Estava um frio enorme,percebi, ao sair cedo de manha, e a maioria das pessoas estava em casa, tomando um chocolate quente para se aquecer, mas eu estava decidida a procurar um emprego, e nao seria um friozinho que me faria desistir. Andei sem rumo olhando para as milhares de vitrines, esperando encontrar em alguma delas um cartaz de ' Vagas Abertas ' ou algo assim. Mas, para falar a verdade, nem as proprias lojas estavam abertas, a neblina estava enorme, me impossibilitando de enchergar qualquer coisa com mais de um metro de distancia.

Ja estava quase no centro da cidade quando me toquei que nao devia ter saido de casa naquelas condicoes de tempo. Os onibus todos chegavam lotados e eu nao estava afim de esperar, a rua ficava vazia, eu estava caminhando em vao, e comecou a chover.

Chover muito. Agora eu nao conseguia ver nada a mais de um palmo de distancia, abri o guarda-chuva, sabendo que nao adiantaria de nada, e cinco minutos depois ele se foi, arrastado pelo vento.

Me sentei na calcada, na parte coberta de uma cafeteria, esperei alguma bondosa alma me chamar para entrar no seu carro quente, mas obviamente isso nao aconteceu, aqueles ingleses nojentos, sempre se preocupando apenas com o proprio nariz melequento. Bom, estava claro que se eu nao morresse de frio, morreria de alguma doenca.

Podia perceber os sentidos me abandonando, tentei gritar, mas nao saia som algum, meus olhos estavam fracos, e a chuva so aumentava, minha respiracao estava falha, e era obvio que eu nao aguentaria ficar ali. Tentei me levantar, sem muito sucesso, e cai no chao brutalmente.

Deve parecer ridiculo, lendo-se assim, mas, acredite, o frio é desesperador. Ele nos congela aos poucos, por fora.. e por dentro.

Eu estava inerte, sentia meu pulmao sendo perfurado, e os grossos pingos caindo sobre a pele descoberta de meu rosto, e a unica coisa que eu desejava era que aquilo acabasse logo. Queria que aquela minha vidinha patetica se esvaice. E pan. Desmaiei.

***

Bom, nao sei bem se aquilo era a tao conhecida 'morte' mas eu me sentia bem, e quente. Nao queria abrir os olhos, tinha medo do que poderia encontrar.

– Oi? Voce ta legal? - Senti alguem me sacudir devagar.

Abri os olhos e tomei um susto, estava aparentemente dentro de um carro, olhei para os lados e vi a pessoa que acabara de falar comigo.

– Quem é voce?

– Calma! - O garoto falou. - Te encontrei desmaiada ai, e...

– Eu te conheco?

– Nao mas..

– Entao voce, nao devia ter me ajudado. - Falei, sem entender, mas pareceu que eu estava reclamando. - Nao, quero dizer, hm..obrigado, acho que eu estaria morta se nao fosse por voce.

– Por nada. O que estava fazendo na rua em um tempo desses?

– Nao acho que devo te dar satisfacoes da minha vida.

Ele me olhou com interesse, que idiota eu estava sendo.

– Ah, me desculpe, costumo ser grossa com estranhos.

– Estranhos que salvam sua vida tambem?

Dei um sorrisinho.

– Nao, deve ser o habito.

– Posso saber seu nome?

– Emma. E o seu?

– Hm..nao acho necessario voce saber isso. - E mordeu o labio, pensativo.

Nao contestei.

– Ah nao, eu molhei seu carro todo.

– Tudo bem..

Ficamos calados e ele se olhou no espelho, tentando ageitar o cabelo, encharcado tanto quanto o meu. Ri com a cena, seu desespero com o cabelo e tudo o mais...

– Qual a graca?

– Nao sei. - Respondi, como uma retardada

– O que eu faco com voce agora? Onde voce mora?

Disse o endereco, e descobrimos, da pior forma, que a rua havia sido interditada.

– Certo, acho que voce nao vai pra casa hoje...algum parente...namorado?

– Nao.

– Ah, fala serio, voce nao tem namorado? - Ele riu

– Eu.. hm.. qual a graca? - Ja falei sobre meus problemas com a palavra 'namorado'.

– Nada..eu..acho que tenho que te levar para a minha casa.

– Nao sou burra, agradeco muito por ter me salvo, mas nao vou te recompensar por nada. - Falei, com um tanto de raiva, abrindo a porta, que ele fechou imediatamente.

– Ei, eu nao sou um tarado ok?!

Ele insistiu ate eu me dar por vencida, e fomos entao ate sua casa.