Revirando O Tempo escrita por Fernanda Alves


Capítulo 12
CASOS DE FAMÍLIA


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpem mesmo a demora para postar, mas é que são férias, eu ando meio avoada, sabem como é... Mas prometo que não vou abandonar vocês, por isso não me abandonem também!
Se tiverem alguma crítica ou elogio é só comentar e eu vou ficar muito feliz em saber. Muito obrigada por todo o apoio!
Adoro vocês, beijos!



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- Isso tudo é realmente muito comovente – Comentou Lucy após um tempo – Mas será que dá pra alguém explicar como foi que eles chegaram aqui?

Todos saíram do transe que era ver Teddy e Remo tendo as primeiras experiências como pai e filho, e olharam para ela. Os viajantes do tempo e os membros da família que já sabiam da história se entreolharam, perguntando-se mentalmente quem iria contá-la.

- Eles simplesmente apareceram hoje de manhã no Salão Comunal – James Sirius balançou os ombros como se fosse a coisa mais comum do mundo.

- Como? – Perguntou Molly II sem entender.

- Na manhã de  22 de dezembro de 1976, Sirius roubou um Vira-Tempo da sala da McGonagall e nós resolvemos experimentá-lo por pura curiosidade, mas os planos de viajarmos somente alguns segundos no tempo foram arruinados pela besta do Black que se empolgou demais e girou com muita força o Vira-Tempo, que se descontrolou e nós fomos parar 44 anos no futuro, dando de cara com eles – Lily, que havia suspirado e resolvido explicar a história mais uma vez, indicou os garotos que os haviam recebido – Descobrimos uma porção de coisas horríveis sobre o futuro e teremos de esperar até que McGonagall consiga um novo Vira-Tempo ajustado do Ministério para que possamos voltar para casa.

- Caramba, que legal! – Exclamou Lucy – Assustador e bizarro, mas muito legal.

- Mas vocês já pensaram na possibilidade desse outro Vira-Tempo também se descontrolar e vocês se perderem no tempo de novo? – Comentou Molly II, fazendo todos os viajantes do tempo arregalar os olhos e empalidecer – E se vocês nunca mais conseguirem voltar pra casa?

- Nós não tínhamos pensado nisso... – Disse Sirius com um fio de voz. Ele poderia agüentar ficar no futuro, onde, até o momento, estava sendo até divertido. Mas a possibilidade dele não conseguir voltar para casa e nunca mais atormentar sua Lene parecia demais pra ele. Ele olhou para os lados e viu que seus amigos também estavam prestes a desmaiar.

- Ora, mas isso não vai acontecer – Hermione disse com tranqüilidade.

- Como você pode ter tanta certeza? – James perguntou.

- Não é simples? Porque já aconteceu! Nós já sabemos que deu tudo certo! – Ela respondeu, dando de ombros, mas suspirou e resolveu explicar melhor ao ver as expressões confusas de todos ao fitá-la – Isso para nós já está no passado, e se todos estamos aqui hoje, foi porque vocês conseguiram voltar e construir toda a história que hoje para nós é passado, certo?

- Realmente, você tem razão – Lily suspirou aliviada, sendo acompanhada pelos amigos.

- Ela sempre tem razão, ela é a bruxa mais inteligente do mundo! – Rony sorriu orgulhoso da esposa, levando um “Oh, Rony” e um beijinho de prêmio de uma encabulada Hermione. Harry não pôde deixar de sorrir ao ver aquela cena: Não importa o quanto tempo passe, aqueles dois sempre serão os mesmos.

- Bom, saibam que é um prazer enorme tê-los conosco em nossa casa – Garantiu um sorridente Arthur Weasley, se aproximando para cumprimentar todos os visitantes – Agora sim a família está completa! E Remo, meu amigo, nós sentimos muito a sua falta.

Remo sorriu encabulado enquanto de um aperto de mão foi levado para um abraço daquele velho magro, careca e enrugado, mas muito forte e sorridente que ele sabia ser Arthur Weasley.

- Obrigado, Arthur, fico muito feliz de estar aqui também – Ele sorriu.

