Revirando O Tempo escrita por Fernanda Alves


Capítulo 11
GENÉTICA DE LOBO


Notas iniciais do capítulo

Pois é gente, depois que eu voltei de viagem a inspiração passou a demorar a voltar, mas quando voltava vinha como uma enxurrada, por isso os dois últimos capítulos foram tão grandes. Espero que gostem e não tenham me abandonado, muito obrigada por tudo *-*
Beijos (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/239637/chapter/11

Victoire voltava da cozinha após ajudar as mulheres da casa que sobraram a preparar mais uma leva de biscoitos para os esfomeados, que estavam muito atrasados, por sinal. Ela realmente não seria capaz de agüentar mais um discurso de seu tio Percy sobre a unificação de medidas entre a comunidade bruxa de todo o mundo, então resolveu que seria mais produtivo ver o que seu namorado estava fazendo.

Ao chegar à sala, viu que Teddy há muito já pendurara a faixa “Bem-Vindos de volta, pestinhas!”, que agora já estava caindo novamente; e terminara de organizar a sala, e agora estava sentado no sofá puído, à beira de um abajur, lendo distraidamente um livro intitulado “Os maiores inventos dos trouxas”. Ela não pôde evitar sorrir, Teddy era tão lindo fazendo até mesmo as coisas mais simples. Hoje ele resolvera deixar os cabelos azuis, a sua cor preferida, e passava distraidamente a mão sobre eles enquanto lia de uma forma irresistivelmente charmosa.

Ela sentou-se ao seu lado e beijou-lhe a bochecha, e ele virou-se para ela sorrindo, deixando o livro completamente de lado.

- Posso saber o motivo desse sorriso bobo? – Ele perguntou, colocando uma mecha de seus longos e sedosos cabelos louros atrás de sua orelha – Não sabia que cozinhar te deixava assim tão feliz.

Ela abriu ainda mais seu sorriso apaixonado.

- Não, o motivo disso tudo é você mesmo.

Ele riu e levantou uma das sobrancelhas, com um sorriso convencido.

- Uau! Se e eu continuar recebendo elogios de uma menina tão bonita não vai ter quem segure o meu ego.

Ela riu em resposta, e, sem resistir, simplesmente agarrou a sua nuca, enterrando os dedos em seus cabelos e o beijou. Foi um beijo calmo e intenso, onde eles transmitiram um ao outro a felicidade por estarem juntos. Após algum tempo o ar foi-lhes faltando e o casal foi obrigado a se separar, mesmo com seus lábios protestando, exigindo mais. Victoire e Teddy permaneceram de olhos fechados por alguns instantes, as testas unidas. Depois, como se tivessem combinado, os abriram ao mesmo tempo e o azul muito claro dos olhos dela pareceu fundir-se com o tom de azul mais escuro e tempestuoso que Teddy resolvera adotar hoje.

Mas mesmo Teddy mudando alguma coisa quase todos os dias, entre todos os olhos do mundo, Victoire ainda poderia distinguir os olhos dele, porque eram diferentes de todos os outros. E por mais que ele tentasse mudar, havia uma coisa que ele não podia: havia um brilho especial no fundo de seus olhos profundos, como uma luz que se enxerga muito longe no fim de um túnel, um fio de esperança que move um peregrino que há muito tenta escapar da escuridão, e Victoire amava isso. Sempre amou, na verdade; afinal, ela tem Teddy desde que se conhece por gente, e por isso ele era para ela muito mais do que um namorado ou um amante. Antes de tudo, Teddy era o seu melhor amigo, seu porto seguro, e ela sabia que não poderia estar mais feliz e completa com qualquer pessoa que não fosse ele. Ela suspirou e fechou os olhos por um momento, apreciando o seu cheiro de grama, roupa limpa e xampu que a faziam sempre se sentir em casa, não importava onde estivesse.

- Eu te amo. – Ele sussurrou bem perto, fazendo-a sorrir enquanto sentia seu hálito quente.

- Eu também te amo.

- Será que eles ainda vão demorar tempo o suficiente para nós fugirmos um pouco para o quarto e voltarmos sem ninguém notar a nossa ausência? – Teddy perguntou, com um sorriso maroto, fazendo-a abrir os olhos e rir.

- Mas como você é abusado, Teddy Lupin! – Ela o repreendeu – E quem disse que eu iria querer ficar sozinha num quarto com você?

Ele abriu um sorriso ainda mais travesso enquanto avançava perigosamente para mais perto dela.

