A Emboscada escrita por Lana


Capítulo 21
Cap. 20 - Seguros por um breve tempo escasso.


Notas iniciais do capítulo

Oie
Sem nada para dizer por aqui hoje, então...
Boa Leitura!



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Capítulo 20

“Seguros por um breve tempo escasso.”

Highlands já estava completamente escura quando todos caminhavam pesarosamente na trilha em direção da pousada de Megan Armstrong. Já faziam vários minutos que o silêncio era o protagonista da situação entre o grupo de semideuses, que já sucumbiam ao ar rarefeito e ao breu da madrugada que se aproximava.

Mas Thalia não suportou o clima sombrio e incomodativo por muito tempo. Quase em sussurro, o que era surpreendente vindo da nada discreta filha de Zeus, ela se voltou para Annabeth, que a ajudava a amparar um Percy encurvado para frente com os pés praticamente arrastados no chão, em razão do ferimento em seu dorso.

- Estava pensando agora: por que você se ofereceu para a morte Annabeth? Não vi nenhuma lógica em sua atitude suicida. – Thalia estava com a voz fria, combinando com o vento que uivava às costas dos caminhantes.

- Eu também gostaria de saber. – Percy se contorceu para dizer tais palavras.

- Se disser mais alguma coisa, pescador, eu te darei um choque que o fará desmaiar, e nós o deixaremos aqui. – Thalia ameaçou, voltando à sua personalidade original.

Annabeth, impedindo que a Caçadora resolvesse cumprir arbitrariamente sua ameaça, não tardou em responder.

- Kurt não foi o único que blefou naquela cabana. Na verdade, eu o fiz primeiro. Eu sabia que vocês estavam ali, e precisava de um momento oportuno para que vocês entrassem e surpreendessem meu sádico sequestrador. – ela explicou calmamente, com sua clássica pose de estrategista, aquela que Percy não havia visto em nenhum momento no cativeiro.

Com apenas um olhar de relance, Nico declarou que estava inteirado da conversa, embora seu semblante não dissesse que ele estivesse muito interessado em saber o que motivou Annabeth ao supor sua morte. A garota loira ficou desconfortável, antevendo o que se passava  por trás dos olhos inertes do filho de Hades, e ainda assim, voltou-se para Thalia, que lhe lançava outra pergunta.

-Então me diga como você teve tanta certeza de que estávamos do lado de fora, porque eu não consigo entender. Estávamos encobertos, a luz não incidia sobre nenhum de nós. – ela estava incrédula, e ao mesmo tempo confusa.

- Thalia, você acha que essa sua tiara de tenente de Ártemis é discreta? Eu suponho que a luz da lua refletiu sobre ela e eu pude ver suas feições por um breve instante. Eu não sabia dizer se era real, mas eu tinha quase certeza, então arrisquei. – Annabeth sorriu, satisfeita por seu plano ter dado certo.

- Isso realmente explica um bocado. – Nico saiu de sua aura tensa.

- E você disse que não tinha absoluta certeza. Annabeth, você se arriscou muito. – Percy repreendeu-a, o que era estranho, pois normalmente era a própria Annabeth que fazia com o filho dos mares.

- Ele não me mataria até que vocês chegassem, ele não queria minha morte até então. Mas agora eu sei que quer. E o que me surpreendeu foi o fato de Giovanna ter se jogado na frente pra me defender, tendo me conhecido há tão pouco tempo...

Todos olharam para a semideusa recém descoberta que repousava no colo de Nico. A pele estava pálida e os lábios sem cor, o cabelo escuro jogado para trás e o braço ferido segurado junto ao corpo, com o talho envolto por um tecido leve, antes branco e agora quase completamente manchado de sangue seco. Ela estava muito fraca.

- Vocês vão adorá-la, é uma menina muito corajosa. Desde que voltei ao cativeiro ela não abaixou a cabeça sequer uma vez para Kurt, e isso o deixava muito contrariado, tanto que pude ver satisfação em seus olhos quando a acertou em meu lugar. Tecnicamente, por ser filha de Poseidon, a vingança de Kurt se estende a ela. – Annabeth narrou aos outros tentando mantê-los em consciência em meio ao frio congelante. Ela calculou que não faltava muito para chegarem à pousada, mas nenhum deles resistiria a muitos minutos a mais na noite serenada.

