Revirando O Tempo escrita por Fernanda Alves


Capítulo 10
UMA PARADA NA RESIDÊNCIA DOS POTTER


Notas iniciais do capítulo

Gente, voltei! E para compensar aqui está um capítulo ENORME! Espero que gostem e que não tenham me abandonado! Estou morrendo de saudades!
Beijos (:



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Como todos haviam chegado à estação por carros trouxas, para poderem carregar as crianças e suas bagagens, eles tiveram de passar na casa dos Potter para desembarcar as coisas e chegarem à Toca, onde seria o jantar de boas vindas, via Rede de Flu. Afinal, se fossem de carro iriam levar horas preciosas que ninguém estava disposto a perder sem rechear o estômago com a maravilhosa comida de Molly Weasley.

Lily ficou realmente impressionada como ela, os Marotos, Al, Lily Luna e James Sirius couberam confortavelmente no banco traseiro do carro. Ela e os garotos logo desembestaram a contar como foi que viajaram no tempo e tudo o que aconteceu até chegarem ali. Harry não parava de rir, e estava tão sorridente que suas bochechas até doíam. Ele estava tão feliz que a tarefa de dirigir tornava-se mais difícil do que ele imaginara. Gina olhava contente para o marido, vendo que ele não cabia em si de felicidade por finalmente poder passar um tempo com algumas das pessoas que ele mais amava no mundo e as quais tanto sentira falta.

- Eu queria ter visto a cara da Minerva quando viu vocês – Harry ria – Ela deve ter ficado prestes a desmaiar exatamente como ela ficou quando me viu sair da Capa da Invisibilidade no dia da Batalha de Hogwarts. Se não fosse um momento tão crítico seria até engraçado.

- Nós queremos saber mais sobre essa Batalha! – Se adiantou Sirius.

- Sim, queremos saber de tudo! – Acrescentou James.

- Eu... Bom, eu não sei se é seguro contar... Aconteceu tanta coisa... – Começou Harry, inseguro, mas foi interrompido pelo filho.

- Não papai, nós já contamos muita coisa a eles – Disse Alvo.

- Contaram o que? – Perguntou Gina, receosa.

- Bom, nós sabemos como eu e Lily morremos e como você ganhou essa cicatriz – James balançou os ombros.

- E também que eu fui preso injustamente e morto pela minha própria prima, mas tive a chance de representar pelo menos um pouco o meu papel de “Padrinho-Bacana” – Acrescentou Sirius.

- “Bacana” – James Sirius repetiu e riu, levando um olhar ofendido de Sirius.

- O que tem de errado em falar “bacana”?

- É que isso já saiu de moda há uns quarenta anos atrás – James Sirius continuava a rir.

- Eu acabei de sair de quarenta anos atrás, aonde falar “bacana” era bem descolado, ta? – Sirius respondeu, e se ofendeu mais quando James II continuou rindo.

 - Não interessa se é legal ou não falar “bacana” – Interrompeu Gina, exasperada – O que interessa é: Como é que vocês contaram essas coisas?! Vocês estão malucos?! Ninguém podia ter contado nada! Assim eles vão mudar toda a ordem dos acontecimentos e vocês vão poder até nem ter nascido!

- Mamãe, relaxe – Disse James Sirius – A tia Minerva liberou tudo.

- Minerva liberou tudo?! – Admirou-se Harry – Como?! O que vocês deram pra ela?! 

 - Nada – James I balançou os ombros com simplicidade – Ela disse que seria bom contarem tudo para o bem da nossa convivência nesse tempo, e que depois uma tal de Hermione lançaria um feitiço da memória em nós.

- Realmente, o Obliviate de Hermione é muito poderoso – Concordou Harry.

- Hermione é a mãe de Rose e Hugo, não? – Perguntou Lily e todos acenaram com a cabeça em resposta. Ela continuou – Me lembro de Rose ter dito no trem que os pais dela, juntamente com você, Harry, foram responsáveis pela morte de Voldemort...

