Vós

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Quinta não tardou a chegar, e como nos outros dias daquela semana, Kakashi acompanhou Jun para a faculdade. Aquilo havia acabado se tornando uma rotina. Não que ele reclamasse, a companhia da jovem era boa.

- Bem... – Jun puxou conversa, depois que eles já haviam se afastado da casa. – Anko não deu mais nenhuma informação sobre a hora não?

- Não. – Resmungou o grisalho de mal-humor. A simples menção do nome da ex já lhe deixava irritado. – Aquela vaca está fugindo de mim, provavelmente com medo de que eu vá cancelar o compromisso.

Jun riu, e Kakashi se voltou para ela, confuso e um pouco irritado.

- É só que... – A menina tentou se explicar, mas voltou a rir. – É que você sempre a trata por algum apelidinho ‘carinhoso’, se é que me entende! – Disse e voltou a rir.

- Olha... – Kakashi também começou a rir, chamar Anko por aqueles nomes havia se tornado um habito para ele. – Eu só não a chamo de nomes piores em respeito a você. Você se espantaria com os xingamentos que eu normalmente uso para me referir àquela... Mulher! – Disse, substituindo o xingamento que ia falar pela palavra ‘mulher’.

- Então Kakashi, continue a chamando de vaca e etcétera. Não quero ter meus inocentes ouvidos poluídos pelas suas sujas palavras tão cedo de manhã! – A jovem quase gargalhava. Kakashi perdia a calma facilmente, e ela achava isso muito engraçado, e muito fofo, porém ela não falaria dessa última parte para ele.

- Que seja! – Ambos riram, e continuaram a rir até chegar na faculdade.

- Nos vemos mas tarde, certo? – Perguntou Jun, já se afastando.

- Sim, até mais tarde Jun! – Sorriu e acenou.

- Yosh! Bye bye...

Por algum motivo ele estava ansioso por esse tal ‘mas tarde’, e não era um sentimento ruim, e também não era por causa de Anko. Um sorriso tomou conta dos seus lábios ao se dirigia para a sala onde daria a primeira aula.

Talvez aquele encontro não fosse tão ruim quanto ele esperava.

Ou talvez fosse.

Não tinha como ele saber, mas talvez a presença de Jun tornasse as coisas menos desagradáveis.

E foi com esse pensamento em mente que ele passou o dia. Dia esse que passou mais rápido do que ele esperava, e mal havia piscado os olhos e já estava na hora de tomar seu rumo para casa.

Na volta para casa ele não encontrou Jun. Isso era comum, já que eles provavelmente tinham horários diferentes. Mas, não ter encontrado a jovem o deixou um pouco triste. Suspirou e afastou esse pensamento, logo a veria.

Parou de chofre, confuso com os próprios sentimentos.

Por que ele estava triste em primeiro lugar? E segundo, por que estava consolando a si mesmo dizendo que veria a jovem mais tarde? Passou os dedos pelo cabelo, exasperado.

Aquilo não podia estar acontecendo. Simplesmente não podia estar acontecendo.

- Coração idiota... – Murmurou e seguiu para a cozinha da sua casa. Iria alimentar seus cães antes de sair, já que não sabia que horas ia sair e muito menos a hora que ia voltar. Preparou as tijelas e deu o sinal para seus cães atacarem a comida.

Enquanto os cães comiam, Kakashi observou seu quintal dos fundos, e ele estava maravilhosamente limpo. O rapazote que contratara estava fazendo um bom serviço vindo duas vezes ao dia para recolher o resultado da digestão dos oito cães. Sorriu satisfeito, Jun não teria mais o que reclamar.

E pensando nela...

Ele se voltou para a casinha, vendo que as luzes de dentro da casa estavam acesas. Provavelmente ela estava se arrumando a essas horas.

Suspirou. Estava na hora dele se arrumar também.

Tomou banho, se vestiu e até mesmo passou um pouco de perfume, não por causa da Anko, é claro. Estava calçando as meias quando escutou uma batida na sua porta dos fundos.

- Kakashi? – Era a voz de Jun.

- Pode entrar! – Gritou do andar superior. – Já estou descendo.

O grisalho escutou sua porta abrir e em seguida ser fechada. Jun havia entrado.

Se apresou e pôs os sapatos, deixando o cabelo bagunçado e molhado para arrumar depois.

- Cheguei muito cedo? – Perguntou a jovem um pouco aflita ao ver Kakashi adentrar a cozinha. Ele trajava uma camisa social branca com as mangas arregaçadas e calças pretas. Um belo conjunto.

- Não, ou melhor, eu não sei. – Deu de ombros e reparou na jovem. Pela primeira vez ela não estava usando calças jeans e tênis. Ao contrário disso, ela usava uma jardineira-saia listrada na vertical de azul e branco, uma blusa preta e rendada por baixo. Os longos cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e ela havia passado uma leve maquiagem. Estava simples e bonita.

- E agora? – Perguntou a jovem. – A gente senta e espera?

- Mais ou menos isso. – Kakashi bufou contrariado. Mais cedo, ele havia reunido toda a sua força de vontade e ligara para Anko. A desgraçada atendeu, mas quando escutou a voz dele, desligou na sua cara. Kakashi não havia ficado apenas com raiva. Ficou com uma fúria assassina. – Jun, eu tenho que secar e pentear o cabelo. – Informou à jovem que observava o lugar.

- Ah... Ok, te espero aqui. – Sorriu.