- Sejam bem-vindos à nossa casa, queridos – Agora Molly Weasley também cumprimentava os visitantes de sua forma calorosa. Eles se espantaram como Molly, apesar de já estar muito velha e enrugada, e seus cabelos ruivos já estarem quase totalmente brancos, quer dizer, num tom meio amarelado, continuava muito forte, cheia, corada e com seu típico sorriso bondoso, que não mudava nunca. Ela abraçou todos com tanta força de forma que eles até perderam o ar por alguns segundos, e demorou um pouco mais em Lily, segurando o rosto dela entre as mãos gorduchas.

- Ah, Lily querida, eu sei que nós nunca fomos muito amigas, mas saiba que tenho um carinho muito grande por você – A velha Molly Weasley sorriu para ela de forma que o coração de Lily se aqueceu – Todos têm razão, os olhos de Harry são exatamente idênticos aos seus. Eu sei que você não pôde passar muito tempo com ele, mas saiba que eu fiquei de olho nele por você durante todos esses anos. Quero te parabenizar, pois ele é um menino maravilhoso, quer dizer, um homem maravilhoso. E não fique com ciúmes, mas ele é como um filho para mim.

Lily sorriu para ela de forma que há muito não sorria.

- Muito obrigada por cuidar do meu menino, Molly – Lily abraçou-a – E saiba que quando eu me for, eu também vou ficar de olho no seu por você.

Os olhos de  Molly se encheram de lágrimas por lembrar-se de Fred, mas procurou lembrar de que ele está em paz em um lugar melhor, e que Lily está lá para cuidar dele assim como ela cuidava de Harry. Ela suspirou e já ia soltar a menina quando Harry chegou inesperadamente e abraçou as duas ao mesmo tempo, sorrindo por ter a oportunidade de abraçar as suas duas mães, e que juntamente a Gina, sua filha e Hermione, eram as mulheres que ele mais amava no mundo. Por fim, ele beijou a bochecha de cada uma e sussurrou “Eu amo muito vocês duas, mamães”, fazendo-as corarem e sorrirem, encabuladas.

- Ai, querido, nós também te amamos, mas você não está com fome? – Molly limpou algumas lágrimas que haviam surgido e perguntou, procurando se recompor.

- Com muita fome, vovó, nos alimente, por favor, nós estamos morrendo! Você não vê como estamos magros e desnutridos? – James Sirius fez uma atuação dramática que Lily achou que merecia um Oscar, fazendo a avó sorrir divertida.

- Não seja dramático, querido, mas você está muito magro mesmo – Molly passou a mão no rosto do neto – Achei que você jogasse quadribol. Mas tudo bem, vamos já dar um jeito nisso. Todos para a cozinha!

Ela não precisou repetir e todos já se dirigiram para lá, não sem antes James Sirius ter que agüentar as risadas e gozações dos primos e de Sirius pela avó ter criticado o físico do qual ele tanto se gabava. Mas isso não durou muito, já que todos estavam mais do que loucos para rechearem os estômagos vazios com a deliciosíssima comida de Andrômeda Tonks, Molly Weasley, noras e netas (as que já terminaram Hogwarts, é claro).

Sempre foi uma tradição da família Weasley as mulheres ajudarem Molly, a anfitriã da casa, a preparar as ceias de família. A princípio somente Gina, a filha caçula, ajudava-a nas preparações, mas após Teddy ter se tornado tão próximo deles, por ser afilhado de Harry, Andrômeda passou a ajudar, e logo as noras também surgiram, e há pouco tempo, quando se formaram em Hogwarts, Victoire, Molly II e Lucy também passaram a ajudar.

Quando se refere a noras, diz-se quase todas as noras, pois Hermione era uma exceção. Apesar de ela ser uma bruxa brilhante, na cozinha ela era uma absoluta negação, e, após Molly, Andrômeda, Gina, Fleur, Angelina e Audrey terem tentado ajudá-la de todas as formas possíveis, finalmente consideraram-na uma causa perdida e desistiram, resolvendo simplesmente deixá-la fora da cozinha.

Logo a enorme mesa foi mais uma vez ampliada e mais quatro cadeiras foram adicionadas a ela para que todos coubessem confortavelmente; e em pouco tempo a cozinha tornou-se muito barulhenta, por causa das altas risadas e das conversas paralelas que se cruzavam em diversos pontos da mesa extensa, sem contar o barulho de talheres e de gente comendo.

