Os gemidos foram constantes. Em todos os lugares da imensa catedral estava aquele clima de morte e agonia, provindo dos presentes e da própria Hayley. Eu ainda permanecia sentado, enlaçado pelos braços maternais de Sra. Williams, até que, por fim, ela me soltou e se levantou. Eu a segui com os olhos, mas não fiz questão de continuar o trajeto, pois ela tinha acabado de parar em frente ao caixão, e pôs-se a acariciar o cadáver da filha de forma melancólica.
Abaixei os olhos aflitos, passando a observar o movimento da água dentro do copo que eu segurava. Até o líquido parecia mais ávido que minha Hayley, e isso me fez lacrimejar um pouco mais.

O caixão já estava sendo conduzido ao carro fúnebre quando Sra. Williams convidou-me a ir ao cemitério, mas minhas entranhas não iriam agüentar ver a terra engolindo Hayley, e recusei com todas as minhas forças.
- Muito bem, Arthur – ela acaricia meu ombro com um meio sorriso nos lábios. - O que acha de uma carona para casa, então?
- Não, não se incomode. Vou andando – sussurrei moído. Parecia que agora era eu quem estava morto.
- Não é incômodo algum, Gerard.
- Eu preciso andar. Por favor, não se incomode comigo.
Tentei dizer-lhe com o olhar que aquela caminhada seria definitiva para minha cura interna, e Sra. Williams sorriu, como se entendesse minhas dores.
- Então vá para casa e descanse, querido.
Balancei a cabeça despedindo-me, e saí da catedral com a imagem de Hayley cravada em todos os meus sentidos. E antes de atravessar a avenida, peguei aquele maldito copo com água e o joguei com todas as minhas forças no chão. E pisei em cima, com ódio mortal de seu movimento intenso.
Eu o fiz ficar morto, do jeito que tinha que ficar.
Do jeito que tinha que ser.