- Annabeth, sabe como ela foi parar nas mãos do sequestrador? – Nico estava inquieto com essa dúvida. Vez ou outra ele jogava os ombros pra trás e seu cenho estava constantemente franzido.

- Sei que ela é natural de Aspen mesmo, mas não entendo como Kurt soube de sua existência e do seu paradeiro, mas suponho que ele teve ajuda divina com isso também. Eu diria que ela seria uma carta na manga caso ele não conseguisse me pegar novamente, e foi exatamente o que aconteceu, a não ser pelo fato de que Kurt conseguiu me raptar de novo.

- Você terá que nos contar o que aconteceu desde o seu primeiro sequestro Annie. Tudo o que sabemos foi nos mostrado por meio de sonhos, e não é muita coisa. – a voz trêmula e cansada de Thalia denotava que até mesmo a Caçadora, acostumada a viver nas florestas, já estava além do que conseguia suportar. Ao olhar pra frente, Annabeth suspirou aliviada.

- Eu contarei, contarei tudo. Mas antes vamos nos recuperar, a pousada está bem ali, a pouquíssimos metros. – ela sorriu brevemente.

- Já não era sem tempo. – Percy gemeu de dor, e fez um último esforço em se aproximar de seu abrigo certo.

Pouquíssimos minutos depois os cinco meio-sangues irromperam pousada adentro, deparando-se com uma situação um tanto surpreendente: as Caçadoras de Ártemis estavam ali, todas com escoriações recentes e hematomas proeminentes. Thalia parou abruptamente e assustou-se com a situação.

- Podem me explicar o que vocês fazem aqui? O que aconteceu? – ela gritou, um tanto cautelosa, é bem verdade.

Lindsay, que estava com apenas alguns arranhões pelos braços, se postou para falar à sua tenente.

- Lady Ártemis nos enviou para cá, e assim que chegamos encontramos uma carnificina sendo executada. Socorremos tantas vidas quanto podemos, mas no fim não conseguimos livrar cinco pessoas da morte. Em seguida, quando estávamos partindo, fomos atraídas para uma armadilha que nos causou as lesões, e supomos que foi arquitetada pela mesma pessoa que causou a bagunça. Assim que escapamos, voltamos para cá. – a caçadora resumiu.

Thalia grunhiu de raiva e desenroscou o arco de seu ombro direito.

- Foi Kurt Spencer. Devíamos ter acabado com ele enquanto tivemos oportunidade, mas quisemos bancar os heróis bonzinhos, com quem não merece... Vou voltar lá e terminar de matá-lo. – ela ia saindo, até que Nico a segurou.

- Você não vai a lugar nenhum, muito menos sozinha. É perigoso. – Nico disse, firme e ainda assim calmo. A filha de Zeus fez menção de retrucar, mas Annabeth meneou negativamente a cabeça. Ela sentou-se no chão, cansada.

Megan apontou no corredor principal e levou as mãos à boca assim que viu Annabeth, esta que apenas deu um mero sorriso tímido. Sem pensar muito, uma se direcionou à outra e trocaram um abraço caloroso.

- Pensei que estaria morta a essas horas. – Megan confessou, sem graça.

- Eu também. – Annie devolveu, notoriamente aliviada.

A proprietária da pousada e também filha de Atena olhou em volta e percebeu a presença de mais semideuses ali. Dois machucados e dois muitíssimo exauridos por conta dos bruscos esforços anteriores, mas que conseguiram sucesso na primeira empreitada. Era uma pena que o descanso não duraria o suficiente para que recarregassem suas energias.

Megan olhou interrogativamente para a irmã mais nova pedindo a identificação dos novos hóspedes, se é que poderia chama-los assim já que “refugiados” seria mais adequado, mesmo que estivesse claro que eram inofensivos. Ela prontamente delatou o que acontecera desde que fora arrastada de volta ao cativeiro, em meio à violenta chacina de pouco tempo atrás.

- É uma pena que aquelas pessoas tenham morrido. Mas estou contente de ver que você foi resgata. – Megan virou-se para os quatro. – Estou grata a vocês. Eu não pude fazer nada quando ele a chantageou, não no meio da bagunça que fizeram aqui.

Aproximando-se deles, pode ver que a situação era pior do que imaginava. Os dedos roxos e a pele machucada lhe mostrava o quanto o frio que enfrentaram havia sido severo, da mesma maneira que os tremores que agora diminuíam fazia alusão a uma possível hipotermia.