- Andrômeda, minha prima! – Exclamou Sirius ao notá-la – Fico feliz de que ainda está viva, botando a ordem na casa.

- Sirius! – Andrômeda sorriu, balançando a cabeça – Pensei que nunca teria a sua adorável companhia novamente.

- Sirius Black é eterno, priminha – Sirius sorriu e piscou pra ela, e logo se serviu de uma torta de frango que parecia deliciosa – Mas me diga – Ele assuntou com a boca cheia de torta – Como foi que você deixou o nosso amigo lobo acabar papando a minha sobrinha?

Andrômeda riu gostosamente, essas perguntas indiscretas sempre foram a marca registrada de Sirius em reuniões familiares, desde criança. 

 - Bem, apesar de tudo ele era um bom rapaz, sabe, e Dora já era uma mulher e realmente gostava dele, então não houve nada que podíamos fazer – Ela deu de ombros.

- É – Sirius sorriu – Ele realmente é um bom rapaz – Ele olhou de relance seu amigo Remo e seu filho conversando animadamente mais adiante na mesa e balançou a cabeça, sorrindo, antes de dar mais uma garfada na deliciosa torta.

- Isso realmente está fabuloso, Molly! Acho que nunca comi nada tão saboroso na vida! – James I exclamou com a boca cheia, traduzindo o pensamento de todos.

- Muito obrigada, querido, fico feliz que goste – Molly respondeu encabulada.

- Você realmente está de parabéns, é uma excelente cozinheira! – Ele sorriu novamente, e Lucy deu um pigarro.

- Nós somos excelentes cozinheiras, a vovó é esplêndida, mas nós também ajudamos, não é, meninas? – Ela olhou para Molly II e Victoire.

- Sim, sim, mas deixe-a levar o crédito, não seríamos nada sem a vovó mesmo – Victoire deu de ombros, virando-se novamente para observar o namorado que conversava com o pai ao seu lado, tão feliz que estava alheio ao resto do mundo.

- Ah, sim, é claro, você tem que conhecer a minha namorada! – Teddy acrescentou de repente e virou-se para ela – Victoire, esse é meu pai, Remo Lupin. E pai, essa é a minha musa, Victoire Weasley.

Victoire sorria encabulada enquanto cumprimentava Remo.

- É um prazer conhecê-la Victoire, você é realmente encantadora, fico muito feliz pelo meu filho – Remo sorriu e Teddy sorriu ainda mais ao vê-lo chamá-lo de “meu filho”.

Logo os três engataram uma conversa empolgante, que estava sendo observada por uma Lily muito melancólica. Até alguns minutos atrás ela conversava animadamente com Molly, mas logo as atenções da conversa desviaram-se para James e ela teve um momento para pensar em paz. Sorte a do Remo que ele não precisava encontrar sua esposa, pensou ela, pois ela realmente não sabia como levaria adiante sua situação com James.

Após aquela briga maluca ela não sabia como teria coragem de olhá-lo diretamente no rosto e tentar ter alguma conversa normal com ele. Não que eles alguma vez já tivessem tido alguma, mas agora ela realmente estava envergonhada de seu comportamento, apesar dela ainda não ter mudado muito de ideia. Ela sinceramente não aceitava dentro de si o fato de que um dia eles acabariam juntos, ela simplesmente não entendia, mas de que adiantava brigar por isso?

E como se tivesse escutando seus pensamentos, James olhou para ela de uma forma intensa que a fez desviar o olhar antes que se denunciasse corando. E mais uma vez ela odiou aquele imbecil por fazê-la sentir tantas coisas confusas ao mesmo tempo.

Definitivamente, ela detestava  James Potter com todas as forças, e apesar de estar se sentindo culpada por seu comportamento, e de que certos olhares que ele lhe lançava faziam-na sentir uma sensação engraçada na boca do estômago, ela jamais daria o braço a torcer: Afinal, ela estava certa, não? Aquilo tudo era realmente injusto.

