E, então, aproximadamente meia hora depois, eu estava enfiada dentro de uma loja que eu nunca havia ido em toda a minha vida. E o pior é que eu não estava fazendo nada. As meninas me fizeram sentar em um banco que ficava bem no meio da loja, enquanto elas corriam de um lado para o outro, carregando bolsas, sapatos, vestidos, blusas, calças, shorts, saias, etc.

– Annie, vem aqui agora! - eu ouvi uma voz fina gritar. Olhei para os provadores e pude enxergar Eduarda colocando sua cabeça para fora do vestiário. - Vai ficar aí até quando? Eu te chamei, menina.

– Tá legal, eu já estou indo. - sorri e balancei a cabeça, entrando no vestiário.

Lá, estavam as três meninas. Eduarda segurava uma blusa branca, que parecia ter escamas de peixe na parte da frente. Renata segurava um short, juntamente com um cinto, que pareciam combinar perfeitamente e Michelle estava com um par de Oxfords.

– Então, essa é a roupa que eu escolhi para você. - ouvi Eduarda falar e sorri para ela.

– É... Eu achei bonita. Obrigada.

– Então, o que está esperando? Vai logo experimentar! - Renata falou, e de repente, eu estava segurando todas as peças da roupa.

– Ah, e a propósito... - Michelle colocou a cabeça para dentro do vestiário - Se você não gostar dos sapatos, não se incomode em dá-los para mim. Eu ficaria feliz com eles. - ela completou, sorrindo ironicamente e fechando o vestiário.

Vesti a roupa e os sapatos em cinco minutos. Olhei no espelho, suspirando enquanto observava cada detalhe de meu corpo. Se havia uma coisa em mim que eu não poderia reclamar, era meu corpo. Meu pai costumava ir á uma academia, e fazia comidas saudáveis para mim e minha mãe. Acabei ficando com um corpo bonito, porém ele sempre ficara escondido, devido às minhas roupas.

– Você está linda! - ouvi Eduarda falar, batendo palmas e fazendo um gesto com a mão. - Vai logo, vira.

– Tá legal. - eu sorri, e pude sentir minhas bochechas ficarem vermelhas. Virei e Michelle revirou os olhos.

– Querida, você tem que se acostumar com elogios. Não vai ficar corando toda vez que alguém te chamar de linda, vai?

Balancei a cabeça negativamente.

– Ok, então você só precisa experimentar mais essas roupas - Eduarda falou, apontando para uma pilha de roupas, em outro provador, e logo sorrindo para mim. - Temos meia hora para a sua sessão de fotos.

–Nem rola, Duda. - comentou Renata - Ainda precisamos passar na maquiagem. Eu ligo pro Patrick e digo para atrasar a sessão.

–Ok, ok! - concordou Eduarda - Michelle, para onde vamos agora?

–Nós vamos na Anna. Marquei um horário com ela e tenho certeza que ela da um jeito na pop-star aqui.

–Ué, mas e seu whisky, Michelle? - perguntei rindo enquanto me enfiava em um vestido que com certeza valia mais que minha antiga casa.

–Annie, darling, não se preocupe. Anna tem whisky. Lembre-se do que eu disse: Só se preocupe em cantar e parecer bonita. - respondeu ela mexendo no IPhone.

–Legal esse seu IPhone, Mi. - comentei.

–Ah, esse é o seu. O meu eu deixei cair na pia novo. - ela jogou o celular em mim e por pouco o delicado aparelho não se espatifaria no chão.

–Mas eu não tenho um IPhone! - disse confusa.

–Agora tem. - respondeu Eduarda - Se precisarmos falar com você ou ao contrário você terá o celular. Mantenha-o sempre por perto.

[...]

Alguns minutos e um quilo de roupas mais tarde, estávamos novamente enfiados em um carro atravessando a agitada Nova York. Justin continuava ali, sem dizer uma palavra, a aba do boné bem mais baixa do que o comum, tanto que eu não conseguia ver seus olhos. Já em Manhattan paramos em um daqueles mini-prédio onde apenas uma família mora. Subimos em uma escadaria de mármore e paramos em uma porta de madeira clara. Michelle bateu algumas vezes e, um tempinho depois, uma menina abriu. Imaginem minha surpresa ao ver que a menina que atendeu a porta era idêntica a Michelle.

