Esse hospital é realmente grande, li algumas vezes sobre ele e por ser referência em tratamentos aqui no UK. Passei por uma bateria intensiva de exames na última semana, até agora não sei a que ponto chegaremos com os resultados destes... Com a agitação desse período eu acabei nem pensando tanto nos acontecimentos dos últimos meses... Mas eu sabia que poderia estar muito perto dele e essa ideia causava uma sensação estranha, eu queria ao mesmo tempo fugir e  ficar, com esperanças de vê-lo. Meus batimentos eram monitorados todo o tempo, estava cheia de adesivos e aparelhos à minha volta, me sentia controlada, presa.

Os médicos vieram com uma pilha de papéis na mão e eu percebi que mais uma chuva de termos técnicos pesaria sobre meus ouvidos a qualquer instante, sorte que Charlie sempre estava por perto para traduzir aquilo em linguagem de gente. O coitadinho estava muito preocupado comigo, rosto abatido, pedira uns dias de folga do escritório onde era sócio com uns amigos para poder me dar mais atenção. Ontem ele trouxe Sarah, sua esposa, e as crianças, Helen e Rupert, de dezesseis e sete anos, respectivamente. Helen parece muito comigo quando nova, exceto por ter os cabelos meio ruivos e os olhos verdes, herdados de Sarah, gostava muito de conversar comigo e ouvir minhas histórias, já eu, mimava-a feito uma bonequinha de porcelana. Rupert era um pestinha, adorava correr atrás dos pombos quando os via na praça, passou até a chamar os de cor mais escura de Kevin, para ele todos são como se fossem apenas um que aparece em todo canto, inocência de criança! Ele me perguntou quando eu ficaria boa para poder fazer bolo de brigadeiro para ele, eu ri e disse que logo logo estaria de volta.

Os médicos e suas resmas de papéis... Os exames deram bons resultados, porém eu teria de fica mais uns dias em observação, afinal o que eu tivera fora grave. Já estava entediada com todo aquele paparicado e aqueles bips dos aparelhos, mas alguém nessa história tinha de sobreviver para contá-la... Ou não.

Tudo ocorrera bem, voltei para casa logo, com uns quatro ou cinco dias. Como Helen estava de férias, ela passou muito tempo comigo, Sarah também ficava, mas particularmente sempre gostei mais da companhia de minha netinha, sua mãe não era muito de conversar e isso é tudo o que nós velhos fazemos... Provavelmente alguém já deve ter percebido isso! As notícias acerca do acidente arrefeceram nos jornais, provavelmente encontraram assuntos melhores e mais fresquinhos para ocupar as manchetes. Mas ainda estavam desaparecidos. E aquelas imagens não saíam de minha mente. 

Não eram apenas alucinações, ou sonhos bobos, de alguma forma, eu pude ver o que acontecera e vi que eles saíram do jatinho a tempo e que estavam vivos, pelo menos quatro deles. Quem poderia ser o que ia arrastado era uma dúvida que me assustava e por isso tentava me ocupar ao máximo, assim me distraía dessas coisas. Tão logo o médico me permitiu retornar às atividades normais, eu voltei a jogar com minhas amigas, a fazer almoços e feiras beneficentes, qualquer coisa que fosse. Mas toda noite, ao adormecer, eu ouvia uma voz me chamando ao longe: "Agatha... Agatha............Agatha..........Help me...."