Absinthe escrita por Moira Kingsley


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Dias atuais...



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O local, tirante a verde estava salpicado de cores diversas. Como uma arte abstrata. O sol ainda estava a pino, todavia, poderia se ver lâmpadas apagadas enroladas em grandes árvores ao redor da comemoração. A brisa era branda e tranquilizadora, arrastava folhas secas do bosque mais majestoso do mundo. As estrelas de Ártemis estavam armadas e vestidas com suas armaduras, pois aquele era um dia de comoção. Elas conversavam entre si, como irmãs. Movidas por diferentes personalidades, mas ligadas de uma forma fraternal e guerreira.

Sátiros, ninfas e musas eram organizadas. Enquanto as musas eram responsáveis pela música, as ninfas enfeitavam e adornavam. Os sátiros... Bem, eles eram a alegria da festa. Com seus narizes achatados, grossos lábios e chifres na testa contavam piadas medíocres fazendo as musas rirem. A chegada da alvorada, tudo estava em perfeita ordem e sincronia. Aos poucos os convidados compunham a celebração. Deuses menores, olimpianos e semideuses manifestavam-se no dia de regozijo com embrulhos multicores nas mãos.

Thalia Grace. O motivo de tamanha festividade vinha de sua nova vida como imortal graças ao pacto com Ártemis. A menina, filha de Zeus, até tentou rejeitar a proposta feita por sua tia mais enxerida, porém, seu pai a fez aceitar o pedido, defendendo que a imortalidade pedia uma festa e principalmente porque ela era sua filha e queria dar um tipo de comemoração a ela como um meio de remissão de culpa por não tê-la declarado antes como sua descendente direta.

No mesmo dia, a deusa da caça iria integrar mais uma companheira em sua constelação de caçadoras. Seu nome era Natalie. Uma pequena ruivinha filha da deusa do amor. O que era excepcionalmente maravilhoso, já que filhas de Afrodite eram uma raridade em seu bando e só o fato da deusa se afogar em prantos por perder mais uma filha para a caçada, fazia-lhe cair na gargalhada.

Os deuses olímpicos trajavam coroas que evidenciavam suas divindades. Ártemis estava à frente em uma espécie de portal, a fachada para o júbilo, usando uma coroa de estrelas prateadas, coturnos, calça e blusa pretos. Ficou a conversar com Atena, vestida cotidianamente de branco, trazia como vestuário um vestido que batia aos seus joelhos, lembrando sempre uma executiva e sua coroa de mirto sobre seus cabelos presos. Conversavam avidamente sobre um modo de tornar os humanos mais conscientes em relação ao meio ambiente, enquanto davam as boas vindas para os demais convidados que passavam por lá. Até certo ser marinho aparecer e começar uma tola briga sobre ela ter a petulância de humilhá-lo na frente de todos na última reunião no Olímpo.

- Não preciso ter o trabalho de te humilhar, meu caro. Você tem o dom de fazê-lo sozinho. – Falou de um jeito irônico.

- Ora, onde está sua sabedoria agora, Atena? Tem a imprudência de desacatar a um dos Três Grandes? Deveria ter mais respeito! – Exclamou o bronzeado deus.

- Ah, é claro. Onde estão meus modos? Vou ser mais cordial com o senhor... – Disse-lhe com um tom de voz cheio de remissão. -Sabia que está lindo hoje?

- Pena que não posso te dizer o mesmo, se ao menos vestisse roupas mais boni-...

- Faça como eu, minta! – Interrompeu com insolência arrancando risadas de quem estivesse perto. O que poderia ser muita gente, relativo ao fato de todos adorarem as costumeiras picuinhas do casal.

Posseidon tinha replicado, mas Ártemis já não poderia mais ouvi-lo, pois estava, à francesa, fugindo do casal. Era simplesmente cansativo escutá-los destoar um ao outro, apesar de ás vezes ser divertido. Só por educação, fora trocar algumas palavras com seu pai e Hera. Eram família, mesmo achando-os os mais esnobes. Hera tinha seus enigmáticos olhos esmeralda olhando ao redor com desdém e Zeus emitia um sorriso natural, mas nunca afastava sua face boçal. Ártemis o respeitava e, por ela e Atena, Zeus fazia de tudo para agradar. Ao contrário de sua irmã de olhos cinza, Ártemis não tinha tamanha cega admiração por seu pai, entretanto, apreciava suas tentativas de construir uma família perfeita que o Olimpo, infelizmente, nunca seria.

