"Agatha.... Agatha............. I need you" Estava num parque escuro, cheio de árvores, fazia frio. Olhei à minha frente e vi quatro homenstentando se aquecer com uma escassa fogueira, pareciam feridos e cansados. "Agatha.... Agatha........" A voz de novo. Um dos homens falou: "Do you think we will be found alive? I miss Eleanor, I miss my family!" E o outro, de cabelos cacheados, chutou uma pedra e respondeu: "I want to, but we've got to find a way out of here, or the only think to be found is our dead bodies laying on the ground!" "Agatha... Agatha........." Aquela voz parecia vir de todos os cantos ao mesmo tempo, parecia acompanhar a brisa da madrugada, era mais que uma simples chamada, era um apelo. Num impulso, dei as costas aos homens e comecei a correr, ou melhor, andar depressa para buscar a origem daquilo, mas só via mato, escuridão, só ouvia barulho de corujas e aquela voz me chamando."Agatha..... They need you"

Acordei imediatamente e percebi que estava sã e salva na calma do quarto de hóspedes da casa de Charlie. Correção: estava salva, mas já não tinha certeza se sã. Aquela voz todas as noites me chamava, estranhamente familiar, meio melodiosa. Eram eles. Mas faltava um. Bem que poderia ser o que estava desacordado após a queda. Poderia? Adormeci num leve ressonar, só até o nascer do Sol. Charlie morava em uma linda casa de estilo vitoriano próxima ao Royal Surrey County Hospital, onde eu havia sido internada uns meses atrás. Era um lugar lindo e o Outono deixava uma linda paisagem naqueles arredores. Era uma profusão de folhas douradas esvoaçando com o vento, uma visão magnífica! Nos reunimos na varanda para tomar o chá das cinco. Charlie chegou mais cedo do trabalho e se juntou a nós. Foi um agradabilíssimo fim de tarde jogando conversa fora. Mais cedo eu havia ajudado Sarah a fazer um bolo de brigadeiro para Rupert, era tudo o que ele sabia me pedir! Foi bom passar um tempinho a mais com a minha nora, ela até que conversou um pouco! Apesar de ser assim meio fechada, ela era uma exímia esposa para meu filho, eles se amavam, tinham uma relação saudável entre si e com as crianças, não poderia ser mais grata por isso.

Charlie trouxera-me um CD de presente! Era de um cantor brasileiro que tinha muitas músicas lindas e uma, inclusive, marcou minha vida em muitos aspectos. Como ele conseguiu esse CD, eu não faço ideia. Mas, por coincidência, a música estava lá e ele sabia, comprara justamente por isso. eu costumava cantar para ele quando era bebê e ele sempre gostava... "Vamos lá, mamãe, deixe-me colocar o CD! Sarah, I've got to show you this! It's a beautiful song that mom used to sing to me as a lullaby when I was little. I'll translate to you, it's marvelous!" não tive nem tempo de protestar. E a música começou, dizia mais ou menos o seguinte:

"Ela achou o meu cabelo engraçado,

Proibida pra mim, no way!

Disse que não podia ficar,

Mas levou a sério o que eu falei,

Eu vou fazer de tudo que eu puder,

Eu vou roubar essa mulher pra mim,

Eu posso te ligar a qualquer hora, 

Mas eu nem sei o seu nome...

Se não eu, quem vai fazer você feliz?

            [...]"

"Agatha..... Agatha...... Please, help them!"

Me levantei de sobressalto. Charlie se assustou e me perguntou se eu estava bem,então eu falei que pensei só ter ouvido alguma coisa, mas era bobagem.

Aquela voz não mais em sonhos? Como assim??? Oh céus! Melhor ligar pro meu médico, preciso de novos calmantes.