Ela ia continuar a pergunta, mas perdeu o fio da meada ao constatar que Harry sorria pelo vidro retrovisor. Harry percebeu a confusão da mãe resolveu esclarecer o motivo.

- Você também não tem medo do nome – Harry sorria orgulhoso por ser filho de quem era, por constatar com os próprios olhos tudo o que haviam lhe dito sobre a coragem de seus pais – Mesmo sabendo que agora ele está morto, da onde você veio ele ainda existe e é extremamente poderoso, e mesmo assim você não teme o nome...

- Ora, mas é claro que não! – Fora James quem respondera – Temer o nome só o torna mais poderoso, e prova a nossa submissão a ele! E isso nós jamais poderíamos admitir!

- Eu sempre disse isso – Harry agora sorria ainda mais – Mas, me desculpe interromper, o que você dizia mesmo...?

Lily percebeu a hesitação de Harry no final da frase. Ele não sabia como chamá-la. Realmente seria muito estranho chamar a própria mãe pelo primeiro nome como uma desconhecida ou uma velha amiga, mas mais estranho ainda seria chamar de mãe uma adolescente da idade de seus filhos e seus sobrinhos. Mas Lily já não se importava. A partir do momento em que ela pusera os olhos em Harry pela primeira vez e vira que por trás de seus óculos estavam os seus olhos, e também seu sorriso, se observarmos bem; ela percebeu que nas veias dele circulava o mesmo sangue que o dela, e um roubo de afeição a tomou repentinamente, fazendo-a constatar que Harry, de uma forma inexplicável, era parte dela. E como mais explicar um vínculo tão forte e mágico como esse? Se ela sabia, e ele também sabia, por que não tratarem um ao outro como mãe e filho? Ela sabia que Harry sentira falta daquilo e ela não seria capaz de negá-lo por pura aparência.

- Mãe – Ela sorriu – Eu sei que é estranho, mas se você quiser você pode me chamar de mãe. Afinal, apesar das circunstâncias, é assim que deve ser, não?

- E eu digo o mesmo – James também garantiu. Ver Harry na sua frente, por mais que ele fosse um homem de meia-idade, muito mais velho e experiente do que ele, com idade suficiente para ser seu pai, fazia James feliz. Pois de uma forma estranha, ele sentia como se já se conhecessem a tanto tempo que não pudessem contar; e, acima de tudo, mostrava a ele que era verdade, tudo o que ele sempre sonhara realmente acontecera: Ele realmente se casara com Lily, e juntos eles tiveram um filho, que estava ali, bem na sua frente. Ele tinha os traços dele, mas tinha os olhos dela. Tem prova maior que essa? E James realmente estava louco para vivenciar tudo isso. E ouvir Harry chamá-lo de pai e chamar Lily de mãe só tornava tudo aquilo ainda mais real, como se fossem a família que realmente eram; e ele nunca pensou que pudesse ser tão feliz de uma forma tão bizarra como estava sendo agora.

Gina colocou a mão por cima da do marido, que segurava o câmbio do carro com tanta força como se sua vida dependesse daquilo. Ela sabia o motivo: Harry queria ter uma prova de que aquilo tudo era real, de que não estava sonhando ou tendo alguma espécie de devaneio, e a sua mão por cima da dele era mais uma prova de que aquilo tudo era real. E Gina estava feliz, por mais que ela ainda não conseguisse assimilar a ideia de que aqueles dois adolescentes sentados no banco de trás eram os sogros que nunca teve a oportunidade de conhecer, e que ao lado deles estava o padrinho de Harry que tentara ajudar a salvar no quarto ano, e que ali também se encontrava uma versão mais jovem e menos experiente do melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que ela já tivera; de uma forma estranha, tudo parecia se encaixar, e no fim, nada mais ali parecia estranho. Harry sorriu para ela e ambos souberam que compartilhavam pensamentos. Mas isso ocorria já há tantos anos que eles nem estranhavam mais.

