Recém-nascida escrita por Cambs


Capítulo 3
Dois




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Dirigindo a mais de cem quilômetros por hora, eu tentava a todo custo entender o que estava acontecendo.

“Os Mottris levaram Marco”

Mas como?! Se Carlo ou Erin ou qualquer outra pessoa do clã aparecesse por aqui não seria meio óbvio? Ou se viesse o clã inteiro, como conseguiriam levar Marco daqui sem serem impedidos? E mesmo que fossem impedidos não conseguiriam obter sucesso. A guarda Amattris é excepcionalmente forte. E por que levariam Marco, sendo que os Mottris e os Amattris evitam ao máximo qualquer tipo de contato? Perguntas demais e respostas de menos, isso já está me levando a arrancar os cabelos. Mas, a grande questão era, provavelmente, como Marco foi levado? Pelo o que Mégara e Vicktor me contaram, não foi exatamente alarmante porque, aparentemente, não houve obstruções ou lutas no caminho de quem o levava. Dirigindo agora eu me arrependia grandemente de não ter perguntado para Elliot ou Demetri como acontecera, assim eu teria muito mais informações e algo mais para se pensar.

Mas, pelo menos, eu estava indo a um lugar que certamente ajudaria a esclarecer a situação. Nada que uma visita a Carlo não resolva.

O castelo de Carlo ficava na Hungria, se eu fosse dirigindo seriam mais ou menos seis horas até que conseguisse chegar até lá, mas como esse me parece o meio mais rápido, vou optar por ele mesmo. Devo chegar até o castelo apenas amanhã ou depois, que beleza. Parei em dois postos de gasolina — olá doces — e segui dirigindo, com uma perda de combustível memorável. Será que era justamente por isso que aquele vendedor não reclamou quando disse que ficaria com a Masserati? Se for, ele que me aguarde. Um processo será o menor dos problemas.

Com o CD de ES Posthumus tocando através do aparelho de som do automóvel, eu voltei a pensar na situação pela qual passava. Simplesmente não há lógica nenhuma no ocorrido. Eu certamente conseguiria acreditar e achar algum motivo extremamente digno se Mégara houvesse dito que Marco tinha sido levado por lycans, mas pelos Mottris era algo que me fugia da lógica. É impossível porque, bem, eles não têm motivos para machucar Marco... Não, eles têm sim, e muitos, mas Carlo é leal de certa maneira e não faria isso. Tinha que ser outra pessoa, não podia ser os Mottris, simplesmente não podia.

Eu tinha acabado de suspirar com o súbito vazio da estrada quando algo se chocou contra o carro, e eu tinha certeza de que não era um pássaro e nem um humano.



— Ela já me pareceu mais inteligente — a voz do mais velho tinha um leve tom de zombaria enquanto descia as escadas íngremes. Com os lábios marcados por um sorriso sarcástico, ele continuou andando até a frente da cela, onde seu mais precioso prisioneiro estava. Os olhos de safira brilharam.


— Ela quem? — a voz do prisioneiro não passava de um sussurro, tanto pela tortura pela qual havia passado um pouco mais cedo, tanto pela sede.

— Ora, sua preciosa dhampir. Quem achou que seria? Sua esposa? — ainda sorrindo, ele juntou a ponta dos dedos, assim como sempre fazia quando estava desapontado.

— O que vai fazer? — apoiando-se na parede gelada, o prisioneiro levantou-se com dificuldade, com o corpo dolorido, ele se arrastou até as grades enferrujadas, com as mãos pálidas postas ali, encarou o vampiro a sua frente. — Ela não vai cair nas suas armadilhas tão facilmente e sabe disso.

— Você continua ansioso — o vampiro sorriu. — Sei bem disso, mas ela tem algo que você não tem, um coração. Vamos Marco, Sophie pode ser a mais inteligente dali, mas ela irá cair assim que passar a escutar os sentimentos.

— Veja bem quem está falando de sentimentos — o prisioneiro, Marco, sorriu sarcástico.

