O resto do dia, não senti vontade de fazer nada. Apenas ficar ali, vendo alguns filmes românticos, e me acabando num pote de sorvete. Aliás, num só não, em váaaarios. Eu fiquei pensando que nós podiamos não ter nascido um pro outro sabe? Aquele lance de alma gemêa, tampa da panela, e que meu principe estaria me esperando em qualquer outro canto do mundo, mas o problema é: qualquer caminho, qualquer coisinha que eu tentasse fazer pra esquecê-lo, me levava de volta pra ele. 

E eu não sei o que é pior: 1-estar apaixonada por um cara que não ta nem ai pra você. 2- estar apaixonada por um cara que não ta nem ai pra você, e vai se casar. ou 3- estar apaixonada por um cara que não ta nem ai pra você, vai se casar e a noiva é sua mãe.

Definitivamente a treceira opção. Decidi largar o sorvete de lado, subi e arrumar minhas coisas pra ir pra estação de trem, pelo jeito meu pai não iria voltar tão cedo pra me levar de volta a Londres. Enquanto colocava peça por peça na mochila fiquei pensando, mais um vez, que era o namorado da minha mãe, e futuramente noivo, era por ele que eu estava apaixonada. As vezes eu me esquecia disso, o que me colocava, cada vez mais, num problema maior ainda. Arrumei as coisas, deixei um bilhete na geladeira e fui pra estação. Esperei o ultimo trem, assim chegaria tarde em casa, e teria alguma desculpa para não frequentar a aula amanhã. 

Viagem longa de trem, sozinha, com o coração partido, musicas tristes...Tem coisa pior? Mas sabe o lado bom dessa história toda? Estou esperando que alguém me diga, porque eu também não sei. Cochilei um pouco, e acordei quando chegamos na estação, peguei um onibus e fui direto pra casa. Assim que lembrei que o Harry podia, provavelmente estar em casa subiu uma tristeza, mas por mais forte que era, eu não me importei. 

A unica luz acesa na casa, era a da cozinha, cheguei em silêncio, e pude ver que minha mãe e o Harry "brincavam" de casados. Estavam fazendo panquecas juntos, ja perdi a conta de quantas vezes me imaginei no lugar da minha mãe...

-Você demorou querida! -disse minha mãe dando um beijo na minha testa, enquanto eu torcia pra ninguém perceber minha cara de choro. 

-Papai saiu com cedo, pra resolver algumas coisas pro casamento e demorou pra voltar, ai...-demorei um pouco pra perceber o que tinha acabado de dizer. Meu pai ia contar pra ela, na hora certa, mas sou muito bocuda. 

Harry tava ali sentado, percebeu a feição da minha mãe mudar. 

-Seu pai foi resolver o que? 

-Nada mãe. boa noite. 

Eu não fugi dela, apenas corri e fui pro meu quarto. Foi meio dificil ver ela daquele jeito, ela sempre foi orgulhosa e sempre quis mostrar pro meu pai que ela podia viver muito bem sem ele, e vê-lo seguir em frente tão rapido, pode ter afetado ela. Tanto que ela nem insistiu pra que eu contasse a história direito, sentou no sofá, e sem pouco se importar com o Harry ali do lado, simplesmente desabou a chorar. Fiquei com dó, mas não podia fazer nada. Subi as escadas o mais rapido que consegui, e ouvi a porta do quarto dela bater. 

Dei uma espiadinha, e ela tinha ido pro quarto e o Harry continuava ali na sala, com cara de quem não entendeu nada. 

-Ela ainda gosta dele ne? Digo, do seu pai...-disse ele abaixando a cabeça. Não sei como, mas ele conseguiu ficar ainda mais lindo com aquela carinha de cão abandonado. Sentei do lado dele e falei:

-Não sei. Eu não sou boa com conselhos, mas sei dar abraços apertados...serve?

Ele sorriu e me abraçou. Percebi que, era melhor tê-lo como amigo, do que como nada. Ficamos um tempo abraçados, e senti sua lagrima molhar a parte da trás de minha blusa.