- Vocês não sabem o quanto isso tudo significa para mim – Harry realmente não conseguia traduzir tudo o que pensava em palavras, mas achou que essa simples frase bastava. Porém, como ele nunca fora muito bom em lidar com sentimentos, achou que era melhor continuarem o assunto como se não houvesse sido interrompido, mas sem, é claro, perder o gosto de fazer o que a vida toda sempre quis fazer e nunca tivera a oportunidade: chamar alguém verdadeiramente de – Mãe, qual era mesmo a sua pergunta?

Lily sorriu quando ele a chamou, mas achou por bem quitar logo sua dúvida que se formara desde o instante em que Rose começara a contar a história, mas foi esquecida depois daquele caminhão de informações difíceis de digerir.

- Como eu ia dizendo, Rose disse no trem que Voldemort está morto graças aos pais dela e a você... Como isso é possível?

- Bom – Harry suspirou – Essa é complicada, mas acho que tudo o que aconteceu naquela época foi muito complicado. Aconteceu que na realidade, eu acho, aquele era o meu, o nosso destino, e tudo só se confirmou quando Dumbledore me contou a profecia completa. Ele foi um mentor para mim, e mostrou-me todas as informações necessárias para que isso fosse possível. Eu gosto de pensar que Dumbledore, na realidade, é a quem devemos dar os méritos da destruição de Voldemort. Afinal, ele previu tudo, pensou em tudo, nos deu todas as informações e recursos necessários e até começou o processo... Só coube a nós terminar.  

- Do que você está falando? Que processo? – Remo perguntou, visivelmente intrigado.

- Não me levem a mal, mas essa é uma longa história e eu não acho que esse é o momento certo para contá-la, dentro de um carro e de estômagos vazios. Mas eu prometo que conto tudo com detalhes quando chegarmos à Toca.

- A Toca? – Sirius repetiu confuso.

- É como se chama a casa dos nossos avós – James Sirius sorriu – Bem criativo, não?

- Realmente, mas a que se deve esse nome? – Remo traduziu em palavras o que todos os viajantes do tempo se perguntavam mentalmente.

Gina ficou risonha e achou que cabia a ela dar a resposta.

- Bem, todos sempre disseram que nós, Weasley’s, nos reproduzimos como coelhos. Então nada mais justo do que nosso lar se chamar A Toca, certo?

Todos riram.

- É tudo falta de televisão! – James Sirius exclamou, fazendo todos rirem, exceto James e Sirius, que franziram a testa.

- O que diabos é vetelistão? – Sirius perguntou. 

- Televisão, Sirius – Lily Luna ria – É um aparelho dos trouxas e serve para levar informação e entretenimento à casa das pessoas.

- Para mim deu na mesma – James balançou os ombros.

- É uma caixa com uma tela de vidro no meio da onde saem imagens e sons, e as pessoas sentam-se na frente dela para assistir – Lily suspirou e resolveu explicar de uma forma que aquele cérebro de tronquilho entendesse.  

- Caramba! – James admirou-se – Mas como é que isso funciona sem magia?!

- Ah, isso já é bem mais complicado e a gente te explica depois – Lily Luna respondeu pensando ter dado o assunto por encerrado, mas Sirius abriu a boca novamente e provou que ela estava enganada.

- Eu nunca vi coisa parecida, mas to louco para ver! Adoro objetos trouxas em geral.

- A gente te mostra quando chegar em casa! – James Sirius garantiu.

- Vocês têm televisão em casa? – Remo admirou-se. Poucas famílias de bruxos possuíam objetos trouxas em funcionamento em casa.

- Sim, nós moramos num bairro trouxa – Harry balançou os ombros – Achamos melhor, mais confortável, pacífico e seguro.

- Por quê? – James perguntou confuso – Que perigo poderia existir morando entre bruxos?

