Nós

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- Ei Kakashi! – Anko correu atrás de Kakashi depois que ele deixou a sala da reitoria. – Você vai estar livre amanhã?

- Não. – Foi curto e grosso.

- E depois de amanhã...?

- Também não! – Ao ver que a mulher ia abrir a boca pela terceira vez, tratou de a cortar de uma vez. – E também não estarei livre depois de depois de amanhã, e depois de depois de depois e nunca! Não para você. – Continuou andando e foi seguido pela insistente mulher.

- Ah Kakashi! – Disse Anko. – É que o Hidan queria sair, e como eu não conheço muitos lugares nessa parte da cidade, achei que poderiámos sair juntos e...

Aquela mulher era doida ou o que? Kakashi tinha vontade de atirá-la pela janela. Qual era a doida que convidada o ex-namorado que ela havia traído para sair com ela e o atual namorado? Inspirou e expirou demoradamente, se acalmando.

- Anko, eu... – Mas foi interrompido.

- Vamos Kakashi! Tenho certeza que você não deve estar mais sozinho. Não depois de tanto tempo, não é? – Ela sorriu. E Kakashi conhecia aquele maldito sorriso de superioridade.

Bufou.

- Claro que eu não continuo sozinho! – Mentiu. – Eu conheci pessoas novas depois de você... – Meia verdade. – E até estou saindo com uma nova pessoa! – Mentira das mentiras! Mas Anko não sabia disso, então estava tudo bem.

- Então está combinado. Quinta de noite eu passo no seu novo endereço e nós vamos sair, nós quatro! Ouvi dizer que quinta-feiras à noite são as melhores aqui na região! – Anko saiu saltitante, nem dando tempo de Kakashi falar mais alguma coisa.

Pálido, o Hatake se encostou na parede. O que raios ele havia acabado de fazer? Havia cavado a sua própria cova.

Derrotado, marchou para a sua primeira aula. Mas tarde pensaria nisso.

E ele pensou.

Pensou durante a primeira aula que deu. E durante a segunda, terceira e quanta também. E nenhuma ideia lhe veio a mente. Pelo menos nenhuma ideia coerente lhe veio a mente.

Desanimado, tomou o rumo para casa.

Estava quase inventando uma doença qualquer pra se livrar daquele encontro duplo quando vislumbruou uma silhueta familiar a sua frente. Apressou o passo e se emparelhou com Jun. Ela era a sua última esperança.

- Jun! – Chamou, e viu que a jovem teve um pequeno sobressalto.

- Sim? – Ela retirou os headphones e se virou para Kakashi.

- Eu... – Ele engoliu em seco, ela poderia lhe dar um tapa na cara pela proposta que ele ia lhe fazer, mas ele estava desesperado! – Eu preciso da sua ajuda. – Ele estava soando igual a Jiraya mais cedo.

- Ajuda? – Ela lhe olhou confusa. – Que tipo de ajuda? – Não via aonde ela poderia ajudar o grisalho.

- E-Eu preciso d-de... – Gaguejou – ...eu preciso de uma companhia! – Disse de uma vez, vendo a confusão da menina aumentar.

- Como?

- Eu preciso de alguém para ir num encontro comigo! – Explicou da melhor maneira possível.

- E por que você está...? – Finalmente a compreensão chegou a ela. E o mais inesperado para Kakashi aconteceu. A jovem enrubresceu – NÃO! – Respondeu enfática, ainda rubra.

- Mas eu estou desesperado! E você é a única garota que eu conheço por aqui! – Ele ia seguir o exemplo de Jiraya e suplicar-lhe, ali menos, no meio da rua.

- Então chame um homem, já que estás tão desesperado! – A menina jogou o cabelo para trás e seguiu seu caminho, deixando Kakashi a comer poeira.

- Por favor! – Kakashi se interpôs no caminho de Jun – Minha ex-namorara, ela... – Ele nem sabia por onde começar a explicar.

- Ex-namorada? – Jun enrugou a testa. – Me explique a situação. Se eu ficar com pena o bastante, eu te ajudo... – Suspirou. Não acreditava que estava dando ouvidos aquele doido.

- Ano passado minha ex-namorada me traiu e me trocou um um cara dez anos mais novo do que eu... – Explicou. – E hoje eu a reencontrei. E a idiota propôs sairmos em quarteto. Ela, o namorado, eu e minha namorada...

- Só que você não tem namorada. – Deduziu Jun.

- Exato! Só era uma desculpa. Mas acabou que isso se voltou contra mim! – Disse exasperado. – Você vai me ajudar?

- Na verdade? Não. – Rodou os olhos na orbita. Nunca que ela ajudaria ele com aquele plano maluco.

