Vitória escrita por Ephemeron


Capítulo 5
ENTRE OS DEUSES E A HUMANIDADE




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Who wants to live forever

There's no time for us

Não há tempo para nós

There's no place for us

Não há lugar para nós

What is this thing that builds our dreams

And slips away from us?

O que é esta coisa que constrói nossos sonhos

E desliza para longe de nós?

Who wants to live forever?

Quem quer viver pra sempre?

There's no chance for us

Não há nenhuma chance pra nós

It's all decided for us

É tudo decidido por nós

This world has only one sweet moment

Set aside for us

Este mundo tem só um doce momento

separado para nós

Who wants to live forever?

Quem quer viver para sempre?

Who dares to love forever?

Quem ousa amar para sempre?

When love must die?

Quando o amor deverá morrer?

Oh! Touch my tears with your lips

Oh! Toque minhas lágrimas com seus lábios

Touch my world with your fingertips

Toque meu mundo com a ponta dos seus dedos

And we can have forever

E nós podemos ter eternamente

And we can love forever

E nós podemos amar pra sempre

Forever is ours today

O pra sempre é nosso hoje

Who wants to live forever?

Quem quer viver pra sempre?

Who wants to live forever?

Quem quer viver pra sempre?

Who waits forever anyway?

Quem espera pra sempre, afinal?

As nuvens tinham textura de algodão e orvalho. Seu frescor cobria minha pele e a cada nova investida gargalhávamos alto. Éramos jovens, e a juventude é normalmente ingênua, e assim era naquela época.

Eu, minha irmã Diké e meu irmão Hermes. Três aterradores adolescentes voando pelos céus olímpicos. Calcular a ousadia de nossos atos era absolutamente impossível.

De vez em quando, Zeus nos repreendia pela gritaria e as brincadeiras que fazíamos com os outros seres encantados. Sabíamos de seu poder, de sua firmeza, mas também que ele fazia aquilo apenas para não perder o costume de nos atormentar.

Eu sempre respeitei a todos, apesar da minha intensa curiosidade em saber até onde iam os reinos de nossos pais. Assim como os limites de nosso poder.

E foi em uma de minhas aventuras solitárias por entre os reinados que o vi pela primeira vez. Talvez ele fosse mais velho do que eu, mas não tanto. Sua beleza radiante era suficiente para que eu esquecesse completamente que nas minhas veias também corria o sangue dos mortais.

Nossa paixão aterradora espantou até mesmo Eros, que custou a acreditar naquilo como algo normal. Eu estava cega demais para perceber o que realmente estavam fazendo comigo.

Então explodiu a primeira Guerra Santa e a caixa de Pandora foi aberta. E eu conheci a dor, a tristeza e soube que o que eu sentia por ele não passava de uma emoção superficial.

Porque eu vi o que o ser humano é capaz de fazer para proteger sua vida. Eu vi o que um mortal pode mudar através do que era chamado amor.

A partir deste dia, o mundo que eu conhecia começou a ruir.

CAP IV

Entre os deuses e a humanidade

Por ser a Vitória, eu sei que deveria estar ali. Mas eu não queria. Não daquele lado da batalha, pelo menos. Eu gostaria de estar ao lado deles. Eu gostaria de ter sido forte o suficiente para poder protegê-los.

Mas como os proteger de nós mesmos?

Apolo divertia-se enquanto carbonizava alguns soldados rasos. O cheiro de carne queimada invadia meu estomago, sentindo um nojo jamais imaginado. Enquanto isso, Hades gargalhava de toda a situação e Athena, tão criança ainda, perdia-se chorando entre os corpos mortos.

Jamais imaginei tanta crueldade em um lugar. Jamais imaginei que ele seria capaz de tal coisa. O astro rei deveria aquecer as pessoas, deveria ser para elas um ícone de força, mas também de compaixão. Apolo era impiedoso. Doente.

E eu que não tinha sequer experimentado o que era o amor, passei a sentir o que era o ódio.

Um choro estridente e interminável cortou o ar. Um único olhar para saber que Apolo terminaria com aquele incômodo no próximo segundo.

O que ele vê em seguida, no entanto, não é o pequeno infante queimando até os ossos. Mas uma cascata de cabelos dourados como o sol que ele representava. Eu me colocara na frente do menino.

- O que pensa que está fazendo?

- O que você não é capaz de fazer.