- Não é bem perigo... – Harry tentou explicar, mas não conseguiu encontrar palavras e olhou para a esposa, buscando auxílio.

- É que Harry é muito famoso no mundo bruxo, por isso nós já somos perturbados por jornalistas e admiradores quando estamos em público – Gina explicou, sem rodeios – Agora imagina se vivêssemos num vilarejo bruxo? Não teríamos mesmo um só minuto de paz!

- Famoso? – James repetiu sorrindo – O meu filho famoso? Gostei disso.

- Gosta porque não é com você – Alvo respondeu no lugar do pai – É um pé no saco na maior parte do tempo.

- Você é famoso por derrotar Voldemort? – Lily perguntou, ligando as informações.

- Sim – James Sirius citou com um tom um pouco monótono, mas sem conter a pitada de orgulho na voz – Ele é Harry Potter: “O menino-que-sobreviveu”, “O Eleito”, “O menino-que-venceu” e, por fim, “O salvador do mundo mágico”.

- Uau! – Sirius exclamou – Isso realmente deve atrair as garotas!

- Nem me fale! – Gina confirmou com um tom exasperado – Não sabe o trabalho que eu tive, e ainda tenho, para conter as fãs assanhadas!

- Mas sem necessidade alguma, já que você sabe muito bem que eu tenho, e sempre tive, somente olhos para você! – Rebateu Harry, um pouco irritado, como se já tivesse cansado de repetir uma verdade inabalável que não pudesse ser enxergada.

Gina sorriu de orelha a orelha: Não importa quanto tempo tivessem namorado, nem há quantos anos estivessem casados, para ela, Harry sempre seria o garoto que faz seu coração bater mais forte somente com um olhar.

- Acho bom mesmo, Sr. Potter – Ela selou os lábios com os do marido, que sorriu logo depois. Era incrível como com simples palavras ele tinha o poder de derreter aquela ruiva de ferro. Pena que ele levou tanto tempo pra conseguir reconhecer esse poder.

- O amor é lindo, eu sei, mas por favor, não façam isso na nossa frente! – Falou Sirius, enojado, recebendo olhares feios de Lily Luna e Lily.

- Sirius! – Lily Luna ralhou.

- O que foi? É verdade! – James Sirius defendeu – Eu não quero ter outro irmão, o Al já é chato o bastante por vários!

Alvo olhou feio para o irmão e já ia responder quando foi cortado por sua mãe. 

- James, não fale assim do seu irmão! – Repreendeu Gina, e depois acrescentou, maldosa – E saiba que é preciso muito mais do que isso para vocês ganharem outro irmão... 

- Chegamos! – Harry anunciou, muito corado e aliviado por terem a oportunidade de mudar de assunto. As expressões de nojo dos filhos foram substituídas por um misto de alívio e alegria, e a dos viajantes do tempo de fascinação ao contemplarem a residência dos Potter pela janela do carro. 

Os Potter moravam numa casa grande, porém simples no subúrbio de Londres. Era mais afastada das demais, e encontrava-se bem no fim de uma rua longa e encantadora, repleta de casas muito bem cuidadas e árvores que, no momento, estavam sem folhas e frutos, por causa do inverno, mas que eles presumiram ser muito floridas e bonitas em outras épocas do ano. A enorme casa era rodeada por um quintal enorme, todo gramado, com um adaptado campo de quadribol meio escondido nos fundos e uma grande porta na frente que abria para a enorme garagem no subsolo. A fachada, Lily achou, era encantadoramente simples: Branca com detalhes azuis, e portas vermelhas. Muito chamativa e engraçada, na opinião dela.

Harry, com um aceno de varinha, fez a porta da garagem se abrir e estacionou o carro à beira de uma porta e os demais carros contendo o resto da família Weasley, e também os Scamander, estacionaram logo atrás, em fileira. Logo, todos já haviam desembarcado, juntamente com as suas bagagens, e estavam protegidos no interior quente e confortável da residência.