- Tenho certeza que após essa amostra grátis você vai mudar de ideia.

Victoire riu alto enquanto Teddy a abraçava de forma que nem com muito esforço ela conseguiria se soltar, deitando-a no sofá e encaixando seu corpo com o dela, e  começando a trilhar um caminho de beijos em seu pescoço, fazendo-a arrepiar-se toda.

- Shh... – Ele a repreendeu – Nós não queremos ser ouvidos.

Sorte a deles que o pessoal lá na cozinha não sabia ser nada além de barulhento, porque Victoire nunca conseguira dar uma risada baixa. Porém, agora ela já não ria, e sim estava de olhos fechados tentando reprimir os sons desconexos que teimavam em tentar sair de sua boca enquanto Teddy percorria seu corpo com as mãos grandes e fortes e sugava sua nuca com uma habilidade incrível.

Sem perceber, ela havia enrolado suas pernas em volta dos quadris de Teddy, e agora arranhava suas costas por baixo de seu suéter preto, que já estava quase todo levantado, fazendo-o se arrepiar e tomar seus lábios para si de forma voraz; quando houve um estalo seguido por uma fumaça verde e quatro pessoas surgiram da lareira, com os olhos esbugalhados de espanto por terem surpreendido o casal naquela cena indecente. Os dois se separaram na mesma hora, muito vermelhos, porém ficaram automaticamente pálidos quando perceberam quem era.

- Er... Oi, pai. – Victoire cumprimentou, ficando de repente roxa como uma beterraba.

- Gui, Fleur, Dom, Louis – Teddy cumprimentou com a voz esganiçada.

Dominique, que já reprimia o riso, desatou a rir abertamente depois de Louis olhar para a cara extremamente vermelha do pai e comentar “Oh, oh, alguém vai se dar mal e eu não quero ver isso...” e sair correndo para a cozinha. Fleur olhava preocupada para o marido, que parecia que iria explodir a qualquer momento, até que subitamente ele suspirou e relaxou, voltando à cor normal.

- Bom, fazer o que, vocês não são os primeiros e nem os últimos a darem uns amassos nesse sofá – Disse Gui, dando de ombros e indo em direção à cozinha, com uma Fleur muito corada logo atrás e uma Dominique quase às lágrimas de tanto rir. Ela bagunçou os cabelos de ambos e resmungou “Eu falo com vocês depois de se engravidarem”, enquanto seguia os pais até a cozinha.

Victoire e Teddy se entreolharam, não sabendo se riam ou se choravam: Aquilo fora uma confissão? Mas suas atenções se desviaram quando outro estalo seguido de uma fumaça verde saiu da lareira, revelando seus tios Ron e Hermione, acompanhados de Rose e Hugo, que estavam ligeiramente mais altos do que a última vez que eles os viram.

Logo, todos os Weasley estavam na sala d’A Toca para receber os demais, e o ambiente se encheu de conversas altas, pessoas perguntando “Por que toda a demora?!” acompanhadas por respostas esfarrapadas e risadas, cumprimentos, abraços quebra-costelas e bagunçadas de cabelo a cada estalo e fumaça verde que saía da lareira, revelando os atrasados.

- TEDDY! – Ele sentiu um baque atingi-lo com força e cabelos ruivos cegarem a sua visão enquanto segurava aquela pestinha, rindo sem conseguir se conter. Lily Luna sempre se jogava nele quando se encontravam depois de muito tempo.

- Que saudades, baixinha! – Ele colocou-a no chão para observá-la melhor – Nossa! E não é que você conseguiu crescer um pouco?!

Ela mostrou-lhe a língua.

- Não enche, seu chato! – E virou-se para cumprimentar a avó, que faltou esmagá-la com um abraço enquanto murmurava “Minha princesinha linda, que saudades” – Ai, vovó! Eu sei que a senhora me ama e eu também estou com saudades, mas eu agradeceria se pelo menos deixasse os meus órgãos intactos.

Molly riu envergonhada enquanto soltava a neta, e começou a passar-lhe a mão nos cabelos.

- Olha só como você cresceu! Logo você arranja um namorado e a família vai crescer de novo...

- Vovó, acho melhor deixar o Teddy e a Victoire se encarregarem disso primeiro, não? Para nós ainda falta muito tempo – Falou Alvo, abraçando a avó.

