A Emboscada escrita por Lana


Capítulo 3
Cap. 2 - Tribunal mortal de injustiça.


Notas iniciais do capítulo

Oie gente!
Beleza?
Agradeço a quem comentou no capítulo passado, porém espero mais neste, viu!?
A história agora avança a passos largos...
Leiam e comentem :)



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Capítulo 2


“ Tribunal mortal de injustiça”


Ele nem sabia o que faria da vida a partir desse instante. Talvez mudasse para algum lugar onde a ferida interior pudesse cicatrizar, porque a cura era algo impossível. Na verdade, mais uma vez Kurt não teve tempo de se questionar: decidiram sua vida por ele. De novo.

Três dias depois da morte de Alliz e também de Carl, o simples garoto mortal atingido pelo carro, Kurt fora chamado a depor na delegacia responsável pelo caso. Fora informado de que seria indiciado pela morte do garoto, mesmo que fosse comprovado que ele não tivesse intenção de mata-lo.

– Em seu caso não houve animus necandi* senhor Spencer, na verdade, foi falta de cuidado da sua parte, pois realmente a vítima atravessou a rua correndo, e se projetou à frente de seu carro. A pergunta a se fazer é: Como o senhor pode não ter visto o garoto? – o delegado Frank Stiller questionou incisivamente. Sua face transparecia calma, embora seus olhos denotassem a confusão diante da figura à sua frente.

Kurt estava transtornado. Queria gritar aos quatro ventos que na verdade uma fúria impedia sua visão, de modo que não pode evitar que o garoto fosse de encontro ao seu, e que portanto, a não teria sequer culpa no caso. Já estava sendo doloroso demais aceitar que Alliz havia morrido, e como se não bastasse, uma injustiça caia sobre seus ombros. Foi então que teve certeza de que o destino o fazia de fantoche, entretanto, ele estava totalmente sem condições de protestar.

E ele sabia da névoa. Quem acreditaria que um monstro com asas de couro provocara um acidente com duas vítimas fatais? Ninguém, eles eram apenas humanos e achavam que sabiam das coisas. Talvez o taxassem de doente mental ou coisa parecida, e pode ser que tivessem piedade dele, entretanto, Kurt não queria isso, não depois da morte impiedosa de sua inocente filha. Diante da escrivaninha, dentro da mesa do delegado, ele cerrou os pulsos e apertou fortemente os olhos, tentando abstrair a realidade que o envolvia por completo e impedia que tentasse se recuperar de sua perda irreversível.

– Eu sei que todos dizem a mesma coisa. Mas eu sou, de fato, inocente. Não percebem que a morte Alliz já é um peso insuportável em minha consciência? Eu não a protegi! – as lágrimas escapavam por seus olhos.

– Não se culpe por isso. A perícia comprovou que a menina voluntariamente saltou do carro, então o senhor não tem culpa. Agora, querendo ou não, o seu carro atropelou Carl Hidell.

– Ele se jogou na frente do carro, eu...eu não tive como vê-lo.

– Desculpe Kurt, mas era perfeitamente previsível a situação toda. Eu entendo que o senhor não queria ferir ninguém, mas aconteceu mesmo assim. – o delegado disse e abaixou a cabeça, denotando o término da conversa.

Kurt trancou a mandíbula e decidiu não dizer mais nada, afinal, não adiantaria. Seria muito difícil que conseguisse se inocentar, mesmo que estivesse com o mais culto dos advogados do seu condado. Começou a acreditar que a pena que sofreria poderia seu útil para penalizá-lo por não sido mais protetor com Alliz, e mesmo tendo em consciência que a culpa realmente não era sua, ele carregaria um fardo dado pela justiça mortal.


***


A sentença era proferida em alto e bom som, e mesmo que quisesse, Kurt não conseguiu prestar atenção no discurso completo. O que martelava em sua mente era aquela fatídica passagem que designava o seu futuro, determinando algo que o mesmo indubitavelmente não merecia.

– “[...] pelo conjunto probatório dos autos e testemunhos, decide-se com trânsito em julgado que o senhor Kurt Gregory Spencer é CULPADO pelo homicídio na modalidade culposa, da vítima Carl Hidell. Pena de detenção inicialmente em regime semi-aberto, de acordo com as circunstâncias estabelecidas, a se cumprir a partir da homologação deste em prisão deste destrito destinado á atividades manufatureiras, ainda nesta data, que totaliza quatro anos, tendo em vista as causas de aumento de pena descritos na forma da lei.

Cumpra-se,


Helene Conelly, juíza da vara criminal de New Jersey.”


A magistrada terminou de ler a sentença e se retirou. Impressionantemente, o tribunal se esvaziou em pouco tempo restando apenas os agentes prisionais, o defensor e o próprio Kurt. Ele mal podia acreditar que seu destino seria viver por quatro anos em um lugar que não merecia. Sentia-se culpado pela morte de Carl, é verdade, mesmo que não houvesse tido culpa de fato, e ainda assim, a imagem de Alliz agonizando martelava em sua mente.

Surpreendentemente, Kurt recusou a ideia de seu advogado, Richard Campbell, de promover um recurso. Decidiu que mexer ainda mais nesse processo seria deveras doloroso, e mais do que conseguiria suportar ainda que fizesse quase um ano que sua vida se desmontou. Sustentando um olhar frio e decidido, ele deixou-se levar para o presídio onde pagaria injustamente enquanto, a seu ponto de vista, os olimpianos se divertiam às suas custas. Ele simplesmente entregou os pontos.

Entretanto, tinha em mente que tudo o que acontecia era apenas o começo de uma nova fase, esta que só terminaria com a promessa feita diante do corpo inerte da pequena semideusa morta, aquela que ele jamais deixaria de cumprir, mesmo que tivesse que dispor de sua própria vida para isso. Seria uma troca justa, ele imaginava, e estava decidido a ir até o fim.

E assim, vestiu a máscara de rancor que preenchia-o completamente, e como um perfeito bandido, graças ao que aprendeu sobre a engenharia criminosa durante seus quatro anos enclausurado, desenhou em sua mente seus atos e principalmente, suas vítimas, embora não as conhecesse.

Seria uma questão de tempo. E mesmo que a vida na prisão fosse uma prévia dos campos de punição do mundo inferior, a obstinação o mantinha firme em seu propósito, transparecendo insensibilidade a quem quer que o visse ali, fazendo o possível para continuar recluso em seus próprios pensamentos, até que chegasse o dia em que seria liberto, este, que por sinal, estava muito próximo.

– Sua morte será vingada, minha pequena Alliz. – Kurt murmurou na noite que antecedia sua liberdade.




*Animus necandi = tradução do latim, vontade de matar. Este é um dos elementos do homicídio doloso no Direito Brasileiro – o elemento volitivo.



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Notas finais do capítulo

OBS: A dosagem da pena proferida na sentença está de acordo com o Código Penal Brasileiro.
E pra quem sentiu saudades do Percy, no próximo capítulo o filho preferido de Poseidon aparece tah.
Deixem reviews pra eu ficar feliz :)
Beijos