O Lado Escuro escrita por Charlotte Fuller


Capítulo 2
Capítulo 1




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O dia estava bonito. Não tão belo quanto os dias de verão, onde era possível se abster das roupas de colarinho alto e mangas. Mas satisfatório o bastante para dedicar grande parte do dia às atividades ao ar livre. E, embora, Louise tenha percebido com grande satisfação o tempo, continuara a ler em cima do baú de madeira polida, postado a frente da janela. O motivo para tal era obvio, como saber que na primavera as margaridas dos canteiros irão desabrochar tão belas quanto, ou mais, que sua última aparição. Os rumores corriam, tão rápidos como vento em debandada. As jovens estavam arrumadas com seus melhores vestidos, as crianças amontoadas nos troncos das árvores ou dispersas pelo pasto fingindo se entreter com algo inexistente, mas sempre a espreita. De todo modo, Louise era às avessas, preferia o sossego a exibição demasiada.

— Deus! Eles se aproximam! — Dominique aprumou, zigue-zagueando por entre os cômodos a espalhar a grande nova. Sua euforia palpável compartilhada com as outras jovens que a seguia como ovelhas atrás do cão guia.

Louise abandonou sua tarefa, para acompanhar crescente cacarejo das mais novas.

— Quem seriam “eles” responsáveis pela balbúrdia e bochechas escarlates?

Dominique levou as magricelas mãos para as maçãs do rosto, estupefata.

— Cavalaria! A Cavalaria do Rei se aproxima do vilarejo. — E como para endossar a atitude acrescentou. — Jovens guerreiros destemidos que são o braço direito do Rei.

É claro que sabia o motivo, não se falava outra coisa durante dias. Nada além de tecidos novos, vestidos festivos, noivos e heróis. Louise, no entanto, não recebeu a noticia como as demais. Voltou seus olhos para a prima e perguntou:

— Há de se estranhar que os “braços direito” do Rei, como diz minha prima, andem por terras tão remotas como estas. Não deveriam desfrutar da mesma luxúria que seu amo?

Os lábios de Dominique contorceram-se com desgosto.

— Pois, saiba que estão aqui a mando do próprio. É do seu feitio mandar os melhores dentre seu exército para manter contanto com o povo. Um grande ato!

Louise segurou a vontade crescente de rir, não agora que Dominique encontrava-se na defensiva. Ela olhou pela janela, absorvendo as frestas dos raios solares que escapavam por entre as folhagens.

— Bernadette, pegue meu lenço. — Dominique ordenou a empregada que rumou em direção a Louise. Ombros curvados e cabeça sempre baixa.

— Milaide. — Bernadette inclinou mais seu corpo em direção ao baú de porte médio.

Louise exclamou:
— Oh sim! Claro! — Levantou-se ao tempo que a serviçal abria a tampa e capturava o lenço de cetim azul turquesa.

— Bernadette! Por Deus! Este é horrível, não pretendo passar vergonha. Pegue o outro, o com trançados. — Dominique exigiu.

A serviçal reverenciou, voltando para a busca por entre os tecidos.

— E se arruma para quê minha prima? — Louise voltou a questioná-la, postando o livro junto com os demais organizado em pilhas.

— Para quê? Ora, Louise estamos falando do Rei, não se recebe o monarca com frangalhos. — respondeu.

— Exceto que são os seus soldados. Certamente são homens da estrada acostumados com centeio e pão velho, não serão capazes de distinguir uma roupa de passeio a trajes de verão.

— Por favor! É claro que sabem! Precisamos causar boa impressão. O que irá pensar a família real quando ouvirem que recebemos seus preciosos guerreiros mal vestidas?

Então o sorriso taciturno tamborilou nos lábios rosados de Louise, como uma vespa pronta para espetar os fundilhos de um aventureiro próximo às margens do rio.

— Creio que não vieram para reparar nos trajes, na verdade, me pergunto nesse instante o motivo para tal.

Dominique encolheu os ombros desfazendo do pensamento seguinte, atribuindo-o pouca importância que, de fato, o dava.

— Possivelmente, penso eu, que não seja esse o verdadeiro motivo. Talvez procurem algo importante, talvez falte algo nas suas vidas alucinantes.

O vestígio do sorriso aumentou numa centelha de segundos para desaparecer e dar lugar a mais teatral reação de Louise.

— Bem mais o quê? Cavalos, espadas e lutas não são o bastante?

— Esposas. — Dominique afirmou. — Está claro, todo homem considerável possui uma esposa.

— Esposar? — Louise questionou.

E com sua verdadeira intenção iluminada, uma resposta arredia e defensiva fora arrancada da espevitada Dominique.

— Ora, cresça. — seus cachos dourados trepidaram. — Não ouse parecer esperta só por viver atarracada as páginas dos livros. Sim, esposar. Como se seu querido amiguinho do campo não suprisse o mesmo interesse.

— Thomas não pensa em esposar. — fora a vez de Louise ficar na defensiva.

— Sim, claro Louise, ele só pensa nos animais. Nos pobres animais.

— Bem, sim é. Thomas e eu compartilhamos dos mesmos pensamentos. Casamentos arranjados são ultrapassados, além do que, envolver-se com alguém por quem não partilha nenhuma intimidade é doentio. Concordamos em morrer sozinhos.

Dominique riu debochada.

— Digo verdadeiramente. Não há distorções, nós concordamos.

— Acredito. — Suas magricelas mãos direcionaram-se para o lenço que Bernadette apontava em sua direção, adornando, logo depois, o seu pescoço com o mesmo. — Porém, morrer sozinha não inclui se vestir com mau gosto, aconselho a você. Bernadette dê o lenço azul de cetim para minha amada prima.

Assim olhou para uma paralisada Louise e concluiu:

— Combina com você.



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Notas finais do capítulo

Thomas Who? Louise? Haha. Bem eu to tentando uma nova experiência: Capítulos mais compactos. Vou confessar, é um pouco difícil pra mim deixa-los tão curtinhos, mas isso não quer dizer que é uma má ideia. Todo mundo sabe, ou já tentou escrever uma história de época. É um desafio! Portanto, erros me digam, críticas também estão abertas. Boa leitura!



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