe como isso é tentador, principalmente com você pedindo desse jeitinho.

_ Pra onde você vai?

_ Você vai saber.

_ Pra onde você vai? _ Eu precisava saber. _ Eu vou te visitar.

_ Não pode. Só é permitida a visita de familiares.

_ Eu falo que sou sua irmã.

- E como você vai provar? _ Sorriu. E, ah, que sorriso.

_ Eu falsifico um RG _ falei. _ Eu dou um jeito.

_ Não vou permitir que você faça isso _ segurou minhas mãos e as beijou. _ Prometo que ainda ficaremos juntos.

_ Já sei _ limpei as lágrimas. _ Foge comigo. Eu pego o necessário agora e a gente foge. Eu vou pra onde você quiser.

- Seria uma boa idéia _ ele sorriu e fez carinho na palma de minha mão. _ Mas isso poderia prejudicar outras pessoas, que eu e você amamos.

_ O que aconteceu? _ Tentei mais uma vez.

_ Para de me encurralar _ passou a mão em meu rosto. _ Isso já é difícil demais. Eu queria te contar tudo e acabar logo com isso, mas você sabe que eu não posso.

_ Caleb, olha pra mim _ segurei seu rosto. _ Eu quero que você confie em mim, que nem eu confio em você.

_ Spencer, olha pra mim _ ele segurou meu rosto também e sorrimos um pro outro. _ Eu confiaria à você a minha vida. Mas isso não envolve só eu. Eu te prometo que no tempo certo você saberá a história toda.

_ Eu acredito em você.

_ Lembre-se, você ouvirá muitas coisas a meu respeito, mas a história verdadeira está bem guardada, ok?

_ Ok.

_ Então agora eu já posso ir. _ Se levantou. _ A partir de hoje a noite eu não estou mais aqui.

_ Fica aqui comigo _ pedi. _ Podemos fazer um monte de coisas juntos, ou apenas ficar aqui um perto do outro conversando e vendo um filme, rindo e por alguns minutos esquecer essa história toda.

_ Bem que eu queria, mas não dá.

_ Ok. _ Me levantei também. Ele foi descendo as escadas e eu o segui. Paramos no portão.

_ Então, por enquanto é isso _ seus olhos estavam cheios de lágrimas, quase transbordando.

_ Isso é uma despedida? _ eu não conseguia me segurar que nem ele e logo fui tomada por lágrimas.

_ Dessa vez sim _ mas então ele não conseguiu se segurar mais e seus olhos transbordaram.

_ Quando você volta? _ Eu tinha medo da resposta, mas precisava saber.

_ Sem previsão.

_ Muito tempo?

_ Não sei. Pode ser que sim, mas também pode ser que não.

_ Eu vou sentir a sua falta _ o abracei e chorei como nunca.

_ Eu também.

Seus braços me envolveram e me apertaram forte. Respirei fundo e seu perfume invadiu minhas narinas. Apertei mais o nosso abraço e fechei os olhos, deitando minha cabeça em seu ombro e deixando as lágrimas rolar. Queria que aquele momento se eternizasse.

_ Eu tenho algo para você _ ele colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha.

_ O que é? _ Consegui sorrir. Peguei a caixinha e a abri. Era um colar de coração dourado que abre. Eu já o tinha visto com aquele colar, aliás, ele nunca o tirava. O abri e de um lado tinha uma foto minha e do outro estava vago.

_ Ele é especial pra mim, e decidi que com você ele ficará seguro. Você decide qual foto vai do outro lado.

_ É lindo, Caleb.

_ Cuida bem dele.

- Não vou tirar.

_ Desse modo eu fico perto de você o tempo todo _ ele pegou o colar e colocou em mim.

_ Eu também algo pra você _ sorri.

_ E o que é? _ Sorriu também.

_ Isso _ segurei seu rosto e uni nossos lábios. _ Para você voltar logo.

_ Eu vou fazer de tudo para voltar o mais rápido possível _ me abraçou de novo. _ Me espera?

_ O tempo que for preciso.

Demos outro selinho e então ele se foi.

Eu queria tê-lo beijado, mas acho que isso não é tudo.O sentimento que tínhamos um pelo outro ia além de um simples beijo, e aquele selinho significou mais do que qualquer palavra, mas do que qualquer coisa.

Eu ia esperar!