Meu corpo estava recoberto com um fino vestido de linho, agora chamuscado nas bordas devido à forte energia do deus. Ele sorriu delicado, cinicamente delicado para mim. E quando o vi sorrir assim, percebi que eu não passava de um brinquedo para ele. Um brinquedo que, enquanto ele tivesse sairia vitorioso de qualquer luta que se envolvesse.

Eu não seria brinquedo de ninguém.

- Mulher, o que pensa que está fazendo?

Poseidon, em toda a sua imponente presença, chegava com outros deuses. Não saberia mais dizer se meu corpo tremia de medo ou de raiva. Mas eu não mudaria minha decisão.

Os olhos, que hoje são tão inexpressivos, naquele momento estavam repletos de lágrimas. Lágrimas que teimavam em não cair. A criança estava em silencio atrás de mim.

Diké me olhava... Um crescente pavor estava em seu peito – eu podia sentir. Mas aquele era um passo que só eu poderia dar. Ela era a justiça, ela era correta... Aliás, não havia certo ou errado para minha irmã. A Justiça é. E somente é. As leis não poderiam ser revogadas.

Mas eu. Eu sou a Vitória. E a Vitória cabe àquele que eu der. Mas a Vitória tem um preço.

O preço daquela atitude seria minha liberdade.

Eu aperto os lábios quando sinto uma pequena fisgada em meus dedos. A criança me mordera e corria assustada ante aquela reunião de seres poderosos.

Muito provavelmente a surpresa dos deuses em me ver protegendo-a foi maior do que a vontade de matar o pequenino. Já a minha surpresa foi o pequeno ter conseguido me ferir, mas não cheguei a pensar nesse assunto nem por um minuto.

Os olhares recaiam sobre mim como se eu já tivesse sido julgada.

Apolo vem ao meu encontro e sinto sua mão, que antes acariciava o meu corpo com tanto carinho, dar um tapa em meu rosto. E as lágrimas caem.

Eu também não sabia. Mas acabara de salvar aquele que seria o primeiro mestre do Santuário Ateniense.

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- Eles não deviam ter medo de nós. Apenas respeitar-nos, mas jamais ter medo.

Concordei em silêncio. Apesar de entender que temíamos os deuses por seu poder tão maior do que nós e não por qualquer ato sádico como o que ela descrevera. Mas algo me intrigava mais que tudo:

- É difícil para eu acreditar que aquele menino franzino conseguiu agredi-la. Não é surpresa que tenha se tornado um guerreiro.

Mesmo que pasmo pela narração, ainda conseguia controlar os sentimentos a ponto de questionar-lhe sem ter a voz entrecortada. Aqueles olhos então observam os meus e por um segundo prendo a respiração.

- Vocês têm uma força incrível e a maioria dos humanos não sabe disso. Podemos ser imortais, Mú, mas não vejo vantagem nenhuma nisso.

A frieza característica dela caiu por terra. Trazer aquelas lembranças era como cortá-la por dentro. E eu não sei se eu agüentaria vê-la assim...

- Deuses não podem amar para sempre... O ser humano sim, ainda que não mais nesse mundo.

Sua voz tinha um quê de amargura.

- Mas, Niké, você tem sangue dos mortais....

Ela sorri triste. E vira-se seguindo pela escadaria.

- E é por isso que sou capaz de amar ainda.

Nós dois não teríamos coragem de nos encarar naquele instante.

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Depois daquele episódio, passei a ser tratada como uma desertora. Claro, nem todos os deuses me escorraçavam de seus templos... Contudo, não sei se a dor de ser ignorada por eles era menos pior do que os ferimentos causados pelos enérgicos.

Por muitos anos os deuses brincaram com meus sentimentos e eu aceitei o fardo sem reclamações. Durante eras a Vitória não era dada de bom grado, mas sim imposta... Obrigada... Forçada a ficar com eles. Eu tinha cicatrizes no corpo e na alma. Mas não me importava.

Eu tinha a humanidade para me lembrar das coisas boas. Hermes tentou me persuadir a desistir daquela idéia insana, mas Diké – ao contrário – me auxiliava com tudo.

Uma vila. Um pequeno vilarejo para os excluídos. Tudo o que a humanidade considerava imperfeito. Tudo o que o Olimpo considerara impuro. Eu os acolhia.

Num longínquo terreno, fora dos limites dos principais deuses. Ali eu criara o refugio. Ali eu os escondia do olhar aterrador da verdade. E os protegia, e os tratava como iguais. E era feliz. Tão imensamente feliz que não pensava nas conseqüências para mim.

