Notas Suicidas escrita por Pu_din


Capítulo 22
Anotação n°21




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A caminhada rumo ao lar foi uma das mais turbulentas de toda a minha vida. Eu me perdia a cada cinco minutos, pois o tráfego de pessoas vivas e inúteis deixava-me confuso e nervoso. Deixava-me perplexo com toda essa trama injusta.
Eu andava, mas não saía do lugar. Eu tinha que virar à esquerda, mas meus pés pareciam querer me levar para a direita, e com essa brincadeira eu estava andando em círculos já fazia uma hora, dentro do bosque. E já anoitecia, pra minha sorte.
- Onde é que eu estou? – sussurrava aflito, semelhante a um louco.
Adentrei em um caminho que me parecia familiar e apressei os passos, na tentativa desesperada de sair daquele labirinto sinuoso. Aquele bosque me torturava com todas as suas árvores de copas verdes e horríferas, e eu tinha terror daquele lugar à noite, sempre tive.
- Ei! Você! – uma voz masculina destacou-se de todas as outras que berravam dentro de meu cérebro.
“Frank. É o Frank”, pensei sentindo-me mais seguro no meio daquele breu.
 Mas não era.
Estava claro que não era.
Um homem atarracado e sujo parou a centímetros de meu corpo e encarou-me, sorrindo maliciosamente.
- Gostei do blusão – ele disse-me com cobiça no olhar, e passou sua mão nas escritas em latim, sentindo as silhuetas ossudas de meu peito com certa malícia. E com repulsa, afastei-o com os braços, e comecei a andar. Logo o medo me fez tremer de maneira ridícula, então escondi meus dedos vacilantes no bolso do moletom.
- Ei, volta aqui! – ele segurou-me pela toca. – Não tá a fim de me dar esse casaco?
- Vai se ferrar, cara! – apressei os passos, quase correndo. Aquele bosque parecia não ter fim. O meu medo parecia não ter fim.
O sujeito pulou em minha frente e impediu minha passagem.
- O que você falou???
Meu Deus! Como sou cagão!
- Nada, cara. Vai embora! – tentei passar, só que seus dedos nojentos se prenderam em minha fivela da calça, e eu os empurrei com um ódio mortal.
- Dá logo essa merda, cara!
- Não! – berrei, encarando-o.
Nesse ponto eu deveria ter me censurado. Eu deveria ter entregado o moletom e ficar de boca calada. Mas não, eu sou um cagão metido a valente. Eu me odeio.
Nesse instante, o cara me agarrou pelo casaco e me deu um soco na face e na barriga que me dobrou ao meio. Depois, me deitou perto das árvores submergidas no bosque e chutou mais de sete vezes meu estômago, me roubando o sangue e o cobiçado moletom negro.
- Até logo, idiota!!!
Só ouvi seus passos surdos se afastarem de meu corpo inativo, e mergulhei na escuridão.

Apaguei.


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