Absinthe escrita por Moira Kingsley


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Ai, eu vou chorar aqui! Sério, meus olhos estão marejados. Muitíssimo obrigada pela sua recomendação, Paula. Meu coraçãozinho cresceu como o do Grinch no final do filme! Esse capítulo é para você!



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– Ah, não! Eu não acredito nisso! – Gritou indignada a deusa da sabedoria cuspindo a bebida que estava em sua boca. – Dionísio, seu mentecapto, você batizou o ponche? – Bramiu ao irmão que tentava inutilmente conter o riso travesso. – Tem crianças aqui, seu delinquente, elas não podem beber isso.

Mas era tarde demais. A intoxicação alcoólica já tinha se proliferado na maioria dos convidados que bebiam o ponche. E, seres místicos mais álcool davam igual há muitos problemas. A bebida só afetava mais o controle dos deuses sob seus sentimentos e emoções, de modo que ficavam descontrolados. Isto é, imagine um humano com muita raiva, agora multiplique por dez... Assim é um deus, por exemplo. A festa virara de uma inocente comemoração, a um terreno minado.

– Admita Atena, agora a festa vai ficar boa! – Dionísio estava achando aquilo tedioso. Todos os viam pela forma de um jovem entorpecido, risonho e festivo. De modo que botá-lo em uma comemoração digna de aniversário de criança onde nem vinho era servido, tornava-o com a obrigação de desequilibrar o ambiente.

Se Ártemis soubesse do verdadeiro culpado da desordem maior ocorrer, não sairia do local, irada com Apolo do jeito que aconteceu naquela noite.

– Eu já disse para parar! As caçadoras não são como as fúteis mulheres que você anda! – Ártemis empurrou o deus da luz solar, porém, não parecia dar resultado já que ele ainda permanecia no mesmo local.

– Sabe... Se eu não te conhecesse tão bem, eu diria que está com ciúmes, Ártemis. – Comentou com um quase sorriso. – Você quer que eu pare de falar com as garotas para que tenha a chance de me paquerar, não é? – Disse desconfiado. – Ártemis quer me seduzir! Ártemis quer me seduzir! – Cantou em tom grave, fazendo algumas das caçadoras rirem baixinho. Ele soluçara a cada intervalo de tempo antes de puxar o ar para respirar e continuar sua canção.

– Bêbado. Você está bêbado! – Exclamou sentindo o cheiro de seu hálito à medida que abria a boca. – Apolo, você é inacreditável... - Balançou negativamente a cabeça olhando para ele.

– Calma, Ártemis. Se queria um beijo, era só pedir. – Falou piscando um olho e rindo em seguida. Aquela altura, a deusa já se encontrava corada. Apolo estava tirando sarro da cara dela e na frente de suas aprendizes, o que era ainda pior.

– Claro, mas primeiro volta para sua casa e escova os dentes, seu bêbedo! – Olhou para trás e tratou de puxá-lo até onde Ares estava escorado em uma árvore.

– Vigie-o! – E o deixou ali para dar uma boa repreensão nas garotas de armadura. Não falava muito com Ares. O achava imaturo e bastante machista. Porém, precisava de alguém forte para deter Apolo de violar suas caçadoras e Ares era simplesmente um armário ambulante. O que Ártemis não sabia, era que Ares também estava alterado por conta das armações do deus do vinho.

Apolo a fitou compenetrado. O andar da deusa parecia tão confiante, seus cabelos reluzindo por si próprios. Ele teve a sensação avassaladora e inesperada de agarrá-la de uma forma não ortodoxa, mas que seria impossível no meio daquela gente. “O que está pensando? É a Ártemis. Isso nunca vai acontecer!”. Suas mãos foram aos bolsos e tentou não olhá-la mais.

– Essa aí eu catava rapidinho... Hic... - Ares falou com um sorriso debochado.

– O que você disse? – Perguntou Apolo levantando as sobrancelhas negras.

– É... Ô lá em casa... Hic! Sabe, o que essas virgens estúpidas precisam é de um homem de verdade! – Ao ouvir aquelas palavras Apolo momentaneamente trincou o maxilar como fazia sempre para tentar se controlar e não explodir de fúria.

– Retire o que disse. - Mandou sério olhando para o irmão. O outro o olhou com escárnio levando a bebida de sua mão até sua boca dando uma satisfatória golada.