- Venham, vamos cuidar de vocês. Os feridos primeiro. – ela completou e ajudou a socorrer Percy, que a essa altura já estava com a pele esverdeada pela dor, e Giovanna, que desde que conseguiram escapar, continuava desacordada.

Thalia decidiu ficar para ajudar as Caçadoras a tratarem dos seus ferimentos, por não teria grande serventia auxiliando os outros. Kate veio até ela com parte do antebraço enfaixado e fissuras no pescoço. A raiva dele triplicou ao ver o estado de sua interina, e mais uma vez sentiu impulso de acabar com a vida de Kurt. Foi segurada mais uma vez, por uma promessa.

- Se ele estiver vivo, nós o caçaremos, onde ele estiver. Precisamos estar recuperadas pra isso. – Kate ponderou.

Depois de algum tempo ministrando néctar, limpando ferimentos e enfaixando grandes machucados, a filha do deus dos céus decidiu conferir como os outros estavam, encaminhando-se em direção aos primeiros quartos além do saguão. Ela deduziu que estariam ali por não suportarem andar muitos metros a mais, e estava certa.

Assim que adentrou o recinto, viu que Percy dormia profundamente e com a expressão serena, provavelmente em virtude da cessão de dores. Ouviu Annabeth se dirigir seriamente a Megan, como quem estivesse a muito tempo em espera por essa conversa.

- Sabe que precisamos conversar, não? E o assunto não é mistério, é sobre o que Kurt disse quando estávamos todos reféns dele aqui. Você precisa me contar Megan...

- Eu sei, e esperava por isso. De uma forma ou de outra, eu sabia que você iria escapar, e já esperava por isso, afinal, é clássica antecipação dos filhos de Atena. Não seria melhor esperar que os outros acordem para que tudo seja dito uma só vez? Eu preciso contar. – a Sra. Armstrong falou calmamente, como se estivesse conformada de que era o certo a se fazer.

- Como quiser, mas não dispomos de tanto tempo. Assim que o dia amanhecer, antes que o sol brilhe forte, nós temos que partir. – Annabeth estava visivelmente receosa com o fato de estar perto demais de quem queria o seu mal, e de todos que estivessem em seu caminho.

- Por que não descansa? Tem uma cama sobrando aqui. E Thalia – ela olhou para a porta, deixando claro que sempre soube que a Caçadora estava ali – você poderia ocupar o quarto à esquerda, Nico e Giovanna estão lá. Venha, eu lhe mostro. – ela saiu acompanhada da garota, que não teve oportunidade de se despedir de Annie.

Ao andarem brevemente pelo corredor, incorreu que perguntasse sobre algo que desviasse a atenção de Megan do que quer que seja o assunto que tratariam na manhã seguinte.

- Como está Giovanna? – ela perguntou.

- Está com os sinais vitais normalizados. Precisou de uma quantidade razoável de ambrosia e até alguns remédios do mundo mortal para que melhorasse, mas ainda está na inconsciência. Aposto que amanhã estará de pé. – Megan murmurou e Thalia, por fim, não resistiu em tocar no misterioso assunto.

- Assim espero. Eu não pude deixar de escutar a sua conversa com Annie, pode dizer pelo menos do que se trata? – ela disse educadamente. Mais uma atitude incomum da tenente de Ártemis.

- É sobre o passado de Kurt. Creio que possa ter alguma serventia a vocês... Mas por hora, vamos esperar até que o dia amanheça. – e assim a deixou na porta de seu quarto, com a curiosidade provocando raios em seu cérebro.

***

A madrugada extensa e muito fria desesperava ainda mais Kurt, que sucumbia pelo frio da velha lareira apagada e pelo profundo talho aberto pela flecha da Caçadora. “Uma filha de Zeus que se uniu á deusa da caça... uma combinação bem mortífera” – ele pensou e se penalizou por não conseguir conter os adolescentes intragáveis.

As dores em razão de uma provável infecção que se propagava pelo corpo aumentavam a cada minuto sem socorro, e com as velas apagadas implorava mentalmente para que Ares lhe ajudasse, o que o lembrava os primeiros dias enclausurado na cela deletéria. Depois de sofrer por algumas terríveis horas sem auxílio, a porta veio ao chão em um estrondo considerável na noite calada, e o deus da guerra era visível pelo portal.