O interior da casa era um reflexo do exterior. Logo à frente da porta de entrava encontrava-se uma enorme escada em espiral, que levava ao andar de cima. À sua direita estava uma sala de visitas extremamente convidativa, repleta de sofás e poltronas de aparência muito confortável, uma lareira grande na parede oposta, e uma televisão numa estante repleta de porta-retratos aonde pequenas pessoas riam, acenavam e se moviam para todos e ninguém ao mesmo tempo. À esquerda da escada estava uma sala de jantar com uma mesa muito comprida, com mais cadeiras que eles podiam contar, e um grande arco na parede oposta dava acesso à uma cozinha enorme e tão bem equipada que faria uma dona de casa nata sentir-se extremamente feliz e à vontade. Resumindo, a casa dos Potter era feita de cômodos grandes e simples, mas confortáveis, de forma que qualquer um que se acomodasse ali poderia sentir-se em seu verdadeiro lar.

Enquanto toda a família Weasley-Potter-Scamander se agitava a sua volta, enviando via Rede de Flu suas bagagens para as suas respectivas casas ou então simplesmente se jogando nos sofás e nas poltronas fofinhas, as atenções dos viajantes do tempo se voltaram para a estante com os porta-retratos. Eles se aproximaram e viram ali um resumo completo do crescimento da família Potter. Havia algumas fotos recentes dos membros da família jogando quadribol, vestindo alguma roupa engraçada, almoçando ou só acenando e sorrindo. Havia também fotos do casamento de Harry e Gina, dela grávida, e de cada um de seus filhos bebês, que ao longo das molduras iam crescendo e se desenvolvendo. Havia também uma foto de três crianças sorridentes em seus uniformes de Hogwarts: Um garoto ruivo e muito mais alto que os outros dois acenava para eles; também havia uma garota que sorria para eles com os dentes da frente grandes de mais, e tinha o rosto em forma de coração emoldurado por uma juba de volumosos cachos castanhos; e no meio deles estava o pequeno Harry, eles sabiam. Ele tinha um aspecto mirrado, de tão magro e pálido que era, e só o que se destacavam eram seus cabelos negros desgrenhados, seus brilhantes olhos verdes por trás dos óculos e uma grande cicatriz em forma de raio no meio da testa, que se destacava mais por ele na foto estar tão pequeno. 

O coração de Lily se aqueceu ao fitar ali o seu pequeno filho, e também se entristeceu por não ter tido a oportunidade de vê-lo nessa idade; mas logo todas essas sensações foram expressas pelo choque, pois, uma prateleira acima ela viu uma foto que provava tudo o que ela queria esquecer: Ali estava a foto de seu casamento com James. Ela usava um lindo vestido de noiva e sorria entre James e Sirius, também sorridentes, todos segurando uma taça de champanhe e levantando-a num aceno de cabeça. Um dos braços de James na foto estava acomodado em volta de sua cintura, e eles pareciam realmente satisfeitos e apaixonados.

Ela olhou para o James em carne e osso ao seu lado e constatou que ele também notara a foto, e sorria quase tão abertamente como sorria na imagem, e não soube mais o que sentir. Ela já não conseguia odiá-lo, pois, querendo ou não, seus destinos estavam entrelaçados e eles teriam um filho lindo juntos. Mas ao olhar para trás e lembrar-se de todas as atitudes estúpidas que ele tivera; de todas as vezes que ela o vira se agarrando com meninas vulgares nos corredores logo após ter se declarado para ela, de todas as vezes que ele azarara Severo, e outras pessoas, somente para provar o seu poder e a sua arrogância; Lily se perguntou: Como foi que ele a conquistara? Como no fim ela acabara casada com aquele imbecil? E a resposta lhe veio quase que imediatamente: Agindo da forma que ele agira com ela naquela manhã, que parecia ter sido há séculos atrás, antes de Sirius e Remo adentrarem o Salão Comunal e juntos eles embarcarem nessa experiência maluca.