– Não. – Replicou lentamente de uma forma que poderia encolerizar qualquer um. Ares era um ser irritadiço, brutal e irascível. Estava sempre à procura de violência, gostava disso.

– Eu estou certo. Ela só é mais uma prostituta virgem! – Em seguida gargalhou alto do próprio comentário.

Um som oco, um “crek” e depois um Ares urrando fizeram todos direcionarem o olhar aos dois.

– Seu idiota! – Exclamou Ares pondo a mão no nariz constatando que o mesmo quebrara e sangrara. Apolo ainda estava com o punho fechado e uma expressão de puro ódio na face. O deus da guerra o empurrou parecendo um touro enfurecido. Apolo caiu e acabou quebrando a mesa mais próxima com o seu peso. Suas costas estavam doendo, todavia, não deu tempo nem de se levantar, pois Ares lá estava, disparando socos. Apolo conseguiu se desvencilhar dele com uma joelhada em seu estômago. Ele se levantou agilmente e lhe deu um pontapé na cabeça, como se Ares fosse uma bola de futebol. O deus da guerra parecia não se cansar e logo se ergueu limpando a lateral da boca que pingava sangue dourado com as costas da mão. Avançou e chutou o joelho de Apolo, que fez uma careta de dor contorcendo-se verticalmente.

– Já chega! – Zeus vociferou, mostrando sua voz mais assustadora.

Hermes já tinha conseguido alcançar os braços de Apolo, pondo-os para trás e Poseidon fez o mesmo com Ares. Mas os dois ainda se mexiam, com a adrenalina e o álcool pulsando em seus corpos. Ares, por diversão. Apolo, pela honra de Ártemis. A luta continuava em seus olhares de aversão inveterada e absoluta, entretanto, não ousariam desacatar as ordens de seu pai.

Foi como se a luta hipnotizasse Apolo, fazendo-o esquecer das pessoas ao seu redor. Mas naquele momento vagou os olhos pelo local e viu suas reações a tudo aquilo. Observou alguns rindo: sátiros, um pouco de semideuses e o trôpego do Dionísio que riria até mesmo se uma folha caísse. Mirou a vista para outros assustados como as musas, algumas ninfas e deusas, como Afrodite, que estava aos prantos sendo abraçada por Hefesto. Lembraria-se de chamá-lo de otário mais tarde por suportar que a esposa, por éons, dormisse com o cérebro de noz a sua frente. E claro, haviam os indignados, sérios e decepcionados com o ocorrido. Apolo não deu muito credito a maioria exceto, a moça de vestes escuras, dona do rosto, para ele, mais bonito da festa. Só que esse rosto estava intensamente vidrado nele, tornando até desconfortável o contínuo olhar direto. Suas orbitas azuis estavam sisudas e escuras. Estava com raiva.

Ártemis teve o cuidado de não se aproximar da briga, mas gritava o mais que podia para pararem. Os irresponsáveis estavam se atracando sem mais nem menos e destruindo tudo o que viam pela frente enquanto tentavam matar um ao outro. Perguntava-se o porquê de toda aquela barbárie primitiva. Tinha posto Apolo lá, caladinho, ao lado de um do mesmo modo silencioso Ares e só foi se virar para virarem feras sedentas por sangue. Estava pronta para intervir quando Atena chegou com o resto da família. Zeus logo se exaltou e bradou o veredito e enfim, cessaram.

Era impossível um dia de paz entre a família? Chegava a ser vergonhosa a falta de fraternidade. Ártemis olhou de relance os jovens semideuses pensando se eram um bom exemplo para eles, cortando o contato visual com Apolo. Suspirou e voltou a observá-lo do mesmo modo. Ele estava encabulado, Isso ela percebeu. Mas que ele pensasse antes de distribuir socos. Seu olhar era cruel, mas Ártemis sentiu seu coração amolecer por ver tantos cortes abertos naquele rosto escultural.

– É o suficiente. Convidados, sentimos muito, a festa acabou! – Bradou Zeus olhando para os lados com um olhar de desculpas. – E vocês, vão me explicar tudo o que acabou de acontecer. Depois cuidem dos ferimentos, venham comigo a Sala dos Tronos. Moleques!

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Ártemis voltou ao seu castelo aborrecida. Apolo, de novo, conseguiu tornar a felicidade em pó. Antes de regressar, discutiu sobre o assunto com sua meia-irmã donas de olhos cinza. Dizia que, se pudesse, mandava um processo que resultava na proibição de Apolo chegar menos que cinquenta metros perto dela.

