Capítulo 7

“ Por trás da morte de Alliz – parte 1”

Era óbvio que ela não queria que Alliz morresse, afinal era sua mãe.

Ainda que tivesse a súbita vontade de interferir no caminho da garotinha no dia do acidente, Atena sabia que nada poderia alterar o desfecho da profecia, e então se sentiu de mãos atadas, sem ter um plano capaz de burlar os desígnios proferidos pelo espírito de Delfos. Essa era a pior sensação para a deusa da sabedoria.

Os mortais não resistem à vontade de expressar suas tolices, e por essa razão, provocam desastres de proporções quase inimagináveis pelo mundo com uma única e mísera atitude. Atena avisou a Kurt, disse que ele deveria levar a garota para o local mais seguro para semideuses. Ele querendo ou não, essa era a natureza de sua filha. Ela acreditou que ele seria sensato e a ouviria, um pouco relutante – ela admitia, mas entenderia que era o melhor para a menina. Todavia, por um momento ela se esqueceu que Kurt era inegavelmente um mortal, e assim sendo, um certo candidato a tomar decisões equivocadas.

Alliz era um alvo indefeso. Aos oito anos de idade e sem nenhum tipo de treinamento, ela não sobreviveria ao ataque que conspirava contra a própria, mesmo que seus instintos de meio-sangue a fizessem retardar o que era inevitável. Tudo por que, ao nascimento da garota, uma profecia ganhou forma.

Ela era a famigerada criança proibida, advinda na única vez que Atena quebrou a promessa que fez a Zeus. A deusa da sabedoria prometeu ser uma das três deusas castas, éons antes, juntamente com Ártemis e Héstia.

 Contudo, ela não esperava que muito tempo depois do jursamento, Kurt aparecesse. Um rapaz jovem e  esperto, que conseguiu prestígio por ser forte e determinado. Era sargento na base do exército no estado do Arizona, ainda aos 22 anos de idade, e Atena admirava sua coragem e o espírito de liderança. A deusa extremamente racional deixou-se levar pelo coração, uma única vez.

Aos poucos, Kurt foi se mostrando um homem cheio de virtudes, que se potencializavam por sua generosidade. Atena admirava a atenção que ele dispensava aos outros, especialmente os mais frágeis e com a situação delicada, e quase sem querer, ela se afeiçoou a ele, mesmo sabendo que a eternidade não pertencia àquele mero mortal.

Conhecedor do mundo mítico, Kurt tivera um amigo meio-sangue na infância. O alertara inúmeras vezes sobre a presença de criaturas que ele sabia se tratar de monstros, tornando-se desde pequeno parte de um mundo que não era seu.

Tudo intensificou-se na vida adulta, quando conheceu Atena. Ele sabia que ela era diferente desde quando a viu pela primeira vez, no quartel em que trabalhava há algum tempo. Aproximaram-se e Kurt apaixonou-se por ela, mesmo tendo evitado de todas as formas esse sentimento, por saber que seria inevitável a separação. Algum tempo depois, Alliz nasceu e Atena precisou afastar-se, pois havia uma lei no Olimpo de que os parentes divinos não deveriam manter contato com seus filhos mortais.

Ele entendia, não sabia como, mas compreendia que se Atena não fosse uma deusa, estaria ali com eles. A presença de Alliz o impedia de esquecê-la, o que fez com que Kurt se dedicasse inteiramente à garotinha de olhos cinzentos inconfundíveis, que herdara da mãe. E foi o que fez, até o acidente que mudou absolutamente tudo.