Mas quanto mais ela encontrava os motivos para esse desfecho, mais ela se rebelava em seu interior. Será que ela realmente não teria opção? Agora que ela já sabia de tudo o que aconteceria, que, na verdade, já aconteceu, ela não conseguia imaginar seu próprio futuro de forma diferente. Ela sentia-se presa injustamente e isso a revoltava. E, por um momento fugaz, ela sentiu uma vontade louca de bater em James. De pular em cima dele e espancá-lo com todas as suas forças, e talvez até enforcá-lo, aniquilá-lo, pois assim talvez ela poderia libertar-se. Por que afinal, era tudo culpa dele, não? Tudo culpa daquele cafajeste imbecil que a perseguira por tanto tempo e por fim ela acabaria domada naqueles braços nojentos.

James baixou o olhar na direção de Lily e seu sorriso aumento ainda mais, assim como o ódio dela.  

- Você viu a foto do nosso casamento, lírio? – Ele perguntou – Você está mais linda do que eu poderia imaginar.

- É Evans, Potter – Lily resmungou entre dentes, tentando conter seu impulso assassino.

- Eu não sempre falei que seria assim que seu sobrenome iria ficar depois que a gente se casasse? – Ele riu e recitou – Lily Evans Potter. Bonito, não?

- NÃO, POTTER! – Ela vociferou, e sem conseguiu se conter, começou a socá-lo com todas as forças que possuía – NÃO É BONITO! E EU NÃO SOU SEU LÍRIO! MAS QUE ÓDIO, POTTER! E SE EU NÃO QUISER NADA DISSO?! AH, NÃO, MAS EU QUERO, NÃO É? EU VOU QUERER, VOU TER QUE QUERER, JÁ QUE EU NÃO TENHO ESCOLHA!

- Lily! Ai! Lírio! – Ele gemia tentando se defender do ataque repentino – O que houve?! Ai!

- COMO VOCÊ AINDA OUSA PERGUNTAR O QUE HOUVE?! – Ela berrava descontrolada – VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA, POTTER! FOI ISSO O QUE HOUVE! ME DEIXOU PRESA, SEM PODER MANDAR NO MEU PRÓPRIO DESTINO! EU SOU A MINHA PRÓPRIA PRISIONEIRA E A CULPA É TODA SUA POTTER! SUA! EU TE ODEIO!

Aquelas palavras chocaram James por um momento. Ele precisava fazê-la parar, precisava pensar e fazê-la pensar, por isso segurou seus pulsos com mais força do que pretendia, fazendo-a gritar e se debater ainda mais.

- AI! ME LARGA POTTER! VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO, ME SOLTA!

- NÃO VOU TE SOLTAR ATÉ VOCÊ ME EXPLICAR O QUE ESTÁ ACONTECENDO! – Ele gritava também, agora visivelmente nervoso – MAS QUE LOUCURA É ESSA?! O QUE FOI QUE EU TE FIZ?!

- EU JÁ DISSE, POTTER! VOCÊ ARRUINOU A MINHA VIDA! VOCÊ FICA AÍ SORRINDO ENQUANTO TODO MUNDO ME CONTA UM MONTE DE COISAS QUE VÃO ACONTECER COMO SE JÁ TIVESSEM ACONTECIDO! DECISÕES QUE EU JÁ FIZ SEM NEM MESMO TER PLANEJADO FAZER! E TODOS FALAM DO QUE EU VOU ACABAR FAZENDO, COMO SE EU QUISESSE TUDO ISSO, MAS NINGUÉM NEM SE INCOMODOU EM ME PERGUNTAR NADA! E SE EU NÃO QUISER ME CASAR COM VOCÊ?! E SE EU NÃO QUISER FORMAR UMA FAMÍLIA?! AH, NÃO, MAS EU NÃO POSSO NÃO QUERER! EU VOU QUERER! AFINAL, JÁ ACONTECEU, NÃO?! NO FIM EU ACABEI CASADA COM ESSE PROTÓTIPO DE GENTE QUE VOCÊ É! E EU NÃO TIVE NEM ESCOLHA!

