Estava acordada e não estava ao mesmo tempo, vozes flutuavam em sua mente, indo e vindo. Não enxergava nada, mas não estava inconsciente de todo. Pensava estar ouvindo algumas vozes mas não sabia se eram reais. Sabia que não caíra ao chão, mãos a haviam amparado, e braços a carregaram para algum lugar mais confortável. As vozes se tornaram mais confusas mas conseguiu distinguir algumas frases... “E agora, o que você vai fazer com ela?”. “Ela não foi feita para isso, William. É melhor deixá-la”. “Não, eu sinto que ela tem algo grande pela frente”. “É por sua conta e risco, agora, você sabe”...

Depois o silêncio, reconfortador, e então Marian sentiu um líquido quente, viscoso e enjoativo sendo colocado entre seus lábios, e alguém ordenando que bebesse. Ela tentou, mas sentiu náuseas, tossiu um pouco. Tentou rejeitar o líquido, mas forçaram-na a beber.

Sentiu o líquido escorrer por sua garganta, engasgando-a, e fazendo o seu interior arder nos primeiros instantes. Depois, porém, ela sentiu uma descarga instensa de adrenalina disparando seu coração, sua mente e seus músculos. Marian se sentiu intensamente viva, o pulsar de seu coração ecoava como tambores ao seu redor. Ao mesmo tempo, sentiu uma raiva surda por tudo que acontecera em sua vida tomando conta de si. Não existia nada além da raiva. Ela tentou se sentar, abriu os olhos, e o mundo estava vermelho, cheio de vultos, envolto em uma névoa de sangue. Sentiu que mãos a seguravam, tentando prendê-la onde estava. Lutou para se libertar, mordendo, arranhando, rosnando. Nunca antes sentira aquela fúria animalesca dentro de si, mas ela pressentia que ela sempre estivera dentro dela. A bebida de alguma forma a despertara.

Vozes longínquas a alcançaram.

"Cuidado, William, essa é feroz mesmo!"

"Ela não está bebendo demais...?"

Aos poucos a raiva e a fúria foram deixando seu corpo e mente, deixando apenas o calor e uma espécie de força latente.

Depois disso perdeu mais uma vez a consciência e entrou novamente no mundo escuro do sono.