Lily olhou para ele e percebeu que ele voltara a encará-la, ela então formulou a melhor cara de desprezo que tinha e voltou sua atenção para a comida. É melhor deixar tudo como está, pois Lily Evans jamais jogaria fora a sua dignidade pedindo desculpas por algo que ela não acreditava estar errada, apesar de estar arrependida. Se Potter quiser falar sobre isso, ele é quem vai começar o assunto, e sem dúvidas ele terá o tratamento que merece. Afinal, ela era Lily Evans, tinha uma dignidade para manter e um orgulho para sustentar, por isso mesmo ela não o trataria bem de repente como se estivesse aceitando toda aquela ideia maluca de ser casada com aquele trasgo. E se algum dia ele quisesse conquistá-la (o que ela internamente sabia que não seria muito difícil, julgando pela amostra que ele havia lhe dado naquela manhã), ele teria que começar a merecer.

Lily bufou, sem se conter, e Lucy, que estava ao seu lado, olhou para ela.

- Está tudo bem? – Lucy perguntou.

- Claro, está tudo ótimo, é só que essa comida está tão gostosa que me fez até suspirar. Mas então, você é a Lucy, certo? – Ela assuntou para disfarçar e Lucy assentiu – Seus primos lhe disseram que trabalha no Ministério, o que faz?

- Ah – Lucy corou levemente, parecendo desconsertada pela primeira vez. Lily achou-a de uma personalidade muito forte e decidida em sua primeira impressão, e gostou dela. Ela era também sem dúvidas uma moça muito bonita, tinha longos cabelos castanhos ondulados e bonitos olhos azuis, que fizeram Lily imaginar o tamanho do trabalho que ela deveria ter com os rapazes – Bem, eu estou trabalhando para me tornar uma inominável, juntamente com a minha irmã.

- Nossa! – Lily sorriu, impressionada – É preciso muito trabalho, estudo e pesquisa para se tornar uma inominável, fico realmente impressionada.

- Pois é – Ela balançou os ombros – Mas acho que não passa de um trabalho duro, sabe? Minha irmã, por ser mais velha, já está quase conseguindo e está me passando um monte de dicas. Logo eu chego lá. E você pretende fazer o que quando voltar para o seu tempo e terminar Hogwarts?  

- Eu ainda não tenho muita certeza, mas tenho pensado muito em Direito da Magia.

- É muito interessante também. Você deveria conversar com a minha tia Hermione, ela fez esse curso e atualmente trabalha no Departamento de Execução das Leis da Magia.

Hugo, que estava muito ocupado comendo logo ao lado de Lucy, voltou ao mundo quando Lily Luna largou os talheres ao seu lado, finalmente satisfeita, e suspirou. Sua mãe sempre o havia condenado por ter herdado o apetite interminável de seu pai, mas Lily era a única pessoa que o fazia parar de comer.

- O que houve? – Ele perguntou, engolindo.

- Estou satisfeita – Ela respondeu simplesmente.

- Bom, eu não – Ele tomou mais um gole de suco de abóbora. Lily riu.

- Você nunca está satisfeito, seu bobo.

- Ei, estou em fase de crescimento! – Hugo protestou com a boca cheia.  

- Todos nós estamos, Hughs, você só come demais mesmo, admite.

Hugo simplesmente riu e deu de ombros.

- Tudo bem, eu não me arrependo mesmo. Viu, eu admiti, satisfeita?

- Eu já disse que estava – Ela sorriu, fazendo-o revirar os olhos e balançar a cabeça, sorrindo. – Bom, eu acho que vou para o jardim tomar um ar.

- Eu vou com você – Hugo encheu seu prato de tortinhas e Lily encheu dois copos de suco de abóbora e ambos se levantaram da mesa e saíram.

Porém, mal tiveram a intenção de sair quando foram obrigados a retornar para o calor do interior d’A Toca, já que o frio que os abordou quando abriram a porta congelou-os até os ossos. Então eles simplesmente se ajeitaram no sofá: Hugo colocou a comida em cima da mesinha de centro e sentou-se na única extremidade do sofá que lhe restara, já que Lily havia se deitado e tomado boa parte dele, com as pernas de fora e os cabelos ruivos espalhados como um leque em volta de sua cabeça. Ela agora o observava com aqueles grandes olhos castanho-amendoados que pareciam ser líquidos e faziam-no sentir-se mergulhado neles toda vez que os encarava, porém, logo ela os fechou e ele voltou sua atenção para a comida.