–Anna, meu amor, você está linda! - disse Michelle abraçando a sua gêmea.

–Sis, meu bem, você está radiante. Com quem será que você parece? - riu a outra, Anna - Uhh, temos uma menina nova! - comentou ela olhando para mim - OMG, mas que pele perfeita! Menina, que maravilhas eu faria com essa pele! Prazer, babys, eu sou Anna, a gêmea mais perfeita dessa coisinha aqui! - ela apontou para Michelle que já colocava um liquido colorido em um copo.

–Ah. - exclamei - É por isso que ela disse que você teria whisky.

–Mas eu estou tentando variar. - respondeu Anna - Estou experimentando a Vodka.

Me acomodei em um sofá enorme branco, que eu sabia que teria sido uma fortuna. A decoração daquela casa era mais incrível ainda, com móveis de aspecto rústico, mas modernos ao mesmo tempo. Justin apenas acompanhava todas nós, sem falar nada. Nem sei o porquê de ele ter ido com a gente no shopping. Aquilo foi chato para mim, imagina para um garoto.

– Ei Justin, o que foi? – perguntei receosa assim que ele sentou do meu lado.

– Só estou cansado.

– Cansado de ficar parado o dia todo? – Ironizei, e ele bufou.

– Qual é, vocês ficaram umas três horas provando roupas e mais roupas. E eu precisava acompanhar vocês, porque o Usher pediu.

– Ah! - Olhei rápido no meu mais novo Iphone, e notei que já eram nove da noite. Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos. Usher ainda queria ir no estúdio, sério mesmo?

– Parece cansada, Ann – Anna falou com as mãos na cintura.

– Sim, estou caindo de sono – sorri fraco de lado. – E tenho mais compromissos mais tarde, então.

– Ah, relaxa gata, Usher disse que você tá liberada de ir ao estúdio hoje, mas amanhã bem cedo vocês vão á vários lugares. – Michelle falou tomando mais um gole da bebida colorida. Gata?sério? – E ah, você tem Photoshoot hoje.

– O quê? Pra quê?

– Porque sim, ué.

Avá. Eu havia acabado de chegar em Los Angeles. Tenha dó!

– Ahn, e agora estou mais orgulhosa por você, sabe, suas roupas estão decentes. – Eduarda deu um passo à frente falando como se aquilo fosse óbvio, e na verdade talvez fosse. Vi Renata concordar com Eduarda. Minhas roupas agora eram mais despojadas, mas não deixavam de estar na moda, graças às minhas melhore amigas pra sempre. hm.

E foi aí que lembrei de Sophie. Eu estava tão estressada com toda a mudança, que havia esquecido de ligar para ela. Se ela me odiasse, eu juro que não me importaria. Esfreguei as mãos no rosto, ansiosa e nervosa, ao mesmo tempo.

– O que foi, Ann? – Justin perguntou, afagando minhas costas com a mão esquerda. Suas sobrancelhas estavam unidas, e sua expressão era de preocupação.

– Esqueci de fazer umas coisas importantes. – Justin assentiu. – Michelle, será que podemos ir?

– Claro que não! Temos à sessão de Photoshoot ainda. – Ela explicou.

– Sério? Será que não podemos adiar isso? Estou bastante cansada. - Falei quase como que suplicando pela boa vontade de Michelle. Justin me fitou rapidamente com a mesma expressão de antes, e encarou Michelle.

– É verdade. Está todo mundo cansado aqui, inclusive vocês. - Deus, eu realmente não entendo a atitude bipolar de Justin. Mas agradeci mentalmente pelo apoio dele.

– Não. E eu prometo que vou ser boazinha com você, Annie. - Renata falou, sorrindo. - Vou te fotografar, agora mesmo.

Suspirei enquanto me levantava para acompanhar Renata, que já estava subindo as escadas rapidamente.

[..]