As últimas palavras de Lily foram como punhos de ferro que atingiram James como poderosos socos na cara. Mas ao invés o deixarem abalado, elas só fizeram inflamá-lo ainda mais.

- VOCÊ FICOU MALUCA?! É CLARO QUE VOCÊ TEM ESCOLHA! TUDO ISSO SÓ ACONTECEU PORQUE VOCÊ ESCOLHEU! E TUDO AINDA PODE MUDAR PORQUE VOCÊ AINDA TEM O PODER DE MUDAR DE IDEIA! – Lily tentou protestar, mas ele continuou gritando, tomado de fúria, apertando ainda mais as mãos nos punhos dela – MAS NÃO É ISSO QUE TE INCOMODA, NÃO?! NÃO É O FATO DO SEU DESTINO JÁ ESTAR TRAÇADO, MAS SIM O FATO DE QUE ELE ESTÁ TRAÇADO COMIGO! VOCÊ NÃO CONSEGUE ACEITAR QUE DEPOIS DE TODOS ESSES ANOS ME ESNOBANDO VOCÊ ACABOU CASADA COMIGO! JUSTO A CRIATURA QUE VOCÊ JULGA MAIS DESPREZÍVEL NA FACE DA TERRA, NÃO É LILY?! MAS SAIBA QUE SE VOCÊ ACABOU TOMANDO ESSAS DECISÕES FOI PORQUE EM ALGUM MOMENTO VOCÊ CONSEGUIU ABRIR ESSA CABEÇA DURA E ENXERGAR QUE EU NÃO SOU O VERME QUE O SNAPE TE FALOU QUE EU SOU! PELO AMOR DE DEUS, EU TE AMO, LILY! E EU VENHO TENTANDO TE MOSTRAR ISSO HÁ ANOS, MAS VOCÊ SIMPLESMENTE SE RECUSA A ACEITAR E ESTÁ FAZENDO TODO ESSE CHILIQUE AGORA PORQUE DESCOBRIU QUE EM ALGUM PONTO VOCÊ VAI CEDER! SABE POR QUE, LILY?! PORQUE UM DIA VOCÊ VAI VER QUE O QUE EU SINTO POR VOCÊ É SINCERO, E QUE A ÚNICA QUE EU QUERO É VOCÊ! POR QUE SERÁ QUE É TÃO DIFÍCIL DE ENTENDER?! MAS QUE DROGA!

James largou-a bruscamente, de forma que ela cairia no chão se não tivesse sido amparada por um Remo boquiaberto, completamente em choque, assim como todos os outros na sala. Lily agora chorava de frustração e arrependimento, tamanha era a força com que aquelas verdades jogadas na sua cara a haviam atingido. James tinha razão, mesmo ela não querendo que ele tivesse.

Após um tempo indeterminado em que todos observaram atônitos e um pouco temerosos de mais uma explosão que não veio; Gina, como a dona da casa, lembrou-lhes de que estavam mais do que atrasados para o jantar e aos poucos as famílias foram embarcando na lareira e surgindo na lareira d’A Toca. Os Potter, naturalmente, foram os últimos, e na viagem pela Rede de Flu resolveram manter James e Lily separados somente por segurança, dividindo-os em duas viagens: Gina, Lily Luna, Alvo e Lily primeiro; e Harry com James, Sirius, Remo e James II depois. E foi incrível como uma simples agitada de pó, um clarão verde, uma fisgada na boca do estômago e uma repentina escuridão tivesse o poder de acalmar todas as suas preocupações e fizessem aquela luz amarela e aquele cheiro de comida gostosa serem as suas únicas sensações no momento. 


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