Ah! Se os resultados de minhas ações fossem afetar somente minha existência...

Eu acabava de retornar do templo de Baco, ele costumava falar que eu dava sorte em seus jogos. Nunca me incomodei exatamente com ele... Na verdade, ele me fazia rir. As companhias que ele tinha, no entanto, conseguia fazer com que eu me sentisse a pior das criaturas.

E naquele dia, especialmente, eu saia de lá tão humilhada que só desejava poder chegar ao vilarejo e repousar em meu rústico templo.

Estava silencioso demais. E meu maior erro foi aceitar aquele silencio como um presente para minha dor. Porque não era. Era o início do meu pesadelo.

Mal pisei no recinto de mármore e senti alguém me arrastando pelos cabelos e o impacto da pilastra em minhas costelas. Eu não tive como reagir. Eu não podia reagir. Ele era forte demais.

- Você achou mesmo que tudo tinha acabado? Sua ingenuidade comove, Niké. Sua fraqueza é incrível.

Minha nuca foi puxada para traz, fazendo-me focar aqueles olhos azuis. Aqueles olhos de demônio. Eu tentava agarrar suas vestes e não conseguia. O simples toque dele sobre minha pele queimava. Literalmente.

- Acreditou mesmo que te deixaria impune. Que te deixaria livre. Tola. Eu só quero te fazer sofrer. E pra isso eu precisava deixar você ser feliz.

Minha boca é tomada pela dele, numa ânsia sem limites. Sinto o gosto de sangue e meu corpo dói ao ser lançado ao chão. O vestido é rasgado em pedaços e pulverizado... Gritar por socorro parece prudente, mas a única coisa que faria seria liberar toda a minha agonia.

- Esqueça. Está vendo isso? Está vendo?

Largada no chão, ele segura meu braço com força capaz de quebrá-lo e me “apresenta” um escudo. Sinto meu joelho estalar com a pancada.

- Isso é sua querida irmãzinha, Niké. O mundo não precisa de justiça. O mundo precisa de força.

- Nããããooooo! Dikééé!

Ele havia lacrado minha irmã em um escudo de ouro e me pergunto em desespero o que ele teria feito com Hermes. Minha fúria dá forças para me levantar. Seminua avanço para Apolo, o cosmo renovado e sedento. É claro, já que eu aceitava a dor pelo que fiz enquanto protegia o que me era mais caro... Ele me tiraria o restante.

E ali eu descobri então. Eu poderia gritar com a voz das musas. Ninguém viria em meu auxílio.

E Apolo era forte demais. Demais pra mim naquele tempo. E eu me arrependeria por cada segundo da minha vida em suas mãos.

Ele me pega pelo pescoço. Com algum custo eu ainda consigo cuspir em seu rosto. Ele sorri.

- Estava me perguntando se seria tão patético. Mas pelo visto, terei alguma diversão.

Sinto seus dentes sobre meus ombros. Sinto seu corpo pesado no meu. Por algum tempo ainda tentei me desvencilhar de seus braços. Interminável eram as horas com ele a me torturar, a me violentar...repetidas vezes.

As pilastras ficaram destruídas por tanto ele bater em meus ossos. Meu corpo ficou marcado por suas mãos e mordidas. Sua força me rasgava por dentro. Sua ira caia sobre mim.

O Olimpo escutou meus gritos e não me socorreu. E Apolo arrasou o que um dia foi a deusa em mim. Nenhum deles jamais sentiria novamente o sabor da Vitória. A época de resignação havia terminado.

Ele me deixou no meio da pedra fria que um dia foi meu trono. Não sei quanto tempo demorei a recobrar os sentidos.

Mas eu preferia ter morrido. Todos sabem... Todos sabem... Como foi grande o meu desejo de ser reles mortal. Como foi intenso o meu querer jamais viver. O quanto foi duro poder amar aqueles tantos que protegi. Porque eu os perdera. Para sempre. E sempre era longo demais para mim.

Arrastando-me entre os escombros do templo eu achei que a névoa era resultado das pancadas em meu rosto. Mas era fumaça.

A vila estava completamente destruída. Consumida pelo fogo de Apolo. Todos estavam mortos. E eu não consegui protege-los. Não consegui fazer nada. Com todo o meu poder, com toda a força que eu possuía. Meus sentimentos me traíram.

E eu chorei. Eu não tinha mais vergonha. Eu não tinha mais família. Eu nunca tive. Eu não tinha mais nada.