- Principalmente para a nossa Lily aqui, para ela vai demorar a eternidade! – James II disse bagunçando os cabelos da irmã enquanto se dirigia para abraçar Teddy – E aí arco-íris!

Teddy riu ao abraçar o garoto. James Sirius não o deixara em paz desde o dia em que a pequena Lily havia dito que seus cabelos tinham mais cores que o arco-íris.

- Como vai filhote de veado?

- Veado? – James II riu – Pergunta para as garotas de Hogwarts e elas te responderão se eu sou veado.

- E elas dirão: “Com certeza!” – Completou Alvo enquanto cumprimentava-o, fazendo James Sirius fechar a cara e Teddy rir ainda mais.

- Cala a boca, Al! – James Sirius resmungou antes de levar um abraço-esmagador da avó e uma bronca por ter sido rude com seu irmão.  Ele continuou ao ver a avó se virar para abraçar Hugo – Veado é você que não pega ninguém e ainda se recusa a ficar com uma menina que falta se jogar aos seus pés.

Alvo já abria a boca para retrucar quando seu pai chegou, colocando os braços em volta dos dois.

- Aqui estão os meus garotos! – Disse Harry – Sobre o que estão falando?

- Sobre a opção sexual dos seus filhos – Respondeu Teddy risonho – Mas isso já é óbvio não é? Já que ambos são filhotes de veado...

- Veado é você, seu filhote de lobo sarnento – Harry riu bagunçando os cabelos do afilhado, mas de repente ficou muito sério.

- Padrinho, você está bem? – Perguntou Teddy preocupado, notando a repentina tensão que tomou o corpo de Harry – O que houve?

Harry olhou para o afilhado por um momento e analisou-o. Ele sabia que Teddy, uma hora ou outra, acabaria notando o grupo deslocado no canto da sala. Harry, inclusive, estranhou que até agora ninguém os houvesse notado. Talvez porque estavam todos num único bolo mais para o canto da sala, muito preocupados uns com os outros para olhar ao redor, até porque não sentiam falta de mais ninguém: Todos agora estavam ali. Todos, literalmente. Ele suspirou e colocou uma mão no ombro do rapaz, e espantou-se mais uma vez com o quanto ele crescera: Harry agora tinha que levantar o braço para tocar nos ombros de Teddy, já que este agora era mais alto que ele. E por um momento evitou sorrir de orgulho ao ver que aquele bebezinho gordinho e travesso havia se transformado num garoto sapeca e por fim agora virara um perfeito homem, que já estava pronto para formar a sua própria família e sabia que daria conta daquilo. Assim, então, Harry soube como abordar aquele assunto com Teddy.

- Teddy, filho, posso falar com você por um instante? – Ao vê-lo assentir, virou-se para seus dois garotos que os observavam – A sós?

Al e James II sabiam sobre o que seu tratava: Seu pai estava tentando preparar Teddy para a grande notícia, então respeitaram o pedido e se afastaram de boa vontade. Com muita boa vontade, para ser sinceros, porque Teddy, apesar de ser um cara muito legal na maior parte do tempo, quando algo o perturbava ou deixava-o nervoso, ele tornava-se uma fera e demonstrava a parcela de lobo que tinha dentro de si. Não, é claro que ele não se transformava, mas ficava muito alterado, de forma até descontrolada, algumas vezes. Mas quanto mais envelhecia, menos freqüentes esses ataques se tornavam. Porém, eles ainda se lembram muito bem de como esses ataques eram freqüentes e desagradáveis na época em que Teddy era um adolescente rebelde e vivia se desentendendo com sua avó e seu padrinho. “Graças a Mérlin ele cresceu”, James Sirius e Al pensaram juntos.

Remo, de longe, observou Harry puxar para o lado um rapaz alto, na casa dos vinte anos, de aparência saudável e, não tinha como não notar: Muito chamativa também. Ele tinha os cabelos bagunçados, parecidos com os que os Potter tinham naturalmente, só que num tom de azul berrante. Seus olhos pareciam brilhar ao longe e tinham a mesma cor de azul que seus cabelos, só que num tom mais escuro. E, por mais que fosse difícil, pois ele sabia que o rapaz tentava mudar completamente a sua aparência, Remo reconheceu-se ali. Ele tinha a sua altura exata e o mesmo físico esguio, e também o mesmo estilo de rosto oval, com o queixo marcado. Suas mãos, assim como as dele, eram grandes e largas, com dedos magros e compridos. Mãos que ele automaticamente levou aos bolsos ao recostar-se na parede mais distante da sala, posição automática na qual Remo sempre se pegava fazendo quando não podia sentar-se e tinha que focar-se em algo.