Hugo e Lily Luna eram não só primos, mas também melhores amigos desde que se conheciam por gente, e era comum passarem muito tempo sozinhos, já que todos eram mais velhos do que eles. Às vezes Louis vinha importuná-los, mas logo desistia por achá-los “entediantes demais”. Eles discordavam, não eram entediantes, só gostavam de passar o tempo de forma diferente. Enquanto Louis era agitado e gostava de explorar tudo á sua frente; Hugo e Lily somente gostavam de deitar-se na grama e brincar de adivinhar o formato das nuvens no céu e imaginar cenas e situações com elas, além de conversar sobre todo o tipo de coisas e rir de piadas bobas que às vezes só eles entendiam. Mas é claro que eles também gostavam de jogar quadribol e fazer guerras de lama e neve como seus primos, mas na maioria das vezes, nada lhes dava mais prazer do que simplesmente passar o tempo juntos, sozinhos, nem que fosse para ficar em silêncio.

Então, sem perceber, Hugo pegou-se acariciando os longos e sedosos cabelos ruivos de Lily, fazendo-a abrir os olhos e sorrir para ele.

- Sabe, Hughs, às vezes eu queria que meus irmãos me entendessem tanto quanto você.

- Por quê? – Ele perguntou, percebendo que acariciava-lhe os cabelos e recolhendo a mão na hora, bebendo um gole de suco de abóbora e lutando para não deixar que suas orelhas ficassem vermelhas de vergonha.   

- Porque eles me enxergam como uma simples garotinha – Hugo abriu a boca para retrucar e ela logo se apressou em continuar – Tudo bem, eu sei que também não sou adulta, mas poxa, eu estou crescendo, também não sou mais inteiramente uma criança, e eu gostaria que eles percebessem isso.

- Bem, de uma forma ou de outra você sempre vai ser a garotinha deles, Lils, não importa o que aconteça. Eu acho que de um jeito ou de outro você simplesmente vai ter que se acostumar com isso, e também não acho que isso seja ruim de todo, só mostra que eles te amam e só querem te proteger. – Hugo balançou os ombros – Mas afinal, por que você se incomoda tanto com isso? Qual é o problema?

Lily Luna suspirou e se sentou, encarando Hugo de forma que ele teve vontade de simplesmente abraçá-la e garantir-lhe que tudo ficaria bem. Mas é claro que ele não fez nada disso, simplesmente encarou aqueles olhos líquidos e esperou que ela continuasse.

- Hughs, você se lembra o que Lysander disse hoje no trem, sobre meus irmãos serem ciumentos demais?

- Sim, o que tem? – Ele perguntou apreensivo, tentando não ficar nervoso com o rumo que aquela história estava tomando.

- Bom... Me fez pensar, sabe? – Ela suspirou – Ser a única menina da família e ainda por cima a caçula é um fardo difícil por causa dos irmãos que eu tenho que carregar; e mamãe demorou muito para conseguir se livrar disso, ainda mais quando o assunto era namorado. Papai mesmo disse que sofreu na condição de namorado oficial da princesa da família, e olha que ele era amigo de todos há muito tempo... Então, sabe, eu fico pensando...

- Pensando no que? – Hugo agora tendo uma dificuldade terrível para manter a expressão calma, ainda mais considerando o fato de que ela hesitou em respondê-lo – Lils... Sobre o que você está falando?

Lily Luna não teve coragem de encará-lo, e também não soube como confessar o que sentia, afinal, ela nunca havia confessado a ninguém. Mas Hugo era seu melhor amigo acima de tudo, ele entenderia, certo? E ela precisava de alguém com quem dividir aquilo. Ela suspirou novamente e decidiu ser direta.

- É que... Bem, Hughs, talvez não seja tão cedo assim para gostar de alguém e pensar em namoro, sabe? Ainda mais se essa pessoa te dá todos os sinais de que gosta de você também.

- De quem você está falando? – Hugo perguntou num fio de voz, agradecendo por Lily não estar encarando-o no rosto, pois ele sentiu o sangue dele sumir no mesmo instante e sua boca ficar seca: Seria dele que ela estava falando? Será que ele tinha dado muito na cara? Será que ela tinha percebido tudo? E... O mais importante: Será que ela sentia o mesmo também?