Exemplo de sua benevolência perante ela foi o trágico fim de seu romance com o caçador que hoje está nas estrelas. Instantaneamente, a deusa levantou a cabeça, procurando Oríon. Após a terrível briga com Apolo, Ártemis foi correndo ao seu pai. Implorou que ele fizesse algo.

Aquela foi a primeira vez que Zeus a viu chorar.

E o que ele poderia dizer? Ártemis era sua filha, ela o culpava por tudo o que ocorreu no nascimento dela e de seu irmão, ele queria ficar bem na fita com ela. Então, permitiu que o caçador habitasse o céu como estrelas para que quando a filha olhasse a noite sempre se lembrasse dele. Depois disso, com nada mais que aflição acompanhada de opressão e tristeza, Ártemis fez seu juramento. Fez por vingança, por amargura. E fez na frente de todos.

Aproveitando-se de uma assembleia dos deuses, a deusa se lembrava como se fosse há pouco tempo. Zeus falava de tolices que ninguém realmente ouvia até mesmo Atena, que ficava a direita do deus dos deuses, estava mais entretida na sua guerra muda com Posseídon. Eram, olhos estreitos um para o outro e bocas se mexendo. Bem, Ártemis não sabia ler lábios, porém, achava que eram xingamentos. Não poderia ser outra coisa, certo?

Enquanto Zeus puxava o ar para continuar seu monólogo tedioso, a deusa da luz lunar levantou a mão em um gesto de pausa. Com um sorriso fraco, mas com olhos sérios falou:

- Perdoe-me, meu pai, mas poderia interrompê-lo? – Primeiro todos a olharam. E quando se diz todos, quer dizer, até mesmo o ser que estava até aquele ponto apagado, mas ao ouvir sua voz seu olhar se acendeu. Mas era isso o que Ártemis queria, que ele estivesse bem atento as palavras que iria proferir.

- Mas, Ártemis, agora que estava no ápice do comunicado... - Resmungou com notável irritação.

- É de extrema importância. Poderia falar agora, papai? – Ela soube como driblá-lo direitinho. Com um aceno, Zeus assentiu e em resposta Ártemis deu o sorriso mais doce que pode fazer, tirando um suspiro alto de alguém que não viu. A deusa levantou-se. Estava do lado de Héstia, tinha pedido desde o acontecido na Ilha de Delos que Deméter troca-se de lugar com ela, pois não suportava olhar para Apolo naquele tempo. Ela aceitou, até com muito bom grado, por sinal.

Iniciou com passos nobres a sua caminhada até o centro da Sala dos Tronos. Olhou para seus pés, pensando nas palavras certas e disse em alto e bom som:

- Eu, Ártemis, Deusa da Caça e da Serena Luz Lunar juro, perante o Rio Estige... eterna castidade.

Burburinhos invadiram o local. Podia-se ouvir uma Atena com sorriso de alegria vindo a abraçar como todos os outros dizendo:

- Muito bem, irmã!

- Que orgulho, minha filha. – Zeus estampava um sorriso satisfeito.

- Ah, você também Ártemis? – Perguntou Posseídon a olhando como se ela fosse um alien.

- Acho que isso pede um brinde, não é? – Disse Dionísio que não perdia uma chance de beber.

Ouvia todas as opiniões de seus tios e irmãos. Ela não queria, todavia, sentiu falta de alguém. Puniu-se por isso, mas até aquele dia não falava uma sílaba com Apolo e isso a trazia saudades. Esticou o pescoço a fim de vê-lo, queria saber sua reação, mas não estava mais lá.

Despediu-se do pai e da madrasta e foi em direção a Thalia. Ela estava a conversar com seus amigos semideuses. Os famosos Percy e Annabeth estavam de mãos dadas. Uma cena de sincero amor. Nunca o teria. E Oríon estava no céu para lembrá-la disso.

Um ronco de motor já bem conhecido por todos que estavam ali foi ouvido. O conversível vermelho voador, um Maserati Spyder, brilhava intensamente como o sol. Aquilo simplesmente veio voando do céu e estacionou perto de onde suas caçadoras estavam.

