Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 20
Anotação n°19




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- Hayley... Hayley... – sussurrei.
Eu estava no ápice da minha paralisia corporal. Meus olhos eram as únicas partes de minha pessoa que se mexiam. Eles passeavam pelo corpo alvo da falecida sem acreditar no que viam, e logo não pude ver mais nada. Eles lacrimejavam de um modo que não pude conter.
Aquela mecha. Aquela mecha laranja! Era dela. Eu não conseguia acreditar.
Acariciei seu rosto gelado, sentindo as sombrias lágrimas escorrerem de mim como sangue.
- Acorda, Hayley... ACORDA! – gritei, sem conseguir conter-me. Afastei os olhos do caixão e tampei o rosto. Eu chorava sem controle.
- Arthur, meu querido... – a mãe de Hayley veio me socorrer, fazendo-me a afundar em seu colo.
- A Hayley... A Hayley!!!
Eu ensopei o vestido fúnebre da jovem senhora, pois ainda não conseguia acreditar no que tinha visto. Todos pareciam olhar para nós dois, principalmente porque eu não conseguia controlar meu choro. Sentia-me um nada. Um vazio interior fulminava-me, o que me fez entrar em pânico. A Sra. Williams me abraçou carinhosamente e sussurrou palavras de consolo até que estas me mantiveram estável.
Todos os presentes pareciam comovidos com meu estado. Vieram me abraçar, acariciar meus cabelos, dizer para eu não ficar triste... Por fim, me fizeram sentar em um dos enormes bancos da catedral e me deram um copo cheio de água. A mãe da falecida sentou-se ao meu lado. Parecia distante.
- Foi uma tragédia, Arthur... Uma terrível perda.
Eu estava com o olhar pousado na água do copo, que mexia de tal maneira que me fizera ficar deprimido. Eu continuava a ouvi-la.
- Eu te entendo, querido. Hayley era tudo pra mim. Minha menininha...
- O que aconteceu? – sussurrei engolindo um soluço.
- Foi quando ela saiu com Sebastien, ontem. Eles foram a uma lanchonete perto daqui, e, na saída... – ela começou a choramingar, e tratou de esconder-se atrás de um lenço. Eu chorei junto. Sra. Williams continuou: – Na saída houve um assalto. Deram dois tiros, e um acertou Hayley fatalmente. Sebastien levou um também, mas está a salvo.
Dentro de mim nascia um ódio mortal pelo cretino do Sebastien. Maldito cretino. Ele é que deveria estar morto.
- Eu... eu nunca pensei que isso poderia ter acontecido com ela... – observei, e vi minhas mãos apertarem o copo de modo desesperador.
Os dedos da outra percorriam meu rosto úmido pelas lágrimas. Aquilo me lembrava a Hayley, no dia da morte da minha mãe. Ela fez o mesmo gesto, e isso me fez morrer por dentro.
Meus olhos ficavam embaçados novamente, e Sra. Williams me abraçou. 


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