— Ironia é algo surpreendente, não acha? — o vampiro deu dois passos em direção à Marco, com o rosto encostado nas grades, o sorriso em seu rosto aumentou ao olhar para Marco mais de perto, com uma leve resfolegada, ele olhou para o prisioneiro e passou a sussurrar, com um cinismo propriamente seu. — Diga-me, você está morrendo de vontade para ver o que eu vou fazer com sua pequena dhampir não é mesmo?

Marco manteve-se em silêncio, observando o vampiro próximo de si.

— Vamos, vamos, vamos... Pense — o vampiro sussurrava, com cinismo e excitação, como se a tortura psicológica que aplicava em Marco fosse a melhor coisa que já lhe acontecera. — Pense.

Marco pensava, mas não era nos planos do vampiro para a dhampir, era em alguma maneira de escapar dali. E mesmo depois de pouco mais de uma semana preso ali, ele ainda não tinha conseguido pensar em nada.

— Não faço ideia — Marco resolveu dizer quando percebeu que o vampiro não sairia dali até obter alguma resposta. Ele só não imaginava que seria sincero em sua resposta.

— Você costumava adorar a inteligência, é uma pena que tenha perdido parte da sua — o vampiro sorriu mais uma vez antes de dirigir-se às escadas.



Nunca havia adorado tanto um cinto de segurança como agora, se não fosse por ele eu certamente teria voado para fora do carro com a freada que dei. Saí do carro, agora com a frente amassada pelo choque, e fique parada na estrada deserta e olhei para todos os lados procurando pelo o que tinha batido contra o veículo.

— Merda — passei a mão pelos cabelos.

A rua escura me causava calafrios, ainda mais porque eu não conseguia ver nada que posso ter causado a batida. E meu maravilhoso sexto sentido apitava freneticamente dizendo que eu deveria sair dali, mas eu não o ouviria — como sempre, diga-se de passagem. Parando na frente do carro para analisar os danos, um arrepio em minha espinha me vez olhar para o lado onde eu pude ver um par de olhos. Se eles fossem vermelhos ou amarelos ou de qualquer outra cor, eu certamente não teria ficado tão assustada.

O azul safira dos olhos do vampiro brilhou com a luz da lua enquanto seu dono caminhava lentamente até a minha frente. Alto e de porte grande, com cabelos escuros e bem curtos, queixo bem desenhado e um nariz torto, tinha também uma aura que emanava perigo e a julgar pelo número considerável de cicatrizes no rosto, pescoço e braços, ele era um rebelde. Merda dupla.

Colocando os braços para trás, tateei os bolsos em busca de qualquer arma, mas tudo que encontrei foram alguns papéis. Com amargura lembrei que tanto minha estaca quanto minha adaga estavam em minha bolsa, que, no momento, se encontrava jogada no banco do passageiro dentro do carro.

— Você me causou um belo estrago com o carro — disse com a voz parecendo calma, o que eu certamente não estava. O que, vamos encarar, é ridículo, já tinha visto e lutado com vários rebeldes antes.

— Depois que eu terminar, o carro será a sua última preocupação — o rebelde sorriu cruel, retirando uma faca do bolso traseiro da calça jeans surrada. Isso não vai ser nem um pouco divertido, recuei dois passos tentando me aproximar do carro.

— Quem mandou você? — quanto mais eu enrolasse, melhor seria. Dei mais um passo em direção ao carro, com mais um eu já estaria perto o suficiente para abrir da porta do motorista.

— Um dos grandes — o sorriso permaneceu em seu rosto, em sua voz eu pude reconhecer um sotaque levemente espanhol. — Vamos logo garota, pegue sua arma, não vou lutar com você desarmada.

— E se eu não quiser? — cruzei os braços.

— Esqueço meus princípios e te mato desarmada mesmo.

Sorri de canto depois de engolir em seco. Sempre achava engraçado quando um rebelde falava “princípios”, como se a maioria deles realmente soubesse o que é isso. Atualmente, a maioria dos rebeldes trabalha como mercenários, o que mancha toda a população rebelde já que alguns só querem uma vida afastada do mundo vampiro e mudanças no governo.