Entrou em seus aposentos decorados de estrelas, que ao breu, cintilavam sem parar. Abriu sua gaveta no criado-mudo, do lado de sua cama. Arrancou o plástico que embrulhava mais um astro de luz própria igual aos outros e o colou na parede, junto aos demais. Eram elas, suas caçadoras. A cada uma, disponibilizava um pedacinho do espaço que era o seu quarto.

Deitou-se na cama, olhando para o teto. Era meia-noite, mas ela não estava com sono. Um ruído a fez franzir o cenho. Ao olhar ao seu lado, um resquício de pó branco veio acompanhado por um envelope não muito pequeno. Rasgou-o e pegou a carta de escritas clássicas e metricamente efetuadas.

Querida Ártemis,

Acho que deveria saber que estávamos enganadas quanto às suposições em relação à fatalidade ocorrida mais cedo na festa. Estava indo ao castelo de nosso pai para pegar alguns manuscritos que tinha deixado para ele sobre táticas de guerrilha com o intuito de revisá-los em minha casa, quando o próprio Zeus deixou escapar que o motivo da desordem foi, você, minha irmã. Aparentemente, Ares usou palavras de baixo calão contra você e, com o atrevimento, Apolo o agrediu a fim de defender sua honra. Mas não se preocupe, Ares será punido severamente pelos maus dizeres. Enquanto a Apolo, bem, ele não quis cuidados nos ferimentos. Disse que poderia cuidar de si mesmo.

Atenciosamente, Atena.

Ártemis mordeu o lábio inferior, culpando-se por julgá-lo mal sem ao menos saber do porquê daquela briga. E sabendo naquele instante o motivo, somente conseguia pensar nas feridas dele. Era um deus, porém, em batalha com outro, mesmo sendo impossível a morte, os estragos podiam ser significativos. Lembrando-se do estado do rapaz, sentiu-se na obrigação de ir vê-lo.

Chegou a seu castelo dourado, enfeitado de jacintos e loureiros, onde foi recebida por uma sonolenta musa, governanta do local. Seu nome era Crystal, tinha cabelos negros amarrados em uma trança de lado. Ártemis já a conhecia.

– Lady Ártemis, boa noite. – Em seguida bocejou.

– Boa noite, Crystal. Sabe se Apolo foi medicado, após a briga que aconteceu no bosque? – Perguntou direta e objetivamente.

– Senhora, eu até tentei ajudá-lo, contudo, Lord Apolo ordenou que eu e os outros serviçais nos recolhêssemos, dizendo que poderia cuidar de si próprio já que era o deus da medicina. Mas ele está, lá, em sua cama ainda “cuidando de si mesmo”, deseja visita-lo?

– Sim, eu gostaria. – Ártemis assentiu. A musa a levou para o quarto do deus. Parou a porta, bateu duas vezes e puderam ouvir um “entre” abafado.

– Meu senhor, Lady Ártemis está aqui.- No início, Apolo não acreditou, porém ao ver aqueles olhos azuis elétricos cintilarem ao vê-lo, prendeu a respiração.

– O que faz aqui, Ártemis? – Perguntou em total surpresa, remexendo-se na cama onde estava sentado, cheio de algodão espalhados pelo lençol. Antes de respondê-lo, Ártemis deixou que Crystal fosse dormir com um leve sorriso. Depois, voltou o rosto para Apolo que ainda a fitava com o inesperado.

Ártemis fechou a porta, sentindo-se um pouco errada por está ali. Bem, ela era uma deusa casta, um homem estava na cama a sua frente e... Para o seu total acanhamento, ele não estava usando camisa.

Apesar de já ter visto o deus sem camisa há tempos, quando um dia o chamara de irmão, ela não pode evitar o coração acelerado ao vê-lo. Não era a toa que Apolo era considerado o deus mais bonito do Olimpo. Seus olhos brilhavam como dois faróis, sua pele um pouco bronzeada pelo sol reluzia a pouca claridade e os músculos definidos e esculturais, definitivamente, eram capazes de embriagar qualquer pessoa. Porém, Ártemis estava ali para agradecer e cuidar de seu bem feitor por educação e não olhá-lo tão intensamente como se deu o caso.

O que estava acontecendo com ela?



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Notas finais do capítulo

Eu não sei porquê, mas me deu uma vontade de cantar "É o amooor. Que mexe com a minha cabeça e me deixa assim..."
Desculpe-me se tiver erros...