Um sorridente Apolo mostrava seus dentes brilhantes e um olhar especialmente sexy para as caçadoras que deram risinhos histéricos e escondiam suas bocas com a mão. Era inadmissível! Ártemis marchou de encontro às meninas desistindo de falar com Thalia. Seu olhar foi o mais felino possível.

- Como vão meninas? – Perguntou Apolo se aproximando e passando as mãos em seus cabelos vagarosamente. Ártemis estava a um metro atrás dele e quando as risonhas garotas perceberam isso, de súbito pararam. Algumas olharam para o chão meio coradas, outras desconversaram, fingindo estar falando uma com a outra sobre alguma piada e outras...bem, outras saíram de fininho mesmo.

- O que houve? – Apolo falou com os braços levantados. Ártemis pigarreou. – Ah... Entendi. – Deu de cara com o motivo. – Olá, irmãnzinha. – A deusa revirou os olhos.

- Não sou sua irrmãnzinha, Apolo. E quantas vezes eu já disse para você parar de azarar as minhas caçadoras?

- Hum... Quatro mil duzentos e oitenta e... Cinco vezes. Contando essa. – Falou divertido, pondo sua coroa de louros nos cabelos escuros.

Foram milênios aturando suas tiradas sem graça e sua companhia, pois todos, inclusive os mortais, achavam uma “gracinha os dois juntos”. Eram comemorações um ao lado do outro, oferendas para os dois, festas em homenagem a ambos e Ártemis nunca pôde fazer uma apresentação de arco e flecha solo. Apolo tinha que participar. Somando tudo, era impossível ela jamais conversar com ele novamente. Mas no que as pessoas são boas? Adaptação.

- Bem, se você continuar com gracinhas para cima delas eu mesma vou fazê-lo desaprender a contar. – Disse-lhe com cinismo na voz e se afastou para o lado das garotas. - Caçadoras, está na hora. Aprontem seus arcos. O ritual de passagem vai começar. – Falou soando austera.

As musas pararam a cantoria de dança, fazendo as pessoas da pista improvisada no bosque sentarem nas cadeiras brancas do local. Tambores reinaram incessantes, sinalizando o inicio da cerimônia. Ao centro, as caçadoras se dividiam entre o lado esquerdo e direito, formando um caminho, levantando os arcos com flechas em chamas.

- Hoje, as caçadoras serão apresentadas a uma nova estrela. Natalie Hills, semideusa, filha de Afrodite, a Deusa do Amor e da Beleza, apresente-se! – Bradou Ártemis em uma espécie de pedestal que ficava a frente de todos.

A garota de cabelos ruivos era parecida com a mãe, porém suas sardas eram bem mais visíveis e numerosas do que as da deusa. Estava trajada de armadura e seguia o caminho feito pelas caçadoras com nítido nervosismo. Parou a chegada da última dupla de arqueiras que compunham a reta.

- E-eu, Natalie Hills, filha de Afrodite, a Deusa... - Teve que parar quando ouviu um choro esganiçado e dramático de uma deusa vestida com um decotado vestido lilás e coroada de rosas nos cabelos rubros. Olhou para a mãe com um careta e continuou:

-... .A Deusa do Amor e da Beleza, juro solenemente, submeter-me à Deusa Ártemis. Abandono a companhia dos homens, aceito a virgindade eterna, e me junto a caça.

- Aproxime-se, novata. – Sussurrou Thalia, que estava ao lado de Ártemis. Natalie o fez e perante a deusa, ela se ajoelhou. Thalia deu um arco e a aljava cheias de flechas à Ártemis. A garota ruiva se levantou e entregou-lhe o arco e aljava com um movimento delicado.

- Seja bem vinda. Agora, Natalie, você é um caçadora. – Falou de modo gentil. Ao mesmo tempo, Thalia gritava um “preparar, apontar, fogo” e as flechas iluminavam o céu noturno. Depois as demais caçadoras riam e davam boas-vindas a nova integrante com entusiasmo. Porém, por trás de todas as risadas a mamãe Afrodite se afogava em lágrimas cômicas, ao mesmo tempo em que Ares e Hefesto tentavam acalmá-la. Ártemis não conseguiu segurar seu sorriso de vitória.

As comemorações seguiram, com dança e muitas risadas. Seria uma noite perfeita se Apolo não tivesse estragado tudo. De novo.



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Notas finais do capítulo

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