Sustentando o olhar do vampiro, abri a porta do carro e tentei continuar olhando para ele enquanto me abaixava para pegar a bolsa. Atrapalhei-me com o zíper e quando consegui pegar minha adaga, o rebelde apareceu pronto para golpear-me as costas.

— Isso não vale — chutei sua barriga com o máximo de força que pude e ergui a adaga em sua direção enquanto minha outra mão passeava pela bolsa em busca da estaca. O rebelde apoiou as mãos no teto do carro e jogou o corpo para frente, me obrigando a ficar encolhida no bando do motorista, com a adaga sempre erguida.

— É hora de brincar, boneca — ele pegou uma de minhas pernas e puxou-me com força para fora do carro, agora eu certamente tinha um ralado gigante nas costas. Trazendo sua faca rapidamente em direção ao meu rosto, levantei a adaga para impedir mais a aproximação da arma dele. É extremamente injusto o tamanho do braço do cara, a força que ele colocava no ataque não era nada legal. E ah, só para comentar, eu não gostei nem um pouco do “boneca”.

Com o chute no joelho que lhe dei, o vampiro perdeu parte do equilíbrio me dando tempo suficiente para rolar para o lado. Em pé novamente, segurei o cabo da adaga com força e parti para o ataque. Fazia muito, muito tempo desde que lutara contra algum rebelde, eles costumavam mostrar-se mais antigamente, até que veio o Segundo Expurgo e os rebeldes foram vencidos novamente, então, depois disso, os rebeldes ainda vivos resolveram ficar na defensiva e viver o mais discretamente possível, mas sempre teria aqueles rebeldes dos rebeldes que queriam ir à guerra, seja ela uma guerra fria ou não.

Sem nenhuma estratégia de ataque preparada, tudo que eu fazia era lembrar-me dos treinamentos e tentar aplicá-los, mas eu não estava me dando bem nessa, o rebelde tinha um conhecido de luta mais vasto e o empregava com uma elegância típica de um vampiro. Por duas vezes, sua faca chegou à encostar de raspão em mim, enquanto eu apenas consegui acertá-lo uma vez.

— Pare de brincar — o rebelde rosnou. Ele tinha um pavio bem curto e aquele corte que lhe dei no braço certamente não o deixou contente.

Eu já estava ficando cansada e não poderia contar com um fator natural, que seria o sol, já que faltavam horas para o amanhecer, e eu tinha total certeza de que não teria horas em meu favor. Desviei de seu ataque novamente. O que eu mais precisava, no momento, era descobrir um ponto fraco. Já posso começar a dar risada?

Enquanto o rebelde tentava me atacar por cima, eu mirei em suas pernas, e, depois de desviar novamente, ataquei sua perna direita, cravando a adaga em sua panturrilha. Gritando de dor e mais preocupado em retirar a adaga de sua perna do que comigo, o rebelde desconcentrou-se da luta e me deu chances de correr até o carro e pegar a estaca. Agora sim a luta é justa. Ele conseguiu arrancar a adaga de sua panturrilha e a jogou longe. O sangue escorria do local do corte e a sede de sangue estava presente em seu olhar. Ergui a estaca de madeira em direção a ele. O rebelde deu uma breve recuava, mas decidiu avançar, mancando.

Acredito que eu merecia um prêmio pela minha burrice, pois, mesmo estando mancando e de frente com uma das únicas armas capaz de matá-lo realmente, o rebelde conseguiu me atingir no braço, fazendo com que eu — inteligentemente — deixasse a estaca cair no chão. Em desvantagem novamente, o rebelde me deu um soco e mais dois cortes para a coleção. Ataquei em direção as suas pernas novamente e escapei de uma facada por duas vezes. Com o cansaço crescendo, decidi finalmente tomar vergonha na cara e dar o golpe final de uma vez, antes que eu me machucasse ainda mais.

Mas então eu me fiz o favor de desviar do ataque do rebelde e ir, mais uma vez, para suas pernas. Foi então que senti sua faca em minhas costas.


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