A cada reencontro semanal, Ângelo parecia mais à vontade comigo. Isso me satisfazia também.

Toda quinta-feira ele aparecia com novas histórias, enquanto saíamos de carro pela cidade procurando algum lugar aconchegante para que pudéssemos conversar.

Na verdade, ele estava fugindo da rotina que sua vida com Renata havia se transformado. Porque Renata, nós já sabíamos, não era mulher para ele. Numa dessas constatações, Ângelo talvez tenha pensado que eu pudesse ser a mulher ideal. Eu tinha certeza disso.

Então, às seis e meia da tarde de uma terça-feira, sentados num boteco de luxo disfarçado, Ângelo me contou, em meio a um gole e outro de chope, que estava se separando de Renata. Meu amigo de escola estava deixando a mulher que conheceu durante uma reunião de trabalho.

Nada mais cerimonial do que isso.

Ainda não sei como o brilho dos meus olhos ao ouvir a notícia não cegou Ângelo, sentado à minha frente.Tínhamos a cumplicidade a nosso favor. Cansados de correr atrás de uma suposta felicidade utópica, decidimos nos entregar um ao outro, certa noite de sexta-feira, na chácara da Marcela.

Porque nós, sim, éramos o par certo. Não o par perfeito, mas o par certo. E quando todas as certezas de que nossas vidas estavam seladas, algo imponderável aconteceu. Ângelo deixou Renata para ficar comigo.

E talvez estivesse me deixando agora para ficar com outra pessoa. Afinal, estávamos enganados quanto às nossas crenças e intenções.