Acompanhei Renata, que subira os 2 lances de escada correndo, com a câmera em mãos. A Michelle falava qualquer coisa com o Justin, completamente fora de si. Percebi pelo canto do olho, que Justin acabara de revirar os olhos; Ri pelo nariz. Quando percebi que Renata já havia sumido no final do corredor, andei em passos largos, tentando acompanha-la. Passei por um estreito corredor, contendo várias obras de artes pelas paredes, que foram pintadas em um tom bege claro. A Anna pelo menos tinha bom gosto.

– E aí, o que eu faço? – perguntei encarando toda a sala, era um tanto grande, com mais duas mulheres lá: uma mais alta, morena, e outra também alta, ambas de fardamento. Vários equipamentos estavam empilhados, e havia várias materiais por lá, a sala era meio desorganizada, convenhamos.

– Essas são a Maddie e Shay, elas vão te ajudar com a produção. – Renata falou, como que lendo minha mente, por fim me encarando. – As suas roupas estão ali no canto. Vá se arrumar enquanto eu monto o cenário.

Assenti, indo procurar alguma roupa, e as duas mulheres me acompanharam, sorridentes. Sem hesitar elas já foram escolhendo peças e me entregaram, para que eu provasse. A maquiagem e cabelo duraram exatamente uma hora. Não estava com ânimo algum para fotos, não havia dormido desde que colocara os pés em L.A! Estava cansada demais, o que eu mais queria era uma cama bem espaçosa agora. Mas esse é o preço da fama, certo? ou começo dela, no meu caso.

[...]

– Pronto, agora puxa o colar com a mão esquerda. – Renata ordenava, enquanto tirava milhões de fotos ao mesmo tempo – E coloca a mão direita no joelho direito... É, assim. Olha bem para a câmera.

Tentei o meu melhor nesse photoshoot, mesmo estando caindo de sono. Meu rosto provavelmente me entregasse. Vestia um vestido preto com “tiras” em branco, acima do joelho, com um casaco fino por cima, de um vermelho bem claro. Renata insistira para que eu usasse uns colares grandes (não gosto muito!), e como acessórios, um anel com uma pedra falsa na mão direta. A maquiagem estava bem leve, o que destacava eram os olhos, pelo lápis preto, e o batom, da mesma cor que o casaco. Meu cabelo estava solto, com pequenos cachos, graças ao Babyliss. Eu havia gostado.

– Só mais uma! – Renata falou me encarando, dando um sorrisinho amarelo. Ri da sua expressão – Sorria para a câmera, não temos fotos suas sorrindo!

Sorri, com uma mão na cintura, encarando a câmera. Click! E...

– Pronto, terminamos! – Renata falou, dando uma rápida olhada na câmera, verificando as fotos. Fiquei ao seu lado, olhando atentamente todas as fotos.

– Você é ótima, garota. – ela elogiou, saindo com a câmera, e a embalando em seguida.

E o pior: as fotos tinham ficado boas! Gostei do que tinha visto, e iriam ficar melhores quando fossem editadas e publicadas em qualquer site por aí. Era pelo menos o que a Renata havia falado que faria.

– Amanhã mesmo edito as fotos – Assenti, enquanto ela continuava arrumando os equipamentos, e cai em um pequeno sofá que tinha ali, me espreguiçando. – Porque não dorme aqui hoje, Ann?

– Ah, Justin disse que ira me levar. Ele ainda está aí né?

– Não sei... Acho que... – Ela foi interrompida, com a porta sendo aberta. Justin apareceu, com um sorriso amarelo. Ele coçou a nuca, rápido.

– E aí, terminaram? – Falou, apenas com a cabeça para dentro do quarto.

– Uhun. E por acaso, você tá me devendo uma carona! – falei, o fazendo rir.

– Eu não esqueci não, Ann. – Entrou, finalmente no quarto, sentando-se ao meu lado. Renata apenas observava. –Só estou esperando você.

– Ah, claro. Vou me trocar. – Levantei indo em direção ao pequeno banheiro que tinha lá, e onde tinha trocado a roupa mais cedo. Justin e Renata cochichavam algo assim que entrei no pequeno banheiro.

