O garoto me levou ate sua casa. E eu agradeci mentalmente por nao ter dito quem era. Provavelmente um riquinho, outro filhinho de papai, pois acho que nenhum menino pobre moraria sozinho em uma mansao.

– Voce nao quer ir se secar no banheiro?

– Minhas roupas nao vai secar de uma hora para outra.

– Certo, mas voce vai ficar doente se continuar molhada assim.

– E isso seria problema meu ne?

– Caramba, sera que voce pode tentar parar de ser grosseira? Eu so estou tentando te ajudar!

– Ok, me desculpe.

Ele revirou os olhos e subiu as escadas, sem dizer mais nada, voltou algum tempo depois segurando uma roupa feminina.

– Pega. Veste isso. Nao quero ser o responsavel por matar alguem.

Agradeci e ele me mostrou onde ficava o banheiro.

Depois de me despir e tomar um banho quente, coloquei as roupas que ele me deu e imaginei de quem seriam. Provavelmente nao da sua mae... ele devia ter uma namorada.Claro que deveria, um garoto daqueles nao deveria ficar nunca solteiro. Era lindo, tenho que admitir, mas provavelmente um idiota. Olhei para a pia do banheiro e vi uma pequena gilete, a lamina bastante afiada. Isso me fez lembrar de alguns tempos atras, me fez lembrar de como aquilo poderia ser perigoso. E prazeroso. Claro que devem pensar : "como se machucar pode gerar prazer?" Entendam, no meu caso, era prazer pela dor. Nada mais do que isso.

Tive que deixar meus pensamentos de lado e sair do banheiro, estava a um bom tempo la.

– A roupa serviu?

– Sim, valeu.

Me convidou para sentar e assistir televisao e eu aceitei, depois de algum tempo ele murmurou :

– Estou com fome, voce nao?

– Nao tanto.

– O que eu posso tentar preparar? Sanduiches?

O acompanhei ate a cozinha e o observei procurar algo para comermos, vi o frango congelado no congelador e sugeri :

– Tem frango.

– Eu sei disso, mas eu nao sei preparar. - Disse, mordendo o labio.

– Eu sei..se voce quiser eu posso fazer..

– Serio? - ele sorriu

– Claro..acho que essa pode ser a recompensa por ter me tirado da chuva.

Ele acentiu e eu comecei a preparar. Se tinha algo que eu sabia fazer era cozinhar. Sem me gabar, claro, mas o tempo me ensinou a fazer minha propria comida, era a regra numero um para o manual de sobrevivencia.

Resolvi fazer postas de frango ao molho apimentado, o estoque de comida na casa desse garoto era enorme. Tinha tres tipos de pimenta, milhares de temperos, vegetais, tudo.

– Bom apetite. - Disse, colocando o prato na sua frente e me sentando a seu lado na mesa.

– Parece estar bom.

– Voce so vai saber isso quando provar.

Botou algumas colheradas na boca e depois suspirou.

– Uau. Voce cozinha bem.

Sorri e agradeci.

– Acho que ja esta recompensado?

– Aham

– Entao posso te pedir uma coisa?

Me olhou desconfiado, instigando-me a continuar.

– Posso saber seu nome?

– Voce nao precisa saber disso. - Falou, rispido.

– Mas eu quero, por que nao pode dizer so isso? Eu estou na sua casa e nem sei o seu nome.

– Zayn. So Zayn.

– Acho que conheco alguem com esse nome..

– Nao. Acho que nao conhece.

– Hum... E por que nao queria me dizer?

– Por que iria me odiar se soubesse quem eu sou, pelo que eu pude perceber.

– Agora sim eu quero saber quem voce é.