E foi nesse momento que Remo soube que aquele era seu filho, Teddy, e não soube o que sentir. Na realidade, ele sentiu até demais. Sentiu um misto de emoções que se embrenharam dentro dele e reviraram suas entranhas. Sentiu alegria e orgulho por ver que seu filho se tornara um rapagão alto, bonito e saudável; mas também ficou triste por não poder ter acompanhado tudo isso, não pôde criá-lo e nem vê-lo crescer. Sentiu estranheza por estar com dezesseis anos e poder ver seu filho mais velho do que ele; mas sentiu-se mais estranho ainda por confirmar com os próprios olhos que teve um filho. Ficou curioso também, para saber como Teddy dominava seus poderes de metamorfomago e como seria sua personalidade. Mas também foi tomado por um desespero repentino, afinal, ele não sabia ser pai, ainda mais de um rapaz que mal o conhece e ainda por cima é mais velho do que ele. E por fim, o medo foi acrescentado a esse misto: Como seu filho reagiria a uma situação dessas? Como ele reagiria a ele? E quando ele sentiu as mãos de Lily e James pousarem em seus ombros, como sinal de apoio, Remo tentou preparar-se psicologicamente para qualquer que fosse a reação, e talvez até a rejeição, de Teddy ao vê-lo; mas ao mesmo tempo sentiu-se seguro por saber que do seu lado havia pessoas que sabiam como eram essas sensações e estariam sempre com ele, apoiando-o a todo o momento.

- E então, o que houve? – Teddy perguntou preocupado, encarando o rosto sério do padrinho.

- Primeiro, eu gostaria de saber se você pretende fazer hoje o que me contou.

Teddy de repente também ficou sério e lembrou-se do nervosismo que ele tivera tanta dificuldade para domar horas atrás e havia até esquecido. Ele ruborizou e se remexeu desconfortavelmente, suas mãos começaram a suar repentinamente em seus bolsos.

- Sim, depois do jantar, quando todos estiverem alegres e satisfeitos.

Harry não pôde evitar sorrir da tática de Teddy.

- Então essa é a sua forma de garantir que tudo saia bem? – Quando Teddy assentiu nervoso, ele riu e bagunçou novamente os cabelos do garoto. Sim, garoto, pois mesmo já sendo um perfeito homem, Teddy no momento estava agindo como o garoto inseguro de anos atrás.

- Fique tranqüilo, garoto, vai dar tudo certo. Não tem motivos para não dar.

- Ah, tem sim – Teddy retrucou com um leve tom de desespero na voz – Ele é especialista em feitiços e ainda tem o cara que mexe com dragões.

Harry riu ainda mais, mas tentou se controlar e fazer uma pose de autoridade convincente.

- Por Mérlin, Teddy Lupin, o senhor é um auror! Acredito que já tenha enfrentado coisas muito piores do que isso e tenha a coragem necessária para o trabalho, ou então não sei por que te contratei!

- Talvez porque sou seu afilhado? – Teddy perguntou pensando que ia descontrair o momento e fazer o padrinho continuar a rir, mas se espantou quando de repente ele adquiriu uma expressão severa.

- Você sabe muito bem que não foi por isso. Você está lá por mérito seu, porque é um grande profissional, e não porque sou seu padrinho. Você sabe que sou totalmente contra o favoritismo.

Teddy não pôde evitar sorrir ao fitar o padrinho: Realmente, ele era um grande homem.

- Eu sei, meu velho, foi porque eu sou muito bom mesmo.

Harry balançou a cabeça negativamente e sorriu. Aquele garoto não tinha jeito mesmo.

- Me chame de velho de novo e eu repenso seu cargo, Lupin.

Teddy riu e desencostou-se da parede.

- Então, era só isso?

- Não – Harry reassumiu a posição tensa e a expressão séria. Teddy se surpreendeu como o padrinho conseguia mudar de humor e postura tão rapidamente – Digamos que hoje está sendo um dia de grandes surpresas e revelações para todos nós, e que a sua grande novidade não será o único impacto que a família irá levar hoje.

- Como assim? – Teddy perguntou, preocupado.

Harry suspirou e colocou a mão no ombro do afilhado.