- Por que não? – Se ela não concordasse, ele teria que quebrar o pé para não ir nesse encontro.

- Porque essa a coisa mais doida que eu já ouvi! – A jovem explicou o obvío que Kakashi não via. – Isso só vai nos deixar em uma situação constrangedora. Me recuso.

- Um mês! – Kakashi estava desesperado, e por isso usaria outras táticas. – Um mês de alguel grátis!

- Como? – Jun pensou não ter ouvido bem e se voltou para Kakashi, o olhando nos olhos e pela primeira vez percebedo que eles eram de cores diferentes. O olho direito era cinza bem escuro e o outro era castanho avermelhado, e havia uma fina e clara cicatriz nesse último olho. Não que isso importasse.

- Um mês de alguel grátis! E eu prometo que você nunca mais pisará na merda dos meus cachorros! – Ele faria qualquer coisa, só precisava que a menina aceitasse ir com ele.

- Dois. – Disse resoluta.

- Dois o quê?

- Dois meses de aluguel grátis ou nada feito. – Ela parou na calçada e estendeu a mão para Kakashi, para firmar o acordo. Kakashi titubeou, mas apertou a mãe estendida.

- Dois meses de alugel gratis e nada de bosta de cachorro. – Soltou a mão dela e se sentiu mais leve. Menos uma preocupação.

- Então...? – Jun continuou a andar e Kakashi se emparelhou com ela, a acompanhando. – Aonde será esse encotro louco?

- Não sei. – Disse o grisalho e suspirou, passando os dedos pelo cabelo grisalho. – E também não sei se a Anko sabe onde será. Ela disse que não conhece muito bem a região. Você conhece? – Se virou para Jun.

- Mais ou menos. Não sou muito de sair... – A jovem deu de ombros e continuou. – Mas às vezes vou numa pizzaria que fica a alguns quarteirões daqui. Tem uma ótima pizza de cogumelos com bacon. – Sorriu.

- Pizza de cogumelos com bacon? – Kakashi riu também. – Você está brincando, não é?

- Na verdade não. Essa é a pizza da casa, e te garanto que é muito boa! – Pela primeira vez Jun estava tendo uma conversa “normal” com Kakashi, e aprecisou isso. Era fácil conversar com o grisalho.

- Bem, acho que vou ter que provar para dar o meu veredicto! – Passou os dedos mais uma vez pelos cabelos, dessa vez tentando os ajeitar. Mas só fez pior, os deixando mais bagunçado ainda.

- Ok, então vamos à pizzaria. Que horas e que dia?

- Anko não me falou a hora, disse apenas que passaria de noite na minha casa na quinta-feira. – Bufou com a lembrança da mulher.

- Isso é meio vago, ainda mais na quinta-feira, onde as coisas esquentam aqui pela região... – Jun se espreguiçou, o movimento fazendo com que sua blusa subisse um pouco. Sem querer, os olhos de Kakashi foram atraídos para a tira de pele exposta. Desviou antes que a garota notasse. Só podia estar ficando doido.

- A idiota falou algo do tipo... Mas como assim esquentam? – Kakashi havia ficado curioso, e essa pergunta também o ajudou a se distrair do que havia acabado de ver. Jun tinha uma barriga perfeita.

- Os estudantes sempre se reunem às quinta-feiras nos bares por aqui, pois muitos deles vão embora para a casa de suas famílias na sexta. Então quinta é dia de happy hour, ou algo do tipo. – Jun deu de ombros novamente.

- Ah... Entendi. – Kakashi assentiu, e já podia ver sua casa se aproximando cada vez mais. – E você, vai para casa aos finais de semana?

- Não. – A jovem sorriu. – Minha casa é aqui.

Kakashi ainda pensou em fazer outra pergunta, mas se calou. Ele não tinha nada haver com a vida da garota, então não precisava saber muito sobre ela. Precisava apenas saber o básico, e disso não passaria. Se livraria dela em seis meses.

Finalmente haviam chegado a casa. Kakashi abriu o portão e deixou que Jun passasse na frente para em seguida ele o crusar e o trancar por dentro.

- Ja nee Jun! – Se despediu, vendo a jovem se dirigir para os fundos do quintal, onde ficava sua casa.

- Bye bye... – A jovem acenou com a mão e sorriu, se virando em seguida.

Kakashi suspirou mais uma vez. Estava suspirando muito desde que se mudara. Não que isso importasse, só queria paz, e esperava, sinceramente, que esse suposto encontro duplo desse certo. Ou pelo menos que não desse muito errado.

Suspirou mais uma vez. E esperava que fosse o último suspiro do dia, não aguentava mais problemas. Agora só queria uma taça de vinho e o seu bendito violocelo.

Só esperava não quebrar o arco.

Continua...