Lily Luna simplesmente juntou fôlego e coragem e revelou:

- Adam Corner, da Corvinal.

O fôlego de Hugo murchou juntamente com todas as suas esperanças e todo o ânimo que sentia.

- A-Adam Corner? – Ele perguntou tão atordoado que nem se importou por estar gaguejando – C-Como...

- Bem, ele é bonito, sabe? – Lily sorriu sonhadoramente pensando nos sedosos cabelos castanhos de Adam que caíam-lhe sobre a testa e em seus olhos azuis-esverdeados como uma piscina que a faziam querer mergulhar lá dentro, no seu sorriso branco e perfeito que surgia por entre aqueles grossos lábios rosados e em como seus braços eram quentes e acolhedores quando ele a havia pegado nos braços para evitar que caísse quando ela tropeçou pelo corredor – E ele é legal comigo. E, bem, para ser da Corvinal ele tem que ser inteligente. É engraçado, gentil, e parece gostar de mim. Bom, disso eu já não tenho tanta certeza, mas ele sempre vem falar comigo quando tem oportunidade e é sempre muito simpático...

- Mas Lily! – Hugo interrompeu, tentando controlar sua cólera e indignação – Você mal fala com ele! Como você pode gostar dele,  e pior, pensar em namoro?!

- E por que não? – Ela encarou Hugo irritada – Ele parece gostar de mim e nós podemos nos conhecer melhor, disso para um namoro é um passo! Ou você acha que ele não iria querer nada comigo porque eu não sou bonita nem interessante o suficiente?! – Quando ele não respondeu, ela se encolerizou ainda mais – É isso, não?! Você acha que eu sou estúpida por pensar que um dia ele vai olhar pra mim!

Hugo achou a última afirmação um absurdo, é claro que ele teria todos os motivos para querer namorar com ela, qualquer garoto teria, afinal, ele não conhecia garota mais interessante e atraente do que ela! Ele abriu a boca para responder, indignado, quando ela o cortou novamente.

- Ah, não, é claro, você acha que eu sou criança demais para isso, não?! – Ela bufou indignada, se levantando – Você é igualzinho aos meus irmãos, eu devia saber! Que tola eu fui achando que você iria entender...

Ela se levantou e chacoalhou seus cabelos ruivos na cara dele ao se virar para sair dali, mas ele segurou seu braço, e ela virou-se para encará-lo, furiosa.

- Lily, pare de imaginar as coisas! Não é nada disso, eu...

 - Eu...? – Ela arqueou as sobrancelhas.

Hugo simplesmente suspirou e soltou-a, sem forças para falar o que sentia, ainda mais agora que sabia que não tinha nenhuma chance de ser correspondido.

- Eu não esperava, só isso. Mas... Adam parece ser um cara legal, então... Eu acho que... Bem, boa sorte.

Lily Luna encarou o primo e melhor amigo por algum tempo. Ela realmente havia se precipitado e imaginado as coisas, mas afinal, o que ela poderia esperar já que ele é seu primo e como um irmão para ela? Mas ela sabia que Hugo era melhor que isso, então ela simplesmente deu um meio sorriso para mostrar que se acalmara e fez a pergunta que tanto a atormentava por dentro.

- Será que... Hughs, você acha que eu tenho chances?

- Você é linda, interessante, inteligente, divertida, tem personalidade. Ele seria um louco se não te correspondesse – Hugo balançou os ombros tentando mostrar indiferença. Mas seu coração quase se partiu quando Lily Luna sorriu e o abraçou.

- Obrigada, Hughs, você é o meu melhor amigo, eu sabia que entenderia!

Ele simplesmente abraçou-a e sentiu o cheiro floral de seus cabelos enquanto os acariciava, tentando reprimir seus sentimentos. É claro que não era ele, afinal, o que ele esperava? Eles são melhores amigos desde sempre, e ainda por cima primos! É claro que ela nunca o enxergaria de outra forma...

- Queridos, sobremesa! – Seus pensamentos foram interrompidos pela voz da sua avó gritando da cozinha e tentou reprimir os choques pelo seu corpo quando Lily Luna disse “Vamos” e puxou-o pela mão em direção a cozinha. 


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