- Teddy... – Ele hesitou sem saber como começar – Nós nos atrasamos porque algo inesperado aconteceu hoje de manhã em Hogwarts, e nós realmente nos surpreendemos quando os garotos saíram do trem, trazendo a surpresa. Sei que ela é muito impactante para todos, para mim e para você principalmente. Não sei ao certo qual será a sua reação, mas posso imaginar e... Bom, saiba que eu sei como você se sente e só peço que você tente se acalmar e manter os pés no chão, e aceitar tudo isso como um presente, assim como eu aceitei.

 - Que surpresa? Do que você está falando?

Harry suspirou e decidiu ser direto.

- Na manhã de 22 de dezembro de 1976, seu pai, meus pais e Sirius resolveram realizar uma experiência com um Vira-Tempo, que acabou indo longe demais e...

- E...? – Teddy perguntou curioso e apreensivo, adivinhando o que viria a seguir, mas sem conseguir acreditar. Porém, suas suspeitas se confirmaram quando o padrinho simplesmente acenou para um ponto distante e escuro da sala aonde se encontrava o grupo mais surreal que ele já vira na vida.

A boca de Teddy se abriu e suas forças vacilaram por um instante. Ele apoiou-se na parede e sentiu sua aparência voltando ao normal, mas não ligou, tamanho era o choque. Ali estavam os verdadeiros e originais James Potter, Lily Evans, Sirius Black e... Remo Lupin. Mais jovem e saudável do que ele jamais vira em foto alguma, mais jovem até do que ele mesmo, ainda tinha idade para estar em Hogwarts. Teddy não soube o que pensar e nem o que sentir. Ali estava seu pai, mas ele não podia acreditar, ele nunca o vira antes, como aquilo era possível? Talvez fosse uma ilusão, alguma espécie de feitiço da confusão... Ele piscou algumas vezes, esperando que eles, particularmente ele, sumisse de vista, mas nada aconteceu.

- Ele é... Ele é real? – Teddy perguntou num fio de voz.

- Sim – A voz de seu padrinho estava tão firme que ele não teve como duvidar.

Teddy então encostou o corpo todo na parede, tentando recuperar suas forças e colocar a cabeça e os sentimentos no lugar. O que era meio impossível porque tudo dentro dele girava a mil, e tudo veio à tona novamente: Todos os momentos de dor em que ele sentira-se sozinho por não ter os pais, todas as vezes que ele chorara por isso; todas as fotos que ele já vira, tudo o que já lhe contaram sobre ele; todas as vezes que fizera um cartão para seu padrinho ao invés de seu pai no Dia dos Pais quando ele ainda estudava na escola trouxa, antes de ir para Hogwarts; todas as vezes que ele desejou ter um pai de verdade para presentear; todas as vezes que lhe compararam com seu pai, um homem que ele nem conhecia. Então, de todos os sentimentos que sentia, a raiva se destacou e fluiu por entre as veias de seu corpo de forma que lhe deu forças para se sustentar em pé. Sentiu seus cabelos e olhos mudarem de cor, e tudo a sua frente ficar vermelho, e sua respiração, juntamente com seu coração, se acelerarem, seus músculos enrijecerem e seus punhos se contraírem. A raiva dentro dele tentava sair por cada um de seus poros e vingar todos aqueles outros sentimentos ruins que se escondiam por trás dela.

- VOCÊ! – Ele apontou descontrolado e se aproximou do garoto que ele sabia ser seu pai; e de repente ele começou a fazer para ele todas as perguntas indignadas que ele tanto sonhara em fazer na adolescência, quando se imaginava reencontrando o pai ausente – QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA APARECER AQUI DO NADA DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS?! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA ME ABANDONAR E DEPOIS APARECER AQUI COMO UM FANTASMA, NA FORMA DE GAROTO?! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA QUERER BANCAR O HERÓI E ME DEIXAR PARA LUTAR NUMA GUERRA ESTÚPIDA?!

Remo ficou chocado. Toda a sua emoção por ver que seu filho lhe notara e voltara a sua aparência original; exatamente igual a ele, com os mesmos cabelos castanhos claros lisos e curtos, os olhos castanho-amendoados e o nariz comprido e fino; se esvaiu quando de repente ele adotou uma postura agressiva e seus cabelos e olhos tornaram-se rebeldes e vermelhos como o fogo. Agora o rapaz com a voz grossa berrava com ele a plenos pulmões e Remo não soube o que fazer.

Mas Remo não era o único completamente chocado e assustado, todos se encontravam na mesma situação.