- Não. – Discordou. – Enquanto eu termino de me arrumar, quero que vejas uma coisa.

- O quê? – Perguntou curiosa.

- Vem comigo... – Chamou e começou a se dirigir para as escadas. – Está no meu quarto.

- Seu quarto? – Perguntou desconfiada.

- Vamos logo...! – Disse Kakashi impaciente. – Eu não vou te atacar ou algo do tipo.

Jun apenas soergueu uma das sobrancelhas e seguiu Kakashi para o andar superior. Mal Jun chegou lá em cima o que ela viu a deixou sem ar.

- Um piano de cauda! – Arfou surpresa e se encaminhou para perto do lindo e negro instrumento. – Esse é muito mais bonito e antigo que qualquer um que eu já tenha visto!

- Sim. – Kakashi sorriu orgulhoso, aquele piano lhe trazia boas lembranças. – Foi o meu pai quem o costruiu de presente para a minha mãe.

- Sugoi! – Exclamou a jovem e levantou o tampo das teclas, tocando uma a esmo. O som limpo e claro da nota preencheu o cômodo.

- Não se acanhe, toque alguma coisa! – Kakashi se encostou na parede e observou Jun. A jovem parecia realmente muito feliz perto do piano. Talvez ele devesse ter parado de ter cisma com a jovem antes e já ter mostrado o instrumento. Ele era muito idiota mesmo por achar que aquela menina era sua inimiga e que não deveria confraternizar com ela. Quase riu do que pensara, mas se restringiu e viu Jun se posicionar no piano, as mãos prontas para tocar.

- Quer pedir alguma música em especial? – Os olhos verdes brilhavam. Nunca havia visto um piano tão lindo como aquele. Também era o primeiro piano artesanal que ela via, tirando aqueles de expossições.

- Apenas não toque Beethoven, estranhamente, as composições dele deixam os cães agitados.

- Ok... Isso é estranho, mas okay... – Jun riu e se voltou para o piano, posicionando seus dedos sobre as teclas. – E já que você não tem nenhum pedido, vou tocar Rhapsody in Blue, do Gershwin. Uma das minhas composições preferidas! – E sorrindo, a jovem iniciou a música.

Kakashi sorriu e fechou os olhos para apreciar a bela música vinda de Jun e do piano. Aquela também era uma de suas composições preferidas.

A jovem já estava em um terço da música quando um grito estridente vindo de lá de fora lhe atrapalhou e fez com que errasse a próxima nota. Xingou baixinho e o grito se repetiu.

- KAKAAAAAAAAAAAASHI! – Uma louca mulher, pelo menos assim pensava Jun, gritava estridentemente lá de fora.

- Ai Kami-sama... – Kakashi cobriu o rosto com as mãos.

- Deixa eu adivinhar... – Falou Jun e rodou os olhos. – Essa é a sua ex-namorada, Anko.

- A própria. – O grisalho suspirou.

- Melhor irmos, não é? – A jovem se levantou e abaixou o tampo das teclas. Era uma pena que não houvesse terminado a música.

- Será que ainda dá tempo de dizer que eu estou passando mal? – Perguntou. Talvez dizer que estava doente desse efeito.

- E você acha, sinceramente, que isso vai surtir efeito na Anko? Ela não parece ser mulher que desiste fácil. – Jun deu se ombros se se aproximou.

- Você está certa... – O grisalho suspirou, e estremeceu ao escutar outro grito estridente de Anko. – Será que ela não pode calar a boca? – Murmurou contrariado.

- Kakashi só respira e tenta manter a calma, okay? – Jun engoliu a vontade de rir e tentou acalmar o nervoso Hatake. Ela estava se matando para não rir do showzinho de raiva que Kakashi estava dando. Ele ficava tão fofo!

Kakashi abriu a boca para responder Jun, mais foi interrompido por outro grito de Anko, que dizia para ele parar de se esconder. Já de saco cheio, gritou em resposta.

- JÁ VAI, MERDA! – Ele teria a chamado de alguns apelizinhos, como dizia Jun, mas tentou manter o controle. O pelo menos parte dele.

- Respira Kakashi!

- Estou respirando, merda!

- Isso não vai dar certo... – Jun balançou a cabeça em negação. Se Kakashi já estava estressado agora, nem queria imaginar como ele estaria ao final da noite.

- Me desculpa por gritar com você... – Ele bufou e passos os dedos pelo bagunçado cabelo. – É só que... Eu estou estressado!

- Estou percebendo... – Jun suspirou. – Mas é por isso que eu estou dizendo para você respirar baka! Tente se acalmar um pouco, se não essa noite terminar na cadeia, com você preso por ter tentado matar alguém.

- Se é para ser preso... – Disse emburrado. – Que seja por homicídio!

- Certo Kakashi, chega! – Jun foi até o homem e o puxou pelo braço. – Vamos logo com isso, pois você está me deixando estressada também!

- Daijobu... Daijobu! – Kakashi deixou-se ser arrastado, e relutante, saiu para fora da casa, vendo Anko e o maldito namorado dez anos mais novo que ele parados os esperando.

Se Jun estava bonita e simples, Anko era o total oposto. A mulher estava sexy e provocante com um colado e curto vestido vermelho e salto alto. Fez uma careta, Anko parecia uma prostituta.

O estressado Kakashi suspirou. Aquela noite iria de mal a pior, muito pior.

Continua...