- Olá Kurt. Não sei porque tanto me admira a sua incompetência, deveria morrer aí, amarrado humilhantemente em uma cadeira com um machucado ínfimo. Deveria saber que se falhasse, era bom que não tivesse a audácia de me perturbar por ajuda. O erro foi seu, e isso arruinou os meus planos. – ele estava com a voz amarga e torpe em razão do frio.

- As coisas saíram do meu controle. Mas sei que ainda posso terminar a emboscada, e convenhamos, seria útil pra você também. – ele apenas respondeu, e Ares rosnou.

Soltando as amarras de Kurt, ele permitiu que seu corpo caísse no colchonete ao lado e deixou de iluminar a cabana somente com suas órbitas fumegantes, acendendo duas grandes velas ao lado da janela.

Sem muito jeito para procedimentos de primeiros socorros, o deus da guerra lavou o ferimento com água e usou um pedaço de tecido limpo que cobria a mesa para estancar o sangramento, que escorria levemente e impregnava-se nas meias. Um coquetel de cápsulas e comprimidos também foi usado para algum fim curativo, e então a voz encheu o interior novamente.

- Meu objetivo estava sendo alcançado. Atena perdeu o controle da razão quando viu sua filha preferida ser sequestrada, torturada e praticamente estuprada e ainda assim não poder fazer nada por causa da lei que proíbe os deuses de intervirem no destino de seus filhos. A falta de pistas para os outros também a irritou profundamente, e a tensão estava instalada por lá, pois até os grandes estavam incomodados com o rebuliço que um mero mortal fez em pouco tempo. – ele parou por um breve instante, enquanto um Kurt com a aparência incontestavelmente melhor, apenas balançou a cabeça como quem diz estar compreendendo.

Ares continuou.

- Estava bem divertido ver Atena quase louca e incomodando os grandes. Ficou ainda melhor quando ela chegou onde eu queria: a história da criança proibida. Ela mencionou que Zeus deveria ter evitado a morte de Alliz porque ela não era culpada da quebra da promessa, e que a profecia envolvendo seu nome não se realizaria e blá blá blá... – Ares parou de novo. Por ter tocado em um assunto diretamente relacionado a Kurt, ele esperou o comentário.

- Ela disse isso? Acho que tivemos êxito então, pelo menos Atena está raivosa o suficiente para acusa-los. Isso facilita muito as coisas para nós. – ele disse com a voz ainda fraca.

- E eu aproveitei a oportunidade para apoiá-la em seus argumentos, não fervorosamente pois iriam estranhar, mas dei meus palpites sobre como a injustiça lhe pesou os ombros e você, Kurt, talvez estivesse alucinado. Atena se mostrou maternal demais para o gosto de Zeus, ele disse que toda essa história estava humanizando-a, e seria a ruína dos deuses se ela abandonasse sua onipotente sabedoria.

- Então as coisas estão dando certo pra você. Você não queria instalar o caos no Olimpo? Está conseguindo. – Kurt tentou amenizar a fúria de Ares para com ele. Ares fingiu não ter ouvido.

- Atena começou a voltar à razão e ponderou o comentário do todo poderoso Zeus. Isso não acalmou tanto as coisas por lá, continuam ruins, mas quando o idiota do Percy e os outros invadiram a cabana e conseguiram livrar as semideusas daqui, todos esqueceram os ataques recíprocos e constantes. Minha diversão acabou, meu plano foi arruinado por você. Além do que, tenho reparado que Hades lança olhares desconfiados a mim, e ele é astucioso demais. – ele esmurrou a mesa com tamanha força que a derrubou de imediato.

Kurt assustou-se com o ato e com muito esforço conseguiu se sentar encostado à parede, e encarando Ares, disse:

- Preciso de mais uma chance, e lhe garanto que concluo nossa emboscada. Tenho novas ideias, conheço uma pessoa a quem planejei recorrer caso não desse certo a primeira tentativa. E sei onde posso encontra-los. Mas ainda assim, preciso de sua ajuda.

- Não confio mais em você. Só que estou disposto a ver como se sai... essa é sua última chance. Estarei muito mais atento dessa vez. Termine a emboscada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Comentários são essenciais, e se a história merecer, deixe uma recomendação também.
Leitor que não comenta, não custa nada escrever uma palavrinha néh?!
Até o próximo.
Bjs



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