- Teddy... – Victoire superou o choque para chamar o namorado, amedrontada, esperando que ao ouvir a sua voz ele recuperasse a consciência e a calma que acabara de jogar pela janela. Mas Teddy pareceu não tê-la ouvido: Todos os seus sentidos e atenções estavam voltados para o garoto pálido e assustado à sua frente.

- HEIN?! ME RESPONDE! – Ele berrou – QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA ME DEIXAR AQUI SOZINHO, ACHANDO QUE ESTARIA TUDO BEM, SOMENTE PARA BANCAR O HERÓI?! VOCÊ SABIA QUE VOLTARIA E QUE EU TE VERIA DE NOVO, PENSOU QUE ESTARIA TUDO BEM, NÃO É?! MAS NÃO ESTÁ! NUNCA ESTEVE!

Remo continuou paralisado. O que ele deveria fazer? Gritar, tentar se defender por coisas que ele ainda nem havia feito?

- ELE NÃO QUIS BANCAR O HERÓI, ELE FOI UM HERÓI! – Para o espanto de todos era James I quem gritara em resposta. James sabia como aquele momento estava sendo difícil para Remo e ele simplesmente não suportava que gritassem com seus amigos assim, principalmente de forma tão injusta.

- CALA A BOCA, POTTER, EU ESTOU FALANDO COM O MEU PAI!

- E VOCÊ ESTÁ FALANDO ASSIM COM O MEU PAI! – Harry de repente se manifestou furioso com a forma que Teddy estava agindo – EU ACHEI QUE TIVESSE TE DADO EDUCAÇÃO O SUFICIENTE GAROTO, E TAMBÉM ACHEI QUE TIVESSE TE EXPLICADO TUDO MUITO BEM! ELE SE ARRISCOU E MORREU PARA GARANTIR QUE A SUA GERAÇÃO TIVESSE UM FUTURO MELHOR! ASSIM COMO EU E MUITOS OUTROS AQUI NESSA CASA! ESCOLHEMOS NOS ARRISCAR E MORRER POR VOCÊ! VOCÊ DEVERIA SE ENVERGONHAR POR ESTAR AGINDO DESSA FORMA NESSA IDADE, AINDA MAIS APÓS TER ESCOLHIDO FORMAR A SUA PRÓPRIA FAMÍLIA! VOCÊ DEVERIA ENTENDER!

Ao ver o padrinho vermelho gritando descontrolado com ele daquele jeito, as forças de Teddy vacilaram novamente e toda a energia que havia dentro dele murchou como se tivesse levado um balde de água fria. Harry nunca gritara com ele, nem mesmo quando ele vivia se rebelando quando adolescente. Mas pior do que gritar com ele pela primeira vez foi atirar na sua cara todas aquelas verdades. E agora ele pôde ver tudo claramente e reconhecer que ele realmente estava agindo como um insano, ele estava insano, sendo que num momento como esses ele deveria se controlar, manter o sangue frio e pensar racionalmente, não sair por aí gritando e agindo como um animal descontrolado; ele havia aprendido isso no treinamento para auror e achava que havia aprendido, mas aquele choque provavelmente tinha abalado toda a sua consciência. Ele estava sendo idiota e egoísta, e arrependeu-se profundamente disso. Ele achara que já havia superado toda a revolta que havia se formado dentro dele pela ausência de seu pai, mas estava enganado: Ainda continuava sendo aquele garoto birrento e estúpido que havia sido anos atrás, não havia crescido nem mudado nada.

De repente, então, ele sentiu seus olhos se umedecerem e uma lágrima cair por sua bochecha, e, para a sua surpresa, o garoto com quem ele estava berrando descontroladamente minutos atrás deu alguns passos a frente e colocou uma mão reconfortante em seu ombro. E todo o arrependimento, a culpa e o remorso que Teddy estava sentindo naquele momento fluíram nos soluços que ele não conseguia controlar.

- M-Me d-desculpe... – Teddy tentou pedir num sussurro entre os soluços, e Remo simplesmente o abraçou forte.

- Não precisa... – Remo sussurrou – Eu sei, eu entendo.

Teddy simplesmente abraçou o pai com todas as forças que tinha e chorou todos os sentimentos bons e ruins que se agitavam dentro dele. Remo então sorriu e acrescentou:

- Deve ser a genética de lobo.

Teddy então riu entre as lágrimas e se abraçou mais ao pai, agora grato pelo presente surreal e inesperado que o destino lhe dera. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Revirando O Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.