As coisas haviam mudado nesse meio tempo. Digamos que em um período de duas semanas, três? Tudo aconteceu tão rápido, minha carreira finalmente tomando um rumo, e principalmente Justin sendo tão gentil comigo... Eu sei que sou uma idiota por acreditar que um dia as coisas vão se acertar. É claro que não vão! É praticamente impossível. E aliás, é errado desejar o namorado dos outros. Ou não. Eu nem havia conhecido Selena ainda. Mas de qualquer forma... Tentei parar de pensar no assunto, não me levaria a nada. Me troquei e enfiei minhas coisas na enorme bolsa que havia comprado essa tarde, a arrumando nos ombros. Sai do banheiro, e Justin estava com a câmera nas mãos, verificando as fotos.

– Ei quem mandou dar a câmera ao Justin, Renata?! – Falei, franzindo o cenho. Ele me olhou, na defensiva, e Renata apenas ria.

– Eu iria ver isso uma hora ou outra, gracinha. – Falou, dando ênfase na última palavra. Encarei Renata, que levantou os braços, tentando se defender:

– Qual é! São só fotos! – Continuou rindo, enquanto guardava todo o resto do material. Não pensei duas vezes. O encarei, e Justin parecia entender bem o que eu iria fazer. Larguei minha bolsa no chão, e sai correndo atrás do Bieber, que ria totalmente descontrolado.

– Seu idiota! Devolve isso! – Tentava, de algum jeito, tomar da mão dele, mas ele impedia, escondendo a câmera, ou virando para o lado contrário.

– Não devolvo! Não mesmo - Justin cantarolou, como uma criancinha de dez anos. Acabei rindo da sua atitude idiota.

– Never Say Never, babe. – ri e ele riu junto.

– Vão achar que estão se matando! – Renata falou, rindo, por fim.

– Aliás, toma, já vi tudo mesmo! – deu de ombros entregando a câmera, enquanto ria da minha cara. Lamentável. – Você é tão fotogênica! Estava tão linda, de verdade. – sorriu cínico, me desafiando.

– Você me paga, Bieber.

– Fala isso mas não mata nem uma mosca! Qual é. – Riu, dei um tapa no seu braço.

– Acho melhor a gente voltar para o hotel, antes que eu te mate aqui mesmo.

– Chega de que um vai matar o outro, por favor, crianças. – Renata revirou os olhos. – Agora sou eu que quero dormir, seus palhaços.

Saiu empurrando nós dois para fora do quarto, enquanto desligava a luz de dentro, e trazia consigo uma caixa, contendo a câmera profissional dentro. Descemos as escadas, e as meninas assistiam algum filme, menos Michelle, que dormia esparramada no sofá. O pessoal deu boa noite.

– Tem certeza que não querem dormir aqui? – Renata falou, nos acompanhando até a porta.

– Ahan. Obrigado pelo convite. – Justin sorriu e eu assenti.

– Então tá! Boa noite, a gente se vê amanhã – falou, dando um bocejo. Nos despedimos, tudo bem rápido.

Descemos os pequenos degraus da casa, sem falar muita coisa. A rua estava praticamente deserta, apenas a Ranger Rover do Justin estacionada, e mais uns dois carros. Não havia mais ninguém além de nós, ali. Ventava muito. E estamos falando de uma madrugada em Los Angeles!

– Tá frio aqui hein. – Justin passou o braço pelos meus ombros, me trazendo para mais perto dele. – Você não tá com frio?

– Uhun.

Ele riu pelo nariz, e passei os braços por sua cintura. Meu coração pulava de felicidade. Bobo, né? Eu sei. Mas aquilo parecia o mundo para mim.

– Aposto que está cansada. – falou, abrindo a porta do carro. Me desgrudei dele, indo para o banco do carona.

– Foi um longo dia. – Admiti, sentando-me e colocando o cinto. – Valeu por ter nos acompanhado. Nem precisava.

– Não foi nada. –Finalmente ligou o carro, mas em vez de dirigir, me encarou por breves segundos.

– O que foi?

– Quando eu disse que estava linda, é porque estava. Na verdade, você sempre foi. – falou rápido. Olhou para frente, e pisou no acelerador, finalmente.

Sorri involuntariamente, como sempre. Virei minha cabeça para a janela, sussurrando um “valeu” meio tarde demais, e continuei sorrindo.

Justin era, definitivamente, o idiota que eu mais amava.