O tempo foi passando e nós não trocamos muitas palavras. O clima estava meio estranho.

- Hei, você está com fome? – Ele me perguntou quebrando o silêncio. Eu ia dizer que não, mas meu estômago me delatou. E com razão eu não comia desde que havia levantado. – Eu acho que isso é um sim. – Ele riu, e seguiu até a porta. – Vem vamos comer algo.

Eu o segui, descemos até uma lanchonete ali perto e fizemos os pedidos. Comemos em silêncio, mas como sempre Thiago o quebrou, eu agradeci muito por isso, aquele silêncio já estava constrangedor.

- Er... Mary? – Ele disse.

- Hm? – eu perguntei.

- Sobre aquilo que eu te falei hoje de manhã... Eu... – Ele falava em partes, o que me deixava mais curiosa para saber onde ele queria chegar.

- O que tem Thiago? – eu perguntava educadamente, o incentivando a continuar.

- Bem... – Ele respirou fundo, isso me tranquilizava, significava que ele finalmente diria. – Eu queria saber o porquê de você estar tão interessada em saber o que me incomodava...

- Eu já te falei, você estava agindo muito estranho. – Essa era só uma parte do por que. Na verdade nem eu mesma sabia a resposta, eu só sei que me sentia mal vendo ele daquela forma.

- Hm... – ele murmurou. – Sabe Mary, eu sei que você vai odiar o que eu vou dizer agora, mas...

- Ahn?

- Você sabe que agora não é mais uma imortal, você está vulnerável...

- Eu já sei aonde você quer chegar... – ele me encarou. – Sendo eu uma mortal, Tomaz jamais deixaria que eu fosse com vocês impedir Stephanie, não é?

- Era exatamente isso que eu ia falar. Conhecendo você eu diria que você irá mesmo assim.

- Pode ter certeza, eu não vou ficar fora dessa. E que ele nem tente me impedir. – Eu dizia com convicção. Thiago riu de mim, não sei o que ele achou de engraçado, talvez fosse a minha expressão, ou a minha pose com os punhos fechados e levantados, ou talvez fosse os dois.

Eu olhava pensativa para o copo vazio que eu segurava. Dois dias... Agora menos que isso, o que será que Tomaz está bolando? Isso me deixava inquieta. Seria medo do que poderia acontecer? Seria ansiedade para que essa luta finalmente chegasse ou acabasse? Eu não sei. Acho que seria medo, eu no fundo sabia que indo com eles durante o alinhamento eu acabaria morta, mas eu não podia ficar de fora vendo todos lá lutando, eu me sentiria uma total inútil, um lixo, um pouco como me sinto agora. Tomaz deixou Thiago aqui pra ficar cuidando de mim como se eu fosse uma criança, ou um objeto frágil e delicado. Eu odeio me sentir assim, eu posso muito bem me virar sozinha. Sem perceber eu estava apertando cada vez mais o copo, se eu ainda fosse imortal o copo já estaria estilhaçado há muito tempo, só percebi que o estava apertando quando senti a mão de Thiago em cima da minha.

- Se continuar apertando assim vai machucar a sua mão. – ele disse brincalhão como sempre. Será que o Thiago de antes estava de volta ou por trás daquele sorriso ainda estava o Thiago preocupado de horas atrás? Eu apenas sorri e larguei o copo.

- Sabe Thiago... – eu comecei, eu sentia seu olhar em mim, mas eu mantive o meu no canto da mesa – Mesmo que eu não seja morta durante a batalha... Nada vai ser como antes, eu não irei voltar a ser imortal. Quer dizer, eu vou envelhecer... Você, não só você como Leandra também, vai continuar assim, vivendo pra sempre e... – Fui interrompida.

- Mary... Você nunca foi assim. – eu o olhei sem entender – Você nuca foi de pensar no que ia acontecer, apenas faça como sempre, deixe que aconteça. – É exatamente o que eu sempre fiz, eu concordei com ele.

- É, tem razão. Agora é só esperar.

As horas passaram rápidas e logo amanheceu o dia em que agiríamos. É agora ou nunca.