Eu não tinha nada a perder.

Algo mudou em mim quando me dei conta disso. Algo que transformou toda a razão de meu ser. Nua em pêlo e ensangüentada caminhei por entre o que restou do meu sonho.

O cabelo grudava nos ferimentos. Agora ele estava negro. Negro como o breu. Como o vazio que ficou em mim e como o ódio que eu alimentava.

E deixei o que restava de minha alma para trás.

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O coração estava acelerado. Eu não conseguia conceber a idéia de que toda aquela história era verdadeira. Meus punhos cerrados, uma raiva dentro de mim que se alargava a cada instante.

- Por muitos dias eu vaguei entre os reinos do Olimpo. Tentando encontrar um rumo e reunindo forças para o que viria a seguir.

- O medalhão.

Ela havia parado mais uma vez para continuar a contar a história. Calculei que ela não conseguiria continuar caminhando placidamente enquanto contava fatos tão profundos de sua vida.

O peito dela arfava e minha impressão é que ela explodiria em lágrimas a qualquer instante. Mas imagino que séculos de prática a tenham deixado fria como o mármore ao nosso redor.

Eu tinha que fazer um imenso esforço para que não invadisse os pensamentos dela, muito menos realizasse qualquer pergunta que denotasse meu sentir ali.

Como ninguém nunca protegeu aquela mulher? Será que nesses anos todos ela seguiu sozinha seu caminho? Não... Acredito que não. Aqueles a quem ela protegia na vila do lado da Terra eram companheiros, porém... Porém, seus passos eram solitários, pois ela assim queria.

Afinal, eles obrigaram àquela mulher a nunca mais sentir. O medalhão cravava cada sentimento que ela já nutriu na vida.

- Hefesto estava a minha espera. Você deve saber sua história, Mú... deve saber que ele também foi exilado por seus defeitos físicos. Porém, Zeus foi caridoso com o irmão... Ele ainda poderia permanecer no Olimpo, ainda que isolado.

- Ele não ajudou você? Não fez nada a respeito, não lutou para te libertar?

- Lutar? Ah, não... Nenhum de nós tinha forças para tal ato, caríssimo.

O semblante de Niké fez um esforço monumental para permanecer gélido. Mas não teve tanto sucesso dessa vez e a amargura ficou evidente em sua voz:

- Mas o que os deuses não nos deram em força, nos deram em inteligência.

A este ponto eu estava completamente embasbacado pelos sacrifícios que ela teve que passar para chegar até ali. No momento que ela disse essa frase eu pude entender todos os movimentos que ela fizera... Tudo eram redes para que, enfim, ela pudesse estar pisando naquele solo novamente.

Fiquei me perguntando se eu era parte dessa rede também, ou se talvez fosse algum nó inesperado.

- Seu poder. Sei que o prende aí dentro. Não sei se o que você sofreu antes te preparou para a dor de trancá-los nesse medalhão.

Ela voltou a andar. Na fuga da deusa, alguma coisa mudou dentro de mim. Perceber que eu poderia ser algo além do previsível, que eu fugia dos planos dela, pois para que ela contasse todos os fatos para mim daquela forma sutil, eu só poderia estar fora dos seus desejos.

Ou exatamente dentro deles.

Uma coragem inesperada me tomou de súbito. E eu toquei seu braço, a segurando.

- Eu posso tirá-los.

Os olhos dela pousaram nos meus, e eu pude lembrar da primeira vez que os vi. E ela entendeu, e a candura de sua expressão minou todas as minhas forças. Eu só queria poder tirar esses sentimentos...

- Não. Não pode.

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- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!

A dor era lancinante. A dor. A dor. A dor.

- Continue! Mais! Vá, além disso! Você tem que alcançar!

Parecia que a pele saia de minha carne. Parecia que meus ossos eram esmigalhados. Mas não, era pior. Era minha essência mais pura, era toda a minha vida, que estava sendo retirada de mim.

À força.

E eu concordava com isso.

O vulcão de Hefesto estava prestes a entrar em erupção. Mas era necessário terminar. E quando eu achava que não agüentaria mais, lembrava-me do rosto dos mortos, lembrava-me do cheiro da carne putrefata, da violência que me submeteram por causa dos meus sentimentos. Eu não seria fraca mais. E meu cosmo alcançava níveis mais altos.

Mais altos. Os gritos eram mais altos. Hefesto parecia não se importar, mas eu estava errada. Ele era o que mais se importava, e era essa a razão por fazer eu me sacrificar tanto. Ele também não tinha nada a perder, de fato, ele só ganhou. Ganhou uma aliada.

- Como está se sentindo?

Com muito cuidado, senti-o passando um pano úmido em meu rosto. Não sei quanto tempo fiquei dormindo. Eu não sabia mais nada.

- Oca.

- Acredito que isso seja o normal para essa situação. Você vai ficar bem.

Por alguns dias ele cuidou de mim, como a um irmão. Treinando meu novo ser, para uma nova vida, para um novo desafio. Eu desejava mais que tudo poder me vingar. Porém, não da maneira convencional.

A Vitória não é convencional. Surge dos locais mais inesperados.

E enquanto eu e minha irmã estivéssemos distante dos deuses, eles não poderiam fazer muito contra a humanidade. Como eu não sabia como trazer Diké de volta, ou onde Hermes estava... Eu teria que saber me proteger. Pois eles teriam apenas a mim.

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- Mas acontece que meu poder estava encerrado em um pedaço de ouro e pedras agora.

E só então percebi que ninguém havia efetivamente atentado a esse fato. Ninguém sabia que o medalhão era que encerrava o maior trunfo de Niké: a Vitória. E agora, que eu havia restaurado o objeto...

- Agora eu tenho como confrontar meu destino.

O destino da deusa não era a vingança, como vocês podem estar imaginando e como imaginei naquele momento. Ah, não. Ela só queria o que todos queríamos.

Durante anos eu me questionei o porquê eu havia nascido em um local onde todos eram... Diferentes. Desde minha infância eu fui treinado, talvez em nenhum momento eu tenha realmente vivido para sentir alguma coisa. Era uma máquina de construção, reconstrução, guerra.

Ainda que tivéssemos um grande coleguismo, os companheiros dourados nunca foram bons em relacionamento. Ainda mais com alguém como eu... Tão diferente.

Após a morte de Shion, as coisas passaram a piorar e a única pessoa pelo qual eu pude ter algum carinho foi por Kiki. A criança da mesma raça – os descendentes de Hefesto, como Niké chamava – que eu e que teria, até então, a mesma sina. A solidão.

Ah, mas então eles chegaram. Eles, os irmãos cavaleiros. Os verdadeiros Santos de Athena. Porque eles sim proveram milagres, e o único motivo pelo qual eles puderam fazer isso foi o amor que nutriam uns pelos outros... E pela humanidade. Foi isso que nos fez derrotados na primeira batalha. Foi isso que nos fez vencedores nas próximas, pois nos libertamos para a vida.

A Vitória esteve ao lado daqueles que amavam a humanidade, cuidavam dos excluídos, conquistavam o que parecia impossível.

E assim descobri porque nasci nesta era. Não era sina nenhuma afinal. Era um dom. O dom de criar, recriar... Proteger.

O derradeiro degrau chegara. Ela ficou completamente imóvel. Percebi suas forças esvaindo-se por conta de tantas lembranças logo antes de tamanha decisão. Ela deu um suspiro profundo, possivelmente tentando controlar-se para não ser fraca perante outros deuses.

Ao lado dela, percebendo todas aquelas nuances novas de um mesmo sentimento... Eu enfim consegui olha-la nos olhos sem medo ou compaixão. Eu respeitava Niké como nunca o fiz a outro.

Então segurei sua mão sutilmente, percebendo o que aquele ato causou na rede que a deusa criara para si.

- Você não está mais sozinha.

Ela fechou os olhos. Foram poucos segundos que ela ficou assim, sendo cuidada por mim. Mas foram suficientes.

Logo seu cosmo aterrador estava se espalhando, e entendi o sinal. Era chegada a hora de enfrentar aquele medo ferrenho. Também me preparei, a minha maneira e como podia se preparar um mortal diante daquela situação.

E há algo que posso afirmar: existe uma diferença imensa entre simplesmente saber sobre as humilhações sofridas... E vivê-las.

- Além de a pequena rata ter a audácia de pisar aqui novamente, ainda traz um carrapato mortal com ela...

E eu não estava preparado para o que viveria.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Bom, não saíram 5 capítulos em um mês, como eu queria... Y.Y Mas até que saiu um bem bacana! E outros virão em breve, porque tenho trechos e mais trechos escritos soltos.

Fico feliz que o pessoal esteja lendo e gostando da fic! Aguardem novas surpresas na história!

Abraços,

Ephe-chan



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